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Capítulo 1

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«Luka, depois de considerar seriamente, decidi…».

Cecelia acordou um instante antes de o despertador tocar e, enquanto ouvia os barulhos da rua do seu apartamento de Londres, pensou em como podia demitir-se do seu emprego.

E quando?

Quando ia dizer-lhe que não queria renovar o seu contrato de trabalho, de manhã ou ao fim do dia?

A maioria das pessoas ia dizer-lhe que era uma loucura deixar esse emprego.

O salário era incrível e as viagens eram maravilhosas, embora cansativas, mas, depois de onze meses a trabalhar para Luka, alcançara o seu limite.

Luka era um mulherengo empedernido. E não era uma opinião pessoal, era um facto.

Sabia muito bem, ela era a sua assistente pessoal!

Já não aguentava mais. Por isso, na sexta-feira, depois de Luka ter ido para o terraço para entrar no seu helicóptero com o fim de passar um fim de semana de libertinagem em França, Cecelia agarrara no telefone e aceitara um contrato de seis meses para trabalhar como assistente pessoal de um diplomata estrangeiro, idoso e respeitável.

Embora o salário fosse mais baixo e o emprego tivesse menos vantagens, ia estar muito mais tranquila e assentada.

Agarrou no telemóvel para ver as horas quando percebeu que era o seu aniversário. Não importava, nunca tinham dado importância aos aniversários na sua vida familiar. Os tios tinham-na criado desde os oito anos e nunca tinham celebrado os aniversários e a mãe, antes de morrer, também não.

Então, viu a mensagem que Luka lhe enviara durante a noite:

«Não vou ao escritório hoje, Cece. Cancela todas as minhas reuniões. Ligo-te depois.»

Cecelia cerrou os dentes, Luka tinha a mania de lhe chamar «Cece», algo que não suportava. Mas também franziu o sobrolho porque, nos onze meses que passara a trabalhar como assistente pessoal de Luka, era a primeira vez que ele tirava o dia. E exatamente no dia em que ela precisava de falar com ele!

Devido à ausência do patrão, seria um dia de muito trabalho, um dia complicado. Assim, fez um esforço e levantou-se da cama.

Cecelia tomou banho rapidamente e seguiu a sua rotina habitual. Estivesse onde estivesse, fazia sempre o mesmo: À noite, preparava a roupa que ia vestir no dia seguinte, fazia o mesmo com o pequeno-almoço, que tomava antes de se pentear.

A rotina era algo essencial na sua vida, precisava dela para se sentir bem. Talvez fosse uma forma de compensar o caos que a rodeara até aos oito anos, os oito anos que vivera com a mãe.

Tinha o cabelo loiro-avermelhado, mas pintara-o para o tornar um loiro neutro. Penteou os caracóis suaves e apanhou o cabelo num rabo de cavalo.

Depois, enquanto se maquilhava, os seus olhos verdes esbugalharam-se ao ouvir o que alguém estava a dizer na rádio:

– «O que raios é que essa mulher esperava depois de se envolver com o Luka Kargas?»

Não a surpreendeu que alguém mencionasse o patrão, mas irritou-a. Nem às sete da manhã, no seu quarto, conseguia fugir dele.

Luka era um homem muito conhecido e, embora fosse nomeado nas secções financeiras dos jornais, também se falava dele nas revistas cor-de-rosa.

Aparentemente, houvera uma festa louca no seu iate na sexta-feira anterior, em Nice.

Cecelia cerrou os dentes enquanto ouvia que, depois da festa no iate, Luka e alguns dos convidados tinham visitado uns casinos em Paris. E agora, uma supermodelo, depois de uma noite de paixão, chorava porque as suas esperanças de prolongar a relação com Luka se tinham visto frustradas.

Uma parva por se deixar enganar, pensou Cecelia. Todos sabiam como Luka era com as mulheres.

Contudo, as pessoas não conheciam realmente Luka. Ele era extremamente reservado a respeito de certos aspetos da sua vida privada, a que ninguém, absolutamente ninguém, tinha acesso e muito menos a assistente pessoal.

A julgar pelo que conseguira deduzir, Luka sempre tivera uma vida privilegiada. O pai era o dono de um complexo turístico luxuoso em Xanero com um restaurante conhecido em todo o mundo e outros restaurantes em diferentes países. Enquanto isso, Luka encarregava-se mais dos hotéis e tinha uma vida muito agitada. As suas conquistas eram inumeráveis e, com frequência, ela tinha de secar as lágrimas das amantes magoadas do patrão.

Sim, Luka era um mulherengo empedernido.

E isso perturbava-a. Talvez porque espiara esse tipo de vida. A forma como Harriet, a mãe, morrera, tal como vivera, com as cuecas no chão e pó branco no nariz, envergonhara toda a família. E deixara uma filha por quem ninguém queria responsabilizar-se. O pai não aparecia na certidão de nascimento e só o vira uma vez.

E não queria voltar a vê-lo.

O tio e a tia, no fim, tinham-se encarregado da pequena Cecelia que, com caracóis loiros-avermelhados e olhos verdes brilhantes, era uma réplica da mãe, mas só fisicamente.

Depois de uma vida pouco convencional durante a infância, Cecelia tinha uma vida convencional, prática e ordenada. Apesar de viajar por todo o mundo devido à natureza do seu trabalho, costumava deitar-se às dez durante os dias de trabalho e às onze aos fins de semana.

Cecelia tinha amigos normais e agradáveis, embora nenhum suficientemente íntimo para a felicitar pelo seu aniversário. E, no ano anterior, estivera noiva.

O único problema que causara aos seus tios fora o fim da relação com Gordon. Os tios não compreendiam porque deixara Gordon, um homem tão decente.

E o maldito Luka tinha a culpa!

Embora, é claro, não tivesse contado isso a Gordon.

Mas era melhor não continuar a pensar nessas coisas, pensou, enquanto vestia a roupa interior, cor de carne. Depois, aproximou-se da janela. Ao ver o céu tão azul, decidiu não usar o fato azul-marinho de linho que preparara na noite anterior.

Já que Luka não ia ao escritório naquele dia e, portanto, ela não teria de ir a nenhuma reunião, dirigiu-se para o armário.

Aí estava o vestido que comprara para o casamento de uma amiga que se casara recentemente. O vestido era creme e tinha decote halter. E, como era o seu aniversário, decidiu usá-lo.

Já que os ombros e as costas ficavam a descoberto, também vestiu uma camisola de lã cor de limão. A saia do vestido chegava até metade da perna, portanto, não se incomodou em usar collants. E, para acabar, calçou umas alpargatas.

Sim, agora que sabia que ia deixar a Kargas Holdings, começava a relaxar.

Teve de tirar a camisola de lã ao entrar no metro. Estava muito calor no vagão e, agarrada a uma das barras, viu que as escapadas de Luka no fim de semana tinham conseguido aparecer na primeira página do jornal que um dos passageiros lia.

Reparou na fotografia que havia por baixo dos títulos. Nela, via-se Luka na coberta do barco, junto de uma beleza morena sofisticada. O peito nu dele jorrava água e, embora os corpos da rapariga e de Luka não se tocassem, era uma fotografia extremamente íntima.

Cecelia desviou o olhar da fotografia, mas não pôde apagar a imagem de Luka da sua mente.

Ao entrar no edifício dos escritórios da Kargas Holdings, sorriu para o segurança, dirigiu-se para os elevadores e foi para o quadragésimo andar, propriedade exclusiva de Luka.

Nesse andar, não só havia escritórios e salas de reuniões, também havia um ginásio e uma piscina, embora ela nunca os tivesse usado. Também contava com uma suíte, tão luxuosa como a de qualquer hotel de cinco estrelas. Quando estava em Londres e ficava a trabalhar até tarde ou tinha de apanhar um voo muito cedo de manhã, Luka costumava dormir na suíte.

Ainda não eram oito e, aparentemente, chegara antes de Bridgette, a rececionista. Havia algumas pessoas a limpar as janelas e a aspirar, também chegara a florista que se encarregava dos arranjos florais todas as manhãs.

Cecelia fez um café antes de ir para a sua mesa de trabalho, numa zona ampla com uma porta que dava para o escritório de Luka.

Pendurou a camisola de lã num cabide e ia sentar-se quando a voz dele a apanhou completamente de surpresa.

– Esse café é para mim, Cece?

Cecelia virou-se no momento em que Luka saía do seu escritório. Para além do facto de não estar barbeado, nada indicava que Luka tivesse desfrutado de um fim de semana louco. Usava calças pretas e camisa branca e o cabelo, embora um pouco despenteado, tinha um corte perfeito.

Mas não devia estar ali.

– Achava que não vinhas hoje – comentou Cecelia.

– Porque achavas isso?

– Porque, ontem à noite, me enviaste uma mensagem para o telemóvel para me dizer que não vinhas.

– Ah, sim, é verdade. – Luka tirou-lhe o café da mão. – Obrigado.

– Não tem açúcar – avisou ela, enquanto se sentava atrás da sua secretária. – E, por favor, não me chames Cece. O meu nome é Cecelia.

– É um costume.

– É um costume que me tira do sério – insistiu Cecelia.

«Ainda bem», pensou Luka.

Gostava de lhe chamar Cece porque gostava de provocar aquela mulher.

– Como foi o fim de semana? – perguntou ela, educadamente, como se não soubesse de nada.

– Mais ou menos como o anterior – respondeu ele. E, aproximando-se da secretária dela, apoiou as nádegas ao lado do computador. – Tu nunca te aborreces?

– Não costuma acontecer – mentiu Cecelia, reconhecendo que, com Gordon, se aborrecera muito.

Gordon também trabalhara na cidade. Costumavam encontrar-se às quartas-feiras para beber uns copos e às sextas-feiras com os amigos. Os sábados eram reservados, em geral, para os dois. À noite, tinha algum orgasmo suave. Aos domingos, uma refeição aborrecida em algum pub fora de Londres e talvez também um encontro amoroso sem nada a destacar.

Não fora culpa de Gordon.

Cecelia inibia-se tanto no sexo como na vida.

De facto, a culpa era do homem que estava sentado na sua secretária, porque despertara sensações e desejos nela que, indubitavelmente, continuariam a causar-lhe uma frustração profunda.

– Como não te aborreces de fazer sempre o mesmo? – insistiu ele.

– Gosto de fazer o de sempre – respondeu ela.

Era impossível entender aquela mulher, pensou Luka. Não era como as outras. Há muito tempo que parara de a seduzir, pois o desagrado que Cecelia mostrara destruíra a diversão.

E por muito libertino que ele fosse, só brincava com quem queria brincar.

– Tens muito bom aspeto hoje – elogiou ele.

Em instantes, Luka recebeu um gesto arisco por se ter atrevido a fazer um comentário pessoal. Cecelia limitava-se a ter uma relação profissional com ele.

– Obrigada – agradeceu ela, educadamente.

– E é um vestido – continuou Luka, decidido a não deixar as coisas como estavam.

– És muito observador, Luka.

– Só o digo porque quase nunca te vi com um vestido.

– Está demasiado calor para um fato.

– Sim, claro, mas…

– Luka – interrompeu ela –, se te incomoda que use uma roupa menos formal do que de costume, diz-me e garanto-te que não voltará a acontecer.

– Não tenho nenhum problema com o vestido.

– Nesse caso, não há mais nada para dizer…

– Tens a certeza? – Não tivera a intenção de abordar o assunto, mas o momento apresentara-se.

– A roupa que uso…

– Tens outra consulta no dentista hoje, Cecelia? – perguntou ele, num tom incisivo e chamando-a pelo seu nome. – Uma última consulta talvez?

Estava quase certo de que Cecelia ia deixar o trabalho.

As assistentes pessoais iam e vinham. Estava habituado a isso. Ele era muito exigente e também tinha consciência de que muito poucas pessoas estavam dispostas a trabalhar tantas horas por dia durante muito tempo. E, regra geral, exigia à assistente pessoal que se ia embora que preparasse a próxima para o emprego.

Contudo, agora, o facto de Cecelia querer ir-se embora causava-lhe um desgosto surpreendente.

Gostava que aquela mulher fizesse parte da sua vida e não queria que se fosse embora.

– Não tens mesmo nada para me dizer? – perguntou ele.

– A verdade é que tenho. Podíamos falar no teu escritório, em privado?

– É claro. Vamos.

Luka decidiu que teria de a dissuadir de deixar o emprego.

E sabia como fazê-lo.

Encontro apaixonado

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