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Capítulo 2

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Enquanto Luka a conduzia ao seu escritório, Cecelia sentiu-se literalmente doente. Não sabia se a sua decisão era a acertada ou não.

Cecelia sentia consciência de que, profissionalmente, deixar aquele trabalho não era aconselhável. O império de Luka estava em expansão, a Kargas Holdings estava a negociar a abertura de hotéis em Nova Iorque e Singapura. Fazer parte disso seria extraordinário para o seu currículo.

No entanto, quando Luka abriu a porta do seu escritório e ela entrou, percebeu que não tinha outro remédio senão deixar a empresa.

Sentiu os olhos dele nas costas.

Na pele.

Cecelia tinha a roupa mais anódina que alguma vez vira. No entanto, Cecelia estava sempre arranjada e elegante. Era algo natural nela.

Mas, naquele dia, era diferente.

Exatamente no dia em que ia dizer-lhe que deixava a empresa, deixava-o ver, pela primeira vez, as suas costas.

As costas de Cecelia eram extremamente pálidas. E Luka pensou que devia faltar-lhe vitamina D. Tinha a certeza de que aquele corpo nunca apanhara sol.

Luka só a vira fora do trabalho uma vez, acidentalmente. Dessa vez, Cecelia usava a mesma roupa insossa com que ia trabalhar.

O encontro acontecera duas semanas depois de ela ter começado a trabalhar na sua empresa, numa exposição num museu, e não fora completamente acidental. Ouvira-a a falar com o ex-noivo sobre ir ver a exposição e ele quisera ver pessoalmente o objeto do desejo sexual de Cecelia.

Um inglês pálido de pernas magras.

Não iam de mão dada e, como dois desconhecidos, tinham parado para observar uma obra de arte incrivelmente erótica.

Ela assustara-se ao vê-lo e corara ao apresentar-lhe Gordon.

E o desejo de Luka de ir para a cama com ela aumentara.

– Senta-te, por favor – convidou Luka, no seu escritório.

Luka indicou-lhe uma cadeira e deu a volta à secretária enquanto ela se sentava.

E Cecelia, finalmente, encontrou-se cara a cara com ele.

Era um homem incrivelmente bonito. Olhos aveludados, maçãs do rosto proeminentes e uma boca voluptuosa.

Cecelia gostava de bocas.

A de Gordon era pequena. Mas ela só reparara nisso depois de ter visto Luka.

Até então, Gordon parecera-lhe um bom partido. No entanto, tudo mudara ao apertar a mão de Luka pela primeira vez.

Percebera que tinha de acabar o seu noivado com Gordon na noite depois da visita ao museu. Ao fazer amor com Gordon, imaginara que o fazia com Luka, e tivera o melhor orgasmo da sua vida.

Apesar de saber que ia acabar mal, aceitara aquele trabalho.

E estava ali agora.

Prestes a demitir-se.

– Querias dizer-me alguma coisa? – perguntou ele e ela assentiu.

Luka estava decidido a tornar-lhe as coisas difíceis. Cecelia era a melhor assistente pessoal que alguma vez tivera e não queria substituí-la.

Queria que Cecelia ficasse na empresa e ele conseguia sempre o que queria.

– E então? O que querias dizer?

Não era a primeira vez que tentara demitir-se e Cecelia preparou-se para repetir um discurso bem ensaiado. No entanto, ficou em silêncio. Porque, quando Luka olhava para ela nos olhos, como naquele momento, faltava-lhe o ar e não conseguia respirar.

– Vou-me embora.

– O quê? – Luka fingiu que não ouvira bem. Ia obrigar Cecelia a repetir-se e a ser mais explícita.

– Não vou renovar o meu contrato – declarou ela. – Pensei bem e, embora tenha sido um ano extraordinário, preciso de uma mudança.

– Podes ter pensado muito bem, mas não falaste comigo.

– Não preciso que me dês permissão para me demitir, Luka.

Não, não ia ser fácil, pensou Cecelia, depois de mal ter conseguido responder.

Apesar de tudo, já não conseguia aguentar mais e muito menos quando Bridgette ligou para o telefone interior.

– Uma mulher que se chama Katia está na receção e quer ver-te, Luka.

Luka revirou os olhos.

– Estou ocupado.

– Não para de insistir. Aparentemente, tu sabes porquê.

– Diz ao segurança que a deixou entrar que está despedido.

Depois, Luka olhou para Cecelia e acrescentou:

– Porque é que as mulheres se recusam a aceitar um «não»?

– Porque é que o meu patrão se recusa a aceitá-lo?

– Touché – concedeu ele. Foi então que decidiu mudar de tática, procurando a compreensão dela. – Cecelia, um dos motivos por que não tirei o dia hoje, como tencionava fazer, é porque a minha mãe não se sente bem.

– Lamento – respondeu Cecelia. – Se houver alguma coisa que… – Cecelia fechou a boca para não continuar.

– O que ias dizer? – Luka esperou. Ao ver que Cecelia não respondia, acrescentou: – Eu gostaria de te pedir um favor, Cece. Durante os próximos meses, vou passar muito tempo fora. A minha mãe tem cancro e o tratamento vai ser muito difícil e prolongado…

Cecelia pestanejou.

Luka nunca falava da sua família.

– Vou passar muito tempo em Xanero. Tu és uma assistente pessoal extraordinária e espero que saibas como te aprecio. – Luka viu-a a engolir em seco e preparou-se para o golpe de graça. – Neste momento tão difícil, seria muito complicado ter de lidar com uma assistente nova.

– Luka, lamento o que se passa com a tua mãe, mas isso não vai mudar a minha decisão.

Cecelia era tão fria como o gelo. No entanto… Sentiu a sua tensão e também que esses olhos verdes lindos não se atreviam a encontrar-se com os dele.

– Podia pedir-te para ficares mais seis meses? Naturalmente, pagaria por…

– Nem tudo é uma questão de dinheiro, Luka.

Luka sabia perfeitamente que Cecelia o considerava apenas um playboy rico.

Cecelia não sabia nada sobre os começos da sua vida e ele não ia dar-lhe explicações.

Ninguém conhecia a verdade.

Até os seus pais pareciam acreditar na mentira que ele urdira, que o complexo turístico da ilha de Xanero com o seu restaurante famoso fora o começo da sua vida profissional.

Não era assim.

O sexo fora o seu começo.

Turistas ricas em busca de aventuras tinham-no ajudado a sair do limite da pobreza e a desfrutar do seu estilo de vida atual.

A versão mais estéril era que o primeiro restaurante Kargas lhe servira de trampolim na vida.

Mentira, tudo mentira.

Mas não tinha motivos para contar isso a Cecelia.

Luka não tinha de dar explicações à assistente pessoal.

– E se te oferecesse mais férias?

– Já aceitei um emprego.

Ao ver que apelar à sua compreensão não funcionara, Luka tornou-se mais hostil.

– Que emprego?

– Não tenho obrigação de responder a essa pergunta.

– De facto, Cece…

– E não me chames Cece! – exclamou ela. – Luka, por um lado, dizes que aprecias muito o meu trabalho, no entanto, por outro, nem sequer te incomodas em chamar-me pelo meu nome.

Finalmente, fizera com que ela explodisse.

– Vais-te embora porque não te chamo pelo teu nome?

– Não.

– Então, porquê?

– Não tenho obrigação de responder a isso.

– De facto, Ce-ce-lia, se lesses bem o teu contrato, perceberias que não podes trabalhar na empresa de nenhum dos meus adversários e não podes…

– Para, Luka – pediu ela. – Tenho todo o direito do mundo de sair desta empresa.

Era verdade.

– É claro. – Mas não gostava que o fizesse.

– Segundo o meu contrato, tenho de continuar a trabalhar durante mais um mês. Nesse tempo, naturalmente, começarei a procurar uma substituta. A menos, é claro, que tenhas alguém em mente.

– Vou deixá-lo nas tuas mãos.

– Muito bem.

Luka, com um gesto da mão, indicou que podia ir-se embora. Cecelia saiu do escritório, mas não se dirigiu para a secretária.

Uma vez na casa de banho, apoiou-se numa das paredes de mármore.

Fizera-o.

Talvez fosse a pior decisão que tomara na sua vida profissional, mas depressa recuperaria o bem-estar mental e emocional.

Durante o trajeto para o trabalho no metro, pararia de sonhar com ser a mulher deitada por baixo do corpo relaxado e bonito de Luka…

Finalmente, deixaria de sentir cãibras na barriga cada vez que sorria.

Reinaria a ordem sobre o caos que se apoderara do seu coração.

Embora ainda não.

Era verdadeiramente um dia terrível.

Cecelia assinou a entrega do ramo de flores que tinham enviado a Luka e, estupidamente, leu o cartão.

A oferta de Katia era extremamente explícita.

Cecelia pôs o cartão no envelope e levou as flores para o escritório de Luka.

– Isto é para ti.

– De quem?

– Não sei.

Luka tirou o cartão do envelope, leu-o e atirou-o para o lixo.

– Fica com elas, se quiseres – ofereceu, apontando para as flores.

– Não, obrigada.

– Então, deixa-as num sítio onde não as veja.

Para evitar a tentação, quis perguntar ela.

Mas, é claro, não perguntou.

Então, a rececionista do vestíbulo cometeu um erro e passou uma chamada a Luka, mas, por sorte, Cecelia estava no escritório de Luka e atendeu o telefone.

– Um momento, vou ver se está disponível… – Uma mulher, supostamente Katia, soluçou.

– Lamento muito, o senhor Kargas não recebe chamadas que não foram programadas – desculpou-se Cecelia, num tom profissional.

Luka nem sequer desviou os olhos do ecrã do computador.

– A que horas sais do trabalho hoje? – perguntou ele, quando Cecelia desligou.

– Não sei – respondeu Cecelia, surpreendida com a pergunta, Luka nunca se interessava por essas coisas. – Porquê?

– Quero que adies a reunião com o García para que coincida com o fim do dia de trabalho.

– Verei o que posso fazer.

– E organiza o meu voo para Xanero para amanhã. Ficarei lá algumas semanas.

– Algumas semanas? – Era a primeira vez que Luka ia ausentar-se durante tanto tempo. Para Luka, viajar era algo tão habitual como apanhar o metro.

– Já te disse, a minha mãe está doente – replicou Luka, com aspereza.

Depois de organizar o seu voo, Luka ligou a Sophie Kargas para lhe dizer que o único filho que tinha estaria lá no dia seguinte.

– Uma coisa – disse Luka à mãe –, não vou para aí para te dar a mão e ver como te rendes. Vais lutar.

– Luka, estou cansada, não quero confusões. A única coisa que quero é que venhas para casa.

Na voz da mãe, sentira rendição e sabia muito bem porquê. O tratamento significava viagens constantes a Atenas e Theo Kargas gostava que a mulher estivesse em casa.

– A tua mãe está ao telefone – disse Cecelia, já à tarde.

– Diz-lhe que estou numa reunião.

– Muito bem.

Era um desgraçado, pensou Cecelia, enquanto dava a resposta de Luka a uma mulher de voz fraca.

– Preciso de falar com ele agora mesmo – insistiu a mulher.

– Lamento – desculpou-se Cecelia –, o Luka não pode atender nenhuma chamada neste momento. Está muito ocupado a resolver tudo antes da viagem.

Luka estava sentado com as mãos na nuca e os pés na sua mesa de escritório.

Não conseguia suportar voltar a falar com a mãe para que lhe dissesse que, mais ou menos, se resignara a morrer.

Enfrentá-la-ia no dia seguinte, falaria com a mãe cara a cara.

«Deixa-o.»

Não seria a primeira vez que diria isso à mãe, a única coisa que esperava era que fosse a última.

Sempre quisera que o pai morresse antes da mãe, mesmo que fosse apenas para que ela encontrasse um pouco de paz.

Olhou para o relógio e viu que eram quase sete.

A reunião com García era às dez.

Luka levantou-se, vestiu o casaco e saiu do escritório.

Cecelia não olhou para ele, continuou a escrever e a fingir que não reparara na sua presença.

– Fazemos as pazes? – perguntou Luka e viu que ela baixava os ombros e sorria fracamente.

– Está bem – acedeu Cecelia e, então, olhou para ele.

– Vá, vamos jantar.

Cecelia sentiu um aperto no coração.

Embora não se notasse.

Cecelia queria que aquele dia acabasse.

O pior que podia acontecer-lhe era jantar com ele.

Ou o melhor.

Luka era muito boa companhia.

Mas isso só piorava a situação.

Encontro apaixonado

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