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CAPÍTULO UM
ОглавлениеSetembro de 1823
Lucas Carter, o conde de Darcy, estava recostado em uma das cadeiras da sala de jogos de Weston Manor. O atual duque de Weston, James Kendall, estava mirando uma tacada na mesa de sinuca enquanto o seu bom amigo, Dominic Rossington, o marquês de Seabrook, dava instruções.
– Você vai perder se manter esse ângulo – avisou Seabrook. – Eu o moveria um pouco mais para a esquerda.
O duque se ergueu e olhou para o marquês com os olhos estreitados.
– Eu não preciso dessa sua maldita falação interrompendo a minha concentração. Mantenha suas opiniões para si. – Uma mecha de cabelo negro caiu sobre os olhos azuis cerúleos. Ele ergueu a mão e a afastou, então voltou a prestar atenção no jogo.
Lucas suspirou e segurou o copo de brandy sobre o olho. O conde de Shelby, Gregory Cain, tinha dado vários golpes no rosto dele mais cedo por causa de uma rixa sobre a irmã de Shelby, lady Samatha Cain. Ela era uma dama adorável, e Lucas pensara que ela daria uma ótima condessa. O pai estava sendo um imbecil ultimamente e continuava insistindo para que ele sossegasse. Tinha tentado explicar que o casamento não lhe caía bem.
Mas uma vez caíra…
A imagem da mulher pela qual se apaixonara à primeira vista há quase uma década surgiu em sua mente – Lia… ela tinha o cabelo castanho iluminado por mechas douradas e vermelhas. Os olhos eram de um verde brilhante, como esmeraldas à luz do sol. Nunca conhecera uma mulher tão linda quanto ela. Só passaram umas poucas horas juntos, mas tinha sido o suficiente para ele querer passar o resto dos seus dias ao lado dela. Ela era doce e linda. Ao menos foi o que lhe pareceu. Mas não muito depois de se conhecerem, ela fugiu, e não a viu desde então. As lembranças dela surgiam quando ele menos esperava. Se ela tivesse ficado…
Parou de pensar naquilo. Não reviveria aquela fatídica noite de inverno, e precisava aceitar que ela nunca seria dele. Não fazia ideia de para onde ela tinha ido e já fazia muito tempo que parara de se importar. Tinha feito a sua parte e a procurara – por uns dois anos, e então precisou se conformar. Lia não queria ser encontrada, e era óbvio que ela não o queria. O fato de só ter um primeiro nome e a descrição dela também não ajudava muito. Tanto quanto sabia, ela poderia muito bem estar usando um outro nome.
Lia deixou claro que estava se escondendo de um casamento arranjado. Ele não a culpava. Se não escolhesse uma noiva logo, o pai escolheria uma para ele. Lucas queria ao menos gostar da mulher com quem passaria o resto da vida – por isso o seu atual dilema e o rosto machucado. Buscou refúgio com o duque e o marquês porque Shelby tinha ido com Asthey e Harrington para Deus sabe onde. Ele não se importava, desde que todos ficassem longe dele.
Weston deu uma tacada e errou… A bola não bateu na que ele tinha mirado e foi de encontro à quina da mesa.
– Eu tentei avisar… – Seabrook ergueu as mãos e se afastou. – Tudo bem, faça do seu jeito. Eu não me importo de ganhar se você não quer ouvir a voz da razão.
– Não amola – grunhiu Weston. – Talvez Darcy queira jogar uma partida com você. Eu perdi a vontade.
Essa era a última coisa que Lucas queria. Se pudesse escolher, ficaria sozinho para desfrutar de uma garrafa de brandy, em paz.
– Passo – disse ele. A voz ainda estava rouca depois de Shelby ter tentado estrangulá-lo com as próprias mãos. O maldito degenerado tinha o gênio ruim e era terrivelmente superprotetor. – Mas tomarei mais um pouco de brandy. – Ele ergueu o copo para Weston. – Poderia me dar uma mão?
O duque resmungou algo sobre não ser um criado, mas completou o copo de Lucas.
– Obrigado —disse ele, com um meneio de cabeça. – Sou imensamente grato.
Lucas bebericou o licor ambarino e tentou esquecer os problemas, mas eles estavam aos berros dentro de sua mente. Lady Samantha teria resolvido todos eles. Maldito seja aquele carcomido do irmão dela… O que ele tinha feito a Shelby? Achava que se davam muito bem. Aparentemente, a opinião de Lucas sobre o caráter de uma pessoa tinha destrambelhado nessa última década. Desde que conhecera Lia…
Por que ela continuava a assombrá-lo?
– Darcy – Seabrook quase gritou o seu nome.
– O-o quê? – Ele piscou várias vezes. Esteve tão perdido nas lembranças de Lia que esqueceu onde estava. Lucas pigarreou. – Peço desculpas. Você me chamou?
Seabrook sacudiu a cabeça como se estivesse enojado com Lucas por alguma razão estranha. O que tinha feito agora? Parecia que tudo o que fazia era causar problemas. Às vezes se sentia como se estivesse completamente sozinho no mundo. Costumava fazer praticamente tudo com o seu melhor amigo, o marquês de Dashville. Infelizmente, Dash tinha se casado com a irmã de Lucas e sossegara. Esses dias, Dash estava feliz com o papel de pai e marido.
Muitas vezes Lucas se via com ciúme do que Dash e Helena tinham. A felicidade conjugal deles podia ser nauseante. Achava que era porque perdera a chance de ser feliz muito antes de Dash encontrar a própria felicidade. Mas nada disso interessava agora. O que importava era a forma como Seabrook olhava para ele. Lucas suspirou.
– Suponho que você não vai me regalar com uma resposta?
Seabrook sacudiu a cabeça.
– O quão forte Shelby bateu em você?
– Muito forte para o meu gosto, eu lhe asseguro. Os punhos dele parecem tijolos. – Ele levou a mão ao rosto e tocou logo abaixo do olho. – Já está preto, não está?
– Não se preocupe —disse Weston com simpatia. – Seu rosto voltará a ficar bonito logo, logo. – Ele apontou para Seabrook. – Ele sugeriu que fôssemos montar. Já que o bilhar não lhe agrada. Quer se juntar a nós?
Lucas olhou para o copo e então bebeu o brandy em um único gole. Preferia beber até o esquecimento, mas por que não? Talvez uma cavalgada arriscada fosse animá-lo e ajudá-lo a chegar a uma conclusão sobre o seu atual dilema – precisava de uma noiva disposta, e não faria mal se ela fosse bonita e tivesse uma personalidade tolerável. Não era pedir muito…
– Eu ficaria feliz. – Ele ficou de pé e colocou o corpo vazio sobre a mesa. Um criado o encontraria em algum momento. – Mostre o caminho, Sua Graça. – Ele meneou a cabeça para Weston. – Talvez Seabrook possa perdoar os meus choramingos depois de um galope.
Weston riu.
– Ignore Dom. Ele está emburrado por uma razão completamente diferente. Tem tudo a ver com a minha irmã, sua amada esposa.
– Segure a sua língua —ordenou Seabrook. – Prefiro não falar de Rosanna, por favor. Não se preocupe, ficaremos bem. Ela me ama. – Com aquela frase, o marquês piscou para Weston. – É a mesma coisa de quando a sua esposa perdoa você pelas tolices que comete.
E lá vem a inveja mais uma vez. Ele estava rodeado de casais felizes, e estava enjoado disso. O que tinha acontecido com os casamentos da ton onde os casais mal se toleravam?
– Pensei que estávamos indo montar?
– E estamos —concordou Seabrook. – É bom ver que você finalmente está conosco. Você não parecia muito bem há uns minutos. O que quer que o esteja incomodando, deve ser algo bastante sério.
– Prefiro não falar sobre isso. – Lucas suspirou. – Assuntos de família. – Era toda a explicação que daria para aqueles homens. Ele odiava muito o pai e suas exigências autocráticas. Desde que Helena se casara, o degenerado tinha reunido toda a sua atenção e a direcionara para Lucas. Tinha sido capaz de se esquivar da ordem de se casar pelos últimos oito anos, mas agora não podia mais ignorar o velho duque. O maldito pensava que se Lucas não se casasse e gerasse uma criança, que o título de Montford morreria com ele. Lucas não dava a mínima para tal problema. Não gostava da ideia de assumir o título ducal – mesmo isso significando que o pai não estaria mais por perto para aterrorizá-lo.
– Certo. – Seabrook meneou a cabeça. – Se você mudar de ideia, estaremos por aqui. – Ele apontou para Weston. – Ele meio que é dono do lugar.
Lucas riu.
– Foi o que ouvi.
– Muito engraçado —disse Weston com acidez. – Ultimamente, parece que todo mundo quer tentar ser um bobo da corte. Vamos lá, vamos para o estábulo.
Lucas sorriu pela primeira vez em dias. Estava feliz por ter decidido ficar em Dover. Weston Manor sempre tinha sido como uma segunda casa, e ele era muito amigo dos gêmeos Kendall. Edward tinha nascido primeiro, mas morreu não muito depois de Lucas conhecer Lia, deixando a responsabilidade ducal para James.
Ele sacudiu a cabeça. Não invejava Weston. Se perdesse a irmã, ele não tinha certeza se lidaria bem com o acontecido. É claro, o homem teve mais de uma década para se acostumar com a perda. Até mesmo o pior dos ferimentos levava tempo para curar…
De qualquer forma, aquilo não importava. A irmã vivia feliz com o marido e os dois filhos, e estava esperando o terceiro. Era Lucas quem precisava dar um jeito na vida e encontrar a solução para todos os seus problemas. Era uma pena que as respostas não fossem cair aos seus pés, só para facilitar as coisas.
Natalia Benson olhava para a mulher que a tinha contratado como acompanhante. Lady Anne Northcott era o pior tipo de pessoa. Egoísta, mesquinha e tão narcisista que chegava ao ponto de falar consigo mesma. Não havia um espelho para o qual a dama não olhasse. Se Natalia não precisasse do dinheiro, teria recusado o emprego. Já fazia anos que estava por conta própria.
– Você acha que ele vai gostar de mim? – Lady Anne enrolou um cacho dourado no dedo indicador. – Eu espero que sim. Preciso me casar, e logo.
Natalia revirou os olhos. Por que ela tolerava essas choramingações incessantes?
– Eu não saberia dizer. – E ela não saberia mesmo. Parou de ouvir o balbuciar disparatado de lady Anne poucos minutos depois de conhecê-la. Natalia sentia pena pelo pobre diabo em quem ela tinha posto os olhos. Ninguém merecia o castigo de se casar com lady Anne.
– Você não é de nenhuma ajuda. – Se fosse possível, lady Anne teria batido o pé. Inferno, é bem capaz de ela ter batido, mas Natalia não podia ter certeza. Estava na carruagem há dias. Não era bem verdade. Lady Anne não podia suportar ficar em uma carruagem por mais que poucas horas de cada vez. Então, elas paravam. Frequentemente. Tanto, que uma viagem que deveria durar não mais que um dia tinha se tornado uma viagem de uma semana. Ela não deveria estar precisando se casar tanto quanto dizia… Natalia rezou por paciência e se lembrou de por que precisava tolerar a dama insípida.
Sua prima, Callista, estava desaparecida. Não tinha certeza do local onde ela tinha desaparecido, nem como poderia encontrá-la. Era quase como se ela não estivesse mais viva, e talvez fosse o caso. Ela vinha cumprindo algumas missões arriscadas para a coroa durante a guerra, e até mesmo muitos anos depois disso. A prima tinha agido como espiã com um único objetivo: descobrir quem matara o seu amado Edward.
Até poucos meses atrás, Natalia tinha estado na França tentando descobrir o que tinha acontecido com Callista. Ninguém sabia com certeza, mas todos chegaram a um consenso. O marquês ou a marquesa de Seabrook seriam capazes de responder às suas perguntas, ou até mesmo os dois. Era irônico, de certa forma, ter que ir procurá-los para pedir ajuda. Lady Seabrook era irmã de Edward. Natalia não queria incomodar a família Kendall. A perda de um ente querido já era ruim o suficiente. Eles não precisavam se preocupar com a perda do único membro da família de Natalia com quem ela se importava.
Embora Natalia também amasse uma outra pessoa, ela se mantinha afastada. Era para o próprio bem dele. Ela o amara desde a primeira vez que o viu. Na noite que ele a salvou do acidente de carruagem durante uma das piores nevascas que ela já presenciara. Ele era lindo, encantador e tinha um bom coração. Ele não merecia os problemas que causaria a ele. Ele poderia estar noivo a esta altura. Já fazia algum tempo que não verificava como ele estava. Não pôde pagar um investigador para conseguir notícias mais atualizadas. Mas não importava. Era melhor que ele esquecesse que eles se conheceram.
– Você está ao menos me ouvindo?
Bem, não, ela não estava. Quando lady Anne perceberia que ninguém prestava atenção nela? E por que prestariam? Ela já tinha mostrado a personalidade para centenas de pessoas. Natalia suspirou.
– Eu sinto muito, estava perdida em meus pensamentos. Do que a senhorita precisa? – Esperava que fosse apenas outra resposta disparatada que iria satisfazer as necessidades pomposas dela.
– Estamos quase chegando a Weston Manor. – Lady Anne se sentou erguida, aperaltada como um pássaro tentando seduzir o parceiro. Ela bateu palmas com animação. – Mal posso esperar para voltar a vê-lo. Eu sei, ele está fazendo o possível, e o impossível, para evitar o casamento, mas ele não pode fugir da forca para sempre. As fofocas dizem que o pai dele está exigindo que ele arrume uma esposa. E eu pensei, por que não eu? Afinal de contas, eu daria uma duquesa perfeita.
– Com certeza – concordou sem se comprometer, lady Anne é a última pessoa do mundo que deveria se tornar duquesa. Isso daria a ela razões para ser ainda mais egoísta do que já era. Que o Senhor protegesse a ton no dia que isso acontecesse… Depois disso, lady Anne não precisou mais da atenção de Natalia. E isso era bom, pois ela não sabia mais o que dizer.
Estava olhando pela janela da carruagem quando pôde jurar ter sentido o coração saltar do peito. Não podia ser… Havia três homens galopando pelo campo, e um deles parecia muito familiar. Lucas…? Não… Sempre lhe pareceu arriscado vir a Weston Manor. Ele tinha sido amigo de Edward, mas ainda assim tinha esperado que ele estivesse em Londres. Longe o bastante para que ela não fosse tentada.
Não havia o que fazer agora. Faria o seu melhor para ficar fora da vista e talvez escondida entre a criadagem. Ser uma acompanhante paga faria com que fosse mais fácil. Talvez ele partisse logo. O resto dos convidados já devia ter partido a essa altura. Droga. Por que ele estava ali?
Lady Anne balbuciava enquanto o mundo de Natalia entrava em colapso. Quando a carruagem parou, ela saiu do veículo como se estivesse sonhando acordada. Seguiu as instruções de lady Anne às cegas até o momento em que pôde se esconder. Sua sorte estava chegando ao fim. Em algum momento ela acabaria ficando cara a cara com Lucas, e não haveria explicação boa o bastante para poupá-la do desapontamento dele. Voltar a encontrá-lo era um dos seus maiores medos, e mesmo que esperasse que ele tivesse encontrado a felicidade, ela também temia que chegaria o dia em que ele encontraria outra mulher, uma que daria a ele o que ela não pôde dar.
Natalia rezava para que estivesse errada, e que Lucas não fosse um dos homens que estavam galopando pelo campo, mas nem ela mesma podia acreditar nisso. Ele assombrou os seus sonhos por anos, e ela nunca esqueceu aquele rosto bonito.
Ele estava lá, e em breve eles teriam um acerto de contas. Um que Natalia vinha evitando e que lhe causaria muitos problemas. Ele exigiria respostas, e ela não poderia dar nenhuma boa o suficiente. O destino a alcançara, e ela não estava nenhum pouco pronta para lidar com ele…