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Capítulo 3

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– Por aqui. Vamos de jipe para a marina – instruiu Tony, andando rapidamente ao longo do caminho que levava até ao outro lado do castelo.

Sempre com pressa, dissera a avó dele, e Hannah podia compreender o comentário. Tinha de forçar as pernas para acompanhá-lo. O coração também estava acelerado. Esperava que não tivesse sonhado em vão com aquele emprego. Sustentar o padrão de excelência de Tony King era uma perspectiva assustadora. Teria de aprender rapidamente. Mais rápido do que estava a andar.

O jipe estava parado ao lado do heliporto. Hannah estava acostumada com os helicópteros que transportavam visitantes na Reserva Wilderness de King’s Éden. Mesmo assim, não estava preparada para o que viu. O helicóptero que Tony King possuía era impressionante… Tudo ali deixava evidente o poderio económico da família…

Um pensamento cruzou-lhe a mente: Poderia um homem tão rico interessar-se por uma simples chefe de cozinha?

Então deu-lhe o seu melhor sorriso quando o homem lhe abriu a porta do jipe. Infelizmente, Tony não viu. O seu olhar parecia estar a viajar pelas suas pernas antes de ter fechado a porta. Ele deu a volta ao carro com a testa franzida.

«Preocupações com os negócios?», perguntou-se Hannah. Era, provavelmente, cedo demais para perguntar, por isso, ficou calada durante o trajecto até à marina. Ele também se manteve em silêncio até chegarem ao escritório da King Cruzeiros. Conduziu-a à recepcionista com uma eficiência que fez com que Hannah se sentisse de repente vazia.

– Sally, esta é Hannah O’Neill – apresentou-a. – Será a nossa chefe de cozinha do Duquesa.

– Isso é óptimo. Os meus parabéns!

Hannah nem teve tempo de responder.

– Providencie o uniforme, dê-lhe todas as informações sobre os nossos cruzeiros, e avise-me quando a tripulação chegar.

– Está bem – murmurou Sally enquanto ele se retirava para a sua sala. Os modos abruptos do homem não alteraram o bom humor da recepcionista de rosto alegre e bonito, de cabelos curtos e de olhos azuis que dançavam com curiosidade enquanto sorria para Hannah.

– Bem-vinda a bordo da King Cruzeiros.

– Obrigada. – Hannah retribui-lhe o sorriu. Apontou para a porta fechada e sussurrou: – Ele anda sempre assim, tão rápido?

– Bem, acontece que o «chefe» está preocupado com a saída do Chris. Afinal, a empresa tem uma óptima imagem no mercado precisamente por causa do serviço de buffet… – confidenciou Sally.

– Bem, agora eu estou aqui, não? Não vejo razão para tanta correria.

– Bem, obviamente é uma estranha na cidade, uma vez que não conhecia o Castelo King. Está a fugir de alguma coisa?

– A fugir? Não, apenas à procura de algo novo – afirmou Hannah, ao perceber que Sally era coscuvilheira. Percebeu que devia ser cuidadosa com as palavras. Além disso, o ziguezaguear da sua vida parecia agora muito distante, desde que conhecera Tony King. Ela quase desejava felicidade a Jodie e Flynn. Quase…

Sorriu para a trivial sensação de ter sido traída, e explicou, satisfeita:

– Queria arranjar um emprego e ficar por cá durante uns tempos. É um cantinho maravilhoso da Austrália.

– Com certeza. E uma base perfeita para sair para outros grandes lugares. Já tem acomodação?

– Sim, está tudo tratado. – A intuição avisou-a de que era melhor ficar calada. – Do que preciso agora é de todas as informações sobre o Duquesa e…

– Um uniforme – acrescentou Sally. – Vamos. Vou vesti-la e passar-lhe as informações.

Dez minutos depois, o Duquesa atracou na marina. Elas assistiram da porta dupla, de vidro, que dava para o cais de embarque. Mesmo para Hannah, que vira muitos barcos caros em Fremantle, aquele parecia fabuloso, um catamarã de estilo, branco e preto, que exalava poder e luxo.

– Com certeza o melhor – declarou Sally, orgulhosa. – Foi colocado na água há um ano. Ar condicionado, salão de jogos, mergulho com instrutores conceituados e, para ti, uma cozinha totalmente equipada, incluindo máquina de café expresso e máquina de lavar loiça. – Ela olhou profundamente para Hannah. – Nada de pratos descartáveis no Duquesa. É tudo de alto nível.

A jovem assentiu, ao observar o fluxo dos viajantes que saíam do barco. Percebeu que eram pessoas que faziam parte das colunas sociais dos jornais, que só se satisfaziam com o melhor. Pareciam felizes e satisfeitas, o que significava que o serviço cinco estrelas não decepcionara naquele dia.

Hannah respirou fundo, determinada a garantir que o seu serviço não destoasse da qualidade que Tony King queria manter. A forte necessidade de agradá-lo, mais que isso, de encantá-lo, ia além do que deveria sentir pelo seu empregador, mas não tinha como negar que o homem pusera uma nova energia na sua vida.

– O senhor King às vezes sai no Duquesa? – Não pôde evitar a pergunta.

– Oh, sim! Faz isso quase todos os sábados e domingos. E também quando é fretado para uma festa especial. Algumas celebridades requisitam o Duquesa por um dia inteiro. Tony gosta de cuidar pessoalmente das celebridades. É um excelente anfitrião e, claro, a melhor publicidade que podemos conseguir.

Tony… Sally falava o nome com tanta familiaridade que Hannah achou que não teria problema em chamá-lo assim na frente da tripulação. Era tolice sentir-se estranha com aquilo. Fora natural quando estavam no castelo. Ele parecia ter distanciando-se desde que deixaram a senhora King? Não, provavelmente estava demasiado sensível no que se referia a ela, não queria cometer a mínima falha.

Quarta-feira… Tinha dois dias para aprender o máximo possível, praticar na cozinha e estar com tudo pronto antes que ele entrasse a bordo. No dia seguinte, levaria um caderno consigo e anotaria tudo o que Chris fizesse. Assim que a rotina geral estivesse fixada na sua mente, poderia acrescentar uns toques especiais e pessoais. Iria mostrar a Tony que ele realmente ganhara um prémio com a sua nova cozinheira. Ele dar-lhe-ia aquele sorriso arrasador e…

– A tripulação está a desembarcar – anunciou Sally, trazendo Hannah de volta à realidade. – Eric, Tracy e Jai são os mergulhadores. São os três primeiros. Depois vem o Chris e a assistente dele, Megan, o capitão, David, e a primeira oficial, Keith.

Cinco homens, duas mulheres, todos jovens e cheios de vigor. Logo serão quatro homens e três mulheres, pensou Hannah. Avistou o chefe de cozinha que ia substituir. De cabelos muito loiros, dirigia-se apressado para o escritório de Tony.

Chris entrou abruptamente. Demonstrava na expressão a ansiedade que sentia.

– Conseguiste alguém? – perguntou, tão preocupado que nem olhou para Hannah.

– Acalma-te, Chris. – A forte e autoritária voz avisou o cozinheiro de que estava descontrolado. – Acabaste de passar pela pessoa que contratei para substituir-te.

– Desculpa-me. – Virou-se para encarar Hannah, com um sorriso de alívio. – Olá.

– Olá – respondeu a jovem com um sorriso amigável.

– Esta é Hannah O’Neill – apresentou Tony. – Chris Walton irá mostrar-lhe o que se espera de um chefe de cozinha do Duquesa nos próximos dois dias.

Chris voltou-se para Tony.

– Preciso mesmo de fazer isso? A Hannah não pode…

– Não – interrompeu Tony com firmeza. – Ficas até ao final da semana, conforme o combinado, Chris. O Johnny pode esperar.

– Mas a Megan pode explicar-lhe tudo.

– Isso é responsabilidade tua. – Os olhos verdes faiscaram quando acrescentou: – Não me decepciones, Chris… Podes marcar o teu voo para Sidney para sexta-feira à noite – continuou Tony. – Não vais receber o teu pagamento nem boas referências se fores embora mais cedo. Entendido?

Chris assentiu.

– Certo, certo. – Ele suspirou e voltou-se para Hannah: – Não me interpretes mal. É um óptimo trabalho. Apenas preciso de ir para outro lado.

Hannah assentiu com cumplicidade.

– Fico muito satisfeita em ter a tua supervisão por dois dias… Será suficiente para me inteirar dos detalhes do serviço, Chris.

– É mais fácil do que parece à primeira vista – murmurou, mas obviamente que era.

Os outros funcionários entraram no escritório e Tony fez as devidas apresentações. Pareciam pessoas alegres e animadas e Hannah sentiu vibrações boas e sem reservas dirigidas a ela.

Estava muito consciente de que Tony a observava. Esperava que estivesse a aprovar o clima amistoso que se gerara entre eles. Sabia que no ramo de turismo era importante manter um ambiente de cordialidade, alegria e… manter uma expressão feliz era algo completamente natural em Hannah. E naquele dia estava a ser ainda mais fácil demonstrar a sua felicidade.

Um novo lugar para explorar.

Um novo emprego para mantê-la no mesmo sítio.

Um novo homem que podia ser o «homem certo»… se o seu coração estivesse a dizer-lhe a verdade!

– Ei! Lindas covinhas! – observou David Hampson, o capitão. Era o mais velho da tripulação, muito bonito, com brilhantes olhos castanhos e um sorriso charmoso. – Acho que tiveste bom gosto, Tony.

– O que precisamos é de uma boa cozinheira – disse Tony, bruscamente.

– Concordo – respondeu David alegre, voltando a olhar para Hannah. – Mas uma boa comida servida por lindas covinhas, dá sempre um toque especial.

Ela riu, gostou da provocação bem-humorada de David.

– Está pronta para partir, Hannah? Tem tudo o que precisa? – indagou Tony, de sobrolho franzido.

– Claro. – Rapidamente agarrou no saco de plástico que continha os uniformes e os folhetos sobre os passeios da King Cruzeiros.

Tony falou para a tripulação:

– Espero que vocês tratem bem a Hannah, sem que ela se torne uma distracção para o serviço de cada um. Certo?

Assentiram em coro.

Ele olhou para Hannah.

– Vamos. Vou levá-la até ao apartamento onde vai ficar. Assim poderá descansar para começar a trabalhar amanhã cedo.

– Até amanhã – despediu-se de todos e acompanhou Tony, o coração batia velozmente, era difícil acompanhá-lo.

– Onde está a sua bagagem? – perguntou.

– Por aqui. – Indicou a esquerda e ele seguiu-a. Um rápido olhar avisou Hannah de que ele voltara a sorrir. – Obrigada pelo seu apoio – disse, sinceramente.

– Espero que não me cause problemas, Hannah.

– Problemas? – ecoou, irritada com aquela leitura negativa.

Olhou-a de um modo ameaçador.

– David Hampson é casado. E tem dois filhos.

– Bem, isso é óptimo para ele – respondeu, impressionada pela quase acusação.

– Sim. Vamos deixar as coisas como estão. – Levantou o queixo enquanto caminhava.

– Sabe, não tenho culpa de ter covinhas – declarou para testá-lo. – Nasci com elas.

– E com muitas outras coisas – murmurou.

Era demais para Hannah.

– Tem algum problema comigo?

– Não. Por que é que teria?

– Não sei. – Franziu o sobrolho, confusa. Ele estava distante… – Tenho a impressão de que não teria conseguido o emprego se o entrevistador tivesse sido você.

– Acredito piamente no julgamento da minha avó – declarou.

– Isso é um alívio! – Suspirou para livrar-se da tensão. – Não é bom trabalhar para uma pessoa que não me quer.

– Sem dúvida que a quero – disse, secamente.

– Está bem, então. – Sentiu-se muito melhor e para garantir o alívio dele, comentou: – Geralmente dou-me muito bem com as pessoas.

– Pude perceber…

– E não quero atrapalhar o casamento de ninguém. – Nem mesmo o de Flynn e de Jodie.

– Fico feliz em saber disso.

– Eu jamais seduziria David.

– Óptimo!

– Sally contou-me a situação de Chris, mas há mais alguma coisa que eu deva saber sobre a tripulação, para que não cometa nenhum erro?

– Nada que me venha à mente – respondeu.

– Não vai avisar-me sobre o Eric, o Jai ou o Keith?

– A Tracy irá colocá-la no seu lugar se olhar para o Jai. – Tony encarou-a. – Gostou dele?

Como é que poderia gostar de qualquer um com ele por perto? Será que não tinha consciência de que ofuscava todos os demais com o seu brilho estonteante?

– Achei-os muito amáveis, mas não despertaram nenhum interesse especial em mim – respondeu Hannah, honestamente.

– Quando é que isso poderá acontecer? – comentou com ironia.

Aconteceu no momento em que entraste na minha vida, pensou Hannah, mas não poderia dizer aquilo, principalmente quando parecia que ele tinha umas ideias estranhas sobre si, como por exemplo, que era do tipo que tirava os homens de outras mulheres. O que era estranho, porque ninguém a colocara no papel de mulher fatal antes. Perguntou-se porque ele a via daquela maneira.

De repente um pensamento feliz. Aquilo só podia significar que a achara atraente. Talvez mais que atraente, se pensava que outros homens pudessem ficar tentados a trair a esposa por causa dela.

Sem dúvida, quero-a.

E se ele pretendera dizer que a queria noutro sentido que não o profissional? A excitação fez o coração bater ainda mais rápido. Quase saltou de alegria quando chegaram aos cacifos perto da marina. Hannah destrancou, rapidamente, o seu e agarrou na mochila.

– É tudo? – perguntou Tony, ao observar a pequena mochila.

– É mais fácil viajar com pouco peso – explicou, sem necessidade.

Ele olhou novamente para mochila, perto dos pés dela, como se representasse uma vida que ele não concebia ser possível. Depois, desviou os olhos para as sandálias de couro que ela usava e para as calças de ganga.

Tony estaria a perceber que ela possuía poucas roupas, mas a observação detalhada deixou Hannah muito consciente do próprio corpo.

O olhar de Tony no seu corpo demorou tempo o bastante para tirar o fôlego de Hannah. Não podia pensar em nada, excepto de como desejava que ele realmente a quisesse. Finalmente, Tony olhou-a nos olhos.

Mas não havia sugestão de desejo nos dele.

Hannah pôde sentir o corpo todo a tremer por dentro. Não percebia no que é que lhe desagradava, ou o porquê de tanta irritação. Como defesa, quebrou a profunda análise a que era submetida, ao baixar-se para agarrar na mochila. Mas Tony foi mais rápido e agarrou nas alças primeiro.

– Eu levo – Tony ordenou, secamente.

Ela não discutiu. Na verdade, retirou a mão da mochila para evitar qualquer tipo de contacto. Quando ele se dirigiu para o local onde deixara o jipe, Hannah caminhou mais devagar atrás, a lutar contra a sua enorme confusão emocional. Não estava certa se queria acompanhá-lo ou estar ligada a ele de alguma forma.

Rejeição doía… Já provara aquilo.

Dedicara-se inteiramente a Flynn para descobrir que ele a traia com a sua melhor amiga… tinha feito tudo, absolutamente tudo.

Acabara de conhecer Tony King, mas… a raiva começava a queimar, reabrindo a ferida. Ele não tinha o direito de tratá-la como se fosse uma intrusa na sua vida. Poderia ter vetado o julgamento da avó e escolhido outra das candidatas ao emprego de chefe de cozinha. Ela não devia estar preocupada. A culpa, obviamente, era dele.

Ela sabia que era perfeita para aquele cargo..

A avó de Tony tinha a mesma opinião e a tripulação do Duquesa concordava.

Então devia haver algo de errado com Tony King, uma vez que tinha uma opinião diferente dos outros.

Casamento de confiança

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