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Capítulo 3

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Inconscientemente, Roxane sorriu ao recordar aquilo.

Zito não tinha que provar a sua orientação sexual. Tinha sido evidente desde o primeiro dia. Apesar da sua inexperiência, Roxane encontrou nele um inegável desejo.

Um desejo que a tinha consumido, deixando apenas as brasas de um casamento desfeito.

Umas brasas que, teve que admitir, o facto de se mudar para outro país e construir uma vida sem ele não tinha conseguido apagar totalmente. O som da sua voz, o roçar dos seus lábios na mão, era suficiente para despertar esse desejo novamente.

– Tens uma boa garrafa de vinho no salão – disse Zito, colocando a pasta numa caçarola.

Roxane alegrou-se absurdamente do seu bom gosto. Ele próprio tinha-lhe ensinado a reconhecer um bom vinho.

– Vou buscá-lo.

– Não, fica – disse Zito, saindo da cozinha.

Mas Roxane levantou-se de todas as formas. Precisava fazer algo para borrar aquelas recordações amargas. Zito voltou com a garrafa de vinho e ela tinha posto a mesa.

E estava a olhar para ele como que dizendo: «Por que é que estou a fazer isto? Se tivesse princípios, tinha-lhe dito que se fosse embora e que nunca mais voltasse ».

Ele serviu o vinho em dois copos que Roxane tinha tirado do armário.

– Senta-te, por favor.

Roxane obedeceu.

Habitual, pensou para si própria, observando-o a cortar cebola. Durante os três anos que durou o seu casamento acostumou-se a que ele lhe dissesse o que tinha que fazer.

Zito pegou num tomate e cortou-o com facilidade. «Há que haver sempre boas facas». Outra coisa que ele lhe tinha ensinado.

Inconscientemente, continuava sob o feitiço de Zito Riccioni.

Mas aquilo devia acabar, pensou. Depois de jantar pedia-lhe que se fosse embora.

Zito deitou um pouco de vinho no que estava a cozinhar, intensificando o aroma que começava a fazer com que ela salivasse. Era um grande cozinheiro, disso não havia dúvidas.

Pouco depois colocava diante dela um prato de pasta com finas ervas, a sua receita favorita.

E, como tinha feito tantas outras vezes, pegou no seu talher para envolver com astúcia a massa e ofereceu-lhe. Automaticamente Roxane abriu os lábios.

Ninguém podia fazer pasta com finas ervas como Zito Riccioni. Involuntariamente fechou os olhos para saborear a massa…

Quando os abriu, ele estava a olhar para ela com um sorriso nos lábios. Um sorriso que era um desafio.

– Estão riquíssimo, como sempre.

Nunca fazia duas vezes a mesma salsa, mudava sempre os ingredientes e a quantidade de acordo com o momento ou o que houvesse disponível no mercado. Mas cada variação era uma obra de arte e aquela noite não era excepção.

– Fico contente. Estaria melhor se fosse eu próprio a fazer a massa, mas…

– É massa fresca.

Depois de provar a massa de Zito, Roxane não podia comprá-la no supermercado.

Mas o que nunca aprendeu foi enrolar a pasta no talher sem que caísse.

– Não te rias. Já sabes que sou pouco habilidosa – murmurou ao ver o brilho burlesco nos olhos azuis dele.

– Olha, é assim… – disse ele, pegando na sua mão. Tinha tentado ensinar-lhe dezenas de vezes, mas era impossível. Zito dizia que, pelos seus genes, tinha nascido com um talher de prata na boca.

– Falta-me prática. Além disso, não costumo comer pasta.

– Por isso estás mais magra.

– Não estou magra.

– Estás. Mas tão bonita como sempre.

– Obrigado.

– Mas perdeste peso.

– Faço mais exercício. Vou para o trabalho a pé. Tu continuas a jogar squash?

– Sim.

Zito tinha sido campeão do Estado e tinha a casa cheia de troféus. Mas quando cumpriu 25 anos o trabalho absorveu-o por completo. O seu avô tinha-se retirado e o seu pai estava ansioso por ensinar ao herdeiro tudo o que devia saber sobre a empresa familiar.

– Como está a tua família? – perguntou Roxane.

– Importas-te?

Ali estava novamente, aquela raiva que raramente deixava antever.

– Sim, importo-me. Já sabes que gosto muito dos teus pais e das tuas irmãs. E o teu avô é um anjo.

– Mas o seu neto não.

– Zito, já te disse…

– Não me disseste nada! – exclamou ele, batendo na mesa com o punho. – Perdoa-me, não queria assustar-te – disse então ao ver que Roxane tinha ficado pálida. – Isto pode esperar.

Não costumavam discutir à mesa. Zito dizia que era imprescindível desfrutar dos alimentos e que, quase sempre, depois de uma boa refeição discutir não fazia sentido.

E quase sempre tinha razão. Quando não se esqueciam da discussão pela comida, esqueciam-na porque iam para a cama. E faziam amor, nada mais importava. Na realidade, nunca tinham tido uma verdadeira discussão.

– Come – disse. Roxane ia protestar, mas decidiu terminar a sua pasta. – Alimentas-te bem?

– Alimento-me perfeitamente. Saladas, peixe, verduras…

– Costumas sair muito?

– De vez em quando.

Não costumava organizar jantares porque a sua casa era muito pequena e na mesa do salão apenas podiam comer quatro pessoas, mas saía com as suas amigas ao cinema ou a beber um copo.

– Fala-me do teu trabalho.

– Comecei a trabalhar com Leon quando cheguei a Auckland. No princípio apenas me encarregava de servir comida nas festas, mas de imediato pediu-me que trabalhasse no escritório.

Leon tinha ficado impressionado pela sua iniciativa e a sua capacidade de trabalho. Além disso, o seu diploma em Economia permitia-lhe levar a administração da empresa.

– Apercebi-me que alguns clientes queriam algo mais que comida. Queriam que alguém organizasse os convites, publicidade… alguém que se encarregasse de todos os pormenores de uma forma original.

– Tu apercebeste-te? – perguntou Zito.

«Não é incredulidade, apenas interesse», pensou Roxane. Não devia ser tão perspicaz.

– Sim. Por isso disse a Leon e ele decidiu que tentássemos. Desde então, além de nos encarregarmos da comida nas festas, fazemos de tudo. Gosto do meu trabalho e tenho um bom salário.

– Parabéns.

– É uma empresa pequena comparada com o império Riccioni.

– Delora não é um império, é um negócio familiar – replicou ele.

– Um negócio familiar que vale milhões.

Talvez centenas de milhões. Roxane nunca tinha visto as contas do seu marido.

– Isso não é nenhum crime. Trabalhamos muito.

– Já sei.

Mas apenas os homens. As mulheres da família Riccioni não trabalhavam, como Zito lhe tinha deixado bem claro.

Devia ficar em casa para controlar os empregados, presidir às festas e aparecer nos eventos sociais para mostrar as jóias e os vestidos que lhe comprava o seu marido.

Roxane queixou-se uma vez, dizendo que se sentia inútil como uma escultura de gelo no centro de uma mesa. A resposta de Zito foi: «Tu és muito mais bonita e menos fria».

Com os olhos brilhantes, pegou-lhe pela cintura para a levar para a pista de dança e, com a cara na sua frente, recordou-lhe em voz baixa o que se passava entre eles como homem e mulher. Explicitamente recordou-lhe o que tinha acontecido na noite anterior…

Roxane, corada como um tomate, teve que lhe pedir que se calasse.

– Ninguém nos ouve, tonta – tinha rido ele, apertando-a com força. Estava excitado. – Vamos para algum sítio escuro?

– Onde?

A festa tinha lugar no salão de uma casa histórica de Melbourne.

– Para o jardim – sussurrou Zito, roçando o lóbulo da sua orelha com a ponta da língua.

Roxane teve que morder os lábios para não deixar escapar um gemido, como cada vez que lhe tocava. Teve que controlar-se para não cair nos seus braços.

Sem dizer uma palavra, Zito pegou-lhe pela cintura e abriu caminho por entre os convidados para a levar para o terraço. Havia vários casais a beberem champanhe e quando desciam as escadas que davam para o escuro jardim, Roxane ouviu uma mulher a sorrir.

– As pessoas começarão a murmurar.

– Que murmurem o que quiserem.

– Zito…

Ele deteve-se.

– Importas-te? – perguntou, parando para a beijar nos lábios.

– Não – confessou ela quando conseguiu falar.

Sem dizer mais nada, Zito levou-a para os arbustos próximos da sombra de uma enorme árvore. Os troncos das árvores quase ocultavam a luz da lua.

Então, voltou a beijá-la novamente, profundamente, abrindo os seus lábios com a língua. Depois abriu o fecho do vestido. Era o género de vestido que não permitia usar soutien e a seda deslizou até aos seus pés como uma carícia.

Zito inclinou-se e pegou no delicado tecido para o pendurar num dos troncos.

– Tens frio? – perguntou, acariciando-a.

– Não.

Roxane estava a tremer, mas a sua pele ardia.

– Agora isto – disse ele, então.

As suas cuecas uniram-se ao vestido no tronco da árvore. Sentindo-se ridícula com apenas os sapatos, Roxane descalçou-se e uma delgada almofada de folhas secas esfriou os seus pés nus.

De alguma forma, isso acrescentava erotismo àquela louca fuga.

– És incrivelmente bonita – disse Zito, sem lhe tocar.

Roxane estava a habituar-se à escuridão, mas não podia ver a sua cara, somente o brilho dos seus olhos.

– Não me vês. Está demasiado escuro.

– Vejo-te à luz da lua – disse ele, acariciando as suas coxas.

O facto de Zito estar vestido e ela completamente nua era incrivelmente excitante. Injusto, absolutamente sexy.

– És uma ninfa. Uma princesa de um conto de fadas.

Mas Roxane sabia que era humana. Ele devia aperceber-se que o desejava, que o seu sangue ardia afogando todos os sons excepto o da sua própria respiração entrecortada.

Lentamente acariciou os seus seios e ela arqueou as costas para receber a carícia. O calor das mãos do homem misturava-se com a fresca brisa, fazendo com que a situação fosse incrivelmente erótica. Nua no meio de um jardim, fazendo amor com o seu marido onde qualquer pessoa podia surpreendê-los…

Zito beijou-a profundamente, a sua língua entrava e saía da sua boca com um ritmo que não deixava dúvidas. E Roxane deu-lhe as boas vindas a essa penetração, animando-a. Zito levantou-a e apoiou-a contra a árvore. Ela abriu as pernas, deixando que a penetrasse, afogando um gemido de prazer.

– Ama-me – sussurrou. – Oh, Zito, ama-me.

Tempo de esperança

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