Читать книгу O Napoleão de Notting Hill - Гилберт Честертон, Gilbert Keith Chesterton, Лорд Дансени - Страница 4
Livro I
A Colina de Humor
Оглавление– Em um pequeno jardim quadrado de rosas amarelas, ao lado do mar – disse Auberon Quin – houve um ministro dissidente que nunca tinha ido a Wimbledon. Sua família não entendia a tristeza ou o olhar estranho em seus olhos. Mas um dia eles se arrependeram de sua negligência, pois ouviram que um corpo havia sido encontrado na costa, fustigado, mas usando botas de couro patente. Aconteceu dele não ser o tal ministro. Mas no bolso do homem morto havia um bilhete de volta para Maidstone.
Houve uma breve pausa enquanto Quin e seus amigos, Barker e Lambert, foram andando no meio da relva lamacenta dos jardins de Kensington. Então, Auberon retomou:
– Essa história – disse respeitosamente – é o teste de humor.
Eles caminharam cada vez mais rápido, atravessaram a grama alta quando começaram a subir uma ladeira.
– Percebo – continuou Auberon – que passaram no teste, e consideram a anedota dolorosamente engraçada, já que não dizem nada. Só o humor grosseiro é recebido com aplausos de taverna. A grande anedota é recebida em silêncio, como uma bênção. Sentiu-se muito abençoado, não é, Barker?
– Entendi – disse Barker, um tanto arrogantemente.
– Sabe – disse Quin, com uma espécie de alegria idiota – tenho muitas histórias tão boas quanto esta. Ouça isso.
E limpou um pouco a garganta:
– O dr. Policarpo era, como todos sabem, um bimetalista invulgarmente pálido. Pessoas de larga experiência diziam: “Lá vai o mais pálido bimetalista de Cheshire”. Uma vez isso foi dito de forma que ele ouviu: foi dito por atuário, sob um por do sol lilás e cinza. Policarpo se voltou para ele. “Pálido!”, gritou ferozmente, “Pálido! Quis tulerit Gracchos de seditione querentes”. Foi dito que nenhum atuário jamais se meteu com o dr. Policarpo novamente.
Barker concordou com uma sagacidade simples. Lambert só grunhiu.
– Aqui está outra – continuou Quin, insaciável. – Em um oco das colinas verde cinzentas da chuvosa Irlanda, viveu uma mulher muito velha, cujo tio sempre torcia para Cambridge na regata. Mas em seu oco verde cinzento, ela não sabia nada disto: não sabia que houve uma regata. Também não sabia que tinha um tio. Ela não sabia de nada, exceto de George I, de quem tinha ouvido falar (não sei porquê), e nessa memória histórica, ela confiava. Até que Deus quis que chegasse o dia quando descobriu-se que esse tio dela não era realmente seu tio, e vieram-lhe dizer isso. Ela sorriu em meio às lágrimas, e disse apenas: “A virtude é sua própria recompensa.”
Novamente houve um silêncio, e então Lambert disse:
– Parece um pouco misterioso.
– Misterioso! – exclamou o outro. – O verdadeiro humor é misterioso. Não percebe o principal incidente dos séculos XIX e XX?
– E qual é? – perguntou Lambert, breve.
– É muito simples – respondeu o outro. – Até então era a ruína de uma piada que as pessoas não a entendessem. Agora é a vitória sublime de uma piada que as pessoas não a entendam. Humor, meus amigos, é a santidade que restou para a humanidade. É a única coisa que causa medo. Olhe para a árvore.
Seus interlocutores olharam vagamente para uma faia que se inclinava em direção a eles a partir do cume da colina.
– Se – disse o Sr. Quin – eu dissesse que não viram as grandes verdades da ciência exibidas por aquela árvore, embora estejam escancaradas para um homem de intelecto, o que pensariam ou diriam? Simplesmente me considerariam como um pedante com uma teoria irrelevante sobre algumas células vegetais. Se dissesse que não veem naquela árvore a vil má gestão da política local, iriam me repudiar como um socialista maluco com alguma mania particular sobre parques públicos. Se dissesse que vocês são culpados da blasfêmia suprema de olhar para a árvore e não ver nela uma nova religião, uma revelação especial de Deus, poderiam simplesmente dizer que sou um místico, e não pensar mais em mim. Mas – e levantando uma mão pontifical – se digo que não podem ver o humor daquela árvore, e que eu vejo o humor dela, meu Deus! Poriam-se sob os meus pés.
Parou um momento, e depois retomou.
– Sim; um senso de humor, um estranho e delicado senso de humor, é a nova religião da humanidade! É para onde os homens vão se dirigir com o ascetismo dos santos. Farão exercícios, exercícios espirituais. Perguntarão: “Consegue ver o humor desta grade de ferro?” ou “Pode ver o humor deste campo de milho? Pode ver o humor das estrelas? Pode ver o humor dos pores do sol?” Quantas vezes ri sozinho até dormir por causa de um por do sol violeta.
– Isso mesmo – disse Barker, com um inteligente embaraço.
– Deixe-me contar uma outra história. Quantas vezes acontece que os deputado de Essex são menos pontuais do que se poderia supor. O deputado menos pontual de Essex foi, talvez, James Wilson, que disse, no instante de arrancar uma papoula…
De repente, Lambert se voltou e bateu sua bengala no chão numa atitude desafiadora.
– Auberon, pare. Não suporto isso. É tudo tolice.
Os dois homens olharam para ele, pois havia algo muito explosivo nas palavras, como se estivessem entaladas penosamente por um longo tempo.
– Você – começou Quin – não tem..
– Não me importo com uma maldição – disse Lambert, violentamente – se tenho “um senso de humor delicado” ou não. Não vou suportar isso. É tudo uma fraude para confundir-nos. Não há nenhuma piada naqueles contos infernais. Você sabe disso tão bem quanto eu.
– Bem – respondeu Quin, lentamente – , é verdade que eu, com meu processo mental gradual, não vi nenhuma piada neles. Mas, Barker, com seu sentido mais sutil, achou engraçado.
Baker ficou bem vermelho, mas continuou a olhar para o horizonte.
– Seu idiota – disse Lambert – por que você não pode ser como as outras pessoas? Por que não pode dizer algo realmente engraçado, ou segurar a sua língua? O homem que se senta em um chapéu em pantomina é uma visão muito mais engraçada do que você.
Quin o considerou firmemente. Eles haviam chegado ao topo da serra e o vento atingiu seus rostos.
– Lambert – disse Auberon – , você é um grande e bom homem, embora que eu seja enforcado se você aparenta isso. Mais ainda. É um grande revolucionário ou um salvador do mundo, e estou ansioso para vê-lo esculpido em mármore entre Lutero e Danton, se possível na sua atitude atual, o chapéu ligeiramente para o lado. Eu disse enquanto subia o morro que o novo humor era a última das religiões. Você fez do humor a última das superstições. Mas deixe-me dar-lhe um aviso muito sério. Tenha cuidado ao me pedir para fazer algo outré, como imitar o homem da pantomima, e me sentar no meu chapéu. Porque eu sou um homem cuja alma foi esvaziada de todos os prazeres, exceto a loucura. E por dois pence faria isso.
– Então faça – disse Lambert, balançando com impaciência sua bengala. – Seria mais engraçado do que a bobagem que conta.
Quin, de pé no alto do morro, estendeu a mão em direção à avenida principal do Jardim de Kensington.
– A duzentos metros de distância, estão todos os seus conhecidos elegantes com nada para fazer na terra exceto olhar para si mesmos e para nós. Estamos de pé sobre uma elevação sob o céu aberto, como se fosse um pico de fantasia, um Sinai de humor. Estamos num grande púlpito ou plataforma, iluminado com a luz solar, e metade de Londres pode nos ver. Tenha cuidado com o que sugerir para mim. Porque há em mim uma loucura que vai além do martírio, a loucura de um homem completamente ocioso.
– Não sei do que você está falando – disse Lambert, com desprezo. – Só sei que prefiro você preso na sua cabeça tola, do que falando tanto.
– Auberon! Pelo amor de Deus… – gritou Barker, saltando para a frente, mas foi muito tarde. Faces de todos os bancos e avenidas se viraram em sua direção. Grupos pararam e pequenas multidões se reuniram, e a luz do forte sol pegou a cena toda em azul, verde e preto, como uma imagem em uma livro infantil. E no topo da colina o pequeno Sr. Auberon Quin estava, com destreza atlética considerável, de ponta cabeça, e acenando com suas botas de couro no ar.
– Pelo amor de Deus, Quin, levante-se e não seja um idiota – gritou Barker, torcendo as mãos – teremos a cidade inteira aqui.
– Sim, levante, levante-se, homem – disse Lambert, divertido e irritado. – Eu só estava brincando, levante-se.
Auberon o fez com um salto, e atirando seu chapéu acima das árvores, começou a pular em uma perna com uma expressão séria. Barker passou a bater o pé no solo descontroladamente.
– Oh, vamos para casa, Barker, e deixá-lo – disse Lambert – , alguns policiais adequados e corretos vão cuidar dele. Aí vêm eles!
Dois homens de aparência séria com uniformes discretos vieram até o morro na direção deles. Um deles trazia um papel na mão.
– Lá está ele, oficial – disse Lambert, alegremente. – Não somos responsáveis por ele.
O oficial virou-se para o travesso sr. Quin com um olhar silencioso.
– Meus senhores, não viemos aqui por causa do que acredito estão aludindo. Nós viemos do quartel-general anunciar a seleção de Sua Majestade, o Rei. É a regra, herdada o antigo regime, que a notícia deve ser trazida para o novo soberano imediatamente, onde quer que esteja; então o seguimos até o jardim de Kensington.
Os olhos de Barker estavam em chamas no seu rosto pálido. Ele era consumido com a ambição por toda sua vida. Com a magnanimidade embrutecida do intelecto, realmente acreditava no método de seleção de déspotas pelo acaso. Mas esta sugestão súbita, que a seleção poderia ter caído em cima dele, o enervou com prazer.
– Qual de nós – começou, mas o respeitoso funcionário o interrompeu.
– Não o senhor, sinto informar. Se me é permitido dizê-lo, sabemos de seus serviços para o governo, e seriamos gratos se fosse. A escolha recaiu …
– Deus abençoe a minha alma! – disse Lambert, saltando dois passos para trás. – Não eu. Não diga que eu sou o autocrata de todas as Rússias.
– Não, senhor – disse o oficial, com uma leve tosse e um olhar para Auberon, que estava, naquele momento, colocando a cabeça entre as pernas e fazendo um barulho como uma vaca. – No momento, o cavalheiro a quem temos que parabenizar parece estar – er-er- ocupado.
– Quin? Não! – gritou Barker, correndo até ele – não pode ser. Auberon, pelo amor de Deus, componha-se. Você foi escolhido Rei!
Com a cabeça ainda de cabeça para baixo entre as pernas, o sr. Quin respondeu modestamente:
– Não sou digno. Não posso razoavelmente pretender me igualar aos grandes homens que já empunharam o cetro da Grã-Bretanha. Talvez a única peculiaridade que posso afirmar é que sou provavelmente o primeiro monarca que expressou sua alma ao povo de Inglaterra com a cabeça e corpo na presente posição. Isto pode dar-me, para citar um poema que escrevi na minha juventude: Um ofício mais nobre na terra
Do que por valor, poder cerebral, ou nascimento
Poderiam dar aos reis guerreiros antigos. Assim, com o intelecto esclarecido por essa postura…
Lambert e Barker foram encima dele.
– Não entende? – gritou Lambert. – Não é uma piada. Eles realmente te escolheram rei. Por Deus! Devem ter gostos extravagantes.
– Os grandes bispos da Idade Média – disse Quin, chutando as pernas no ar, enquanto era arrastado mais ou menos de cabeça para baixo – tinham o hábito de recusar a honra da eleição três vezes e depois aceitá-la. Uma mera questão de detalhes me separa desses grandes homens. Aceitarei o cargo três vezes e recusá-lo depois. Oh! vou trabalhar duro para vocês, meus fiéis! Terão um banquete de humor.
Por então, já havia sido aterrizado de cabeça para cima, e os dois homens ainda estavam tentando em vão impressioná-lo com a gravidade da situação.
– Não me disse, Wilfrid Lambert, que eu teria mais valor público se adotasse uma forma mais popular de humor? E quando uma forma popular de humor deveria ser mais firmemente pregada senão agora, quando me tornei o queridinho de todo um povo? Oficial, – continuou ele, dirigindo-se para o mensageiro assustado – não existem cerimônias para comemorar a minha entrada na cidade?
– Cerimônias – começou o oficial, com constrangimento – foram mais ou menos esquecidas por algum tempo, e…
Auberon Quin começou a gradualmente tirar o casaco.
– Toda cerimônia – disse ele – consiste na inversão do óbvio. Assim, os homens, quando desejam ser padres ou juízes, vestem-se como mulheres. Por favor, me ajude com este casaco – e o segurou.
– Mas, Majestade – disse o oficial, depois de um momento de confusão e manipulação – está colocando-o com as caudas na frente.
– A inversão do óbvio – disse o rei, com calma – é o mais próximo a que podemos chegar de um ritual com nosso imperfeito aparato. Pode continuar.
O resto da tarde e noite foi para Barker e Lambert um pesadelo, que não poderiam apropriadamente compreender ou recordar. O rei, com seu casaco invertido, foi para as ruas que estavam à espera dele, e para o antigo palácio de Kensington, que era a residência real. Enquanto passava pequenos grupos de homens, os grupos se transformou em multidões, e emitiam sons que pareciam estranhos para acolher um autocrata. Barker andou atrás, seu cérebro cambaleando, e, enquanto a multidão crescia mais espessa, os sons se tornaram ainda mais incomuns. E quando alcançou o grande mercado local em frente à igreja, Barker sabia que tinha chegado, embora estivesse bem atrás, porque subiu uma gritaria como nunca antes havia recebido nenhum dos reis da terra.