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Capítulo Quatro
ОглавлениеEstremeci. Aquela era uma mãe com quem foi difícil lidar em situações passadas. Ea uma defensora das regras e já havia reclamado no balcão de circulação sobre vários clientes que haviam adormecido nas poltronas perto da lareira e pessoas na sala de informática consumindo bebidas sem tampa.
Todas as mães e a maioria das crianças se viraram quando a ela perguntou sobre os gatos. Em resposta, liguei rapidamente a máquina de bolhas e o tocador de CD na esperança de criar uma distração, pedi licença e saí da sala. Felizmente, o pai que estava na sala de informática apareceu naquele exato momento para buscar a filha.
– Obrigado! – disse ele, a gratidão no olhar. – Encontrei um anúncio interessante, então vou ligar e ver se consigo uma entrevista.
– Que ótimo! Ela adorou as histórias. E se comportou muito bem.
Enquanto ele levava a filha embora, falei em voz alta: ‘Já volto’ para as mulheres na sala de leitura, sem ter certeza se isso era verdade.
– Como eles estão? – perguntei, me inclinando para espiar as caixas. Não pude evitar, a visão daqueles focinhos peludos me fez sorrir. O surpreendente foi que ambos pareciam muito tranquilos.
A veterinária sorriu. – Estão ótimos. O laranja é o gato mais amigável e descontraído que já vi. E a malhada é um doce. Eles quase me fazem esquecer que já tenho quatro gatos em casa. – Ela franziu a testa. – Tudo bem eu tê-los trazido aqui? – Ela olhou para o grupo de mães através da porta.
– Ah, não tem problema. Vamos manter os dois aqui até descobrirmos o que fazer. Um cliente acabou de me contar que pertenciam a uma senhora idosa que faleceu.
– Não encontrei nenhum microchip, mas ambos pareciam bem alimentados e saudáveis. E temos um bônus! Ambos parecem ser treinados para usar a caixa de areia.
– Ouvi dizer que a Sra. Brennon sofreu um acidente de carro há algumas semanas. Então eles estão sozinhos há pouco tempo.
– Do ponto de vista médico, ambos estão em ótima forma. Apliquei as vacinas e estão tratados. Acho que o dono ainda não tinha conseguido fazer isso. A mamãe gata, porque acho que ela é a mãe do gato laranja, vai precisar ter cuidado com a pata quebrada, mas conseguiu se firmar bem e não prevejo nenhum problema.
– Perfeito. Obrigada. Venha, vou abrir a porta da sala de convivência e os manteremos aqui. Quero deixá-los sair quando tiver oportunidade para ajudá-los a se ambientarem. Mas preciso encerrar a hora da história. Pode deixar as caixas que eu devolvo mais tarde? – perguntei, afastando uma mecha de cabelo dos olhos. Ótimo. Agora eu estava suando.
– Por mim, tudo bem, tenho uma tonelada delas. E mais uma vez, obrigada.
Voltei para a sala dando a todos um sorriso tímido. – Desculpem.
A mãe alta voltou a perguntar: – Ei, eram gatos?
Abri um sorriso como se gatos povoando a Biblioteca Whitby fosse algo comum. – Sim, eram gatos. Que tal ouvirmos outra música? E fazer mais algumas bolhas?
Agora eu podia dizer que a hora da história foi completamente arruinada.
– Podemos ver os gatos? – perguntou a mãe. – A propósito, meu nome é Lisa. Sei que já conversamos antes, mas acho que não me apresentei.
Fiquei admirada. Presumi que ela estava perguntando sobre os gatos porque queria reclamar da presença deles. – Vê-los?
Uma mãe loira, de estatura pequena disse: – Minha filha adora gatos. Você poderia trazê-los para a sala?
Neguei com a cabeça. – Sinto muito, mas eles tiveram alguns dias difíceis. – Fiz um breve resumo do resgate traumático dos gatos. – A veterinária acabou de trazê-los da clínica. Um deles está com a pata quebrada e precisa ficar de repouso.
Lisa disse em tom decisivo: – Sabe o que você devia fazer? Deixá-los ser gatos de biblioteca. Ou pelo menos um deles.
A mãe loira se virou e disse: – Isso seria tão legal. As crianças podiam afagar os gatos e ler histórias para eles. É algo viável em uma biblioteca, não é? É tão aconchegante. Um gato, um monte de livros e uma lareira. Parece o paraíso!
– Não acho que isso seja algo que a biblioteca esteja considerando no momento – falei em tom suave, mas senti um aperto no peito. Wilson era o chefe, mas eu esperava que ele mudasse de ideia sobre ter um ou dois gatos na biblioteca. Havia algo naqueles dois que realmente tocou meu coração.
– Então você está procurando um lar para eles. Bem, vamos considerar adotar pelo menos um deles, com certeza. Pobrezinhos. E também queremos adotar um gato adulto. São treinados para usar a caixa de areia? – perguntou Lisa.
Aquilo era algo que eu nem havia considerado… treinamento para usar a caixa de areia. E, do jeito que terminou o encontro às cegas na noite passada, os gatos foram forçados a sair dos meus pensamentos. Pelo menos tinha sobrado um pouco de areia e comida que um dos clientes havia trazido ontem à tarde.
– A veterinária disse que ambos usaram a caixa de areia enquanto estavam na clínica. Para ser honesta, não temos suprimentos, pelo menos não o suficiente. As últimas vinte e quatro horas foram bastante caóticas – admiti.
Lisa não fez nenhum julgamento sobre o meu comentário, mas entrou em ação. – Muito bem, vamos fazer o seguinte: Janine, pode cuidar de Sarah para mim, certo? Vou até a loja e comprar tudo o que está faltando.
– Não precisa fazer isso – falei, mas ela já estava deixando a sala em direção à saída da biblioteca.
A mãe loira, que aparentemente era Janine, levou a pequena Sarah para brincar com o filho nos computadores da seção infantil. A hora da história estava oficialmente encerrada, então voltei para ver os gatos.
Esperava que tivessem usado a caixa sanitária antes de saírem da clínica, porque eu queria deixá-los sair da sala para se acostumarem com o novo ambiente. Mas antes, imprimi uma placa de alerta na porta da sala para avisar que os gatos estavam soltos e para tomarem cuidado para não deixá-los fugir. Eu não tinha intenção de fazê-los vagar pela biblioteca enquanto estivessem em um lugar desconhecido e pudessem fugir.
Ajoelhei no chão, falando em tom suave. Ambos pareciam indiferentes à situação atual. Abri primeiro a porta da caixa do gato laranja, que saiu ronronando e se esfregando em mim. Em seguida, pulou no meu colo enquanto eu erguia a cabeça para ele se aninhar no meu pescoço. Não pude evitar. Estava me apaixonando por aquela criaturinha.
Abri a porta da caixa da gata malhada e ela saiu miando com a mesma indiferença. Andava um pouco desajeitada com a perna engessada, mas parecia não estar sentindo dor.
Ambos passearam pelo salão por alguns minutos. Era um espaço confortável com cartazes de temática literária, mesas para os bibliotecários fazerem lanches ou almoçar, uma pequena geladeira, um micro-ondas, e algumas violetas africanas no parapeito da enorme janela que tinha vista para o gramado da frente da biblioteca. Fiz uma rápida pesquisa online para garantir que as plantas eram seguras para os gatos e suspirei aliviada. Depois de farejar e explorar o local, ambos se instalaram sob a luz do sol refletida no chão. Lamberam um ao outro durante vários minutos, se aninharam e por fim adormeceram.
Permaneceram assim até ouvir uma batida na porta. Contive um grinhido. A única pessoa que bateria à porta seria um cliente, não um bibliotecário. E isso era um sinal de que algo podia estar errado. Abri a porta e vi Lisa segurando várias sacolas enormes. Ela aparentemente recrutou algum cliente do sexo masculino para ajudá-la a descarregar o carro, e ele carregava mais sacolas.
– Obrigada! – agradeceu Lisa, sem se virar para encarar o homem. Ela percebeu para as caixas vazias e imediatamente olhou para o raio de sol. – Oh, eles são tão preciosos – sussurrou.
Os gatos ergueram a cabeça como se reconhecessem um elogio ao ouvi-lo. A gata malhada lutou para ficar de pé e cambaleou ronronando em direção a Lisa, que se apressou para que a gata não precisasse andar.
– Ah meu Deus. Este gata é incrível! Depois de tudo que passou, consegue ser tão mansa. Se fosse eu, estaria escondida em um canto em algum lugar.
Sorri para ela enquanto desempacotava as sacolas de compras. Vi que Lisa havia comprado ração de gato seca e úmida, brinquedos, camas e outra caixa sanitária. Quem quer que ela fosse, tinha um bom coração. E, aparentemente, bastante dinheiro.
– Faz algum tempo que meu marido e eu planejamos ir ao abrigo para adotar um gato – disse Lisa, enquanto acariciava a gata malhada. – Mas ainda não fomos até lá. Esta gata parece perfeita. O que sabe a respeito dela?
Balancei a cabeça: – Infelizmente, não tenho muita informação. Sei que o veterinário disse que ela não tem microchips. Outro cliente disse que os gatos pertenciam a uma senhora idosa que faleceu há pouco tempo. A gata foi vacinada, está medicada e deve ficar de repouso por alguns dias. Segundo a veterinária, é provável que seja a mãe do gato laranja.
– Faço questão de reembolsar a biblioteca pelos cuidados médicos. Queria saber se meu marido e eu poderíamos levá-la para casa? – Ela me encarou com um olhar esperançoso, a mãe mandona de antes havia desaparecido.
Hesitei por um minuto. Eu sabia que Wilson queria os gatos fora da biblioteca o mais rápido possível. Lisa parecia ser uma pessoa responsável para cuidar de animais de estimação, na verdade, havia acabado de provar isso. E pensando bem, talvez fosse melhor para a gata se adaptar ao seu lar definitivo, em vez de se acostumar com a biblioteca para depois ser transferido novamente para outro lugar. Além disso, as duas pareciam estar se dando muito bem. A gata estava no céu enquanto Lisa fazia cócegas em seu queixo.
Sorri para ela. – Acho que seria perfeito. E não se preocupe com as despesas médicas, a veterinária não cobrou o atendimento. Preciso apenas que devolva a caixa transportadora na clínica assim que puder. O nome da veterinária está escrito na caixa. E, por favor, leve para casa algumas dessas coisas que comprou para os gatos.
– Obrigada! Como sabe, estou sempre por aqui, então vou lhe mantendo atualizada. E darei a ela um nome literário que honre o tempo que passou na biblioteca.
– Que ótimo!
Wilson enfiou a cabeça pela porta da sala e piscou surpreso para os dois gatos e Lisa, qu ergueu o olhar. – Estou de saída, prometo. E levarei um dos gatos comigo.
– Isso é ótimo – disse Wilson, aliviado. Ele baixou o olhar para o gato laranja esparramado sob um raio de sol e disse: – A nova bibliotecária infantil chegou.
Excelente. – Qual é mesmo o nome dela?
– Luna Macon. Você poderia me fazer um favor e mostrar a biblioteca a ela? Tenho uma reunião e preciso sair agora.
Assenti com a cabeça e Wilson saiu.
Lisa acariciou mais uma vez a gata malhada e se levantou para abrir as persianas que davam privacidade à área de estar, separando-a do resto da biblioteca. – Uau – disse ela, lentamente e sorriu para mim enquanto fechava as persianas.
– Uau? – perguntei. Sempre fiquei impressionada com bibliotecários infantis, mas apenas em relação a desempenharem bem seu trabalho.
– Digamos que tenho a sensação de que a hora da história acaba de ficar um pouco mais legal. Sem ofensa – esclareceu Lisa.
– Não me ofendi – respondi automaticamente. Levantei também e afastei as persianas. Havia uma mulher que eu nunca tinha visto, nem na cidade de Whitby, nem na biblioteca. Ela tinha cabelos com mechas roxas, piercing no nariz e usava esmalte preto. Havia tatuagens aparecendo sob a blusa preta, mas a calça preta era longa o suficiente para cobrir tudo o que pudesse aparecer. Fechei depressas as persianas antes que ela pudesse se virar e me ver. Luna parecia estar trazendo o fator diversão para a Biblioteca Whitby.
– É melhor eu fazer o tour – disse, sorrindo para Lisa. Peguei um pedaço de papel e um lápis e anotei meu nome e telefone. – Se tiver algum problema ou mudar de ideia sobre ficar com a gata malhada, é só me ligar. Aqui está o número do meu celular. Se eu estiver trabalhando, posso demorar alguns minutos para retornar.
Lisa pegou o papel e o colocou no bolso. – Vou mantê-la atualizada, mas tenho certeza que ficaremos com essa coisa fofa.
Saí da sala, respirei fundo e me aproximei da mulher de meia-idade com um sorriso. – Luna Macon? – perguntei.
Ela se virou e me deu o sorriso mais caloroso e genuíno que já vi. Um dente de ouro reluziu. – Sim. Você deve ser Ann. Sinto muito por não ter aparecido hoje pela manhã. Que maneira de começar um trabalho, não?
– Não se preocupe. Acredite, isso acontece. Gostaria que eu lhe mostrasse a biblioteca?
– Adoraria. Não venho aqui desde que era adolescente e já faz um tempo, como pode perceber. – Ela deu uma risada contagiosa e não pude deixar de retribuir.
– Ah, você cresceu aqui? – perguntei, enquanto começávamos a caminhar em direção ao balcão de circulação.
– Sim. Depois me mudei para… a princípio para Nova York, depois para vários outros lugares, e voltei para Nova York. Minha mãe está com a saúde debilitada e é por esse motivo que estou de volta à cidade. E por isso me atrasei hoje de manhã. – Embora ela ainda estivesse sorrindo, pude ver que parecia cansada e estressada.
A primeira impressão que tive foi que talvez ela tivesse ficado acordada até tarde em alguma festa na noite anterior e dormido demais por causa de uma ressaca. Fiquei um pouco envergonhada por ter feito um julgamento precipitado. Apesar de tudo com que ela parecia estar lidando, era calorosa e descontraída. Definitivamente mais do tipo mãe terra. E gentil, pensei ao ver o brilho em seus olhos.
Fiz um tour rápido pela biblioteca e ajudei Luna a se ambientar. – A seção infantil é incrível e muito bem abastecida. Nancy Drew era minha série favorita quando criança e a Biblioteca Whitby tem uma enorme coleção disponível para empréstimo. Os clientes são ótimos. E você nunca ficará entediada. Não houve um dia de trabalho em que eu não tenha sido surpreendida por alguma coisa. – Achei que seria uma boa ideia contar que havia um gato na sala de convivência. – Ontem, por exemplo. Dois meninos vieram correndo pedir ajuda para resgatar dois gatos que estavam presos em um bueiro naquela tempestade.
Pela primeira vez, Luna franziu a testa: – Eles ficaram bem? Os gatos?
Assenti com a cabeça. – Um deles ainda está aqui. Atenção que tem um gato laranja na sala de convivência. Ele parece bem tranquilo apesar de ter quase se afogado e ter sido atendido por uma veterinária ontem à noite.
– E o outro gato? – perguntou Luna.
– Uma de nossas mães da hora da história entrou em ação, comprou um monte de coisas para os gatos e acabou levando a gata malhada para casa. A veterinária disse que ela deve ser a mãe do gato laranja.
– Parece que tenho um grupo legal para contar histórias – disse Luna, com um sorriso e de repente ergueu as sobrancelhas: – Humm. Não olhe agora, mas parece que você está sendo procurada pela polícia.