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Capítulo Quatro

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O temido clique da maçaneta alertou Lawson. Ele detestava o som. Para ele, significava mais uma rodada de agulhadas em sua pele ou espancamento em seu corpo. Sentando-se rapidamente, ele agarrou a cabeça quando uma dor aguda explodiu ao redor dos olhos.

Seu rosto não havia se recuperado dos ferimentos recebidos durante sua última surra e ele mal conseguia ver com o olho direito. Normalmente, seu corpo se curava em vinte e quatro horas, mas aquela foi a pior surra até então.

Lawson estava com feridas abertas por ter sido chicoteado com uma corrente de metal, e várias costelas quebradas por chutes repetidos no peito e abdômen. Lembrava-se de ter cuspido sangue bem antes de um golpe na cabeça o ter deixado inconsciente.

Eles o torturaram porque ele havia matado dois homens, mas sua compaixão por aqueles humanos cruéis se foi. Ninguém havia lhe demonstrado um pingo de simpatia. Ele havia sido tratado pior do que um animal.

Seu corpo tinha mais buracos do que um queijo suíço, e ele estava todo preto e azulado. Poderia se curar rapidamente, mas os golpes e agulhadas constantes, juntamente com a falta de comida adequada e instalações de banho, o deixaram mais fraco do que o normal. Mental e fisicamente. Com honestidade, gostaria que drenassem todo o sangue de seu corpo e o deixassem morrer. Seria melhor do que aquele sofrimento contínuo.

As chicotadas se tornaram mais frequentes, e Lawson não tinha certeza de quanto mais seu corpo poderia aguentar antes de desistir. Não ajudava o fato de sua vontade de viver estar desaparecendo lentamente. Se não encontrasse uma maneira de escapar logo, iria morrer naquele maldito buraco e isso só o irritava ainda mais.

Pelo menos ele conseguiu causar um pequeno dano aos lacaios de Jim antes que eles o deixassem inconsciente. Lawson sorriu com a lembrança de ter quebrado o braço de um homem e a perna de outro. Droga, doía como o inferno mover qualquer músculo em seu rosto.

Abrindo o olho esquerdo o melhor que podia, ele ficou chocado ao ver a mulher ruiva entrar no aposento e fechar a porta atrás dela. Era a última pessoa que ele esperava ver novamente. Nunca.

Ele imaginou que ela permaneceria em seus sonhos, ao invés de em carne e osso, diante dele. Infelizmente, ela havia consumido Lawson nas últimas duas noites, assombrando os sonhos dele com seus olhos verdes aterrorizados. Ele se sentia mais preso ao eco interminável do grito horrorizado dela do que às correntes que o prendiam à parede de cimento às suas costas.

Fazendo um balanço rápido, ele se sentiu profundamente humilhado por sua aparência. A calça de moletom que usava desde o primeiro dia estava tão suja que o deixava doente. Não pela poeira, mas pelo mau cheiro de roupas rançosas que precisam desesperadamente de uma lavagem. O cheiro o enojava, e ele só podia imaginar como aquilo devia ser ruim para ela.

O que ele podia ver de seu cabelo escuro e longa barba estava emaranhado, e as unhas de suas mãos e pés estavam crescidas demais e descoloridas. Era uma vergonha e ele queria rastejar para dentro de um buraco e se esconder.

Muitos assumiam que os shifters eram sujos por natureza por causa de seu lado animal, mas não era verdade. Louco por limpeza era um termo que sua família lhe atribuía, devido às suas tendências obsessivas. A maioria dos shifters eram fanáticos por higiene, e ser essa esquálida figura deixava Lawson fisicamente doente.

A pior parte era o seu banheiro. Consistia em um grande balde no canto da cela, que não era descartado regularmente, o que aumentava os odores. Ele estava lá há tanto tempo que seus sentidos estavam abafados, mas seu estômago ainda embrulhava-se ao pensar em suas péssimas condições de vida.

— Oh, meu Deus, o que fizeram com você? — exclamou ela, correndo até ele.

Ele rapidamente ergueu a mão, interrompendo os passos dela.

— Não. Fique longe — ordenou Lawson.

Ele ficou impressionado com a bravura dela. Ela o vira cometendo um ato violento contra dois humanos e teve a coragem de retornar para a sua cela. Sozinha. Estava correndo para o lado de um assassino. Tinha desejo de morrer?

Com toda certeza, ele jamais teria voltado para a cena do crime, especialmente para aquele lugar desagradável.

Ela ergueu as mãos defensivamente e recuou.

— Tudo bem, não vou chegar perto de você. Se estiver bem para você, vou apenas me sentar no chão bem aqui, e manter certa distância — murmurou a fêmea, agachando-se no chão frio. Ela se atrapalhou com seu jaleco na altura do joelho enquanto cruzava as pernas.

Ele notou que ela usava calças bege e uma blusa preta sob o jaleco. Seu doce aroma ainda o intoxicava, mas ele descobriu que estava um pouco mais no controle de sua libido naquele momento. Outro resultado de seu encontro no jantar com os guardas. Eles o espancaram tanto que ele não conseguia nem ficar excitado.

Ela colocou uma sacola vermelha no chão ao lado dela. Vermelha. Combinava com os longos fios de seu cabelo sedoso. Também era a cor favorita dele. De repente, ocorreu a Lawson que seu cativeiro estava vazio de cor, e aquela mulher era um farol em seu mundo escuro.

De todas as cores, ela era o vermelho. Para ele, representava amor, vida e paixão. Tudo isso era, naquele momento, lembranças distantes do que sua vida havia se tornado.

Sua voz suave chamou a atenção dele.

— Meu nome é Olivia Kimbro, mas meus amigos me chamam de Liv. Sou uma das cientistas pesquisadoras aqui no LPP. Qual é o seu nome? — perguntou ela, alcançando a bolsa e tirando uma prancheta com alguns papéis presos a ela.

Durante todo o tempo em que ele estivera naquele maldito buraco, nem uma única pessoa teve a decência de lhe perguntar algo tão simples como o seu nome.

Não que saber seu nome lhes concedesse o conhecimento que buscavam, mas havia mostrado como aqueles humanos pouco se importavam com a situação dele. Ele a olhou sem dizer nada. Por que deveria compartilhar algo com ela?

Aqueles humanos não lhe trouxeram nada além de dor, tortura e sofrimento. Por que, então, uma mulher de repente estava mostrando interesse, se era isso que acontecia? Poderia ser uma armadilha, por tudo o que ele já conhecia. Na verdade, ele se perguntou por que não haviam enviado uma mulher antes para coagi-lo a mudar de forma.

— Não posso dizer que o culpo pelo seu silêncio. Provavelmente, eu faria a mesma coisa. Que tal isso? Vou contar um pouco sobre mim, e você pode decidir depois se quer conversar comigo. Tenho que avisá-lo, porém, minha história é bastante tediosa — divulgou ela, enquanto enfiava a mão na sacola de novo e puxava uma maçã verde, jogando-a rapidamente para ele.

Levantando a mão, ele a agarrou no ar.

— Uau, bons reflexos — disse Liv, com uma risada. — Presumo que seja uma característica shifter. Nunca havia conhecido um shifter, então perdoe-me se sou uma ignorante.

Lawson gostava do som da voz dela. Era rouca e suave, o que o intrigava. Na verdade, queria se deitar e ouvi-la falar ou talvez ler para ele. Um romance completo, do início ao fim. Ele nem se importava com o que seria, contanto que levasse horas para que ela o concluísse.

Olhando para a fruta verde brilhante em sua palma, ele a virou, estudando-a mais de perto. Mais uma vez, ver cores era uma lufada de ar fresco. A firmeza e a casca imaculada da maçã eram perfeitas, em sua opinião. Ele vivia de aveia fria e pão velho desde que o capturaram. Oh, eles o encheram de vários suplementos para mantê-lo saudável, mas a comida fornecida era sem graça e sem gosto. Ele não sabia se deveria comer a maçã ou pendurá-la na parede como uma bela obra de arte.

— Vai estragar se não comer — comentou ela, como se lesse seus pensamentos.

Ele levou a fruta à boca e deu uma grande mordida. Um gosto agridoce explodiu em sua língua, e ele fechou os olhos, saboreando a experiência. Não conseguia se lembrar de comer nada com tanto sabor. Dando outra mordida, ele gemeu de prazer. Estava fresca e crocante, e tinha o perfume de um dia ensolarado. Mais uma coisa que ele não via há muito tempo.

— Uau, talvez eu devesse tê-la guardado para mim. Minha vizinha, Cassie, chamaria essa expressão em seu rosto de orgástica — disse Olivia, rindo.

Os olhos de Lawson se arregalaram ao vê-la boquiaberta de interesse. Seus atraentes olhos verdes se fixaram nos dele e ele não conseguiu evitar a excitação que disparou em sua virilha com o olhar caloroso dela. Tudo bem, a surra não desencorajou o seu desejo, porque imagine se ele não a desejava.

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* * *

Liv sentiu um rubor se espalhar pelo rosto e rapidamente desviou o foco, olhando para a prancheta enquanto examinava os papéis em anexo. Não havia nenhuma informação pessoal em seu arquivo, apenas os resultados do que os outros cientistas encontraram nas amostras de sangue dele.

Infelizmente, ela não viu nada além de um borrão devido ao seu desconforto, mas manteve o foco em qualquer lugar, menos nele. Os penetrantes olhos cinzentos do shifter a atingiam e brincavam de esconde-esconde. Liv jurou que ele podia ver diretamente em sua alma e isso a fez cruzar e descruzar as pernas enquanto mordia o lábio. Muito enervante. Ela tinha segredos escondidos como qualquer outra pessoa e certamente não precisava daquele homem dissecando seus erros e falhas.

Respire fundo e volte ao seu objetivo, disse a si mesma. Precisava ganhar a confiança dele. Do contrário, ele nunca mudaria de forma e eles precisavam do sangue da forma animal dele. Ela se perguntou em que animal ele se transformava. Urso? Leão? Era impossível dizer apenas olhando para ele, e ela se sentia péssima vendo os múltiplos ferimentos cobrindo o corpo dele.

O que quer que tivesse acontecido entre ele e seu chefe na noite anterior não foi a favor do shifter. Sim, ele matou dois homens, mas eles o estavam espancando sem piedade. Ela viu, com seus próprios olhos. Eles o estavam atacando enquanto ele permanecia indefeso, tentando se proteger.

Agora, o rosto dele estava inchado a ponto de parecer desfigurado. Um olho estava fechado e o outro não estava muito melhor. A parte superior do tronco estava coberta de vergões e a pele, aberta em vários pontos. Seu coração se condoeu pelo abuso que ele suportou.

Julgando pelos músculos enormes, Liv sabia que o homem era incrivelmente forte, mas mesmo um shifter devia ter limitações. Ele parecia que as tinha excedido.

Novamente, sua mente se perguntou sobre o lado animal dele. Ela ouviu que, quando eles se transformavam, não tinham controle sobre as ações de sua fera. Como isso deveria ser primitivo e duro para eles. Parte dela reconhecia que poderia ser libertador, também. A curiosidade sobre o animal dele a estava consumindo. Liv reconheceu que estava um pouco excitada com isso.

Afastando os pensamentos inadequados, ela considerou por onde começar em sua recapitulação de vida nada interessante.

— Então, sou do Tennessee. Cresci não muito longe de Chattanooga e fui para a faculdade comunitária aqui na cidade. Meu pai desapareceu quando eu era muito jovem. Para ser sincera, mal me lembro dele. Não tenho irmãos ou irmãs, mas minha mãe e eu somos muito próximas. Ela é minha melhor amiga. Você tem algum irmão? — divagou ela, finalmente encontrando os olhos dele mais uma vez.

Nenhuma resposta, mas Liv viu algo faiscar nas orbes cinza-aço do shifter. Seria porque ela falou sobre a família dele? Ele tinha uma família, e eles o estavam procurando? Muitas perguntas passaram por sua mente.

Há quanto tempo ele vinha sendo mantido em cativeiro? Como havia sido capturado? Por que era tão resistente? Parecia que ele deveria querer ajudar a salvar vidas, se pudesse. Ela precisava fazer com que ele se abrisse, se quisesse descobrir o que estava acontecendo em seu local de trabalho.

— De qualquer forma… tenho trinta anos, não tenho filhos e nunca me casei. Hmmm, minha cor favorita é rosa, gosto de dançar, amo comida italiana, não bebo muito álcool, mas tomo chá doce como se estivesse para acabar e… oh, o mais importante, vou dominar o mundo, assim que descobrir o segredo de como ganhar dinheiro em tubos de ensaio — declarou ela, com naturalidade, e começou a rir. Sim, essa última parte foi uma piada. Ela e Cassie diziam que elas viviam um dia de cada vez.

Olhando para o Sr. Conversa Fiada, ela pensou ter notado uma leve curvatura em seu lábio superior. Ele estava ouvindo. O problema era que isso não significava que ele estava falando. Talvez ele questionasse os motivos dela. Quem sabe quanto tempo estava preso ali, naquela cela horrível? Ela presumia que ninguém havia lhe demonstrado um grama de bondade. Provavelmente, ele precisaria saber onde estava a lealdade dela.

— Então, o negócio é o seguinte. Quero ajudá-lo. Por mais que eu queira destravar as algemas e libertá-lo, isso não é uma opção. Você tem algo de valor para este centro de pesquisa, e eles não vão deixá-lo partir sem concedê-lo. Mas o que posso fazer é ser uma espécie de mediadora e prevenir qualquer abuso futuro contra você. Se você me ajudar, farei o que puder para ajudá-lo. Mas você precisa confiar em mim. Meu chefe não gostou da minha vinda até aqui, mas concordou em dar uma chance — admitiu ela, abertamente.

Jim não iria deixá-la continuar aquelas visitas se ela não fizesse nenhum progresso. Para ele, era perfeitamente adequado bater naquele homem até a sua submissão. Liv não queria que isso acontecesse. Estava propensa a ajudar aquele homem, se ele a deixasse ajudá-lo.

Olhando para o relógio, ela entrou em pânico quando viu há quanto tempo estava com ele. Seu tempo estava quase acabando. Jim esperava que ela se reportasse a ele após aquela primeira reunião. Se fosse de mãos vazias, ele poderia cancelar o acordo.

— Vamos. Ajude-me. Qualquer coisa, por favor — pediu ela, ficando de joelhos e implorando. Era dramático demais, mas ela estava tentando provar seu ponto de vista. O homem apenas a olhou, sem expressão. Ele não iria ceder um centímetro.

Exalando derrota, ela enfiou a mão na bolsa e tirou seu velho iPod Nano e um conjunto de fones de ouvido. Pelo menos, ela poderia deixar alguma música para ele. Se estivesse acorrentada a uma parede, a música seria sua salvação. Um meio de escapar de sua infelicidade.

— Quero que você fique com isso, caso eu não tenha permissão para voltar. Certifique-se de escondê-los dos outros, sob o colchão — aconselhou Liv, jogando o conjunto na direção dele.

Ele o pegou sem desviar os olhos dos dela. Olhando para trás, ela sentiu o rubor retornar às suas faces, mas não desviou o olhar desta vez.

Se nunca mais o visse, queria que ele soubesse que ela realmente se importava com ele. Esperava que ele o visse em seu íntimo, onde o olhar dele penetrava em sua alma.

Forçando-se a interromper o controle que ele exercia sobre ela, ela se virou para sair da sala.

— Lawson.

O tom de barítono grave enviou um arrepio por sua espinha, e ela se virou para encará-lo. Olhos cinza-aço roubaram seu fôlego e enfraqueceram seus joelhos. Ele lhe disse o seu nome. Uma palavra, mas foi o suficiente.

Sorrindo, ela respondeu:

— É um prazer conhecê-lo, Lawson. — Outra curvatura no lábio superior dele lhe disse que o sentimento era mútuo.

Saindo da sala e fechando a porta, Liv despencou no chão do corredor. Que Deus a ajudasse, estava ofegante. Exultante, triunfante, tonta. Estava em êxtase. Outra vitória para o Time da Liv

Animada para contar a Jim sobre seu pequeno milagre, ela se dirigiu à sala de descanso, onde disse que o encontraria. Certamente haveria vários funcionários almoçando, o que significava que ela não estaria sozinha com ele. Ela não estava com humor para flertar ou lhe dar esperanças, e, com certeza, não estava com humor para seus avanços indesejados. Com sorte, a informação dela agradaria Jim, e ele concordaria que ela deveria continuar vendo Lawson.

E logo após seu encontro com Jim, havia um velho amigo que ela precisava ver. Ele era a única pessoa que conhecia que tinha conexões influentes, para não mencionar bolsos profundos. Se alguém podia ajudar Lawson, era ele.

Lawson.

Só de pensar no nome dele, sentiu outro arrepio percorrer sua espinha.

Cativeiro

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