Читать книгу Uma amante e dois segredos - Dani Collins - Страница 5
Prólogo
ОглавлениеCinnia Whitley entrou no consultório pela escada e quase atingiu uma mulher que lá estava com a porta. Murmurou uma desculpa e pensou que vira essa mulher antes, mas não ali. Recordaria uma mulher tão alta, tensa e atenta a tudo o que se passava à sua volta.
Seria uma guarda-costas? Era um sítio muito estranho para estar sem fazer nada. Talvez fosse por isso que lhe parecia conhecida. Passara dois anos com uns homens imperturbáveis que seguiam todos os seus movimentos e era possível que reconhecesse a atitude, não a cara.
Se fosse um familiar ou uma amiga que estava à espera de uma paciente, havia uma sala muito confortável à entrada do consultório. A entrada traseira era para paranoicas como ela que entravam pelo estacionamento com a esperança de que ninguém visse que ia à ginecologista.
Pouco importava quem poderia ser essa paciente tão famosa, tinha outras preocupações maiores. Queria fazer uma ecografia para confirmar as suspeitas do motivo por que estava… a engordar.
No entanto, recusava-se a aceitar o motivo mais provável. Tinha muito trabalho durante as vinte e duas semanas seguintes e custara-lhe encontrar tempo para fazer o teste. Se as suspeitas da médica fossem acertadas, teria que repensar o seu futuro.
Gémeos? Não podia ser. Os nascimentos múltiplos não tinham de ser hereditários e, além disso, ela sempre achara que só as mulheres transmitiam essa característica. Um homem com um irmão gémeo e duas irmãs gémeas não podia transmiti-lo à sua descendência… ou sim?
Henri fazia o que queria e ela sabia muito bem. Não sentia a falta dessa arrogância nem dele, nem da vida que tinha com guarda-costas, como aquela que estava ali, sempre atrás dela.
Então, porque passava as manhãs à procura nas páginas de mexericos para ler tudo o que pudesse encontrar sobre ele? Ler que Henri voltara à sua vida de antes era autodestrutivo, mas, pelo menos, havia muito pouca coisa sobre ele. Ramón, o irmão gémeo, estava a roubar-lhe o protagonismo. Continuava a fazer corridas de automobilismo, e a ganhar, enquanto passava de uma mulher para outra.
Os Sauveterre eram muito discretos, embora a imprensa os seguisse com muito interesse. No entanto, durante o tempo que passara com Henri, apercebera-se de que Ramón monopolizava sempre a atenção da imprensa quando acontecia alguma coisa na família, como se o fizesse intencionalmente.
Acabara com Henri há dois meses e já era uma notícia antiga. Devia estar a tentar proteger Angelique. Os irmãos protegiam obsessivamente as irmãs mais novas, algo compreensível quando se tinha em conta que tinham raptado Trella quando era uma criança. Angelique era a única que aparecia em público ultimamente e estava a tornar-se famosa por causa da sua aventura com o príncipe do Zahmair… ou, melhor dizendo, com essa aventura e com a que também tinha com o príncipe de Elazar, se acreditasse no que se dizia na Internet.
Cinnia franziu o sobrolho porque continuava a pensar que havia algo estranho na fotografia de Angelique com o príncipe de Elazar. Pensara que era Trella na fotografia, mas isso era impossível, porque Trella estava isolada. Só a vira pessoalmente algumas vezes.
A enfermeira estava a falar ao telefone e, finalmente, reparou nela. Cinnia cumprimentou-a com a mão e fez um esforço para sorrir, apesar dos pensamentos que a embargavam. Tentou não pensar em Henri e nos gémeos, pois era demasiado aterrador para assimilar, a não ser que tivesse de o fazer. A enfermeira indicou a uma auxiliar que Cinnia chegara e a auxiliar virou-se para pegar na ficha dela.
Cinnia tirou o cachecol e começou a desabotoar o casaco. Alegrou-se por se sentir seca e quente quando estava um dia horrível, mesmo que estivessem no fim de fevereiro e em Londres.
Abriu-se a porta de uma sala de exames, deu um salto e teve de se afastar enquanto se virava.
– Lamento… – desculpou-se a outra mulher.
– É culpa minha… – começou a dizer Cinnia, antes de ficar boquiaberta ao reconhecer aquele físico de modelo com traços aristocráticos. – Meu Deus! Estava a pensar em ti!
– Cinnia!
Angelique sorriu de orelha a orelha e abraçaram-se como se fossem duas irmãs que não se viam há muito tempo. Abraçaram-se com força, com tanta emoção que Cinnia se esqueceu de toda a prudência. Até perceber que a irmã de Henri ficava rígida ao sentir o vulto por baixo das camadas de roupa. Rezou para que não dissesse nada ao irmão.
Afastaram-se.
– Meu Deus… – repetiu Cinnia, com um sussurro. – Confundi-te com a tua irmã.
Sempre soubera distinguir facilmente as gémeas. Confundira Trella com Angelique por causa da surpresa e de uma ilação precipitada. Trella nunca saía da propriedade de Espanha, a não ser que estivesse acompanhada por algum dos seus irmãos. Isso queria dizer que Henri estava ali? Olhou à sua volta, mas só viu a guarda-costas.
Naturalmente, fora por isso que lhe parecera conhecida, vira-a em Sus Brazos, a casa familiar dos Sauveterre em Espanha. Aquela era Trella. Embora não houvesse algo físico para as diferenciar, percebia algo na sua atitude. Angelique tinha o mesmo ar reservado do que Henri e Trella era tão radiante e efusiva como Ramón.
Então, apercebeu-se de que não só era estranho que Trella estivesse em público sem nenhum familiar à vista, como também numa clínica ginecológica.
O que é que a gémea Sauveterre, que estava sempre isolada, fazia em Londres? O que fazia com um frasco de vitaminas pré-natais na mão e uma expressão de remorso na cara? Como era possível que uma mulher que vivia como uma freira e tinha guarda-costas ficasse grávida? Henri ia enlouquecer!
Trella escondeu o frasco atrás das costas e abriu a boca, mas só balbuciou algo incompreensível.
Cinnia tinha os olhos esbugalhados… e viu que Trella semicerrava os dela à medida que percebia onde estavam. As pernas fraquejaram.
– Passa-se alguma coisa…? – perguntou Cinnia, hesitante.
Não sabia exatamente o que acontecera a Trella quando fora raptada, mas sabia que tivera medo dos homens durante muito tempo, assim como de muitas outras coisas.
Trella, que era muito resistente, deixou escapar uma gargalhada histérica e revirou os olhos. Encolheu os ombros com resignação, como se estivesse a aguentar uma gravidez inesperada, mas que também não era fruto de algo traumático.
– Como estás? – Trella olhou para a barriga de Cinnia com o sobrolho franzido. – É…?
Estava a perguntar se era de Henri e ela levantou o olhar como se lhe rogasse em silêncio que não lhe contasse nada. Também queria deixar escapar uma gargalhada histérica, mas tinha a garganta seca.
Trella endireitou-se e afastou o cabelo escuro e ondulado da cara.
– Podemos fingir que nada disto aconteceu.
Era uma mulher impressionante de vinte e tal anos, mas parecia uma menina de nove que escondia um rebuçado que roubara.
Aquela era a irmã que Henri conhecera na sua infância, a que o enlouquecera ao meter-se em todo o tipo de problemas, a que sempre precisara que o seu irmão mais velho interviesse para os resolver. Quis abraçá-la outra vez, estava muito orgulhosa de Trella, embora a esperasse um futuro complicado por ter superado o passado.
Além disso, queria partilhar esse momento com Henri, pois sabia intuitivamente que, depois da impressão inicial, esse indício da cura de Trella seria muito bem recebido… ou não.
Preocupava-se com todos os Sauveterre, carregava a responsabilidade de tomar conta da mãe e das irmãs e era por isso que se opunha a casar-se e a ter filhos.
Conteve um suspiro de saudade. Era curioso que quisesse estar com ele quando a irmã lhe desse a notícia se sabia muito bem que teria um ataque quando lhe dissesse que estava à espera de um filho dele.
Doeu-lhe o coração outra vez ao recordar que lhe dissera, desde o começo e com desprezo, que não se casaria com ela.
– Menina Whitley – chamou a enfermeira. – Pode entrar…
– Adorei ver-te. – Cinnia voltou a abraçar apressadamente Trella. – Senti a vossa falta.
Quase toda a relação de Cinnia com a família de Henri fora através de um tablet, mas lamentava profundamente ter perdido essa relação com os Sauveterre.
– Dir-te-ia para dares lembranças a todos, mas…
Cinnia não acabou a frase e Trella abraçou-a com mais força. Afastaram-se lentamente e inclinou a cabeça para trás. O seu filho teria os olhos dos Sauveterre?, questionou-se Cinnia com uma pontada nas entranhas.
– Agora, podemos continuar em contacto – replicou Trella, com um ar cúmplice, antes de ficar séria outra vez. – Posso ligar-te? Gostaria de saber porque…
Cinnia sabia que esconder a gravidez a Henri era uma batalha perdida. Só queria pensar bem para que não se sentisse presa quando descobrisse. Trella estava demasiado unida aos seus irmãos para disfarçar a sua própria gravidez. Assim que se soubesse, não demoraria a saber-se o seu estado. Se pudesse ganhar um pouco de tempo para se preparar, para saber exatamente quantos filhos esperava…
– Podemos sair para jantar se continuares em Londres no fim da semana.