Читать книгу Casamento por conveniência - Emma Darcy - Страница 7
Capítulo 3
Оглавление– Temos mesmo de ficar aqui? – murmurou Michelle, irritada.
Alex encarou-a com ar severo.
– Sim.
Sentia-se impaciente com a atitude indelicada da noiva. Simpatizara com a jovem viúva e o seu filho, e reprovava o comportamento cruel de Michelle. Porque é que ela não podia simplesmente desejar o bem de Gina Terlizzi, em vez de tentar comparar o seu talento musical à ambição que sempre guiara os seus passos? Quem poderia deixar de compreender a relutância de uma mãe que, sozinha por conta de circunstâncias trágicas, evitava levar o filho pequeno aos locais onde se podia construir uma carreira de cantora? A noite era sempre o ponto de partida, e o pequeno Marco não podia frequentar bares, discotecas e clubes.
A obstinação de Michelle tinha de ser temperada. Era hora de começar a mostrar-lhe que nem todas as pessoas provinham da mesma origem e caminhavam na mesma direcção. Que ser humano podia viver em paz sem respeitar valores diferentes dos seus e circunstâncias distintas daquelas que conhecia? Um bom começo seria convencê-la a aceitar algumas sugestões e ceder um pouco nos planos para o casamento. Manter a sua avó afastada de todas as decisões era algo que não lhe agradava. Para a nonna, um casamento era um evento familiar. Era assim que as coisas aconteciam na Itália.
O salão de baile fora preparado de acordo com o usual. Mesas redondas com lugares para oito pessoas dispostas em forma de ferradura com a abertura voltada para o palco. O desenho delimitava a pista de dança e criava uma atmosfera aconchegante, apesar das dimensões do lugar. Assim que entraram, Michelle acomodou-se numa das mesas do fundo, à direita, perto da saída, manifestando assim a sua resistência em participar da audição.
Aborrecido, Alex acompanhou a avó até à mesa que ela escolheu, a meio do caminho para o palco. Ao vê-la sentada segurando a mão da criança, ele levou Gina ao palco a fim de familiarizá-la com o sistema de som, pois assim poderia obter melhores resultados.
A mão tremia um pouco quando ela entregou a cassete. Nervosismo? Tensão por ter sido rejeitada pela sua noiva? A vulnerabilidade aparente da jovem viúva e a injustiça do comportamento de Michelle levaram-no a segurar a mão delicada entre as duas. Queria oferecer-lhe calor e apoio, talvez devolver-lhe a confiança que lhe fora tirada.
– Não dês importância a Michelle – disse, sem se importar com o facto de poder parecer desleal. – Canta para o teu filho e imagina que é ele que se vai casar.
Um rubor tingiu o rosto de Gina. Os olhos cor de âmbar mergulharam nos dele, transmitindo uma mistura encantadora de alívio, gratidão e respeito.
Alex sentiu uma urgência súbita de tomá-la nos braços, confortá-la e protegê-la, e só com muito esforço conseguiu sufocar o clamor do próprio corpo. A força do seu instinto era ao mesmo tempo surpreendente e assustadora. Mal conhecia aquela mulher!
– Obrigada, és muito gentil.
Gina tinha uma boca ampla e carnuda. Boa para cantar, disse ele a si mesmo, sufocando outros pensamentos menos inocentes. Consciente da mão entre as dele, sorriu e soltou-a.
– Vais sair-te muito bem. A minha avó não te teria chamado para uma audição, se não estivesse impressionada com o que ouviu antes naquela cassete.
– Certo.
Alex foi inserir a cassete no equipamento de som instalado num canto do palco. Era estranho sentir-se tão consciente de uma presença feminina. Poderia compreender a consideração com a pessoa, com a profissional em busca do sucesso, mas a atracção sexual era descabida para um homem que discutia detalhes do seu casamento. Apesar do aborrecimento causado pelas últimas atitudes da noiva, aquilo não deveria estar a acontecer.
Depois de preparar e ligar o equipamento, ele entregou o controlo remoto a Gina e demonstrou-lhe como deveria usá-lo. Enquanto ajustava a altura do microfone, reparou nos expressivos olhos cor de âmbar fixos no seu rosto e sentiu uma ligação ainda mais intensa.
Sorriu de maneira a encorajá-la e deixou-a sozinha no centro do palco. A necessidade de manter-se distante de Gina Terlizzi fê-lo pensar em caminhar até ao fundo do salão, para a mesa escolhida por Michelle, mas, a meio do caminho, mudou de ideia e juntou-se à avó e ao garoto, longe do desinteresse negativo e irritante da noiva. Talvez a solidão e a reprovação evidente do futuro marido a ajudassem a reavaliar o seu comportamento.
A demonstração de apoio à sua protegida mereceu um sorriso de aprovação de Isabella. Sentindo-se culpado, Alex olhou para trás e convidou Michelle a sentar-se com eles, mas ela respondeu com um rápido movimento negativo de cabeça. A postura lânguida e o ar aborrecido irritaram-no ainda mais, e ele decidiu que também não cederia.
– Estamos prontos – anunciou Isabella.
Gina começou a cantar. Os seus olhos estavam fixos em Marco, e Alex sentiu-se feliz por perceber que ela seguia o seu conselho. A voz que inundava o salão era forte e poderosa, e a interpretação perfeita de «Because You Loved Me», de Celine Dion, era diga de aplausos entusiasmados. De repente, Marco levantou-se e foi para o centro da pista de dança. Acompanhando o ritmo da melodia, ele balançava os ombros e movia os pés numa demonstração surpreendente de coordenação. Imitando os gestos da mãe, que o observava e sorria enquanto cantava, ele criava uma espécie de casulo onde só existiam os dois e o seu amor incondicional.
Quando a canção terminou, Marco foi o primeiro a aplaudir.
– Mais, mamã!
Alex sorriu para a avó e notou que ela se emocionava com a cena. O seu rosto era suavizado pelo prazer que as pessoas idosas sempre encontravam nas artimanhas e tropelias de uma criança.
– Isso mesmo, queremos ouvir mais uma – ela apoiou o pedido do garoto.
Gina assentiu, respirou fundo e accionou o equipamento de som.
Ouvi-la não era nenhum sacrifício. Enquanto ouvia a versão modificada de «All The Way», canção imortalizada por Frank Sinatra, Alex olhou para Michelle, esperando descobri-la surpresa e tão encantada quanto ele. O olhar petulante da jovem irritou-o profundamente. Porque é que ela não podia admitir que Gina Terlizzi cantava bem?
Marco aplaudiu a mãe mais uma vez, e Alex não conseguiu conter o impulso de imitá-lo. E por que não deveria aplaudir um talento tão impressionante?
– Mais uma, por favor – pediu Isabella.
Alex conhecia quase todas as canções populares, pois passara anos da sua vida a ouvir cada uma delas sempre que a avó recebia um casal disposto a realizar o seu casamento na propriedade da família. Ela sugeria cada detalhe da cerimónia, inclusive o repertório musical, e começara o negócio há anos com a intenção de manter o castelo a partir dos lucros gerados por ele, uma decisão desnecessária, uma vez que os dividendos dos investimentos dos King eram mais do que suficientes para sustentar e conservar a residência da família.
Sabia que Isabella adorava planear ocasiões grandiosas e pôr em uso o imenso salão de baile. A actividade também era uma boa desculpa para estar sempre a perguntar aos três netos quando poderia planear o casamento de cada um deles. Finalmente ela tinha a oportunidade de organizar um evento familiar, e Alex prometeu a si mesmo que não a privaria dessa alegria. Michelle teria de aceitar a sua decisão.
Isabella Valeri merecia respeito.
E teria o respeito merecido.
Desse momento em diante, tudo seria diferente…