Читать книгу Cativeiro - Brenda Trim - Страница 5
Capítulo Um
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Passando o cartão de acesso pelo leitor do teclado, Liv abriu a porta quando a luz verde piscou, e depois entrou em uma verdadeira sauna.
— Droga, está quente aqui! — murmurou, olhando para o corredor vazio. O ar condicionado estava desligado ou com defeito?
Nos últimos dois meses, ela havia trabalhado quase todo fim de semana e sabia que o ar condicionado pifava sete dias por semana. Então, lembrou-se de seu chefe, Jim, mencionando um novo guarda de segurança que começaria a partir daquele sábado; assim, talvez ele o tivesse desligado sem saber que alguns funcionários trabalhavam nos finais de semana. Não havia como cumprir um turno de oito horas naquele dia, pensou, abanando o rosto. Precisaria descobrir mais sobre o sistema de climatização.
Liv apressou o passo até o laboratório enquanto o suor escorria por sua testa. Livrando-se da bolsa, da lancheira e de uma braçada de pastas, ela retirou uma presilha da bolsa para prender os longos cabelos ruivos que caíam sobre a nuca. Ah, sim, muito melhor, pensou, enquanto seu corpo esfriava um pouco. Por mais que amasse seus longos cabelos, a cada verão ela pensava em cortá-los, porque eles se tornavam um terrível pesadelo quando ela estava com calor.
Caminhando até o termostato, verificou as configurações. Aquilo era estranho. Estava ajustado para vinte graus, o que era normal para o seu laboratório. Normalmente, ela ficava gelada até os ossos enquanto trabalhava e mantinha sempre um suéter leve com ela. Não precisaria dele naquele dia, pensou, limpando as gotas de suor acima do lábio superior.
Estava suando como um leitão e mal conseguia pensar direito. Um short e uma camiseta pareciam ótimos no momento. Infernos, despir-se até ficar de sutiã e calcinha seria ainda melhor. Em vez disso, ela usava calças compridas e blusa sob o jaleco. Se não conseguisse encontrar onde estava o problema e o reparasse, despiria o jaleco e não se importaria com quem pudesse vê-la e denunciasse a infração. Tinha dezenas, senão centenas, de lâminas para examinar e, com o calor que emanava de seu corpo, a lente do microscópio embaçaria.
Tirando o celular do bolso, Liv mandou uma mensagem para o chefe para ver se ele estava ciente de algum problema.
Lembrando-se de que o painel de controle central ficava na sala de descanso, ela se virou e seguiu pelo corredor principal, colocando os fones de ouvido rosa e conectando-os ao telefone celular. Com um toque de dedo, a música favorita de Liv se fez ouvir e ela aumentou o volume até o máximo. Cantarolando pelo corredor, ela tentou esquecer a temperatura e aproveitar sua música.
O longo corredor do Laboratório Principal de Pesquisa — LPP — parecia se estender por quilômetros e, é claro, a sala de descanso ficava no outro extremo. O piso de ladrilhos cinza e as paredes coloridas combinando adicionavam um ar clínico ao ambiente e faziam a caminhada parecer o proverbial corredor da morte.
Supondo que estava sozinha no edifício, Liv de repente sentiu vontade de acompanhar o ritmo de dança two-step com suas botas de caubói; seus braços também seguiram o balanço, em uníssono com o ritmo rápido. Por Deus, ela adorava dançar e mal podia esperar para encontrar sua vizinha, Cassie, mais tarde naquela mesma noite. Elas sempre se divertiam quando saíam e Liv precisava de uma folga após trabalhar um zilhão de horas.
Enquanto sacudia o traseiro ao som do boom-boom de Luke Bryan, ela não pôde deixar de notar uma porta aberta à frente. De repente, sua dança parou e o calor inundou seu pescoço e faces. Talvez não estivesse sozinha, afinal.
Normalmente, todas as portas dos vários laboratórios ficavam fechadas e trancadas, a menos que a equipe estivesse trabalhando. Liv esperava que alguém tivesse entrado para terminar seus projetos e pudesse explicar o que estava acontecendo com o ar condicionado. Uma rápida olhada na tela do celular lhe disse que Jim não havia respondido à sua mensagem. Não era de surpreender, dado que o homem praticamente morava no campo de golfe nos finais de semana.
À medida que se aproximava da porta aberta, ficou surpresa ao perceber que era uma porta que ficava sempre fechada. De fato, nos quatro anos em que trabalhou ali, Liv nunca a viu aberta nenhuma vez. Presumia que era um depósito mas, enquanto a empurrava lentamente, percebeu que era outro longo corredor.
Uma rajada de ar fresco atingiu sua pele úmida, tentando-a a se aventurar mais. Tudo bem, aquilo era estranho. O que havia ali que precisava de uma unidade de refrigeração diferente? E, por que esta funcionava enquanto o resto do edifício parecia o deserto do Saara?
Instantaneamente alerta, ela tirou os fones de ouvido para se concentrar no ambiente. Aquele corredor tinha a mesma combinação monótona de tons cinzentos do resto do edifício e várias portas se alinhavam de um lado. A única iluminação no corredor vinha de pequenas janelas em cada porta. As janelinhas eram mais altas do que seria a lógica e, quando se aproximou da primeira porta, Liv teve que ficar na ponta dos pés para espiar por ela.
Colocando a palma da mão suada na porta para se apoiar, ela olhou para dentro da sala. Estava vazia, mas havia um colchão no chão e, acima da espessa plataforma, duas correntes estavam presas à parede de pedra.
— Que diabos…? — murmurou Liv, baixinho.
O colchão e as correntes eram bastante perturbadores, mas foram os punhos de metal no final das correntes que fizeram seu coração disparar e martelar no peito. O que estava acontecendo naquela sala? É certo que estava impecável e desocupada, mas ela não conseguia imaginar qual o uso para haver um colchão ou correntes no laboratório. Embora a sala estivesse vazia, seu sexto sentido gritava que algo estava errado.
Curiosa, seguiu até a janela seguinte e espiou. Também estava vazia. Droga, pensou Liv, enquanto examinava cada sala. Cada uma delas estava vazia, exceto pelos colchões e correntes presas às paredes. O que poderia estar acontecendo naquela seção do edifício?
Era do conhecimento geral que eles realizavam vários testes e experimentos no LPP, alguns realizados em animais, mas aquilo parecia algo completamente diferente. Os animais ficavam em gaiolas em uma grande área, não em salas individuais como aquelas. Aquilo que ela estava olhando lembrava celas de prisão e, pela primeira vez, teve medo de estar sozinha no trabalho. Onde estava aquele novo guarda quando mais precisava dele?
Um metal retiniu, assustando Liv, e ela pulou. Seu coração martelou no peito quando percebeu que vinha de uma das últimas cinco portas ao longo do corredor. Agachando-se, considerou suas opções. Deveria sumir dali e perguntar a Jim na segunda-feira?
Parecia razoável, pois o suor encharcava suas costas inteiras, o que não se devia inteiramente ao mau funcionamento do ar condicionado. A cena a fez lembrar-se de um filme de terror, e ela era a mulher idiota que andava cegamente pelas vias do inferno.
Sim, ela deveria dar o fora dali. Mas… seria capaz de pensar em mais alguma coisa durante o resto do fim de semana? Seria capaz de aproveitar a noite ou qualquer outra coisa?
Não. Aquilo enlouqueceria Liv e ela não pensaria em nada além desse corredor misterioso. Precisava saber o que provocava aquele barulho e o que estava acontecendo naquele setor do edifício. Esqueça o som assustador, pensou ela, enquanto decidia seguir em frente com resolução impulsiva.
Respirando fundo várias vezes para acalmar o nervosismo, Liv deu vários pequenos passos bem devagar e ficou na ponta dos pés para olhar pela pequena janela. O que ela viu a horrorizou e ela piscou duas vezes para se certificar de que não era uma alucinação. Ela forçou os olhos para poder ver melhor através da fraca iluminação da sala.
Não, não estava tendo alucinações… ou talvez estivesse. De jeito nenhum ela poderia estar olhando para um homem, um homem anormalmente grande, dormindo no colchão. Suas mãos estavam algemadas e acorrentadas à parede. Ele estava imundo, vestindo nada além de uma calça de moletom preta coberta de sujeira. O homem estava enroscado como uma bola e tremendo. Sua pele era bronzeada, mas ele parecia doente naquela posição fetal.
Querendo ajudar, ela pegou a maçaneta e a girou, mas estava trancada. Estava prestes a bater no vidro quando ouviu sons abafados vindos da sala ao lado.
Caminhando silenciosamente para a porta vizinha, com o coração martelando um milhão de batimentos por segundo, ela avançou ao longo da parede até que pudesse ver pela janela da porta, ainda que com pouca clareza. Outro homem estava de quatro, cobrindo a cabeça e o rosto com os braços, enquanto um segurança o espancava com o bastão. Ela notou que ele também estava acorrentado à parede, completamente à mercê do guarda.
Liv não reconheceu o segurança, mas percebeu que ele estava vestindo o uniforme preto da empresa. O guarda estava sendo cruel em seu ataque. Havia sido esse o novo cara que Jim havia contratado?
Ela sentiu-se presa nesse momento terrível de indecisão entre lutar ou fugir, enquanto observava o abuso, incrivelmente atordoada. A honra lhe dizia que não podia ir embora, mas não fazia ideia de como poderia agir contra o homem armado. Em comparação a ele, ela era pequena.
Ao lado do guarda estava David Cook, outro cientista pesquisador. Liv havia trabalhado em estreita colaboração com David em vários projetos e gostava do sujeito. Não conseguia imaginar como ele não parecia se sentir mal ao permanecer ao lado, observando tanta brutalidade, mas sua postura, com pernas afastadas e braços cruzados, desmentia isso. E então ela ouviu David ordenar que o homem fosse golpeado novamente. Estavam espancando um homem indefeso. Que tipo de experimento estavam realizando?
Uma coisa era certa. Liv se sentiria péssima se fosse embora naquele momento.
Alcançando a maçaneta, Liv quase desejou que estivesse trancada, mas ela girou e cedeu. Ela abriu a porta de metal pesado e entrou com confiança e determinação. Talvez, se agisse como se devesse estar ali, eles a tratassem adequadamente. Finja até conseguir, como Cassie sempre dizia.
— Alguém pode me explicar o que está acontecendo? — exigiu Liv, com as mãos nos quadris.
Os dois homens se viraram e o outro no chão a olhou. Ele estava tão sujo quanto o outro homem na sala ao lado. Vestindo a mesma calça de moletom preta, ele parecia não ter tomado banho ou se barbeado por meses, possivelmente anos. Seus cabelos negros estavam emaranhados e caíam pelas costas. Uma barba cheia cobria a maior parte do rosto e era longa e pegajosa. Ele parecia um homem das Montanhas Great Smokies. Seu corpo era grande como o do seu vizinho e foi então que Liv percebeu. Aqueles dois homens eram shifters.
— Olivia, o que está fazendo aqui? — perguntou David, obviamente chocado ao vê-la ali, parada. — Isso realmente não lhe diz respeito — acrescentou.
— Não entendo o que estão fazendo. Por favor, explique por que esses homens estão acorrentados e sendo maltratados. Não é isso que fazemos aqui — implorou ela, com a voz trêmula de emoção.
Ela odiava deixar transparecer suas emoções tão abertamente. Por que não conseguia ser a Srta. Durona, agir com energia e ameaçar denunciá-los?
— Querida, é melhor você ir embora. Detestaria colocá-la sobre os meus joelhos e lhe ensinar o que acontece com garotinhas que não se metem com os próprios assuntos — zombou o guarda e então lambeu os lábios. O estômago de Liv se revirou ao pensar na possibilidade de o homem chegar a menos de três metros dela.
Ele era um homem grande e corpulento, e parecia que ficaria feliz em concretizar sua ameaça. Imaginando que pudesse estar com quarenta e tantos anos, ele parecia estar em excelente forma física. Foram seus olhos castanhos e enlouquecidos que a deixaram tão nervosa.
O homem no chão se moveu e o guarda ergueu o bastão e bateu nas costas dele com dois golpes consecutivos. O shifter caiu sobre o peito e rosto, cobrindo a cabeça o melhor que pôde.
Liv deu outro passo à frente.
— Isso é necessário? Ele nem consegue se defender. David, por favor, faça alguma coisa — implorou ela.
— Olivia, não é o que parece. Ele é um shifter e não se pode confiar nele. São selvagens e imprevisíveis. As algemas servem tanto para a proteção dele quanto para a nossa. Apenas vá. Agora! — exigiu David com severidade, mas Liv ouviu a sinceridade em seu tom.
Ela sabia muito pouco sobre shifters e não havia passado qualquer tempo com um deles, mas ouvira histórias. As notícias retratavam os shifters exatamente como David descrevia. Selvagens, violentos e imprevisíveis. Os humanos reconheciam os shifters por seu grande tamanho. Eram mais altos, mais musculosos, com mãos e pés maiores. O homem no chão parecia que poderia ganhar um concurso de Mr. Universo sem esforço. Se estivesse limpo e barbeado, é claro.
Liv reconhecia que a convivência entre humanos e shifters era muito segregada, e ambos preferiam assim. Os shifters viviam em suas comunidades isoladas e geralmente possuíam os negócios ali dentro. Uma vez que pagassem impostos e obedecessem a leis e regulamentos, todos ficavam felizes.
Havia rumores de que os shifters eram extremamente violentos, selvagens mesmo. O homem no chão estava agitado, rosnando para o guarda que pairava sobre ele e Liv se perguntou se ela estava prestes a testemunhar sua capacidade em primeira mão.
— Vou embora se vocês dois vierem comigo. Não posso ir, se acho que vocês continuarão batendo nele — declarou Liv, cruzando os braços sobre o peito. Sim, ela poderia ser teimosa e desafiadora, e sentiu que aquele homem poderia precisar de um amigo agora.
— Ora, sua pequena cadela, vou lhe mostrar o que é uma punição — retrucou o guarda, começando a se dirigir até Liv.
Com a velocidade da luz, o shifter se pôs de pé e agarrou o guarda com uma gravata. Antes que Liv pudesse reagir, ele envolveu a corrente de metal em volta do pescoço do homem e puxou, quebrando-o. Liv só podia imaginar a força necessária para fazer uma coisa dessas. Imediatamente, o guarda caiu no chão como uma boneca de pano.
O grito agudo de Liv ricocheteou nas paredes de concreto, ao mesmo tempo que David avançava em direção ao shifter, com a arma tranquilizante na mão.