Читать книгу O Escritor (Português Do Brasil) - Danilo Clementoni - Страница 11
Pasadena, Califórnia – O nerd
Оглавление— É só isso? — exclamou o sujeito grandão, definitivamente obeso, enquanto observava o estranho dispositivo que o jovem nerd estava segurando. — Não vai dizer que nos fez esperar mais de um mês só para nos mostrar essa coisa piscando.
— Posso garantir que está funcionando — respondeu o garoto, aterrorizado. — Na verdade, acho que já fez o que devia, conforme foi projetada.
— Sim, mas vai nos contar o que é que fez? — o magrelo alto berrou ao pular de pé. — Agora estou realmente perdendo a paciência.
No porão repleto de equipamentos, monitores e computadores de todos os tipos, iluminado por uma fraca luz led que se refletia nas paredes gastas, o rosto macilento do garoto parecia mais pálido do que na realidade era.
— Escute aqui, se não contar para que serve, juro que farei você engolir essa coisa inteirinha — exclamou o gordo, segurando o nerd pelo pescoço.
— Mas te disse — respondeu o garoto, ainda mais assustado. — É um sistema para ativar um procedimento à distância.
— Mas que procedimento? Qual? — o gordo continuou, enquanto sacudia o garoto como se estivesse chacoalhando Margaritas.
— Não sei bem — o jovem tentou responder. — Mas acho que ativamos algo bem peculiar e perigoso, tendo em vista os sistemas de proteção que precisei contornar.
— Explique — disse o gordo, ainda sacudindo o garoto.
— Se me soltar, vou te mostrar.
— Ok. Mas seja convincente, senão o maior pedaço de você que restar só será visível por microscópio.
O garoto endireitou a sua camisa, arrumou os longos cabelos que não eram lavados há um bom tempo e foi até o posto de trabalho com dois teclados e uma série de computadores desmantelados pela metade. Ele digitou rapidamente vários comandos incompreensíveis, e depois de alguns segundos, uma imagem tridimensional do estranho objeto que lentamente revolvia sobre si mesmo apareceu num monitor gigantesco pendurado no teto.
— Este é o nosso misterioso controle remoto.
— Ah, agora virou um controle remoto?
— Bom, considerando a sua função, acho que seguramente podemos chamá-lo assim.
— Prossiga — disse o magrelo, enquanto se acomodava numa cadeira maltrapilha, para poder observar melhor o grande monitor.
— Certo, o maior problema era como reativá-lo. Tive muitas dificuldades, porque provavelmente, além de estar desligado, o dono não queria que ninguém jamais ligasse de novo.
— Viu, não foram as pilhas que pifaram, seu tonto — exclamou o gordo, falando com o seu comparsa.
— Não, não há pilhas dentro — o nerd continuou. — Acho que funciona por meio de uma fonte externa de alimentação, uma espécie de fluxo eletromagnético, que é capaz de captar e transformar em energia pura.
— Interessante — o magrelo comentou. — Mas qual é o alcance?
— Teoricamente, talvez centenas de milhares de quilômetros.
— Diacho — o gordo exclamou enquanto segurava o estranho objeto na mão. — Está dizendo que essa coisinha seria capaz de transmitir um sinal daqui para a Lua?
— Acho que sim, e provavelmente já fez isso.
— E o que deve ter transmitido?
— Aí é que vem a parte interessante — continuou o garoto, enquanto trazia uma nova imagem para o grande monitor. — Esses são os símbolos que apareceram na frente dele depois de ser reativado.
— Parece um tipo de linguagem antiga — comentou o magrelo. — Tenho certeza que já vi antes.
— De fato, é cuneiforme. Os sumérios a usavam há milhares de anos antes de Cristo.
— E como foi parar num instrumento tecnológico tão avançado?
— É a linguagem dos nossos visitantes alienígenas.
— Está dizendo que aqueles brutamontes que nos capturaram falam cuneiforme? — perguntou o gordo, um pouco surpreso.
— Bem, — o garoto tentou explicar, — não se fala cuneiforme, exatamente. É um tipo de escrita. Mas acho que é a linguagem deles.
— E conseguiu traduzir?
— Na verdade, para enviar o comando, tive de inserir uma espécie de senha. Na prática, ao tocar os símbolos na ordem correta, acessei o modo operacional.
— Basicamente, igual ao sistema de desbloquear o celular?
— Sim, mais ou menos — disse o nerd sorrindo, contente que os dois sujeitos finalmente compreenderam o que ele estava falando.
— Você fez um trabalho excelente — disse o gordo, parecendo satisfeito.
— Sim, mas ainda não entendemos a função real dele — retrucou o magrelo, meio decepcionado.
— Eu poderia arriscar um palpite que acho que seria bem realista — disse o garoto, de mansinho.
— Então, está esperando o quê? Fale — respondeu o gordo, movendo-se a alguns centímetros do nariz do outro.
— Acho que é um sistema para ativar o procedimento de autodestruição de uma espaçonave, incluindo sabe lá mais quantas funções.
Os dois comparsas se olharam surpresos por um instante, e então, como se alguém lhes tivesse dado o presente mais maravilhoso do mundo, o mais gordo exclamou: — Por favor, me diga que os mandamos pelos ares.
— Com toda a probabilidade, os alienígenas tiveram tempo de se salvarem, mas seu veículo deve ter tido um fim terrível.
— Filho, você é um gênio — exclamou o gordo. Então ele retirou um pendrive USB do bolso, e acrescentou: — Ponha todos os dados que têm dessa coisa e depois cancele tudo. Se descobrirmos que guardou um único byte...
— Eu sei, eu sei. Vão fazer picadinho de mim.
— Muito bem. Sabia que era um cara esperto.
O processo de copiar durou apenas alguns segundos. Então, depois de remover o pendrive USB do computador, o nerd entregou ao gordo, que rapidamente arrancou de suas mãos. Também depois de apanhar o estranho objeto e colocar ambos no bolso direito das calças, ele disse ao seu cúmplice: — Vamos andando, meu velho, talvez nossos sonhos estejam prestes a se concretizar.
Eles quase chegaram à soleira quando o jovem exclamou: — Ei, não se esqueceram de algo?
— Do que está falando? — perguntou o sujeito magrelo e alto.
— Ahh... o resto do meu dinheiro.
— Dinheiro? — respondeu o gordo. — Agradeça ao Senhor por não termos quebrado o seu pescoço — e ele bateu a porta atrás de si.