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CAPÍTULO DOIS
ОглавлениеNatalia seguiu lady Anne enquanto elas eram levadas ao quarto que a lady estaria ocupando em Weston Manor. Elas tiveram sorte, alguns convidados tinham ido embora mais cedo ou não haveria acomodações para elas. Bem, elas não teriam sido despachadas, mas poderiam ter sido forçadas a dividir um quarto. Não que isso nunca tivesse acontecido antes, mas teria sido ainda mais difícil lidar com lady Anne. Ela não gostava de dividir qualquer coisa, e seria Natalia quem sofreria os efeitos.
– Graças a Deus aquela horrorosa da lady Samantha Cain foi embora junto com a pavorosa amiga, lady Marian Lindsay. – Lady Anne se sentou à penteadeira e ficou fazendo poses na frente do espelho. Ela beliscou as bochechas e franziu os lábios. Natalia não entendia por que ela fazia aquilo, mas pelo menos não a estava incomodando. Já tinha muito no que pensar, e não precisava que lady Anne fosse mais um dos seus problemas. – Meu plano deve dar certo, e já que elas partiram, eu posso ser capaz de enlaçar aquele libertino sem maiores dificuldades.
– Tenho certeza de que ele gostará das atenções que a senhorita concederá a ele. – Natalia mal segurou a vontade de revirar os olhos. – Ele parece… maravilhoso. – Verdade seja dita, ela não sabia uma única coisa sobre o homem que lady Anne pretendia enredar em sua armadilha. Ela sentia pena do pobre diabo. Seria terrível ter que passar o resto da vida tendo lady Anne como esposa.
– Oh, ele é. Ele é lindo, encantador e bem relacionado. – Lady Anne sorriu com astúcia. – E, um dia, ele herdará um ducado e eu seria uma duquesa. – Ela inclinou a cabeça para o lado. – Imagino quanto tempo demorará para que o pai dele morra…
Natalia não pensaria que lady Anne não seria capaz de ajudar o atual duque a encontrar a morte.
– O senhor está a par destes detalhes. – Ela tinha que escapar da companhia de lady Anne e procurar lorde Seabrook e a esposa. Assim que pudesse falar com eles e descobrir o paradeiro de Callista, então poderia se esgueirar para longe de Weston Manor. Se tivesse sorte, seria capaz de evitar um encontro com Lucas.
Ela temia até mesmo a ideia de se encontrar com ele. Ele devia odiá-la. Natalia queria muito correr até ele e implorar perdão. Mas ela não estava fora de perigo, e recusava-se a envolvê-lo em seus problemas. O pai ainda procurava por ela. Ele quase a encontrara várias vezes desde que ela voltou para a Inglaterra. Natalia tinha que sumir de uma vez por todas. Isso significava que só havia um lugar onde ele não a encontraria: na América.
– Talvez a senhorita devesse dizer algumas palavras e ver se consegue chamar a atenção de Deus. Ele pode respondê-la quando menos espera. – Não que ele tivesse ouvido qualquer coisa que Natalia pediu ao longo dos anos, e ela esperava que qualquer ser divino fosse ignorar os gananciosos desejos de lady Anne.
– Eu não acredito em Deus – lady Anne declarou. – Mas, se ele existe, tenho certeza de que ele quer que eu tenha tudo o que desejo. É o que eu mereço.
O que tinha feito para merecer ter pessoas horríveis controlando cada aspecto de sua vida? Teve alguns poucos anos maravilhosos nos quais não foi obrigada a servir alguma pessoa terrível, mas a sua empregadora morreu e a deixou sozinha no mundo mais uma vez. Natalia precisava de Callista mais que nunca. A prima tinha arranjado para que ela fosse acompanhante de Constance De Rossi. Ela era uma inglesa que viajava pelo continente. Durante o tempo que trabalhou para ela, foi capaz de conhecer grande parte do mundo, o que não poderia ter feito por conta própria. Ela gostou muito da Itália. Signor De Rossi, o falecido marido de Constance, era dono de uma extravagante vila perto de Nápoles. Natalia tinha passado muito tempo lá nos últimos dias da signora.
Ansiava pelo calor da costa italiana e dias livres de ansiedade, mas agora ela tinha que aplacar tipos como lady Anne.
– É claro que a senhorita tem razão. – Ela respirou fundo. – Vai precisar de mim para mais alguma coisa? Gostaria de ir até o meu quarto e me acomodar, se for possível. – Ela não era uma criada, então lhe deram um quarto.
– Não – disse Lady Anne e fez um gesto de dispensa com a mão. – Vá e faça o que quer que faz quando eu não preciso de você. Vou descansar um pouco. Eu estou horrível e preciso restaurar a minha beleza antes de ver o meu prometido mais tarde.
– Obrigada – disse Natalia e fez uma mesura. Lady Anne esperava ser tratada como se fosse da realeza. Não havia exceções, e se Natalia não cumprisse as suas exigências, ela teria um chilique.
– Virei vê-la mais tarde. – Não queria que ela criasse dificuldades ou sua fuga seria ainda mais difícil.
Lady Anne não se deu ao trabalho de ouvir o que Natalia falou. E ela não se incomodou. Saiu do quarto antes que lady Anne pensasse em alguma coisa para ela fazer. Sem dúvida, ela teria muitas tarefas mais tarde. Provavelmente lady Anne iria querer sua ajuda para enredar o cavalheiro que ela tinha decidido que queria como marido. Natalia não gostava muito da ideia de ajudar naquele assunto em particular.
Até então, lady Anne não tinha mencionado o nome do pobre cavalheiro, e Natalia achou aquilo estranho. Não podia deixar de imaginar por que ela mantinha aquele detalhe em segredo. Houve várias vezes em que pensou em perguntar, mas rejeitou a ideia assim que ela surgir. Se lady Anne queria que ela tivesse aquela informação, ela já a teria dado, e Natalia não queria encorajá-la a fazer perguntas sobre a sua vida. Mas o fato de o nome do cavalheiro não ter sido mencionado a irritava. Que razão lady Anne teria para manter aquilo em segredo? Ela pensava que Natalia iria julgá-la? Não, não podia ser isso. Lady Anne não achava que a sua opinião fosse importante. Deve haver outra razão para o silêncio dela, mas Natalia não se preocuparia com aquilo. Precisava encontrar o marquês e a marquesa de Seabrook.
Eles eram peças importantes na busca por Callista. Sem a ajuda deles, não sabia como iria encontrar a prima, e assim que falasse com eles, poderia partir. Então não teria que se preocupar com o que lady Anne tinha planejado. Estaria bem longe daquela menina vaidosa e nunca mais teria que pensar nela…
Lucas fez o cavalo seguir Seabrook e Weston já que eles estavam na frente. A equitação o tinha revigorado, mas não tinha lhe dado quaisquer ideias. Ele ainda não sabia o que queria fazer ou que caminho seguir. Talvez fosse hora de voltar para Londres e se preparar para encontrar uma dama disposta a se tornar sua noiva. Lady Samantha teria sido uma boa escolha, mas ela não era mais uma opção. Se Lucas queria que os constantes rompantes do pai parassem, ele precisava se casar – quanto antes, melhor.
Seabrook e Weston pararam. Eles estavam vagando pela beirada dos penhascos da propriedade de Weston. Lucas nunca tinha gostado muito de perambular por ali, e ele não via nenhum atrativo em estar no lombo de um cavalo enquanto o animal caminhava com dificuldade por ali. – Não, obrigado – ele murmurou baixinho. Ele preferia dar meia-volta e seguir para os estábulos. Lucas puxou as rédeas e diminuiu a velocidade do cavalo.
Assim que o animal parou, ele esperou por Seabrook e por Weston. Eles viriam em sua direção, eventualmente. Ele pensou em apear, mas mudou de ideia quase que imediatamente. Era muito mais fácil permanecer como estava ou voltar. Ele gostaria de voltar para a mansão e relaxar com outra bebida ou vários copos de brandy.
Depois de vários minutos parado, Seabrook e Weston finalmente vieram em sua direção. Ele esperou até que eles chegassem, e, felizmente, não demorou muito. – Esqueci que você não gosta muito de altura – Weston disse assim que alcançou Lucas. – Está pronto para voltar?
– Estou – respondeu ele. – E não, eu nunca gostei muito de lugares altos.
Seabrook riu. – Isso é meio embaraçoso. – Então ele pressionou os joelhos no costado da montaria. O cavalo saiu de galope com um estalido das rédeas.
Weston sacudiu a cabeça. – Parece que ele quer apostar uma corrida. Vamos ver se conseguimos superá-lo. – E o duque se pôs a correr atrás do marquês.
Lucas suspirou. Uma corrida daria trabalho demais, mas ao menos ele chegaria antes. Incitou o cavalo e foi atrás deles, não demorou muito e estava sendo chicoteado pelo vento. A brisa acalmou a sua mente inquieta e o fez, mesmo que apenas por um momento, se sentir como se tudo fosse possível. Não percebera o quanto precisava daquele momento de paz. Talvez devesse agradecer Seabrook e Weston por tê-lo encorajado a cavalgar.
Eles fizeram a curva, Lucas estava logo atrás do duque e do marquês. À distância, uma carruagem ia em direção à mansão. Não pensou que faltava algum convidado. Muitos deles já tinha ido embora há vários dias. Quem poderia estar visitando a mansão? A carruagem parou na frente da casa. Lucas estava curioso, mas tinha que levar o cavalo de volta ao estábulo. Ele conduziu o cavalo naquela direção e não olhou para trás. Quando voltasse para casa, aplacaria a sua curiosidade.
Quando chegou ao estábulo, ele puxou as rédeas. Quando o cavalo parou, ele apeou e deixou um cavalariço levá-lo para dentro. Weston e Seabrook fizeram o mesmo. Entregaram os cavalos e ficaram ao lado de Lucas. – Temos mais convidados – Weston disse. – Não sabia que havia mais gente por chegar.
– Tem certeza que a sua esposa não convidou ninguém mais? – Seabrook perguntou. Ele apontou a carruagem com a cabeça. – Porque, com certeza, há alguém aqui.
Uma mulher com o cabelo escuro saiu da carruagem primeiro. Lucas não conseguiu identificar os traços dela. Ela ficou de costas para ele a maior parte do tempo. Ela se afastou para que a outra dama pudesse sair. Essa tinha o cabelo louro que, à distância, parecia quase branco. – Você as reconhece? – Lucas perguntou.
Weston fez que não. – Não posso dizer quem elas são. Talvez Alys as conheça, mas é difícil saber com certeza.
– Devemos cumprimentá-las? – Seabrook perguntou.
Uma parte de Lucas queria fazer aquilo. Algo nele estava sendo puxado na direção delas, e ele não podia explicar o que. Era uma sensação estranha e ele faltava pouco vibrar com ela. Não conseguiu se livrar dela e ele tentou enquanto um arrepio percorria todo o seu corpo. Não importava e não queria perder tempo pensando muito nisso. As damas não tinham nenhuma importância para ele. Mas havia uma outra forma de olhar para este novo acontecimento. Duas novas mulheres estavam agora na mansão… Isso lhe dava mais duas opções para uma possível esposa. Isso significava que ele poderia ficar um pouco mais em Weston Manor. Talvez uma delas acabasse por ser a sua nova esposa. Isso lhe dava um motivo para ficar, e era isso o que importava. Se o pai perguntasse, ele poderia, de boa-fé, dizer que estava cortejando alguém…
– Não sei se quero ser arrastado para uma conversa. Se Alys a convidou, ela estará lá para recebê-las. – O duque seguiu para os fundos da casa. – Vamos entrar pelo jardim.
Lucas não viu problema naquilo. Podia conhecer as damas mais tarde, quando eles fossem jantar, ou até mesmo antes disso, se tivesse sorte. Sua vida era cheia de reviravoltas, e ele queria encontrar um pouco de paz. Ele olhou para as duas damas e congelou. A mulher de cabelo escuro parecia muito familiar. A forma como ela se movia e a cor do cabelo… Ele sacudiu a cabeça, porque ele não podia estar vendo aquela mulher. Ela manteve a cabeça baixa e não olhou para cima uma única vez. Isso era característica de alguém que servia outras pessoas. Não era provável que ela fosse uma dama de verdade estava mais para uma criada.
Não, aquilo não podia ser verdade. Ela estava muito mais bem vestida que uma criada. Ela usava um vestido amarelo que provavelmente tinha sido feito com tecido de qualidade. Talvez ela fosse tímida, e por isso não olhava para cima. Weston e Seabrook já estavam no meio do jardim enquanto Lucas permanecia enraizado no mesmo lugar. A dama de cabelo escuro finalmente ergueu o olhar e enrijeceu. Havia uma boa razão para ele ter pensado que ela parecia familiar. Não era uma dama qualquer que podia fazer seu coração bater com força no peito. Só uma mulher o afetava assim – Lia. Ela finalmente tinha voltado para a sua vida, e ele não tinha ideia do que poderia fazer. Foi preenchido por um misto de raiva, ansiedade e apreensão por causa daquela revelação súbita. Ele finalmente teria mais uma chance com ela – isso se ele quisesse tentar alguma coisa. Ao menos teria respostas para todas as perguntas que carregou consigo ao longo de todos esses anos. Haveria um acerto de contas, e só o tempo diria que rumo as coisas tomariam…