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PRIMEIRA ESTAÇÃO

A boca abre-se num bocejo que quebra um grito inaudível. A língua carregada e espessa obriga-o a engolir em seco com a amargura natural das manhãs. Lembra-se da queda da noite anterior. Não é a primeira vez que imita a antiquíssima prática de Onã, mas pode-se dizer que se afastou do pecado e se redimiu através de um vasto caminho de expiações e dolorosos dias de penitência. Os desejos mais elementares tomaram a forma de um coro agitado que dentro do seu corpo reclama satisfações que a sua alma não está disposta a consentir. E este facto dita a condenação. Sente o corpo sujo, regista a sua alma manchada, detesta a sua virilha. As suas mãos ficaram manchadas pela secreção e contempla sobreposta num ligeiro rasto, a camada rígida que o denúncia. Levanta-se da cama e lava abundantemente as mãos com sabão. Profere uma oração.

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SEGUNDA ESTAÇÃO

“Perdoa-me, Pai amado, são grandes os meus pecados, mas a tua bondade é maior. Aceita a minha oração. Não me afastes de Ti. Juro que tento suportar, Pai, esta carga que pesa sobre os meus ombros e que me oprime. Dá-me a graça da tua ajuda para continuar de pé, não deixes que os meus passos falhem, não permitas que a minha alma caia em pecado. Sê o meu protetor. Sê o meu guia. Ajuda-me, Senhor, a manter-me firme na tua palavra”.

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TERCEIRA ESTAÇÃO

De facto, é bom sentir o respeito que é dirigido à autoridade de um representante de Deus na terra. Estas senhoras asseguraram com êxito a minha ausência nos preparativos e presencio uma representação completa da Via Sacra traduzida pelos movimentos desajeitados dos meninos. Estão tão esbeltos. Principalmente o meu, transformado em homem ferido e seminú, preso no madeiro. Um impulso convida-me a olhar para a cómoda extensão das suas pernas pálidas, os pés que se esticam provocatoriamente, o volume que se forma nas suas calças e que na minha mente articula uma imagem pouco decente que afasto com uma oração renovada. Sinto despertar uma parte de mim. Peço aos céus que acabem com aquela traição do meu corpo.

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QUARTA ESTAÇÃO

“Como evitar, Pai amado, as ciladas do demónio? Como? Dá-me forças. Recorro à tua palavra, à tua sagrada palavra e me consolo”.

Após curtas invocações, surpreendo-me ao encontrar dentro do livro sagrado um selo da Virgem Maria. Observo as linhas que traçam o seu perfil, o olhar emanado para o céu, a magnificência com a qual o menino repousa sobre o seu ombro, inconsciente do destino que o aguarda. O rapaz chama-me. Deixo a Bíblia quase na beira da escrivaninha. Guardo o selo no bolso da camisa e saio. A comida está salgada, mas não reprovo o menino. O queijo, pelo contrário, esmaga-se no meu paladar, atenuando a sensação salgada. A doce amargura do vinho compensa o choque destes extremos.

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QUINTA ESTAÇÃO

Estou atento à atitude do miúdo, cujo lábio demonstra um traço de mímica que me permite pressentir a sua intenção de falar.

“Padre, estive a pensar sobre o que falámos ontem e não quero ir para o inferno. Quero cumprir as ações impostas por Deus”.

Olho para ele, surpreso. As suas palavras são um apoio para suportar este fardo que me atormenta, para fechar de uma vez esta persiana pesada do desejo que se mostra como uma escapatória fácil, imprudente, tentadora e prejudicial, e acabar, finalmente, com as minhas intenções.

A Estrutura Da Oração

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