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II
FORMAM-SE LEGIÕES
ОглавлениеDepois da victoria de Arroyo Grande, Oribe marchou sobre Montevideo, declarando que não fazia graça a pessoa alguma, nem mesmo aos estrangeiros. E para ir dando cumprimento á sua palavra tudo o que encontrava no caminho era fuzilado.
Então como em Montevideo havia um grande numero de italianos, que ahi tinham vindo, uns por negocios e outros porque estavam proscriptos, fiz uma proclamação aos meus compatriotas convidando-os a tomar as armas, formando uma legião, para combatermos até á morte por aquelles que nos haviam dado a hospitalidade.
Rivera durante este tempo reunia os restos do seu exercito.
Do seu lado os francezes e hespanhoes formaram tambem duas legiões. Quatro mezes depois da sua formação a legião hespanhola composta na sua maioria de carlistas, passou-se para o inimigo, tornando-se o alvo dos nossos ataques.
A legião italiana não recebia paga, tendo unicamente ração de pão, vinho, sal, azeite, etc., etc., devendo receber comtudo, finda a guerra, terrenos e bois os que escapassem e as viuvas e filhas dos fallecidos.
A legião compunha-se primeiramente de quatrocentos a quinhentos homens elevando-se depois a oitocentos, por causa de muitos proscriptos que todos os navios conduziam.
A legião foi primeiramente dividida em tres batalhões, um commandado por Danuzio, outro por Ramella, e o terceiro por Mancini.
Oribe não ignorava todos estes preparativos de defeza, mas ligava-lhe pouca importancia. Marchou, como já disse sobre Montevideo, e acampou no Cerrito. Póde ser que no estado de desordem em que se achava a cidade, elle ahi podesse ter entrado immediatamente, mas julgando ter ali bastantes partidarios esperava uma demonstração da sua parte; mas esta demonstração nunca appareceu e Oribe deu tempo a que em Montevideo se organisasse a defeza.
Ficou pois a uma hora de marcha de Montevideo com doze a quatorze mil homens.
Montevideo podia apresentar nove mil homens, de que cinco mil eram negros, aos quaes se havia dado a liberdade, tornando-se excellentes soldados.
Quando Oribe perdeu a esperança de entrar amigavelmente em Montevideo, fortificou-se no Cerrito e desde logo começaram as escaramuças.
Do seu lado Montevideo fortificava-se o melhor que podia, sendo o nosso engenheiro o coronel Echevarrio.
A organisação geral das tropas pertencia ao general Paz.
Joaquim Soares era presidente, Pacheco y Obes ministro da guerra.
Paz partiu de Montevideo para Corrientes e Entre-Rios a fim de revolucionar estas provincias.
A primeira vez que sahiu das linhas, não sei se foi dos soldados ou dos officiaes, a legião italiana tomou tal medo que entrou para as fortificações sem haver disparado um tiro.
Obriguei um dos tres commandantes a pedir a sua demissão, dirigi uma proclamação aos italianos, escrevendo pela segunda vez a Anzani, que estava no Uruguay, empregado n'uma casa de commercio, convidando-o a vir para a minha companhia.
Este excellente amigo chegou no mez de julho.
Com elle tudo ganhou força e vida. A legião que se achava horrivelmente administrada mereceu todos os seus cuidados.
Durante este tempo tinha-se organisado, sabe Deus como, uma pequena flotilha, de que me confiaram o commando.
Mancini tomou o meu logar na legião.
A flotilha communicava pelo rio com o Cerro, fortaleza que tinha ficado em nosso poder, ainda que estivesse a tres ou quatro leguas, na margem do Prata, mais distante que o Cerrito que tinha cahido no poder de Oribe.
O Cerro era-nos mui necessario porque nos servia de ponto de apoio, para mandar gente para as planicies e receber os fugitivos.
Antes de organisar a defeza, a esquadra do almirante Brown tinha feito uma tentativa sobre o Cerro e sobre a ilha dos Ratos. Durante tres dias defendi a ilha e a fortaleza. Na ilha havia peças de 18 e de 36, obrigando o almirante a retirar-se com grandes perdas.
Já disse que á entrada de Anzani as concussões tinham acabado; porque este honrado homem em tudo tinha cuidado, e por isso se formou uma conspiração que tinha por fim assassinal-o e a mim, entregando a legião italiana ao inimigo.
Anzani foi prevenido.
Os conspiradores viram que não tinham nada a fazer por este lado, e uma manhã vinte officiaes e cincoenta soldados passaram para o inimigo.
Os soldados, é necessario fazer-lhe esta justiça, voltaram a pouco e pouco.
A legião livre dos traidores, ficou composta de homens valentes e honradissimos. Anzani reuniu-a e disse-lhe:
– Se eu tivesse que fazer uma escolha entre os bons e os maus, não teria escolhido melhor, como o acaso vem de fazer.
O general Pacheco e eu tambem fizemos os nossos discursos á tropa.
Alguns dias depois do primeiro combate onde a legião italiana tinha dado de si tão má idéa, propoz uma expedição, com o fim de a rehabilitar, que foi acceita. Tratava-se de atacar as tropas de Oribe que estavam diante do Cerro. Embarquei a legião italiana na nossa pequena esquadra e desembarcámos no Cerro, e tomando com Pacheco o commando da legião atacámos o inimigo ás duas horas da tarde, tendo-o posto na mais completa derrota ás cinco.
A legião composta de quatrocentos homens atacou um batalhão de seiscentos. Pacheco combatia a cavallo, e eu ora a pé, ora a cavallo, conforme era necessario. O inimigo teve cento e cincoenta mortos e duzentos prisioneiros, e nós apenas cinco ou seis mortos, e doze feridos, entre os quaes figurou um official chamado Ferrucci ao qual foi necessario cortar uma perna.
No dia seguinte voltamos em triumpho a Montevideo. Pacheco mandou reunir a legião, elogiou-a muito, e deu uma espingarda de honra ao sargento Loreto.
O combate tinha tido logar no dia 28 de março de 1843.
Já me achava tranquillo, os meus soldados haviam recebido o baptismo do fogo.
No mez de maio teve logar a benção da bandeira.
Era de seda preta com o Vesuvio pintado. Era o emblema da Italia, e das revoluções que em si encerrava. Foi confiada a Sacchi mancebo de vinte annos que se tinha conduzido admiravelmente no combate do Cerro.
É o mesmo que combateu mais tarde comigo em Roma, e que hoje é coronel.