Читать книгу Unidos pela paixão - Caitlin Crews - Страница 5

Capítulo 1

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– Chamam-lhe o Conde – disse o homem, mal-humorado, enquanto entravam cada vez mais profundamente no bosque. – Nunca pelo seu nome, sempre o Conde. Mas tratam-no como um deus.

– Um deus real ou um deus falso? – perguntou Susannah Betancur. Como se aquilo fizesse alguma diferença. Se o Conde era o homem que procurava, certamente, não.

O seu guia lançou-lhe um olhar.

– Não acho que isso seja muito importante na colina, senhora.

Susannah achava que a colina se parecia mais com uma montanha, mas tudo nas Montanhas Rochosas americanas parecia feito a grande escala. A sua impressão do Oeste Selvagem era a de uma expansão interminável de montanhas impressionantes cheias de árvores de folha perene e nomes pitorescos, como se o esplendor que surgia em todas direções pudesse conter-se chamando ao pico mais alto da zona o Pequeno Topo.

– Que estranho – murmurou Susannah, entredentes, enquanto tentava não escorregar para não perder a distância que ganhara a subir.

Além disso, estava com falta de ar. O seu amigo, o guia, levara-a o mais longe que podia no que devia ser uma estrada nos bosques remotos do Idaho. Mas era um caminho poeirento que entrava na montanha. Depois, parou e disse-lhe que tinham que percorrer o resto do caminho a pé, o que menos apetecia a Susannah depois de ter viajado até lá das colinas mais civilizadas do seu lar situadas do outro lado do mundo, em Roma.

Porque, embora Susannah não fosse uma grande caminhante, era a viúva Betancur, quer gostasse, quer não. Não tinha outro remédio senão passar por aquilo.

Concentrou-se em pôr uma bota à frente da outra, consciente de que não tinha a roupa adequada para uma aventura ao ar livre. Ao contrário de todas as pessoas que vira desde que o jato privado dos Betancur aterrara no meio do nada, Susannah vestia-se de preto dos pés à cabeça para anunciar imediatamente o seu estado de luto permanente. Era a sua tradição. Naquele dia, usava um casaco de caxemira por cima de um vestido de inverno de lã de ovelha e botas altas enganadoramente robustas, porque esperava que estivesse frio, mas não esperava ter de subir montanhas com elas.

No entanto, por muito desafiante que fosse, nenhuma montanha podia comparar-se com as intrigas da sua vida complicada e da corporação multinacional Betancur que estivera sob o seu controlo, pelo menos, no papel, durante os últimos anos, porque se recusara a deixar que os outros ganhassem: A família, a família do falecido marido e o conselho da direção. Todos achavam que podiam passar por cima dela como um rolo compressor.

Vestia-se sempre de preto em público desde o funeral, porque, assim, mantinha a distinção duvidosa de ser a jovem viúva de um dos homens mais ricos do mundo. Susannah tinha a impressão de que aquele preto eterno passava a mensagem adequada a respeito da sua intenção de continuar de luto indefinidamente, por muito diferente que fosse a intenção dos seus pais conspiradores e da família do marido.

Tinha a intenção de continuar a ser a viúva Betancur durante muito tempo. Sem nenhum novo marido para pegar nas rédeas e ter o controlo, por muito que a pressionassem para que voltasse a casar-se.

Era a sua prerrogativa vestir-se de preto para sempre, porque ser viúva a mantinha livre.

A menos que Leonidas Cristiano Betancur não tivesse morrido realmente há quatro anos naquele acidente de avião e fora precisamente para descobrir isso que Susannah atravessara o planeta.

Leonidas dirigia-se para um rancho remoto naqueles mesmos bosques para se encontrar com uns potenciais investidores para um dos seus projetos favoritos quando a sua avioneta caíra naquele terreno de milhares de hectares de bosque nacional praticamente impenetrável. Nunca tinham encontrado o corpo, mas as autoridades estavam convencidas de que a explosão fora tão grande que todas as provas tinham ardido.

Susannah não tinha assim tanta certeza. Ou talvez fosse mais apropriado dizer que cada vez estava mais convencida de que o que acontecera ao marido, logo na sua noite de núpcias, não fora um acidente.

Aquilo levara a vários anos de investigações privadas e a ver muitas fotografias imprecisas de homens morenos e sérios que nunca eram Leonidas. Anos a fazer de Penélope com os seus pais conspiradores e os seus sogros igualmente astutos, como se fosse algo saído da Odisseia. A fingir estar tão afetada com a morte de Leonidas que não era capaz de suportar a conversa sobre quem seria o seu próximo marido.

Quando a verdade era que não estava devastada. Mal conhecia o filho mais velho dos amigos da família com quem os pais tinham organizado um noivado quando era muito jovem. Susannah alimentara fantasias adolescentes como qualquer pessoa teria feito com a sua idade, mas Leonidas destruíra-as quando lhe dera uma palmadinha na cabeça no casamento como se fosse um cachorrito e, depois, desaparecera a meio da celebração porque tinha uma chamada de trabalho.

– Não sejas tão autoindulgente, Susannah – queixara-se a mãe, friamente, quando Susannah ficara ali parada naquela noite, abandonada com o vestido de noiva e a tentar não chorar. – As fantasias e os contos de fadas são para as crianças. Agora, és a esposa do herdeiro da fortuna Betancur. Sugiro que aproveites a oportunidade para decidir que tipo de esposa queres ser, uma princesa mimada fechada num dos castelos Betancur ou uma força a ter em conta?

Antes de amanhecer, espalhara-se a notícia de que Leonidas desaparecera. E Susannah decidira ser a força durante aqueles últimos quatro anos. Passou de ser uma jovem protegida e ingénua de dezanove anos a uma mulher que tinham sempre de ter em conta. Decidira ser mais do que uma mulher troféu e demonstrara-o.

E era por isso que estava ali, na ladeira de uma montanha de que só ouvira falar em termos vagos, a seguir a pista de um homem cuja descrição coincidia com a de Leonidas e que se dizia que era o líder de uma seita local.

– Não é exatamente uma seita do dia do juízo final – disse o detetive, nas águas-furtadas de Roma em que Susannah vivia, pois era a mais próxima das propriedades do marido da sede principal europeia da Corporação Betancur e gostava de estar por perto.

– O que é que essa distinção importa? – perguntou, tentando parecer distante e sem se afetar com as fotografias que tinha na mão. Imagens de um homem com o cabelo branco e mais comprido do que Leonidas alguma vez usara, mas com o mesmo olhar desumano e sombrio. A mesma figura atlética, com cicatrizes novas que teriam sentido em alguém que sofrera um acidente de avioneta.

Leonidas Betancur em pessoa. Susannah poderia tê-lo jurado.

E a sua reação apanhou-a de surpresa, onda após onda, enquanto tentava sorrir para o detetive.

– A distinção só importa no sentido em que, se for até lá, seja pouco provável que a raptem ou a matem, signora – explicou o homem.

– Então, ótimo – replicou Susannah, com outro sorriso frio.

No entanto, por dentro, tudo continuava a dar voltas, porque o marido estava vivo. «Vivo.»

Não conseguia evitar pensar que, se Leonidas formara uma seita, contava, sem dúvida, com o melhor exemplo: As águas infetas da Corporação Betancur, o negócio familiar que os tornara tão asquerosamente ricos que pensavam que podiam fazer coisas como derrubar os aviões de herdeiros desobedientes e descontrolados quando lhes desse jeito.

Susannah aprendera muito durante aqueles quatro anos a mexer-se nessas mesmas águas. Sobretudo porque, quando os Betancur queriam alguma coisa, por exemplo, Leonidas fora de jogo num acordo que proporcionaria muito dinheiro à empresa, mas que o seu marido não queria finalizar, então, encontravam uma forma de o conseguir.

Ser a viúva Betancur evitava todas aquelas intrigas a Susannah. Mas havia algo melhor do que ser a viúva de Leonidas Betancur, pensava. E isso era fazer o marido voltar de entre os mortos.

Podia gerir o seu maldito negócio sozinho e Susannah poderia recuperar a vida que não sabia que queria quando tinha dezanove anos. Poderia divorciar-se calmamente e ser livre como o vento no seu vigésimo quarto aniversário, livre de todos os Betancur e muito melhor preparada para enfrentar os pais.

Seria livre. E ponto final.

Atravessar o planeta para entrar nos bosques do Idaho era pagar um preço pequeno pela sua liberdade.

– Que tipo de líder é o Conde? – perguntou Susannah, agora irritada, concentrando-se no terreno abrupto enquanto seguia o seu guia. – Benevolente ou o contrário?

– Não saberia dizer – murmurou o homem, entredentes. – Para mim, é uma seita como qualquer outra.

Como se houvesse dúzias por ali. E talvez fosse assim. Em qualquer caso, não importava, porque tinham chegado ao acampamento que procuravam.

Primeiro, não havia mais do que bosque e, um instante depois, umas portas grandes davam para uma clareira pequena com um portão pouco acolhedor e muitos cartazes a avisar os intrusos de que deviam ir-se embora ou lidar com as consequências.

– Fico aqui – declarou o seu guia.

Susannah nem sequer sabia o seu nome. E desejou que entrasse com ela, já que a levara até ali. Mas aquele não era o acordo.

– Entendo.

– Espero ao lado da carrinha até ter de descer a colina – continuou o homem. – Entraria consigo, mas…

– Entendo – repetiu ela, já lhe explicara tudo antes. – Tenho de fazer o resto sozinha.

Aquela era a parte que mais a assustava, mas todos estavam de acordo. Não era possível que Susannah entrasse num acampamento longínquo rodeada de guardas de segurança dos Betancur quando, certamente, o marido estava a esconder-se do mundo. Não podia entrar com o seu pequeno exército, noutras palavras.

Susannah decidiu não pensar demasiado no que estava a fazer. Lera muitos livros de terror quando estava fechada no internato suíço em que os pais tinham insistido que passasse a adolescência e todos eles estavam a surgir na sua mente naquela tarde.

Contudo, pensar nos riscos não ajudava. A única coisa que queria, a única coisa que sempre quisera, fora descobrir o que acontecera a Leonidas.

Porque a verdade triste era que talvez fosse a única que se importava. E pensou que só se importava porque, se o encontrasse, seria livre.

Susannah dirigiu-se para as portas. Sentia um arrepio na pele com cada passo que dava. Havia câmaras de vídeo a apontar para ela, mas algo a preocupava mais do que a vigilância. Os francoatiradores. Era pouco provável que alguém construísse uma fortaleza no bosque como a que tinha à sua frente e não tivesse a intenção de a defender.

– Não dê nem mais um passo!

Susannah não via de onde saía a voz exatamente, mas parou de qualquer forma. E levantou as mãos.

– Vim ver o Conde – disse, no silêncio frio que a rodeava.

Não aconteceu nada. Durante um instante, Susannah pensou que não ia acontecer nada. Mas, então, abriu-se muito devagar uma porta pequena situada ao lado das portas enormes da entrada.

Susteve a respiração. Um homem saiu pela porta, mas não era Leonidas. Era muito mais baixo do que o marido que ela perdera e tinha uma semiautomática alarmante pendurada ao ombro e uma expressão claramente hostil na cara.

– Tem de sair da nossa montanha – avisou, brandindo a arma para ela.

Observava-a com o sobrolho franzido enquanto falava. Para a roupa. Susannah percebeu, depois de um instante, que não estava vestida para assaltar um acampamento. Nem para andar pelo bosque, de facto.

– Não tenho nenhum desejo em particular de estar nesta montanha – declarou, irritada. – Só quero ver o Conde.

– O Conde vê quem quer ver e nunca porque lho pedem. – A voz do homem tremeu de devoção. E de fúria, como se não conseguisse acreditar na temeridade de Susannah.

Ela inclinou a cabeça na sua direção.

– Vai querer ver-me.

– O Conde é um homem ocupado – murmurou o homem. – Não tem tempo para mulheres desconhecidas que aparecem do nada como se estivessem a suplicar que lhes dessem um tiro.

– Não quero que me deem um tiro – afirmou Susannah, com mais nervosismo do que mostrou. – Mas o Conde vai querer ver-me, tenho a certeza.

Não tinha. O facto de Leonidas se ter fechado naquele lugar e se fazer chamar de forma tão ridícula sugeria que não tinha nenhum desejo de ser localizado. Nunca. Mas não ia falar do assunto com um dos seus seguidores. Portanto, experimentou um sorriso frio.

– Porque não me leva até ele? Poderá dizer-lhe.

– Menina, não vou dizer-lhe outra vez. Vá-se embora. Saia desta colina e nunca mais volte.

– Não vou fazer isso – declarou Susannah, com a firmeza que aprendera a desenvolver nos últimos anos. Como se esperasse que as suas ordens fossem obedecidas sem ser questionadas. Como se fosse o próprio Leonidas em vez da jovem viúva que todos sabiam que nunca devia ter ficado com o controlo de nada e muito menos de toda aquela fortuna.

Porém, Susannah fizera exatamente o que a mãe lhe dissera. Ficara com o apelido de Leonidas e com a sua autoridade. Confundira as pessoas da corporação que o marido deixara para trás utilizando a atitude.

– Tenho de ver o Conde. Isso é inegociável. Faça o que tiver de fazer para isso.

– Oiça, menina…

– Ou pode dar-me um tiro – sugeriu Susannah, com frieza. – Mas essas são as duas únicas opções possíveis.

O homem pestanejou como se não soubesse o que fazer. Susannah não podia culpá-lo. Ela não se acovardara. Não lhe dera nenhuma indicação de que não estivesse completamente tranquila. Limitara-se a ficar onde estava como se estar no meio de uma montanha do Idaho fosse o mais normal do mundo.

Observou fixamente para o homem até ficar claro que era ele que estava incomodado.

– Quem raios é? – perguntou o homem, finalmente.

– Ainda bem que pergunta – disse Susannah. E, dessa vez, o seu sorriso era menos frio. Parecia uma arma que aprendera a disparar durante aqueles últimos quatro anos. – Sou a esposa do Conde.

Unidos pela paixão

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