Читать книгу Casamento por conveniência - Emma Darcy - Страница 5
Capítulo 1
ОглавлениеIsabella Valeri King olhou para a sobrinha do marido, aprovando a força que via no rosto de Elizabeth. Aquela mulher, considerada matriarca dos King de Kimberley, compreendia o que significava a família: propriedade, herança, conceitos passados de geração para geração.
Tinha de haver casamento.
E filhos.
Elizabeth tinha três filhos, todos casados há cerca de um ano, um deles esperando o primeiro filho. Ela podia estar satisfeita. Mas Isabella não estava. Dos seus três netos, apenas Alessandro planeava casar-se, e não era uma união que ela aprovasse.
A mulher que Alessandro escolhera não era a melhor para ele.
Mas como fazê-lo entender?
E como convencê-lo a desistir dela?
O casamento aconteceria em Dezembro, depois da colheita da cana-de-açúcar. Estavam em Maio. Isabella dispunha de seis meses para mostrar a Alessandro que Michelle Banks nunca se adaptaria ao seu estilo de vida. Era egoísta, vaidosa, mas muito astuta quando decidia abrir o seu próprio caminho, e certamente usara o sexo para envolver Alessandro e conquistá-lo.
Por quanto tempo a atracção poderia durar depois do casamento?
E uma mulher tão determinada a manter o corpo esbelto não podia pensar em ter filhos. Michelle concordaria em dar à luz ao menos um bebé, ou lançaria mão de adiamentos, desculpas e recusas directas?
– Esta é uma localização maravilhosa, Isabella – elogiou Elizabeth, admirada, olhando além da Enseada de Dickinson, para o canavial do outro lado.
Estavam sentadas ao lado da fonte, a beber chá, e a paisagem vista dali era muito diferente da de Kimberley. Ali havia o verde intenso do norte de Queensland, e em torno de toda a terra dominada pelo Homem existia a floresta tropical, tão primitiva nas suas características únicas como o coração vermelho da Austrália.
Isabella lembrou-se de como a terra fora conquistada com esforço; o trabalho duro de limpeza, as folhagens traiçoeiras e as plantas venenosas, o calor, a humidade, as febres, as serpentes. Nascera entre os canaviais, filha de imigrantes italianos, há setenta e oito anos.
Com excepção do breve período passado em Brisbane, quando conhecera e se casara com Edward King, antes de ele e o seu irmão, Enrico, terem ido para a guerra na Europa, aquele sempre fora o seu lar, naquela montanha sobre Port Douglas. Para lá tinha retornado, uma das viúvas da guerra, para dar à luz o filho que Edward deixara no seu ventre antes de partir, o seu amado Roberto.
– O meu pai escolheu este lugar para a minha mãe, que era de Nápoles – explicou Isabella à visitante. – Ela queria estar perto do mar.
Elizabeth sorriu, demonstrando o seu apreço pela história.
– É muito romântico… o seu pai construiu este castelo para a mulher amada!
– Não exagere – corrigiu ela com um sorriso indulgente. – É só uma villa. Como as velhas villas de Roma. Antigamente, este lugar era conhecido como Villa Valeri. Mas, como o meu irmão não voltou da guerra e eu me casei com Edward, os meus filhos e netos carregam o nome King. Depois da morte do meu pai, os habitantes daqui passaram a chamar à propriedade Castelo King, e o nome foi adoptado por todos.
– Isso entristece-a? Afinal, o seu pai construiu este lugar e deu-lhe o nome da sua família, e agora a villa é conhecida como Castelo King por conta do nome do seu marido.
Isabella balançou a cabeça.
– O sangue do meu pai ainda está aqui. É isso que teria contado para ele. Ver perdurar o que construiu e saber que os seus descendentes não só preservam, mas também fazem crescer o património que ele começou a reunir. Sei que entende o que digo, Elizabeth.
Ela assentiu.
– E também sei que tem ideia de como é difícil conquistar tudo isto. – Precisava de discutir o seu problema com uma mulher que pudesse compreendê-lo. – Também temos desastres aqui nos trópicos. Vocês enfrentam a seca. Nós temos os ciclones. Perdi o meu filho vítima de um deles. Foi uma época muito difícil. Roberto tinha morrido, as plantações estavam devastadas…
Um tempo de perdas em todos os sentidos.
– Às vezes penso que os desastres forjam o carácter humano – opinou Elizabeth. – É preciso ter força para superá-los, para suportar…
– Para lutar. Para preservar o que se tem – acrescentou Isabella com firmeza.
Talvez fosse a convicção na sua voz, mas Elizabeth olhou-a com um misto de respeito, consideração e orgulho. O que via ela? Ambas tinham cabelos grisalhos, olhos escuros e colunas erectas. Isabella era quase duas décadas mais velha, mas não se sentia idosa. O seu rosto exibia mais rugas, e ela provavelmente experimentava mais dores e desconforto do que a mais nova, mas, na alma, o fogo da vida ainda ardia intenso, chamas que continuariam luminosas e fortes por todos os anos que ainda tivesse pela frente.
– Fez do seu pai um homem orgulhoso, Isabella. Preservou este lugar para os seus netos crescerem, transformarem-se em homens e conquistarem tudo o que têm. Ontem, quando fomos conhecer as plantações, Rafael e eu ficámos muito impressionados.
– Mas tudo pode acabar facilmente. O ciclone que tirou a vida a Roberto e à sua esposa… – Balançou a cabeça com enorme tristeza. – Quero os meus netos casados e com filhos para salvaguardar o futuro de toda esta herança, mas eles não me ouvem.
– Alex…
– Você conheceu a noiva dele no jantar de ontem. O que acha de Michelle Banks?
Uma certa hesitação antecedeu a resposta.
– Bem, ela é… educada, polida…
Isabella riu do comentário cauteloso.
– Como um diamante – disse. – Brilhante, sedutora, requintada, mas com um coração duro como a rocha mais resistente. Aquela jovem não é capaz de dar nada de si mesma a ninguém.
– Está infeliz com a escolha do seu neto.
– Ela não será uma boa esposa.
Elizabeth assentiu, demonstrando compreensão do dilema em que Isabella se encontrava.
– Se não aprova a noiva de Alex, deve procurar outra mulher para ele. Antes que seja tarde demais.
– Eu? E como poderia fazer tal coisa? Alessandro jamais aceitaria um casamento arranjado. Ele é orgulhoso, independente, obstinado…
– O meu filho mais velho, Nathan, desperdiçou anos preciosos da sua vida com mulheres inadequadas. A sua vida sempre esteve ligada à terra, como a de Alex.
– Sim, Alex ama a terra, mas Michelle não partilha desse sentimento. Para ela, a agricultura é apenas uma fonte de riqueza. Mais nada.
– Saí em busca de uma mulher que pudesse atender às necessidades de Nathan. E encontrei-a mulher. Como previa, Nathan identificou nela a sua alma gémea e também foi capaz de atender às suas expectativas. O casamento é muito feliz e harmonioso.
– Você encontrou Miranda para Nathan?
– Sim. Eu pu-los em caminhos destinados a cruzarem-se e rezei para que tudo desse certo. As minhas preces foram atendidas.
– Ah! Os caminhos devem cruzar-se… com uma certa ajuda, é claro!
– Não é tão óbvio. É preciso exercer alguma pressão para aproximá-los. É impossível controlar tudo. Se não houver química…
– Elizabeth! Que mulher não se sentiria atraída por Alessandro?
– Entendo o seu ponto de vista. Mas… e ele? Alex também deve sentir-se atraído pela mulher em questão. Miranda é uma mulher linda. E Michelle é…
– Já ouviu falar em milagres da cosmética? A beleza daquela jovem tem a profundidade da pele.
– Mas ela é sedutora. Sabe usar de todos os artifícios para se tornar sensual.
– Pele e osso! Alessandro precisa de uma mulher com ancas largas para abrigar muitos bebés e seios fartos para amamentá-los. Uma mulher que saiba preparar e apreciar uma refeição de verdade. Alguém que não viva como um coelho, comendo apenas folhas de alface e cenouras.
Elizabeth riu.
– Bem, não se esqueça que Alex vai ter de se sentir atraído pela mulher em questão. Levando em consideração o tipo físico de Michelle, eu não escolheria ninguém muito rechonchuda.
– Mas a candidata ideal pode ter curvas nos lugares certos, não?
– Você conhece-o bem, Isabella. Sabe que a atitude é mais importante que tudo. Alex precisa de alguém que possa ser sua companheira em todos os sentidos.
– Uma companheira. Sim, você tem razão. Uma companheira que queira ter filhos.
Isabella estava satisfeita com a conversa.
Era bom receber a visita de Isabella com o seu novo companheiro, o argentino Rafael Santiso, um homem bom e generoso. Ele lembrava-lhe o seu pai, um homem de visão.
Alessandro também podia ser um homem de visão… se abrisse os olhos e visse o que tinha de ser visto para fazer tudo dar certo. E ela poderia ajudá-lo a ver. Ia encontrar a mulher certa e pô-la-ia diante dele.