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Capítulo Três

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Apesar das noites que já tinha passado no apartamento de Devon, ainda sentia borboletas no estômago sempre que entrava no quarto dele para se deitar. Estava ali há uma semana e ainda estava incómoda porque não sentia que aquele fosse o seu lar.

Estava a tirar a camisa de noite quando o riso de Devon rompeu o silêncio do quarto. Voltou-se rapidamente, franzindo o sobrolho enquanto ele olhava para ela, divertido.

– O que é assim tão divertido?

– Tu. Todas as noites perdes o teu tempo vestindo essa bonita camisa de noite para depois a despires, pouco depois de te meteres na cama.

Ela assentiu. As faces ardiam-lhe.

Devon sorriu e puxou-a para a cama.

– Asseguro-te que… – disse e beijou-a, – que nunca deixarei de desejar-te – disse, mordiscando-lhe a orelha. – A não ser que esteja amarrado da cabeça aos pés e, ainda assim, pensaria nisso.

– Portanto, é verdade que os homens só pensam em sexo.

– Às vezes também pensamos em comida.

Ashley riu.

– A minha mãe está escandalizada por ter praticamente vindo viver contigo.

– Praticamente não – disse enquanto lhe deslizava uma das alças pelo ombro. – Vieste viver comigo.

– Estava aterrorizada. O meu pai disse-lhe que deixasse de se preocupar tanto, que nos íamos casar e que é normal que queiramos passar algum tempo juntos antes do grande dia, para nos assegurarmos de que somos compatíveis. Por outro lado, Eric está bastante chateado. Acha que está louco por permitir que me mude para casa de um homem que foi para a cama com meia cidade. São palavras dele, não minhas.

Devon ficou sério e aproximou-se dela.

– Fazes sempre isso?

– O quê?

– Dizer a primeira coisa que te vem à cabeça.

– Não sei, nunca tinha pensado nisso – ripostou, franzindo o sobrolho. – Foi o que ele disse. Mas não lhe prestei muita atenção. É demasiado protetor comigo e fica sempre muito resmungão quando alguém repara em mim.

Ela estremeceu enquanto a puxava para a cama. Cada noite, levava-a até lugares com que nunca sonhara.

Se aquilo era uma mostra do que ia ser a sua vida com ele, então estava visto que ia ser uma mulher muito feliz.

– A acompanhar-nos na nossa reunião desta manhã, temos em videoconferência Ryan Beardsley e Rafael de Luca – disse Devon enquanto os rostos dos amigos apareciam no ecrã da parede. – Ryan está na ilha de Saint Angelo, onde estamos a construir um dos nossos hotéis. Quando estiver terminado, este hotel será o padrão da cadeia Copeland. Bom dia, Ryan. Talvez queiras explicar-nos os avanços das obras.

Devon cedeu a palavra a Ryan e olhou para Cameron, que estava sentado na sua cadeira. Sabia bem como iam as obras porque se informava todos os dias. Embora Ryan acompanhasse o progresso das obras no local, estava pendente de a sua mulher dar à luz a qualquer momento. Por isso, Devon estava em contacto com o chefe de obras para tratar de qualquer assunto que surgisse.

Cameron não se tinha vestido adequadamente para a situação. Não concordava com a ideia de que a imagem fosse tudo no mundo dos negócios. Além disso, não se importava com o que os outros pensassem. Ainda assim, era fácil para Cameron. Tinha nascido naquele mundo, ao contrário de Devon, que tivera de abrir caminho pouco a pouco.

Cameron parecia disposto a passar o dia na praia ou sentado com uma cerveja numa mão e um cigarro na outra. Claro que Cameron nem fumava nem bebia. Não tinha nenhum vício. Era perfeito na sua imperfeição.

O pessoal da Tricorp escutava Ryan atenciosamente e tomava notas. Havia um ambiente de expectativa na sala. Todos sabiam que era uma questão de tempo o anúncio de uma fusão.

Devon preferia esperar. Talvez estivesse a ficar velho e mole. Talvez nem merecesse estar prestes a dar o maior golpe da sua carreira. Porque quando estava quase a conseguir o que sempre desejara, tinha ido falar com William Copeland para sugerir-lhe que adiassem seis meses o anúncio. Achava preferível que Ashley não pensasse que os negócios tinham algo a ver com o casamento e que a fusão ocorreria mais tarde. Mas William não quis. Fazia questão de que as coisas fossem feitas conforme o planeado.

Pensava que Devon se preocupava demasiado com a possível reação de Ashley. Ela amava-o. Isso não era suficiente? Devon sentia-se embaraçado por toda a gente saber que ela estava loucamente apaixonada pelo seu futuro marido.

Além disso, William assinalara que, além do desinteresse de Ashley pelos negócios familiares, as possibilidades de ela perceber o esquema eram muito limitadas. Que conselho dera William a Devon? Que a mantivesse ocupada e feliz.

De repente, a meio do relatório de Ryan, um estranho som inundou a sala. Todos olharam em redor. Devon franziu o sobrolho. Que fora aquilo? Parecia o som de um telemóvel, mas nunca antes o ouvira.

Então, toda a gente se voltou lentamente para ele e percebeu que era o seu.

– Que raio…? – murmurou.

Devon tirou o telemóvel do bolso e viu o nome de Ashley no ecrã.

– Desculpem-me um momento – disse, pondo-se em pé. – Atenderei lá fora.

Saiu rapidamente, incomodado com a expressão de gozo de Cameron. Parecia muito seguro de quem lhe estava a ligar.

Assim que saiu da sala de reuniões, carregou no botão para atender e levou o aparelho ao ouvido.

– Aqui Carter.

Ashley não pareceu aperceber-se do seu tom sério e da ausência de saudação.

– Oh, olá, Devon. Está-te a correr bem o dia?

– Muito bem. Ouve, precisas de alguma coisa? Estou a meio de uma reunião.

– Oh, não é nada importante – disse ela. – Só estava a ligar-te para dizer-te que te amo.

Formou-se-lhe um nó incómodo no estômago. Que devia responder àquilo? Tossiu.

– Ashley, mudaste o som de toque do meu telemóvel?

– Ah, sim, assim saberás quando for eu a ligar. Que giro, não?

Devon fechou os olhos. Aquele som estridente ia torná-lo o bobo da corte do escritório, já para não dizer que Cameron não pararia de gozar com ele durante uma boa temporada.

– Sim, muito giro. Ouve, vemo-nos esta noite. Continua de pé o nosso jantar às nove, certo?

– Sim, claro. Estarei no refúgio até às oito, portanto encontramo-nos no restaurante.

– Tens como chegar?

– Apanho um táxi.

– Mando alguém buscar-te. Fica no refúgio até que chegue. Vou dizer para te apanharem às oito.

Ela suspirou, mas não discutiu.

– Tem um bom dia, Devon. Estou desejosa de que chegue esta noite.

– Obrigado, eu também.

Ficou a olhar para o telefone durante longos segundos e depois premiu vários botões. Como se mudava o toque das chamadas?

Para sua desgraça, ligava-lhe continuamente. Não sabia como, mas arranjava sempre maneira de interromper uma reunião ou quando estava acompanhado.

Após algumas vezes, começou a silenciar o telefone ou a pô-lo em modo de vibração, mas num par de ocasiões tinha-se esquecido e o som interrompera-lhe as reuniões.

Às duas semanas, tinha começado a divertir-se. Alguns olhavam-no com simpatia, algumas mulheres até com ternura. Mas Cameron não parava de gozar com ele.

Ashley ligava quando lhe apetecia, pelo que, para sua desgraça, nunca sabia quando tal ocorreria. Às vezes queria pedir-lhe conselho sobre algum detalhe do casamento, como as flores. Como opinar se nem sequer sabia distinguir uma tulipa de uma gardénia? Também lhe tinha perguntado pelos convites.

Rafael e Ryan não tinham passado por aquilo para organizarem os seus casamentos. Ambos tinham escolhido celebrações singelas. Devon estava a sofrer. O casamento estava a ser organizado por todo o clã Copeland. Estava a prestes a atirar-se ao rio Hudson.

– Devon?

Devon assomou a cabeça pela porta da casa de banho, antes de voltar à cama secando o cabelo com uma toalha. Ashley estava deitada de bruços, agitando os pés no ar, com o queixo apoiado na mão. Estava de sobrolho franzido, o que indicava que estava a pensar em algo.

– Que se passa? – disse, sentando-se à beira da cama.

– Onde vamos viver? – perguntou ela, virando-se um pouco para olhar para ele. – Refiro-me a depois de nos casarmos. Não falámos disso.

– Pensava que viveríamos aqui.

Ashley franziu os lábios e enrugou a testa.

– Ah.

– Não gostas deste apartamento? É maior que o teu, por isso pensei que estaríamos mais à vontade aqui.

Ashley ergueu-se e sentou-se ao seu lado, com as pernas cruzadas.

– Gosto. É um apartamento estupendo, embora demasiado masculino. É como um apartamento de solteiro. Não parece adequado para ter meninos ou animais de estimação.

– Animais? Não tenho a certeza quanto a animais…

Ashley franziu ainda mais o sobrolho, o que pareceu angustiante a Devon. Ashley não costumava fazer birra, o que era bom por ser muito difícil resistir-lhe quando não estava contente. Talvez fosse por estar sempre contente.

– Sempre desejei uma casa no campo, um lugar onde crianças e animais pudessem correr e brincar. A cidade não é um bom lugar para formar uma família.

– Muita gente forma uma família aqui. Tu cresceste aqui.

– Não vivi aqui sempre. Só nos mudámos para a cidade quando fiz dez anos. Antes vivíamos numa quinta, ou pelo menos era uma quinta até o meu pai a comprar.

– É algo sobre o qual podemos conversar quando chegar o momento – disse Devon. – Neste momento, o meu objetivo é tornar-te minha esposa, passar uma semana sem interrupções contigo na nossa lua de mel e que te mudes definitivamente para o meu apartamento.

– Gosto quando dizes coisas como essa – disse Ashley, beijando-o no rosto.

Ele arqueou uma sobrancelha enquanto ela se afastava.

– Que coisas?

– Que mal podes esperar para estarmos juntos – disse, abraçando-o pela cintura.

Mais uma vez, Devon sentiu uma estranha sensação no peito.

– Já não falta muito – disse, numa tentativa para animá-la. – Podemos sempre voltar a falar sobre onde viveremos lá mais para a frente. Neste momento, quero que nos concentremos em ficar juntos – acrescentou, acariciando-lhe o cabelo.

Ela abraçou-o com força e voltou a soltar-se como tinha feito antes para encará-lo e olhar os seus intensos olhos azuis.

– Podemos falar de outra coisa?

– Claro.

– Quando dizes que nos concentremos em estar juntos, queres dizer que preferes esperar para ter uma família? Já falámos de filhos. Acho que deixei claro que quero ficar grávida já, mas não sei a tua opinião.

Na sua cabeça, formou-se a imagem de Ashley grávida, com um radiante e bonito sorriso nos lábios. Ficou surpreendido por a imagem lhe parecer tão gratificante e ficou perplexo.

Em algum momento, tinha deixado de pensar no casamento com Ashley como uma obrigação. Resignara-se ao inevitável e a verdade era que podia ter sido muito pior. Era inteligente, boa pessoa, doce, afetuosa e terna. Seria uma mãe estupenda, muito melhor do que fora a sua. Mas seria ele um bom pai?

– Devon?

Baixou os olhos e deparou-se com o olhar preocupado dela. Instintivamente, tentou afastar-lhe aquela preocupação e beijou-a na testa.

– Estava a pensar.

– É demasiado cedo para ter esta conversa. Desculpa. O meu pai diz-me sempre que me precipito demasiado. Não consigo evitá-lo. Quando quero algo, faço o possível para consegui-lo.

Não pôde evitar sorrir. Era uma descrição muito acertada dela. Desfrutava da vida e não parecia preocupar-se se dava um mau passo. As pessoas como ela eram um mistério para ele. Era incapaz de compreendê-las.

Puxou-a até fazê-la sentar-se no seu colo.

– Acho que vais ser uma mãe magnífica. Estava a imaginar-te grávida e gostei. Isso fez-me lembrar que não temos usado proteção, o que é uma irresponsabilidade. O que faz com que me pergunte se, no fundo, quereria inconscientemente deixar-te grávida.

Ela suspirou e aninhou-se no seu peito.

– Esperava que dissesses isso. Refiro-me quanto a termos filhos. Em parte, acho que será melhor esperarmos, mas sempre desejei ter uma família numerosa e não quero ser uma velha quando terminarem a escola.

– Tens consciência de que não temos feito nada para evitar uma gravidez – disse ele baixinho.

– Importas-te? – perguntou ansiosa. – Quer dizer, se te importarias que ficasse grávida antes de nos casarmos.

– Seria muito hipócrita da minha parte incomodar-me por algo que podia ter evitado.

– Só queria ter a certeza. Não quero que comecemos mal. Quero que seja tudo perfeito.

– Achas que já estás grávida? – perguntou, acariciando-lhe o rosto. – Foi por isso que abordaste o tema? Não quero que tenhas medo de contar-me o que quer que seja. Nunca me chatearei contigo por algo que também é minha responsabilidade. Eras virgem na primeira vez que fiz amor contigo. Deveria ter sido eu a tratar dos métodos contracetivos.

– Não. Enfim, não sei, mas acho que não.

Devon apoiou a testa na dela e percebeu que já estavam a comportar-se como um casal. Confiava em Ashley e gostava de estar com ela. Tinha uma sensação de bem-estar que não podia negar. Talvez, afinal, William Copeland soubesse o que fazia.

– Bom, se estiveres, ótimo. A sério. Quero que me digas se achares que estás. E se não estiveres, depois resolvemos isso, está ?

– De acordo – disse ela, sorrindo e com as faces coradas.

– Que te parece se formos indo para a cama?

Ficou ainda mais vermelha e sorriu com timidez.

– Esforçar-me-ei por deixar-te grávida – sussurrou Devon junto ao seu ouvido.

– Amo-te muito, Devon. Sou a mulher mais sortuda do mundo. Estou desejosa de nos casarmos e de ser oficialmente tua.

Enquanto baixava a cabeça para unir os seus lábios aos dele, Devon pensou que estava muito enganada. A sortuda não era ela.

O beijo da inocência - Calor intenso

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