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Capítulo Dois

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— Cailyn, oh, meu Deus. Você está bem? – gritou Elsie e Cailyn virou a cabeça dolorida.

Elsie, Zander e Jace a olhavam. O seu coração acelerou ao ver Jace. Ele era tão sexy quanto ela se lembrava e estava ali, para salvá-la. A casa atrás deles lhe parecia familiar. Ela percebeu que um portal havia sido criado para chegar até ela e Jessie. A porta mágica parecia exatamente com aquela que os feiticeiros haviam criado na noite da festa de formatura da irmã. Era um lembrete terrível do momento em que fugiram da batalha com os demônios, do lado de fora do Clube Confetti.

Elsie correu até ela, murmurando palavras de conforto. Cailyn queria afastar a preocupação da irmã e tranquilizá-la. Odiava ver Elsie com medo ou infeliz. Não que sua irmã precisasse de garantias, agora que era uma vampira. Elsie havia mudado de muitas maneiras, além de apenas essa, desde que se tornara a Rainha Vampira. Sempre foi confiante e capaz, mas agora havia um poder em torno dela que exigia respeito.

A Deusa Morrigan havia escolhido com sabedoria, pensou Cailyn, quando escolheu Elsie para ser a companheira de Zander. Cailyn se lembrava de ter visto a Deusa na cerimônia de acasalamento da irmã. O curso de mitologia que tivera na universidade havia lhe ensinado que Morrigan era a deusa da guerra e da morte, mas Cailyn viera a saber que esse era um pequeno aspecto de sua divindade.

Era também a deusa do nascimento, tendo criado o Reino de Tehrex, junto com os sobrenaturais que ali moravam. Era estranho pensar que aquele reino coexistia com o dos humanos, na Terra. Elsie agora era uma parte vital desses sobrenaturais, mas velhos hábitos eram difíceis de superar, e Cailyn não achava que algum dia deixaria de ser mãe de sua irmãzinha.

— El. Vou ficar bem. Esses rapazes nos acharam a tempo – acalmou Cailyn, tentando mascarar a agonia.

Um baixo rosnado masculino a fez se virar nos braços de Jax. Incapaz de esconder o estremecimento que a dor lhe provocou, ela notou que Jace estava rapidamente se aproximando dela.

— Entregue-a a mim – exigiu Jace, com a raiva estampada nas feições masculinas.

A maneira gentil com que ele a tirou dos braços de Jax foi surpreendente, tendo em vista como estava irritado. Ainda assim, ela cerrou os dentes com a movimentação. Sentia como se um atiçador quente estivesse sendo enfiado nos músculos e ossos de sua perna, e sua cabeça estava matando-a.

A ghra, sua irmã está segura. Devemos voltar pelo portal até Zeum para que Jace possa recuperar sua força e cuidar dela. Jace a colocará de pé e em boas condições em um instante. Pare de se preocupar. Vamos sair daqui – instruiu Zander enquanto Bhric, irmão de Zander, tirava Jessie de outro guerreiro.

— Jessie recuperou a consciência? – perguntou Cailyn ao Príncipe Vampiro. Ela estava apavorada de preocupação com a melhor amiga e nunca se esqueceria de ter visto o demônio mordê-la.

— Não totalmente. Jace, você precisa fazer algo por esta pobre moça. Ela está se contorcendo e gemendo. Aqui, vou levar Cailyn e você pode levá-la – respondeu Bhric.

— Infelizmente, Bhric, não há muito que eu possa fazer por Jessie agora. Essa marca de mordida no pescoço dela não é de uma escaramuça. É a mordida de um arquidemônio. Ela foi envenenada. O portal está a dez passos de distância. Leve-a e fique atrás de mim. O portal vai fechar rapidamente. Nosso poder está diminuindo e não podemos mantê-lo aberto por muito mais tempo – respondeu Jace, sem deixar de dar um passo.

Sua grave voz masculina abalou e acalmou Cailyn ao mesmo tempo. Ela só poderia descrevê-la como pura e primitiva. Ela fez seu corpo ganhar vida.

Cailyn aninhou-se mais para perto do peito quente dele, deliciando-se quando ele reagiu, agarrando-a com mais força. Estava certa em não querer ficar sozinha com ele. Estar tão perto dele confundia os pensamentos, o que não a ajudava a resolver o seu dilema.

Amava John, mas desejava Jace, e não via uma solução rápida e fácil para tais sentimentos. Em vez disso, forçou os pensamentos para um assunto mais fácil.

— O que há de errado com Jessie? O que ele fez com ela?

— Primeiro, diga-me o que aconteceu – respondeu Jace, enquanto continuava andando e carregando-a.

Ela olhou em volta enquanto pensava na melhor forma de resumir o que acabara de passar. Era incompreensível pensar que, com alguns passos, eles haviam pulado um Estado inteiro e ido de San Francisco a Seattle por meio de um portal mágico.

Cailyn ainda estava tentando entender tudo o que acontecia no Reino de Tehrex, que ela só havia conhecido alguns meses antes. Devido às próprias habilidades especiais, não foi difícil para ela acreditar que havia mais no reino, mas aquilo era algo completamente diferente.

O silêncio na sala era desconfortável e ela percebeu que um grande grupo de pessoas esperava sua resposta. Estava surpresa que alguns dos Guerreiros das Trevas de San Francisco tivessem ido a Zeum com eles e a olhassem com expectativa.

Ela se concentrou nos eventos da noite.

— Estávamos voltando do aeroporto e um utilitário cheio de escaramuças nos tirou da rodovia. Assim que nos isolaram, Azazel e Aquiel apareceram no meio da estrada. As escaramuças no carro me atingiram na lateral e perdi o controle do carro. Rolamos várias vezes antes de eu bater em uma árvore. Foi a coisa mais assustadora pela qual já passei – explicou Cailyn.

A memória fez as palmas de suas mãos suarem. Ela olhou para a amiga para se assegurar de que Jessie estava viva. Pequenos tremores sacudiam o corpo de Jessie, e Cailyn não achava que a amiga estava consciente do que acontecia ao seu redor, apesar de estar com os olhos bem abertos.

— Antes que pudéssemos sair do carro, a fada me agarrou e o demônio agarrou Jessie. – Cailyn lutou contra as emoções e piscou antes de continuar. – Ele a mordeu depois que ouviram vocês vindo nos salvar. Ele disse algo sobre ela ser uma de suas escaramuças, a mais bonita ou algo parecido. Tentei lutar e ajudá-la, mas a fada falou algumas palavras em uma língua estranha e não pude me mover. Não muito depois disso, eles desapareceram – concluiu Cailyn.

— O que exatamente a fada disse? – perguntou Jace, com a tensão envolvendo cada palavra dita.

A severidade em seu tom a surpreendeu. Ela presumiu que a raiva dele era dirigida à fada e ao demônio, não a ela. De qualquer maneira, parecia que ele poderia rasgar algo em pedaços.

— Não faço ideia. Não consegui entender o idioma. Pelo que sei, poderia ter sido chinês. Não importa o que falou agora. Quero saber o que está acontecendo com Jessie. Diga-me que ela vai ficar bem – implorou Cailyn.

— Preciso saber o que a fada falou. Fadas são capazes de lançar encantamentos que nenhum dos feiticeiros no reino sabe como contra-atacar – respondeu Jace, apertando-a mais contra si. – Quanto a Jessie, acredito que ela pode estar se transformando em uma escaramuça. E isso significa que estará sob a influência do arquidemônio que a transformou.

— Que maldita confusão – praguejou Zander. – Kadir e Azazel são ousados, mas não muito espertos, se acham que permitiremos rédeas soltas a esta escaramuça em nosso complexo. – Cailyn não gostou do que Zander dizia.

— Devemos dar um jeito nela agora, antes que seja um risco – acrescentou Gerrick.

Um pavor gelado percorreu a espinha de Cailyn.

— Ninguém vai dar um jeito em Jessie, a menos que seja para curá-la e fazê-la melhorar – disse, indignada com o que estavam insinuando.

Como podiam ser tão insensíveis ao falar sobre matar a sua amiga? Cailyn estava determinada a impedir que qualquer outra coisa acontecesse a Jessie. A amiga já havia passado por coisas demais por causa de Cailyn e pela conexão que esta possuía com aquelas criaturas. Cailyn se recusava a deixá-la passar por mais dor por sua causa. Ela se remexeu, tentando se aproximar de Jessie, mas Jace se recusou a deixá-la ir.

— Pare com isso. Cailyn, não temos ideia do que enfrentaremos quando ela acordar. Normalmente, as escaramuças são consumidas pela sede de sangue e matam quando se alimentam. Elas se alimentam de humanos e agora você é a única humana neste complexo – falou Jace, mantendo o olhar fixo nela.

A empatia e a tristeza refletidas nele apenas a irritaram mais. Ele já havia concluído que sua amiga também era um risco. Estava claro que ele concordava com a decisão de confiná-la e depois matá-la.

— Não posso acreditar que alguma vez pensei que vocês eram melhores do que a escória da humanidade. Nada disso é culpa de Jessie. Foram seus inimigos que fizeram isso, mas nenhum de vocês está disposto a lutar pela vida dela. Vocês estão tirando uma conclusão precipitada sobre a condição dela. Bem, eu me recuso a acreditar que não há esperança e não vou permitir que algo aconteça com ela – declarou Cailyn, desejando poder ficar de pé sozinha para assumir uma posição melhor. Doía ainda mais o fato de estar ferida e sem condições de defender melhor Jessie.

Zander colocou a mão gentilmente em seu ombro.

— Acalme-se, puithar. Ninguém vai machucá-la, mas tenho que dizer que, em todas as décadas de pesquisa, nossos cientistas não foram capazes de encontrar uma maneira de lidar com o veneno de escaramuça, muito menos reverter os efeitos de uma mordida de arquidemônio – explicou Zander.

A compaixão nos olhos dele disse a Cailyn que ele acreditava que Jessie precisaria ser morta. Não ia acontecer.

— Mas nós nunca vimos uma mulher transformar-se antes, também – acrescentou Jace. – Talvez o processo seja diferente com as mulheres. Olhe para o pescoço dela. A mordida tem tons de azul nas bordas, em vez de preto. O sangue dela ainda está vermelho e, pelo breve exame que fiz, suas ondas cerebrais estão ativas e normais, se não intensificadas. Agora, não fiz um exame completo, mas todas as indicações mostram que ela não está se transformando no mesmo padrão de uma escaramuça masculina, pelo menos não fisicamente – informou ele ao grupo, e o coração de Cailyn disparou. Talvez houvesse esperança, afinal.

Jace se virou para ficar de frente para Bhric e Jessie. Cailyn estendeu a mão e agarrou a mão mole de Jessie, odiando a forma como as contrações dela estavam mais pronunciadas.

Jace mudou Cailyn de posição nos braços e passou a mão pelo braço dela. Cailyn estremeceu, mas não com a dor pelo movimento que ele fez. Uma excitação intensa percorreu seu corpo com aquele leve toque. Ele instruiu Bhric a abrir a mandíbula de Jessie para que ele pudesse examinar os dentes.

— Os incisivos delas estão soltos, então acredito que vão crescer presas. A questão é: o que enfrentaremos quando a transição dela estiver concluída? – perguntou Jace.

Cailyn se recusava a acreditar que Jessie se transformava em um assecla demoníaco irracional.

— Não pode ser tarde demais para reverter a transição. Ela não está ciente do seu reino, ou de que os sobrenaturais sequer existem. E agora vai ter presas? Vai ter que beber sangue, pelo amor de Deus! – exclamou Cailyn, temerosa pelo que Jessie poderia enfrentar.

Mais uma vez, Cailyn se culpou pela condição da amiga. Se não tivesse pedido a Jessie para buscá-la no aeroporto, a amiga estaria dormindo, sã e salva, em sua cama. Naquele momento, ela se odiou por ser tão materialista a ponto de recusar a deixar sua Mercedes estacionada no aeroporto. Tudo parecia tão sem importância agora.

— Jace está certo, eles nunca transformaram uma mulher antes. Sempre presumi que as mulheres morriam se fossem envenenadas. Entendo sua preocupação por sua amiga, Cailyn, mas não posso permitir que ela vagueie livremente pela casa até que entendamos a situação melhor. É meu dever zelar pela proteção de Elsie e pela sua. Não colocarei nenhuma de vocês em risco desnecessário – ordenou Zander.

Cailyn notou a forma como Jace enrijeceu com as palavras de Zander, e estava curiosa para saber o motivo. Ela se perguntou se ele também se irritava com a supremacia do rei. Foi preciso que Cailyn se esforçasse muito para recuar e considerar o perigo que corria. Ela já havia visto o que uma escaramuça era capaz de fazer e não queria colocar ninguém nessa posição. Mas o que iriam fazer?

Enquanto Cailyn pensava em como proteger Jessie, ela observou a pele da amiga mudar diante de seus olhos. A textura suavizou e qualquer gordura que havia em seu corpo desapareceu, substituída por músculos. Aquilo não poderia ser boa coisa. Jessie poderia se tornar a ameaça que temiam. Jessie poderia arrancar a garganta de alguém e tirar a vida deles? A Jessie que Cailyn conhecia era muito bondosa e atenciosa para se transformar nesse ser. Mas ninguém entendia exatamente em que Jessie estava se transformando. Eles haviam admitido esse desconhecimento e Jace já percebera diferenças em Jessie. Isso não significava que Cailyn iria aceitar que Jessie fosse eliminada, e se recusava a ficar parada enquanto Zander ou Gerrick a matavam. Não, tinha que haver outra maneira.

— Nós podemos contê-la. O que precisamos descobrir é o que Kadir ganha com isso. Ele não pode estar planejando usá-la para nos prejudicar diretamente. Deve saber que não permitiríamos que ela vagasse livremente pelo complexo, o que significa que não haverá nenhuma oportunidade de procurar pelo amuleto. Ele aumentou a aposta pelo Amuleto Triskele, e assumiu riscos maiores do que qualquer arquidemônio antes dele. Simplesmente não vejo o que ele consegue com isso – contemplou Zander, passando a mão pelo cabelo. – Talvez ele espere criar dissensão entre nós. Veja como estamos discutindo sobre o assunto. Não vou permitir que isso cause uma divisão entre nós. Agora, mais do que nunca, precisamos permanecer unidos. As apostas estão mais altas do que nunca. Está claro que ele ainda está atrás da minha companheira. Nem ela nem Cailyn devem deixar o complexo sem proteção. Jace, envie o sangue de Jessie para os cientistas testarem e certifique-se de lhes dizer que essa é a prioridade mais alta. Devemos saber o máximo possível, o mais rápido que pudermos. Até então, ela ficará trancada na masmorra – ordenou Zander.

— Jessie não é um perigo que precisa ser trancado e não é cobaia de ninguém. É uma contadora de vinte e oito anos e tem importância – protestou Cailyn.

Jace agarrou o queixo dela entre o polegar e o indicador, forçando-a a encará-lo. Ela se viu presa pelo olhar cor de ametista por vários segundos. Algo cintilou entre eles, alimentando o fogo lento no ventre dela, apesar da dor excruciante que sentia.

Finalmente, ele quebrou o silêncio, fazendo-a perceber que todos na sala haviam se calado.

— Cailyn, temos que contê-la. Precisamos estudá-la para podermos ajudar. Ela está se transformando, sim, mas não posso dizer com certeza o que vai acontecer a seguir. Prometo-lhe que ela não será torturada ou machucada durante o teste – disse Jace para tranquilizá-la. Infelizmente, ocorreu exatamente o oposto.

A dor que brotou foi poderosa. Devido ao fato de ele estar agindo de forma tão protetora e por estar segurando-a tão perto, ela pensou que ele sentia algo por ela. No momento em que a tirou dos braços de Jax, a eletricidade percorreu os dois. Essa declaração parecia uma traição a tudo isso. Era ridículo se sentir assim, principalmente porque era impossível criar expectativas em tão pouco tempo. Ainda assim, a dor estava lá. Cailyn precisava manter a cabeça no lugar. Jessie e Elsie eram tudo para ela, e ela nunca se perdoaria se algo acontecesse a qualquer uma das duas.

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* * *

Tremendo incontrolavelmente, Jace temia deixar Cailyn cair caso não se acalmasse. Sentia-se se afogando na torrente de suas emoções. Estava impressionado com a beleza dela e, ao mesmo tempo, a excitação o percorria, queimando o seu corpo. A saliva se acumulava na boca e o estômago se agitava. Em silêncio, amaldiçoou a repulsa com que seu corpo reagia à excitação. Queria implorar à Deusa que lhe desse uma noite na qual não se sentisse mal e pudesse se dar ao luxo de satisfazer uma mulher. Deveria saber que, depois de sete séculos de náuseas, não iria experimentar mais nada.

Por sorte, convivia com a sensação por tempo suficiente para agir de modo bem normal. No entanto, isso não impedia a vergonha de ter o fogo percorrendo suas veias. Desejou ser um homem normal, em vez da concha destruída na qual havia se transformado.

Queria, mais do que tudo, ser capaz de se perder no corpo de uma mulher. Mas não qualquer mulher. Queria aquela, mais do que já havia desejado outra. Mas nunca procurou Cailyn porque se recusava a contaminá-la. As coisas nunca poderiam ir mais longe entre eles. Ninguém precisava viver com o inferno com o qual ele lidava noite e dia. Ainda assim, sentia-se atraído por ela como uma mariposa pela chama, e ficaria feliz se tivesse uma noite com ela.

Queria aqueles exuberantes lábios carnudos pressionados sobre os seus. Ou, melhor ainda, envolvendo seu membro dolorido. Podia imaginá-la de joelhos, lambendo a cabeça carnuda enquanto sorria para ele. E bem rápido ele enrijeceu como aço dentro das calças, certo de que o zíper iria se romper.

A fantasia que se desenrolava em sua cabeça fez com que olhasse para o belo rosto dela. Respirou fundo, inalando o aroma picante de canela. Sabia que seus olhos deviam estar brilhando, exibindo a excitação mais claramente do que sua ereção. Sentia-se incapaz de desviar os olhos e observou o olhar dela tornar-se cauteloso. Ela não fazia ideia do que seus olhos lhe diziam, mas não parecia estar com medo. Ele viu a curiosidade e o desejo que ela tentava esconder.

— Prometa-me que nada vai acontecer com ela. Mesmo que ela se torne uma irracional máquina de matar, que ninguém a machuque. E que você encontrará uma cura para o que aconteceu com ela – pediu Cailyn.

Jace admirou-se com a força e determinação dela, e soube que iria lhe prometer qualquer coisa.

— Farei tudo ao meu alcance para ajudar sua amiga, mas precisamos contê-la até que saibamos mais. Trabalhei em estreita colaboração com os cientistas durante séculos, mas este é um caso inédito. Precisamos de tempo – declarou.

— Eu, por exemplo, prometo que nada acontecerá sem o seu envolvimento, Cai – jurou Elsie, chamando a atenção de Cailyn.

A ghra, não faça promessas que não pode cumprir – repreendeu Zander.

— Oh, mas posso manter esta promessa. Afinal, sou sua rainha. E você, meu rei, vai se certificar de que isso aconteça – disse-lhe Elsie docemente.

Jace observou a interação dos dois e sentiu um aperto no peito. Invejava a conexão deles. Nunca desejou que alguém lhe pertencesse, mas em algum momento nos últimos meses, começou a esperar por mais. Desde o momento em que conheceu Cailyn, sentiu algo mais do que uma admiração por uma bela e inteligente mulher. Deveria se lembrar que nunca teria uma mulher só dele. Não merecia.

— Obrigada, El. Sinto-me melhor sabendo disso – sussurrou Cailyn, com os olhos um pouco caídos. Aquela noite devia estar cobrando seu preço, e o corpo dela ainda estava ferido.

Sem pensar, ele se inclinou e roçou o nariz ligeiramente no de Cailyn. Seu olhar dirigiu-se logo para os lábios dela. Ela tinha um sinal no lado direito da boca deliciosa. Uma boca que ele queria desesperadamente provar. Ela suspirou, assustada, e ele se deteve antes de agir impelido por aquele desejo especial, procurando, com o olhar, o abismo cor de avelã dos olhos dela. De repente, ele percebeu que os olhos dela combinavam com os olhos da serpente em seu bastão. Mais uma vez ele se perguntou o motivo pelo qual aquela mulher havia entrado em sua vida.

A tensão na sala o lembrou de que não se encontravam sozinhos. Ignorando os olhares preocupados de Elsie e dos outros queimando suas costas, ele empurrou a porta para o que agora se tornara o quarto de Cailyn.

— Vamos cuidar de você e curá-la, certo? – perguntou Jace, enquanto tentava deitá-la na cama. Seus braços se recusaram a cooperar, puxando-a para mais perto do peito.

Com metade dos residentes do complexo o seguindo, aquele momento não era a hora de ceder ao desejo. Forçando os dedos a se abrirem, ele a deitou suavemente na cama. Ela estremeceu de dor e um leve brilho de suor cobria seu corpo. A pele ficou ainda mais pálida e ele sabia que ela estava com uma dor terrível, embora não emitisse nenhum gemido. Ele admirava a força dela. Até mesmo os guerreiros reclamaram quando ele precisou curar suas feridas. Aquela pequena mulher continuava a surpreendê-lo.

— Sinto muito. Vou tirar a sua dor e você vai ficar como nova – ele a tranquilizou, colocando o cabelo solto dela atrás das orelhas, precisando manter o contato.

Tocar naquela pele macia lhe dava uma sensação de alívio e o acalmava, ao mesmo tempo em que o deixava retesado como um tambor. Um desejo sombrio e insidioso se enraizava nele. Pela primeira vez na vida, ele precisava provar uma mulher, explorar o corpo exuberante e se perder em sua intimidade aquecida, e isso o assustava muito.

Jace odiava como suas mãos tremiam, nervosas, enquanto percorriam os braços dela, não decidido a curá-la e assim perder a desculpa para tocá-la. Ele segurou as mãos dela por vários momentos silenciosos antes de se concentrar na perna quebrada. Ela era tão macia e flexível sob suas palmas… Foi preciso um grande esforço para deixar a luxúria de lado e acessar sua habilidade de cura. Surpreendentemente, o poder chegou sem muito esforço em seus dedos, apesar da energia gasta na abertura do portal. Ele direcionou a magia para o corpo dela e seu sangue congelou ao sentir de repente uma explosão derrubando todos na sala. Ele se viu sendo lançado para longe dela, aterrissando bruscamente ao bater na parede.

— Que diabos aconteceu? – murmurou Cailyn, enquanto Jace se esforçava para voltar para o lado dela.

— Nada de bom. Lembra-se daquelas palavras que a fada entoou? Foi um feitiço que acabei de ativar – respondeu Jace, sério, enquanto os demais se levantavam, parecendo perplexos.

— Que tipo de feitiço? Você pode desfazer? – perguntou Cailyn, mostrando que a letargia claramente pesava sobre ela.

— Não faço ideia. O que eu não daria para ver o Grimório Místico aparecendo agora – refletiu Jace, mas ele percebia mais do que dizia. O medo se instalou em suas entranhas ao pensar no que poderia acontecer a Cailyn naquele momento.

Guerreiro Místico

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