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Pasadena, Califórnia – O esconderijo

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Assim que abriu a porta, o sujeito obeso sentiu uma corrente de ar fresco. O ar-condicionado da sala, que estava ligado desde a noite anterior, fizera um trabalho excelente.

— Maravilhoso — ele exclamou. — Não conseguia aguentar mais aquele calor sufocante.

— Talvez se você resolvesse seguir uma dieta rigorosa e se livrar de toda essa banha, o calor não te incomodaria tanto.

— Por que você é sempre negativo sobre as minhas reservas?

— Chame-as de reservas, se quiser. Você poderia seguramente passar um mês inteiro sem comer — exclamou o magrelo, explodindo em gargalhadas logo depois.

— Vou fingir que não escutei isso.

A decoração do pequeno apartamento que os dois usavam como base era definitivamente modesta. Na sala principal havia apenas uma mesa simples de madeira clara com quatro cadeiras da mesma cor e um pesado sofá cinza escuro com assentos e apoios de braço gastos. No canto, perto da janela francesa que tinha vista para um sombrio pátio interno, um pote marrom de plástico continha os restos de uma pequena palmeira-de-saia, que apesar da grande resistência a climas secos, morrera há várias semanas por falta de água. O pequeno banheiro também mostrava sinais evidentes de desleixo. Vários azulejos haviam caído e grandes manchas negras no teto desbotado eram evidências de infiltração de água que não fora reparada. Dois quartos surrados, com uma única cama e um criado-mudo barato, junto a uma kitchenette com um armário que tinha, pelo menos, vinte anos, completavam a mobília do apartamento que era tudo, exceto agradável.

— Bom, uma coisa é certa, em termos de gosto na escolha dos nossos refúgios, você é ótimo mesmo, hein? — comentou o sujeito magrelo e alto.

— Por quê? O que tem de errado com esse lugar?

— É um muquifo. É isso o que tem de errado. Aqui estamos, sempre falando sobre montes de dinheiro, mas no fim, sempre terminamos nesses malditos muquifos.

— Ah, você sempre reclama — respondeu o grandão. — Vamos tentar obter um acordo e então verá, poderemos viver no sossego de uma vez por todas.

— Você que diz... Não estou muito convencido.

— Vamos, me dê o laptop e te mostrarei uma coisa.

O magrelo puxou uma mala preta com uma alça de ombro de trás do sofá e retirou um notebook cinza escuro. Olhou para o mesmo um momento e então deu ao comparsa, que o colocou na mesa e o ligou. Ambos se sentaram, quietos por um instante, olhando para a tela enquanto o sistema completava o processo de inicialização, até que em um momento, o magrelo desabafou: — Não suporto mais essas coisas. Passo horas vendo barras de progresso, ampulhetas girando, atualizações diversas... Por que simplesmente não fabricam um computador que funciona como uma televisão? Aperte o botão e ele liga.

— É, isso seria muito bom. Em vez disso, o que eu mais odeio é quando você acaba de usar e quer desligar para terminar, ele mostra uma simpática mensagenzinha que diz "Não desligue. Instalando atualização 1 de 325..." e você tem que esperar meia hora enquanto ele faz o que quer. Poxa, não podia fazer as drogas das atualizações antes? Realmente tem que esperar até eu estar pronto pra terminar?

— Hum, isso é a tecnologia da informação. Os programadores que projetam esses sistemas provavelmente se divertem vendo nós, pobres mortais, ficarmos cada vez mais irritados quando nos deparamos com as suas "criações".

— Está dizendo que fazem de propósito?

— Ao pensar que hoje em dia, só para escrever uma carta precisamos de um computador com uma capacidade de processamento bilhões de vezes maior que a das missões Apollo que levaram o homem à Lua, acho que alguma coisa não deu certo no progresso tecnológico.

— Bem, você é o especialista — comentou o magrelo. — É certo que eles nos fazem perder muito tempo, mas não seríamos capazes nem de ir ao banheiro sem esses aparelhos agora.

— Vamos parar por aqui, é melhor. Em vez disso, veja o que descobri durante minhas noites em claro.

O sujeito obeso trouxe uma série de imagens à tela, que devia ter tirado de algum arquivo que não era exatamente público. Ele navegou por algumas e então disse: — Aqui estão. Acho que o que está vendo é uma série de combinações de caracteres cuneiformes, capazes de ativar funções adicionais nesse pequeno dispositivo.

— E onde conseguiu isso? — perguntou o magrelo, com espanto.

— Se dissesse, teria de matá-lo — respondeu o gordo, bem sério.

Por um instante, o sujeito magro e alto ficou paralisado, então percebeu que o comparsa obviamente tinha feito uma piada, e depois de socá-lo, exclamou: — Que imbecil. Vamos, deixa ver essa inefável descoberta.

— Espere, primeiro me deixe ver o que o nerd nos deu — e conectou o pendrive que extorquiram do garoto no computador. Ele verificou rapidamente uma série de arquivos, abrindo alguns aleatoriamente, até a sua atenção se voltar a uma imagem que já havia visto. — Veja isto — exclamou.

— O que é?

— É uma sequência de caracteres que conheço.

— Não entendo.

— Você é realmente caquético. Esta é a combinação que ativou o comando de autodestruição da espaçonave e tenho certeza que já vi nas minhas buscas.

Para evitar de ser repreendido de novo, o magrelo só murmurou.

— Aqui está — disse o grandão novamente, mostrando a mesma série de imagens que estiveram olhando antes, mas destacando uma delas com o mouse. — É esta.

— Sim, e daí?

— Daí que, se essa sequência já funcionou uma vez, então as outras indicadas aqui provavelmente estão ativas também.

— Seu raciocínio faz sentido.

— Que tal experimentarmos uma?

— Mas não será perigoso? Acho que já causamos estragos suficientes.

— Covarde — disse o grandão. — Na pior das hipóteses, simplesmente explodiremos mais uma das malditas espaçonaves deles.

— E se em vez disso, nós fôssemos explodir? Não sabemos nada sobre essa coisa.

— Venha, vamos tentar — exclamou o gordo, com a expressão de um menino prestes a acender um rojão embaixo da espreguiçadeira do avô enquanto ele dorme feliz.

— Tente você. Vou me esconder atrás dali.

— Corajoso, hein? Não esquenta, vou tentar, seu maricas.

Então, depois de esperar o comparsa se esconder no quarto ao lado, o grandão tomou um grande fôlego e usando o grosso dedo indicador, traçou a primeira sequência da tela na superfície do objeto. Logo depois, jogou o dispositivo no sofá e se atirou ao chão com as mãos em cima da cabeça. Esperou vários segundos sem se mover, mas nada aconteceu. Ficou deitado ali no chão mais um instante, e somente após ter constatado que parecia não haver nenhum perigo iminente, levantou um pouco a cabeça. O controle remoto ainda estava no assento do sofá e não parecia estar funcionando.

— Então? O que aconteceu? — perguntou o comparsa, espiando cautelosamente pela porta entreaberta.

— Absolutamente nada.

— Talvez você fez um erro ao digitar a sequência?

— Acho que não. Acho que fiz tudo corretamente — disse o grandão enquanto, com muito cuidado, se levantou e se aproximou do objeto alienígena novamente.

— Vá, tente de novo. Vou ficar aqui.

— Obrigado pela ajuda. O que faria sem você?

Dessa vez, o gordo decidiu que não se atiraria ao chão de novo e formou a sequência simplesmente sentado na cadeira. Ele repetiu a operação várias vezes, mas não parecia haver qualquer reação do objeto.

— Absolutamente nada — acrescentou o grandão.

— Talvez estejamos destruindo todas as espaçonaves deles — comentou o sujeito magro e alto enquanto espiava pela porta de novo.

— Não fale asneira. O nerd disse que essa coisa só tem um alcance de cem mil quilômetros. Vai saber onde Nibiru está a essa altura. Ao contrário, eu simplesmente acho que essa sequência não é operacional.

— Então vamos tentar outra, não?

— Tentar outra? Eu diria que só eu é que estou fazendo as "tentativas".

— Ah, deixe de pirraça. Afinal, quem é que tem a mentalidade mais tecnológica de nós dois?

— Ok, ok. Vou tentar a segunda, agora.

O grandão passou os dez minutos seguintes formando quase todas as combinações que estavam dispostas na tela do computador, uma após outra, mas nada de anormal acontecia.

Enquanto isso, como a situação parecia ser tudo menos perigosa, o comparsa se juntou a ele, e os dois ficaram fazendo suposições de todos os tipos.

— Talvez as imagens estejam ao contrário — disse o magrelo em um certo momento.

— Não. Os caracteres cuneiformes no controle remoto estão na mesma ordem que os da tela.

— Então suas incríveis "fontes" devem ter secado.

— Não é possível. Tem que funcionar. Tenho certeza.

— Só restam duas. Se também não funcionarem, jogaremos essa coisa no lixo e iremos tomar uma bela bebida refrescante.

O grandão bufou, e sem acrescentar nada, formou a penúltima sequência, sem muita convicção. Assim que tocou o último símbolo, ele sentiu um tremor bem leve, e um instante depois, um tipo de brilho artificial foi liberado, vindo da parte da frente do dispositivo. Houve um ligeiro estalo, e uma nova janela, perfeitamente circular, de quase meio metro de diâmetro, se abriu na parede vazia à frente deles.

— Que diabos... — exclamou o magrelo, com os olhos arregalados.

— Por todos os santos... — acrescentou o amigo, igualmente perplexo.

Com as pernas ainda trêmulas pelo susto, eles se levantaram e se aproximaram ao buraco na parede com cautela. Foi o mais alto que, tendo colocado a cabeça dentro da abertura, exclamou: — É incrível! A parede se foi e nós até fizemos um buraco naquele grande outdoor de carros ali. Deve estar a pelo menos cem metros daqui!

O Escritor (Português Do Brasil)

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