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IV
O anel do Magnífico

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Juliano de Médici e Simonetta Vespúcio

Pietro, homem maduro, áspero, com aparência desgrenhada, mas não tão rude, era muito hábil com a espada (com a herança do pai, havia frequentado a escola bolonhesa de Lippo Bartolomeu Dardi); tinha ótima técnica e, apesar de não tão jovem, bom preparo físico; não gostava de se dizer um mercenário, mas, como tantos outros, tinha ganhado seu pão trabalhando para um ou outro senhor, participando das tantas batalhas e lutas que aconteciam na península naquele tempo.

Durante a viagem, em um momento de marcha mais lenta, o espadachim aproximou-se de Tristano e, cuidando para nunca deixar o nariz do cavalo passar o de seu senhor, ousou perguntar:

– Vossa Excelência me permite uma pergunta?

– Claro, Pietro, diga-me – respondeu o distinto funcionário, virando a cabeça de leve para seu audaz ajudante.

– O que o senhor fez para conseguir aquele anel? É realmente o anel do Magnífico?

Tristano hesitou alguns instantes com um leve sorriso no rosto, mas, sabendo poder confiar naquele homem, que conhecia há poucos dias, mas já estimava tanto, deixou a desconfiança de lado e começou seu relato:

– Passaram-se sete anos desde quando o cardeal Orsini me levou a Florença pela primeira vez, acompanhando uma delegação médica criada especialmente para assistir Sua Excelência Reverendíssima Rinaldo Orsini, arcebispo de Florença, doente e sem sinal de melhora há duas semanas. Chegando à cidade, enquanto o physicus e seus aprendizes – entre os quais estava também meu amigo Jacopo – foram logo enviados à diocese para cuidar do paciente, o cardeal me levou consigo à casa da senhora Clarice, sua sobrinha e esposa de Lourenço de Médici, o Magnífico Senhor.

Ainda posso lembrar o olhar doce e materno com que dona Clarice me acolheu, oferecendo-me a mão. Apresentou-me a seus familiares e amigos e logo me pôs todos os confortos da casa à disposição. Toda noite, seus banquetes tinham convidados letrados, humanistas, artistas, refinados cortesãos e… principalmente belas mulheres.

A mais bela de todas, à qual até hoje nenhuma consegue igualar-se e destronar, era Simonetta Cattaneo Vespúcio.

A noite em que a vi pela primeira vez, vestia uma sobreveste de brocado forrada com veludo vermelho, que deixava à mostra um generoso decote, e lindamente delineada por uma gamurra preta, que se amoldava perfeitamente aos belos seios e preservava a suave forma daquele admirado e desejado corpo. Caíam soltos sobre os ombros a maior parte dos louros cabelos ondulados, enquanto uma parte estava recolhida em uma longa trança decorada com cordéis e pequenas pérolas. Alguns cachos rebeldes enquadravam aquele rosto harmonioso, fresco, radiante, etéreo. Seus olhos eram grandes e melancólicos, sensualíssimos, assim como aquele sorriso esboçado nos aveludados lábios semiabertos, exaltados pela covinha no queixo e tão vermelhos quanto a sobreveste.

Se eu não tivesse recebido a terrível notícia de sua morte algum tempo depois, ainda acreditaria que ela era uma deusa encarnada em um perfeito invólucro feminino.

Tinha apenas um único defeito: já tinha marido… ciumentíssimo e com razão. Com apenas 17 anos, casou-se em sua Gênova natal com o banqueiro Marco Vespúcio, com a presença do doge e de toda a aristocracia da república marítima.

Era muito amada (e invejada) pela sociedade; durante os anos, tornou-se a musa favorita de muitos literatos e artistas, entre os quais o pintor Sandro Botticelli, amigo de longa data da família Médici. O pintor apaixonou-se platonicamente por ela e pintava seus retratos em todos os lugares: até o estandarte que fez para a justa daquele ano, vencida por Juliano de Médici de maneira épica, continha seu etéreo rosto.

No dia seguinte, fomos convidados a um banquete na vila de Careggi organizado pelo Magnífico em homenagem à família Borromeo. O intuito velado era apresentar uma das filhas destes a seu irmão Juliano, o qual, no entanto, como talvez tantos outros, havia perdido a cabeça pela senhora Cattaneo. Inclusive, depois das primeiras formalidades, Juliano retirou-se ao jardim, onde esperava a esposa de Vespúcio, aproveitando-se da ausência do marido, que estava em uma viagem oficial naquela manhã.

Entre um prato e outro, Lourenço deleitava seus hóspedes declamando preciosos sonetos de sua própria composição. Fazendo coro à declamação, alguns ilustres convidados respondiam à rima, animando o simpósio. Além de nobres amigos e familiares, sentavam-se à mesa estimados acadêmicos neoplatônicos como Marsílio Ficino, Ângelo Ambrogini e Pico della Mirandola, além de diversos expoentes do Conselho florentino.

Embora fosse o chefe da família mais rica e potente de Florença e estivesse se tornando, cada vez mais, o incontestável árbitro do equilíbrio político da península, Lourenço tinha apenas 26 anos; teve o mérito de construir em torno de si uma corte jovem, brilhante, mas também prudente e capaz. Após poucos dias de convivência, tornou-se para mim um modelo a seguir, a personificação de valores a aspirar. O que claramente nos diferenciava e que jamais poderia igualar, além dos 11 anos de idade, era o fato de ele poder contar com uma sólida e coesa família: sua mãe, dona Lucrécia, era, ainda mais depois da morte de seu cônjuge Pedro, sua onipresente cúmplice e conselheira; Bianca, doce e amada irmã, admirava o irmão e não perdia a oportunidade de tecer-lhe elogios, brilhando-lhe os olhos sempre que pronunciava publicamente seu nome; Juliano, obstinado irmão mais novo, apesar de eventuais tensões e impertinências, também estava sempre a seu lado, envolvido em cada sucesso ou insucesso político do irmão; Clarice, embora conhecida por algumas indiscrições conjugais, nunca deixou de amar o marido e sempre o apoiaria contra todos, mesmo contra sua família de origem, se necessário fosse. Era bonito ver aquela corte familiar em torno da qual a cidade, com elegante subordinação e reverência, apertava-se em cada festa, em cada celebração, em cada banquete. Aquela foi uma ocasião exemplar disso, a qual, como outros, tive o privilégio de presenciar.

Mas antes que o confeiteiro fizesse sua grande entrada no salão, ouvi um cão latindo fora da vila e decidi por instinto sair para ver por que o animal queria chamar a atenção de seus senhores. Ao entrar no jardim, descobri incrédulo Juliano e Simonetta debatendo-se no chão, sem controle dos próprios membros: a senhora Vespúcio, o rosto corado, os olhos e a boca abertos, tremia como vara verde; seu amante, ao contrário, tentava tapar o corpo, alternando entre risadas e delírios. Sem demora voltei para dentro e, aproveitando uma pausa nas festividades, com máxima discrição, pedi que Lourenço me seguisse.

Vimos os dois corpos sem vida caídos no chão. Lourenço mandou-me chamar um médico imediatamente; embora sacudisse o irmão mais novo, este não reagia de absoluto, nem aos golpes, nem às vozes. Logo depois, começaram as convulsões.

A situação era crítica e muito delicada. Em alguns instantes, no semblante do Magnífico a emoção e o desconcerto transformaram-se em pânico gerado pela impotência. Embora quisesse pedir ajuda a qualquer um presente na casa que pudesse oferecê-la, sabia que a descoberta dos dois jovens naquela condição, além do enorme escândalo, teria significado a perda do importante apoio político de Marco Vespúcio a si e sua família, o que era, naquele momento, decisivo no Conselho já minado pelos Pazzi (o nobre Jacopo de Pazzi, sem sombra de dúvida, aproveitaria a situação para tomar o controle da cidade).

Nem a imediata chegada do médico e do boticário tranquilizou Lourenço, que continuava a questionar-me sobre o que eu tinha visto antes de ele chegar. Os doutores, embora desde o início desconfiassem de um envenenamento, não conseguiam identificar a substância responsável para poder indicar um remédio. No meio-tempo, chegou Ângelo Ambrogini, o único, além de sua mãe, em quem Lourenço confiava cegamente; foi encarregado de pensar em uma desculpa aos convidados, que começavam a perceber e apontar a ausência do chefe da casa. Com a ajuda de Ângelo, os corpos logo foram levados em segredo para um abrigo próximo.

Percebi então que onde antes jazia o corpo de Simonetta havia um cestinho com mel e frutas do bosque, tudo aparentemente comestível e inofensivo. Peguei com a ponta dos dedos um mirtilo e apertei-o. Num instante lembrei-me que Jacopo me mostrou em Roma, alguns meses antes, uma planta muito venenosa chamada "atropa", também conhecida como "cereja de Satã", cujos frutos eram muito parecidos com o comum mirtilo, embora letal mesmo em pequenas quantidades. As folhas de atropa maceradas são comumente usadas pelas mulheres para dar brilho ao olhar e dilatar a pupila, para ficarem mais sedutoras. Minha hipótese foi aventada pelos médicos e confirmada pelo fato de que ambos os moribundos apresentavam manchas escuras nos lábios. No entanto, o cientista sentenciou que, naquele caso, não havia nenhuma cura conhecida, lançando o dono da casa na mais desesperada resignação.

O ocorrido foi aclarado alguns dias depois: alguém, a mando de Francesco de Pazzi, havia substituído os mirtilos pela atropa naquele cesto de frutas que dona Vespúcio viria a dividir com seu amante. Juliano, portanto, envenenou-se em um jogo erótico, chupando os frutos venenosos diretamente da boca da bela Simonetta. Assim, depois de alguns minutos, a potente droga fez efeito.

Ainda horrorizado pelo ocorrido, ousei intrometer-me uma segunda vez e propus ao senhor Lourenço um derradeiro esforço, consultando a delegação pontifícia hospedada na diocese. O magnífico, fazendo-me prometer a máxima discrição, consentiu e mandou-me buscar Jacopo com pressa, com quem voltei em seguida. Meu amigo analisou os frutos e ministrou um antídoto vindo de desconhecidas terras africanas. Depois de cerca de uma hora, os sintomas amenizaram, a temperatura dos doentes começou a baixar e, em oito dias, os jovens estavam completamente recuperados.

Todos os suspeitos foram afastados, dentro e fora dos muros. Quando Marco Vespúcio retornou à cidade com seus banqueiros, não tomou conhecimento de nada: ele estava ainda mais rico, Simonetta estava ainda mais bela, Juliano ainda mais apaixonado… mas, acima de tudo, Florença pertencia ainda mais aos Médici.

Até o arcebispo parecia recuperar-se aos poucos; preparamo-nos, portanto, para retornar a Roma. No entanto, o Magnífico, como gesto de afeto e estima, além de agradecimento e reconhecimento, honrou-me com este que todos consideram uma das maiores condecorações da república: o anel de ouro com seis bolas, um passe universal entre os territórios da cidade… e não apenas lá.

Desde então, sempre o carrego comigo, como um precioso testemunho da amizade de Lourenço e eterna memória daqueles infelizes amantes que, como Páris e Helena, muitas vezes correram o risco de transformar Florença em Tróia.

Durante toda a narração, Pietro, fascinado e tomado pelos fatos extraordinários, pela oratória do narrador e pela riqueza dos detalhes, não ousou dizer palavra.

Esperou alguns segundos depois do alegre fim para certificar-se de não estar profanando o incrível conto e, contraindo seu semblante impassível, finalmente disse orgulhoso:

– Obrigado, Senhor. Servir-lhe não será apenas uma honra, será um prazer.

Depois de dois dias na estrada, a via Cássia revelou o esplendor de Roma. Embora homens e animais estivessem bastante cansados, diante daquela visão, os ânimos revigoraram-se, e os corpos recuperaram a força. Tristano acariciou o cavalo e apressou o passo.

O Homem Que Seduziu A Mona Lisa

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