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VI
EXILIO DE RIVERA
ОглавлениеJá disse qual era o plano do general Paz quando sahimos de noite de Montevideo.
Este plano se vingasse mudava a face dos negocios e fazia segundo todas as probabilidades levantar o cerco a Oribe, mas tendo falhado completamente este plano, voltamos a occupar o nosso posto ordinario, isto é aos postos avançados que de um e outro lado, se fortificavam cada vez mais, até que nós tivessemos do nosso lado uma linha de bateria que correspondesse ás baterias do inimigo.
Foi por esta occasião que o general Paz partiu, para dirigir a insurreição da provincia de Corrientes, coadjuvando assim a causa nacional, e dividindo as forças do general Urquiza que então fazia frente ao general Rivera.
Infelizmente todos estes projectos não tiveram o exito que se esperava por causa da impaciencia do general Rivera, que sem se importar com as ordens do governo, que lhe prohibiam o acceitar uma batalha decisiva, acceitou essa batalha, perdendo-a nos campos da India Morta.
O nosso exercito foi batido. Dois mil prisioneiros, e talvez mais, foram estrangulados, contra todas as leis da humanidade e da guerra.
Muitos ficaram no campo da batalha, outros foram dispersos pelas immensas planicies. O general Rivera com alguns dos seus alcançou a fronteira do Brazil e foi como causa d'este immenso desastre exilado pelo governo.
Perdida a batalha da India Morta, Montevideo ficou entregue aos seus proprios recursos. O coronel Corrêa tomou o commando da guarnição. Comtudo o cuidado particular da defeza ficou incumbido a Pacheco e a mim. Alguns dos nossos chefes depois d'esta deploravel batalha conseguiram reunir diversos destacamentos dos soldados dispersos e fizeram com elles a guerra de guerrilhas onde o terreno a isso se prestava.
O general Llanos reuniu duzentos homens e preferindo juntar-se aos defensores de Montevideo, lançou-se sobre o inimigo que vigiava o Cerro e abrindo caminho alcançou o forte.
Pacheco recebendo este pequeno reforço teve a idéa de dar um golpe de mão.
A 27 de maio de 1845 embarcámos em Montevideo, durante a noite, a legião italiana e algumas outras forças tiradas do Cerro, e com este pequeno corpo fomo-nos embuscar n'um velho paiol que se achava abandonado.
Na manhã de 28 a cavallaria do general Llanos sahiu, protegida pela infanteria, e attrahiu o inimigo do lado do paiol e quando elle se achava a pequena distancia, os nossos soldados sahiram com a legião italiana á frente e carregando á bayoneta cobriram o terreno de cadaveres.
Então toda a divisão em observação no Cerro se apresentou no campo, e travou-se um mortifero combate que se decidiu em nosso favor.
O inimigo foi posto em completa derrota e perseguido á bayoneta, sendo necessario que viesse repentinamente uma horrivel tempestade para finalisar esta carnificina.
As perdas do inimigo foram consideraveis.
Teve grande numero de feridos e mortos e entre os ultimos figura o general Nunz, um dos melhores e mais bravos generaes inimigos, que foi morto por uma bala dos nossos legionarios.
Tambem apanhámos grande numero de bois, de modo que entrámos em Montevideo com a alegria e esperança no coração.
O feliz resultado d'esta tentativa fez com que propozesse outra ao governo. Tratava-se de embarcar na flotilha a legião italiana, subir o rio, occultando os meus homens o melhor possivel, até Buenos-Ayres, e chegados ahi desembarcarmos de noite, dirigindo-nos á casa de Rosas e fazendo-o prisioneiro, conduzil-o a Montevideo.
Tendo bom exito esta expedição terminava a guerra de um só golpe, mas o governo recusou.
Nos intervalos de repouso concedidos ao nosso exercito, dirigia-me á pequena flotilha e não obstante o bloqueio de que eu enganava a vigilancia, tomava o largo e ia apanhar algum navio mercante, que conduzia prisioneiro até ao porto com grande raiva do almirante Brown.
Outras vezes por manobras bem combinadas, attrahindo sobre mim todas as forças do bloqueio franqueava o porto a navios mercantes que conduziam provisões á cidade sitiada.
Muitas vezes tambem embarcava-me de noite com cem dos meus legionarios os mais resolutos e tentava atacar os navios inimigos, que não podia atacar de dia por causa da grossa artilheria, mas era sempre inutilmente porque o inimigo desconfiando das minhas surprezas não ficava de noite debaixo de ancora, transportando-se para algum sitio distante d'aquelle onde eu o julgava.
Finalmente, um dia sahi com tres pequenos navios, os melhores da esquadra, e resolvi ir atacar o inimigo na bahia de Montevideo.
A esquadra de Rosas compunha-se de tres navios: O 25 de março, O general Echague, e O Maypu.
Estes tres navios tinham quarenta e quatro peças montadas.
Eu tinha unicamente oito peças de pequeno calibre, mas conhecia os meus homens, e estava convencido de que se chegassemos á abordagem o inimigo estava perdido.
Avancei para a esquadra em linha de batalha.
Estavamos quasi a tiro de peça, julgando já todos o combate inevitavel. Os terraços de Montevideo estavam cheios de curiosos; os mastros dos navios de todas as nações estacionados no porto estavam tambem cheios de espectadores.
Todos esperavam com anciedade o resultado do combate que se julgava inevitavel.
Mas o commandante da esquadra argentina não quiz correr o risco d'este combate, e tomou o mar, entrando nós no porto no meio das acclamações geraes.