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RICK

Sento-me de novo na minha mesa. A minha conversa com a Viola não correu como esperava. Sei que arruinei o que tínhamos começado lá fora, no jardim. Estou desiludido. Ela teve um efeito em mim como nenhuma outra mulher teve, e ainda não consigo parar de olhar para ela.

Ela é uma das melhores no que faz. Também sou um dos melhores no que faço.

Sei que se colaborássemos, seríamos ótimos. Com a reputação dela na sua área, a Viola atrai clientes de primeira linha. O meu tipo de clientes. Quanto mais ricos são, maiores são os acordos de divórcio. Faz sentido, não faz?

Além disso, podem também pagar pelo melhor aconselhamento jurídico antes de se casarem, se colaborarmos. É isto que a Viola não conseguiu ver. As minhas comissões são boas e ela pode ganhar bom dinheiro simplesmente a partir de uma referência. Porque é que ela sequer quereria saber o que acontece mais tarde? Até é provável que ela consiga pelo menos um cliente repetido se o casal se divorciar e voltar a casar mais tarde. Provavelmente chamá-la-iam para o seu próximo casamento. Raios, há até mesmo os seus filhos, daqui a uma geração, que se vão casar. Ela pode facilmente fazer os casamentos dos filhos também, dependendo do quão perto se mantém dos seus clientes depois de se casarem. Inclui-la-ia em todos os negócios que recebo de um cliente que ela referir para mim, e até referiria negócios para ela também.

Continuo a olhar para ela. Não consigo evitar. Questiono-me o que a deixou tão perturbada com o que disse. Talvez tenha sido apenas a altura errada e devia ter arranjado maneira de falar com ela depois do casamento ou num dia em que ela não estivesse a trabalhar na receção de um casamento.

Há outra razão pela qual não consigo parar de olhar para ela. Ela é inacreditavelmente bonita. Não acredito no amor, mas ela é o meu tipo. Ao dizer o meu tipo, quero dizer confiante, ousada, orgulhosa, sensual, independente. O tipo que não tem tempo para relações mas consegue o que quer dos homens quando precisa. Tal como eu consigo das mulheres o que preciso quando quero. Não tenho tempo para relações. Também não acredito nelas.

Ela apanha-me a olhar de novo e move-se desconfortavelmente na sua cadeira, depois endireita-se, erguendo a sua mão para me cortar da sua vista. Ela diz algo a Ashley e depois empurra o seu prato para trás. Não acabou a sua comida. Depois levanta-se e sai da divisão.

O meu olhar segue-a enquanto se aproxima da porta. O balanço das suas ancas é acentuado perfeitamente pela roupa que ela está a usar, que acentua a sua figura. Os saltos altos que ela está a usar adicionam altura à sua forma e o seu cabelo preto comprido e sedoso balança suavemente com cada passo que ela dá.

Toco nas suas cuecas, que estão no meu bolso, e lembro-me do quão bem ela cheira. Fico duro de novo enquanto penso no encontro que tivemos mais cedo no jardim.

Ela não sabe que é uma deusa. Perfeita. Já vi o tipo dela muitas vezes antes. Eu procuro o tipo dela. Divirto-me mais com mulheres assim. Primeiro, mostro-lhes o quão bonitas são e faço-as aperceberem-se do efeito que têm nos homens. Gosto de as tornar autoconscientes. Quando uma mulher como a Viola se torna autoconsciente da sua beleza e sexualidade, aumenta as suas características. Despojar a sua inocência e ensinar-lhe os caminhos do mundo, do meu mundo, na verdade, é o que mais gosto.

O meu interesse na Viola é mais do que apenas trabalho. Raios, se ela não fizer negócio comigo e simplesmente me deixar domá-la, suponho que consigo viver com isso. Mas seria uma pena.

Apercebo-me de que toda a gente está em pé, então levanto-me enquanto um empregado passa com uma bandeja de copos de champanhe. Torno a sua bandeja mais leve ao pegar num copo e olho para a mesa principal onde os brindes estão a começar. O casal feliz está a sussurrar e a sorrir enquanto o MC fala e brinca. Eles parecem felizes e desejo-lhes tudo de bom. Realmente. Nem toda a gente se divorcia. Simplesmente quero dar a pista de que estou aqui se alguma vez algum deles precisar de mim. Não estou a pedir muito.

O brinde continua por um bocado e olho para onde a Viola estava sentada, mas ela ainda não voltou. Ashley está lá e não está a olhar para mim. O brinde termina e a banda começa a tocar. Pessoas vão até à mesa do casal feliz e felicitam-nos. Junto-me a eles e felicito o casal feliz. Pouco depois o casal vai até à pista de dança para a primeira dança. Observo-os a moverem-se pela pista de dança graciosamente. Não falam muito enquanto dançam. O noivo é quase vinte centímetros mais alto do que a noiva e enquanto ela pressiona a cabeça contra o seu peito, ele está a olhar em volta como se estivesse à procura de alguém.

Alguns convidados juntam-se ao casal na pista de dança e em breve o local fica cheio de casais felizes. Quando o casal de noivos termina a sua dança, eles voltam para a mesa e o noivo desaparece. Presumo que se vai aliviar. A noiva observa-o a ir antes de ser distraída por um convidado.

Com as festividades quase em pleno andamento, decido que está quase na hora de ir embora. Casamentos não são os meus eventos preferidos, muito menos quando não tenho uma parceira.

Decido ir procurar a Viola e tentar falar com ela de novo antes de ir embora. Pego noutra bebida de um empregado a passar e começo a fazer o meu caminho pelos convidados até ao jardim principal.

Encontro a Viola entre a área da receção e o edifício principal. As suas costas estão voltadas para mim e ela está a falar para o seu walkie-talkie. Termina e vira-se. Ela salta para trás em surpresa.

“Oh meu Deus!” ela exclama. “Assustaste-me imenso!”

“Desculpa. Não era a minha intenção,” respondo. Dou-lhe um momento para recuperar e depois continuo. “Ouve, desculpa por há pouco. Penso que tudo saiu de forma errada. Normalmente consigo expressar-me de forma bastante clara e simplesmente não sei o que aconteceu há bocado…”

Viola está a estudar-me friamente, “…Acho que te expressaste de forma bastante clara há bocado, Rick. Vês a instituição do casamento como uma oportunidade para negócios futuros, e aproveitas a tristeza e angústia dos outros para ganhar a vida quando chegar essa altura, se é que alguma vez chegará. Nunca conheci um advogado como tu. Já ouvi falar, até vi perseguidores de ambulâncias em ação mas isto, deves ter uma quota de mercado de cem por cento da tua especialidade escolhida…”

Viola é interrompida quando alguém passa. É a noiva. Ela parece estar com pressa para chegar a algum lado.

“Trish, está tudo bem?” Viola pergunta.

Trish mal para e vira-se. “Sim. Apenas preciso de ir à casa de banho. Já aguentei demasiado tempo.”

“Okay. Não me deixes prender-te,” Viola sorri.

Trish vira-se e continua o seu caminho até ao edifício principal.

Algo no comportamento de Trish me diz que alguma coisa está errada. Mas não é o meu casamento, e vou-me embora seja como for. No entanto, decido dizer algo à Viola.

“Acho que há algo de errado com a noiva…”

“Agora também és médico?” Viola pergunta zangadamente num tom baixo, com medo de que a Trish a possa ouvir.

“Não… só quero ajudar…”

“Não preciso da tua ajuda, assassino de casamentos. Este é o meu casamento e acho que está tudo a correr bem…”

Os gritos de uma mulher tornam-se repentinamente audíveis do edifício principal. Não consigo dizer com certezas quem é, mas tenho uma boa ideia.

Viola vira-se e corre até ao edifício principal. Demora-me um momento para a começar a seguir.

“Trish!” Viola chama enquanto corre até ao edifício.

Enquanto nos aproximamos do edifício, as palavras que a mulher grita tornam-se mais claras.

“Seu… filho… de… uma… grande… cabra… oportunista! E tu! Sua... porra... de uma... puta!”

Viola entrou no edifício comigo atrás. Ela empurra a multidão que se reuniu à volta da porta da casa de banho aberta.

Sigo os passos da Viola pela multidão e chego à frente das pessoas, mesmo atrás da Viola. Trish está em frente da porta da casa de banho aberta, a gritar com o noivo cujas calças estão baixadas à volta dos seus tornozelos. Ainda está enterrado fundo dentro da mulher com ele na casa de banho. Reconheço a rapariga. Cherise. Ela é a dama de honra. Ela olha para longe e exclama para o noivo, “Fecha a porra da porta, seu idiota!”

Ele estica-se para a fechar, mas não o consegue fazer sem deslizar para fora da dama de honra e revelar-se para toda a gente a observar a cena.

Trish dá um passo para a frente, manuseando a faca do bolo de forma ameaçadora, “Atreves-te a fechar a porra desta porta e eu corto-te o pénis, seu filho de uma mãe, traidor!”

O noivo, Eric, fica com a cara vermelha e tenta apaziguar Trish, “Bebé, desculpa. Sinto-, não era a minha intenção…”

“Cala-te!” Trish grita. “Cala-te! Não me tentes vender as tuas mentiras!”

Viola pega no braço de Trish mas ela afasta-se. Flashes de câmaras estão a piscar intermitentemente e a situação está a tornar-se cada vez mais embaraçante para toda a gente. Dou um passo em frente, à volta de Trish, e fecho a porta. Quando me viro, Trish grita comigo.

“Mas quem és tu! Porque é que o estás a defender?”

“Não o estou a defender,” respondo calma mas firmemente enquanto me aproximo de Trish. Ela não resiste enquanto me deixa tirar-lhe gentilmente a faca do bolo. Baixo a minha voz, “Está a embaraçar-te a ti e a toda a gente.”

Ela olha para mim e começa a chorar enquanto colapsa contra mim. Ponho os meus braços à sua volta e apoio-a enquanto ela é embalada em soluços gigantes. Ela tenta falar enquanto soluça e eu não consigo compreender uma palavra do que ela diz. Sobre a minha cabeça, encontro os olhos de Viola, que me observam com uma mistura da sua raiva a desaparecer e novo respeito. Seguro a Trish perto de mim enquanto continua a soluçar. Finalmente, um casal passa pelo meio da multidão e aproxima-se de nós.

Reconheço-os como os pais de Trish.

“Obrigado,” o pai dela diz. Ele gentilmente pega no braço dela. “Querida, o pai está aqui. Não faz mal,” ele diz suavemente. O seu pai gentilmente liberta-a do meu abraço e ela vira-se para o seu pai, abraçando-o e continuando a chorar.

“Sinto muito pelo que aconteceu, senhor. Sinto mesmo,” digo.

O seu pai acena com a cabeça, “Obrigado,” ele diz de novo.

Retiro um cartão profissional e dou-o à mãe de Trish, visto as mãos do seu pai estarem ocupadas a abraçar a sua filha. A sua mãe pega no cartão, olha para ele e depois para mim. Não preciso de dizer nada. A mensagem é clara.

“Obrigada, Rick,” a mãe de Trish diz. Simplesmente aceno e viro-me para sair.

Quando me viro, a Viola está ali. Está a olhar para mim de novo com olhos cerrados. Consigo dizer que está zangada.

Passo ao seu lado e faço o meu caminho pelo meio da multidão que já começou a ficar mais densa.

Consigo sentir os olhos de Viola nas minhas costas enquanto saio. Quase espero que me siga, mas penso que ela sabe que não seria uma boa ideia em vários aspetos. Por um lado, queria que viesse atrás de mim. Quero vê-la, falar com ela, até discutir com ela desde que possamos falar de novo. Ela não faz ideia nenhuma do efeito que tem em mim.

Chego à entrada e dou o meu bilhete ao arrumador de carros. O meu carro chega em breve e vou embora.

Receio

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