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Capítulo 1

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Estavam a segui-la. Em silêncio, invisíveis, tinha ficado em pele de galinha com o sinal de advertência. Atrás dela, a noite escondia um caçador.

Tinha passado por aquelas ruas estreitas centenas de vezes, à luz do dia e na escuridão, e nunca tinha ficado nervosa. Até aquele momento.

A luz dos faróis era ofuscada pelos troncos das árvores que rodeavam a rua, preenchendo-a de sombras. As raízes saltavam por entre a cerca. Deveria ter mudado de sapatos antes de sair do trabalho. Os que trazia tinham um salto demasiado alto e podia ser um perigo na escuridão.

Tropeçou e, murmurando, olhou rapidamente por cima do ombro, com o coração nas mãos.

Nada. Mas seria fácil para qualquer pessoa que não quisesse ser vista, esconder-se atrás de uma árvore ou atrás de algum carro estacionado em ambos os lados da rua.

O instinto fez com que acelerasse o passo, procurando a chave no bolso.

Deteve-se por um momento na porta do vizinho, olhando novamente para trás. Estava uma sombra por baixo das árvores ou era apenas uma brisa a mover os troncos…?

Imaginou-se a bater à porta, pedindo que a abrissem, observou a alegre e frenética família Tongan a deixá-la entrar, enviando os rapazes à procura do estranho perseguidor. Mas, na casa não havia luzes, nem vozes, nem música.

E se estava enganada? E se havia um atacante invisível que apenas existia na sua imaginação?

A porta da sua casa estava apenas a alguns metros, uma casinha de dois pisos que recordava o passado colonial da Nova Zelândia.

«Não corras», pensou. Em breves segundos estaria no caminho de ladrilhos, quando finalmente tirou a chave do bolso.

Estava no terceiro degrau da entrada quando o portão chocou contra a cancela e, ao voltar-se, angustiada, viu que uma alta figura masculina se aproximava.

Aterrorizada, voltou-se para a porta, mas ficou com o salto alto preso no último degrau e perdeu o equilíbrio. Ao levantar o braço para procurar apoio, deixou cair a chave da mão.

À beira do pânico, apoiou-se na ombreira da entrada, ouviu a chave cair no chão e viu o desconhecido baixar-se para as apanhar.

Não podia fugir. Estava presa, com uma porta fechada nas suas costas. E, diante dela, um homem com a sua chave na mão.

Precisava respirar fundo para poder gritar, esperando que alguém a ouvisse, que alguém a ajudasse.

Desceu as escadas num salto e uma mão grande, enorme, tapou-lhe a boca, estrangulando o grito.

Levantou um joelho para lhe bater, mas o homem estava atrás dela. Tentou mordê-lo, mas não conseguia. Levantou o pé para lhe dar um pontapé letal, mas o canalha parecia estar preparado e apenas encontrou ar. Tentou dar-lhe uma cotovelada, mas ele segurou o seu braço e deu-lhe a volta, esmagando-a contra o seu duro corpo.

– Querida, não – murmurou ao ouvido com uma voz rouca.

Querida? Essa palavra fez com que ficasse rígida. Querida? A fúria superou o medo.

O homem deixou de a apertar e ela aproveitou para soltar-se, levantou a mão direita e deu-lhe uma bofetada na cara que se ouviu em toda a rua, foi tão forte que fez com que desse um passo atrás.

– Canalha! – gritou.

O seu rosto era invisível na escuridão, mas observou-o a dar um passo atrás. Soltou uma gargalhada.

Ela respirou profundamente para levar ar aos seus pulmões. Dava-lhe voltas à cabeça e parecia estar a flutuar no espaço, no escuro e confuso espaço. Teve que respirar novamente para poder falar:

– Dá-me a chave – disse e rangeu os dentes.

O homem apertou-lhe o nariz com dois dedos.

Ela tentou soltar-se, mas ele não a largou e os seus dedos roçaram-se. Quando finalmente conseguiu tirar-lhe a chave, deu meia volta e tentou encontrar a fechadura, mas tremia tanto que não era capaz de fazê-lo.

Então, o homem tirou-lhe a chave e colocou-a correctamente na fechadura. Depois, abriu a porta e colocou uma mão nas suas costas e empurrou-a suavemente para o interior da casa.

Quando fechou a porta ficaram na escuridão. Ela não via nada, mas conseguia ouvir a respiração do homem, cheirar a sua roupa de algodão e lã, o seu sabão e uma suave água de colónia masculina. Começou a cheirar um sedutor aroma a homem excitado.

Então, ele pegou-lhe pela cintura.

– Estás a tremer – murmurou, roçando a sua cara com o cabelo. – Lamento.

– Lamentas? – exclamou ela, furiosa, envergonhada e confusa.

Procurou o interruptor e ficou furiosa e pálida quando acendeu a lâmpada. Diante dela, um homem de cabelo escuro, olhos azuis, sobrancelhas escuras sobre um nariz magistral e uns lábios que não podiam esconder a sua poderosa sensualidade.

– Estás pálida.

– Estiveste a perseguir-me? – perguntou ela.

– A perseguir-te?

– Estavas a seguir-me. Não me digas que não tentavas esconder-te.

– Estava a tentar não te assustar.

Ela quase soltou uma gargalhada.

– O quê?

– Pensei que se ouvisses passos atrás de ti nestas ruas tão escuras terias razão em ficares assustada.

– Como diabo não ia assustar-me ao saber que tinha alguém a seguir-me? – exclamou ela, largando a mala na mesa do telefone.

– Ignorava que soubesses.

Ele pegou na sua mão e deu-lhe a chave. Depois, tentou dar-lhe um beijo, fazendo com que ficasse com a pulsação acelerada.

– Precisas de um copo – disse, olhando à sua volta.

– Não preciso…

Ele largou a sua mão para a levar até ao salão, a primeira porta aberta no corredor.

– Senta-te – ordenou, levando-a até ao sofá.

– Não preciso de um copo. E se precisasse eu próprio o servia.

Sem dizer nada, o homem aproximou-se da estante onde estavam as garrafas.

Sabendo que não faria caso aos seus protestos, ela deixou-se cair no sofá e esperou até que o homem voltou com um copo de uísque. Ao beber o primeiro gole, os seus olhos ficaram repletos de lágrimas, mas tentou disfarçar.

Ele sentou-se a seu lado. Tinha um braço apoiado nas costas do sofá e olhava para ela com intensidade.

– Bebe tudo.

Deveria dizer-lhe que fosse para o inferno, que não precisava de nenhum homem que a seguisse até à sua casa e que lhe dissesse o que tinha que fazer.

Levantando o copo, bebeu o resto do líquido.

– Vives aqui sozinha?

– Isso não é assunto teu – disse ela, sem pensar.

Por que é que não lhe tinha dito que tinha noivo, marido, namorado, qualquer coisa? Ou que vivia com mais três pessoas.

– Já sei.

– Desde quando me segues?

– Vi-te descer do autocarro na avenida Ponsonby. Costumas regressar a casa sozinha? – perguntou ele, com um tom de reprovação.

A avenida Ponsonby era muito popular pela sua ecléctica mistura de emigrantes, mulheres das ilhas Fiji com os seus lenços de cores, lojas de todo o tipo, locais de moda e galerias de arte. Mas, sobretudo, pelos seus cafés e restaurantes cheios de pessoas e bem iluminados. Apenas estava a trezentos metros da sua casa, mas para chegar ali devia atravessar várias ruas escuras.

– Nunca me tinha acontecido nada até hoje.

– E, hoje, também não te aconteceu nada. Eu assegurei-me disso.

– Muito obrigado, mas não era necessário – replicou ela, sarcástica.

– Quando te vi, apercebi-me que era totalmente necessário. Importas-te que me sirva de um copo?

– Sim, importo-me.

– Estás a ser um pouco grosseira, não? – sorriu ele.

Tontamente, sentiu-se reprovada. Como se aquele homem tivesse algum direito sobre ela.

– O que mereces.

– Queres um pouco mais?

Ela negou com a cabeça.

Sabia que não podia mandá-lo embora da sua casa. Mas aquela era sua casa e ele era um intruso.

– Não esperas que me vá embora, agora, não?

– E se te pedir?

Ele estava a olhar para o seu copo. O líquido não se mexia, as suas mãos estavam perfeitamente firmes. Ao contrário das suas. Todo o seu corpo tremia de forma quase perceptível.

– Estás a pedir que me vá embora?

Ela conteve a respiração.

«Diz».

– Sim.

Não o tinha dito com muita determinação, mas sim claramente, embora em voz baixa.

Passaram uns segundos. Então, ele levantou o seu copo e bebeu um gole. Depois, olhou-a fixamente nos olhos.

– Não.

Ela levantou-se de repente e teve que segurar-se no braço do sofá porque o movimento brusco deixou-a tonta. Além disso, não podia sair a correr. Ele poderia apanhá-la antes de dar dois passos.

O homem bebeu o resto do uísque e deixou o copo sobre a mesa.

– Não – repetiu. – Não podes continuar a fugir de mim, Roxane.

Tempo de esperança

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