Читать книгу Flores de inverno - Filipa Amaral - Страница 17
ОглавлениеXIII
A ideia de que somos concebidos como uma imensa tela me consome.
Imagino-nos, cada um de nós, com seu fio condutor e um grande tecelão, qual maestro, que devagar nos tece.
Acho que deus é isto.
Esta incomensurável maquinaria invisível que nos atravessa e nos urde. Uma fazedura gigantesca, a grande obra de arte intemporal, que o nosso fugaz olhar terreno não consegue nunca adivinhar nem vislumbrar.
Acredito que os nossos mortos, consoante vingança ou compaixão, nos criam novelos, nós-de-vida ou desatam-nos.
Temos sempre que ser generosos, gratos e prudentes com os nossos mortos.
Eles sabem coisas que nós ainda não.