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CAPÍTULO CINCO
ОглавлениеOs dias começaram a passar com um desejo crescente de nos sentirmos juntos. O hábito de estarmos perto tornou-se tão essencial como a necessidade de ir à casa de banho nos intervalos. E lá nos encontrávamos, falando trivialidades, sentados nos bancos mais afastados. Eram momentos sublimes, dosados por uma sensação que brincava nos nossos estômagos. O seu sorriso cativava-me e enlouquecia-me aquela gargalhada cheia de vida e entusiasmo que chamava a atenção até da pessoa mais distraída.
A coisa mais representativa nesta fase foi a minha timidez. Ela era extrovertida e faladora, e eu era tímido com palavras atravessadas na minha garganta. Ainda me impressiona o facto de que pudéssemos relacionar-nos. Eu deitava fora sentenças que eram entrecortadas e pouco inteligentes, e ela alimentava-as com uma conversa fluida e exuberante.
Com o tempo, uma velha amendoeira tornou-se uma serena cúmplice. Envolvia-nos com a sua timidez e era uma boa companheira entonando o violino do silêncio. Ela guardou em segredo os nossos beijos clandestinos que raramente nos dávamos e que eram proibidos na instituição. À saída, apegava-me à ideia de caminhar junto dela e comecei a esperá-la todos os meios-dias. Com o tempo, este ritual tornou-se uma rotina e todos os dias realizávamos uma conversa de sete quarteirões.
O liceu da minha juventude era privado e ficava a um quilómetro da aldeia principal. Para chegar ao setor, era necessário atravessar uma ponte curta de quase cinco metros que ficava suspensa sobre um dos caudais do córrego. Depois havia duas bifurcações. A primeira era o caminho mais curto que atravessava uma pequena aldeia de apenas uma centena de construções. A segunda era asfaltada e apesar de o percurso ser mais extenso na largura do seu caminho, porque contornava a aldeia em forma de letra u, atravessando a zona de bosques de teca que pertenciam à família do reitor, era o que preferia percorrer nos seus muitos momentos de solidão, sem medo do isolamento na sua caminhada, devido à falta de luminária ou casas assentadas nas suas margens. Isto, em parte, explica porque é que os meus gemidos intensos nunca tiveram uma resposta de auxílio.
Naquela noite, deitada e com o olhar perdido para o céu, pude notar, nos breves momentos em que abri os meus olhos durante diferentes ocasiões, como o vento do início do inverno movia as folhas das tecas. Alguma delas devem ter tocado o meu rosto enquanto eu observava as nuvens a juntarem-se e cobrindo a luminosidade da lua. A penumbra ficou mais intensa.