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ОглавлениеPríncipe Nial, Nave de Combate Deston, Sala de Transporte
Caminhei pelos corredores da nave de combate como se fosse um monstro. Guerreiros experientes desviavam o olhar, incapazes de suportar olhar para a minha pele prateada. Eu duvidava que fosse por minha causa, mas pelo que poderia acontecer com eles. Eu não me importava. Dentro de algumas horas eu estaria na Terra, com a minha noiva nos meus braços. Esta era uma missão que não iria falhar.
Assim que a minha parceira estivesse em segurança, eu encontraria um guerreiro que estivesse disposto a partilhá-la comigo, nomearia um segundo parceiro para protegê-la, depois, pensaria numa forma de reivindicar o meu trono. Enquanto eu caminhava, a raiva se acumulava dentro de mim. O meu pai era um tolo, e eu tinha passado vários anos seguindo cegamente as suas ordens. Agora, estava na hora de tomar o trono dele, até mesmo à força se fosse necessário. As táticas dele na guerra contra a Colmeia eram ineficazes e fracas e eu era a prova disso. Se não fosse pela liderança excepcional da frota de combate por parte do Comandante Deston, nós já estaríamos perdidos.
A sala de transporte estava quase cheia. O Comandante Deston, sua parceira Hannah e o seu segundo, Dare, estavam ao pé da plataforma de transporte. Vi dois guerreiros que eu não reconheci trabalhando na estação de controle, inserindo coordenadas para a minha transferência até o centro de processamento da Terra, onde há alguns dias a minha parceira tinha sido rejeitada. Rejeitada! A minha raiva só aumentava ao pensar na forma como ela foi rejeitada.
Dois guerreiros enormes estavam diante da porta guardando-a. Ao vê-los, eu apercebi-me do quanto o meu primo se arriscava por mim. Nem todos a bordo da nave estavam contentes por saber que um guerreiro contaminado caminhava entre eles, quer ele fosse um príncipe ou não.
— Comandante. — Eu agarrei o antebraço do meu primo numa saudação antiga, incapaz de expressar por palavras o que esta oportunidade significava para mim. Ao enviar-me para a Terra para procurar por minha noiva, ele estava desafiando tanto o meu pai, quanto todo o conselho planetário. Mostrava que ele tinha pouca consideração pelo meu pai e uma enorme confiança no sistema de emparelhamento.
Eu olhei para Hannah, que estava ao seu lado. Tão pequena e tão frágil em comparação com os seus dois parceiros, e, no entanto, era forte e poderosa. Ela era verdadeiramente a mais forte na ligação deles. Eu olhei para os colares combinados que usavam e invejei a ligação deles.
Eu também teria aquela ligação. Em breve. Eu só tinha que chegar à Terra, encontrá-la e trazê-la para casa.
— Faça boa viagem, Nial. — disse Deston. — Assim que te transportarmos, o teu pai certamente fechará as estações de transporte e, muito provavelmente, enviará caçadores de prêmios à tua procura.
— Eu não tenho medo do meu pai.
O Comandante Deston acenou com um respeito profundo que eu antes não tinha visto nele. Eu antes era um garoto mimado. Agora eu o sabia e não tinha vergonha de admitir. Eu era um príncipe mimado que queria brincar nas guerras, mas que não compreendia totalmente o preço dela. Eu já não era aquele homem. Deixei o comandante e curvei-me perante a sua noiva. — Dama Deston.
— Boa sorte. — Ela inclinou-se para frente nas pontas dos pés e deu-me um beijo na bochecha, na minha bochecha esquerda. Aquela atitude convenceu-me ainda mais do que tudo de que uma noiva da Terra era a minha única chance de encontrar uma fêmea que me aceitaria como eu sou agora.
O seu segundo parceiro, Dare, olhou-me e eu invejei aquele brilhozinho prateado nos seus olhos. Ele também tinha sido capturado. Mas sendo o herdeiro do Prime, eles priorizaram-me na Colmeia e começaram o seu trabalho em mim. Dare tinha escapado à tecnologia deles com apenas um pouco de prateado num dos olhos, algo que apenas aqueles que eram próximos a ele sabiam.
Dare estendeu-me o seu braço, e eu tomei-o. — Como vai proteger a tua parceira sem um segundo? — Ele continuou agarrado a mim, mesmo eu já o tendo largado. — Devia escolher um segundo, Nial. Leve-o contigo.
— Eu sou um forasteiro, um contaminado. — Neguei com a cabeça. — Não poderia pedir isso a nenhum guerreiro. Ainda não.
Ainda assim, Dare continuou agarrado a mim. — Pedir o quê? Para proteger e cuidar de uma noiva linda? Para partilhar o corpo dela e fodê-la até ela gritar enquanto goza? — Ele sorriu e viu Hannah corar. — Confia em mim, Nial, ser um segundo parceiro não é nenhum sofrimento.
Eu sabia que o que ele dizia era verdade ao ver a sua – deles, na verdade – cerimônia de emparelhamento na minha mente.
Talvez o que ele dizia fosse verdade, mas eu era um contaminado que estava prestes a infringir as leis Prillon e viajar para um planeta restrito. Eu tinha sido emparelhado com uma noiva que não me conhecia e que, muito provavelmente, sairia correndo e gritando ao avistar pela primeira vez as minhas feições arruinadas. Eu não conseguia pedir a nenhum guerreiro para que se juntasse a mim dadas as circunstâncias.
Sem responder, fiz com que Dare me soltasse e entrei na plataforma de transporte e vi a Dama Deston lançar-me um sorriso malandro, olhando para mim com os seus olhos escuros invulgares. O cabelo negro dela se destacava entre a raça dourada de Prillon Prime como uma estrela na escuridão do espaço. — Você estará nu quando chegar lá, sabia?
— Sim. — Assenti. Sem roupas, sem armas. Sim, eu conhecia o protocolo Prillon, sabia como nossos transportes estavam programados para funcionar. Nenhuma roupa ou armas passariam pelo transporte de longa distância. A espera por uma noiva nua e ávida era um dos eventos mais aguardados em toda a Aliança Interestelar. Eu tinha que me perguntar quanto ao que as pessoas do centro de processamento da Terra pensariam quando vissem um homem nu – não, um homem meio ciborgue nu – aparecer ali.
— Você também é meio metro mais alto do que a maioria dos homens da Terra. Vai se sobressair como um varapau.
— Eu não sei o que significa essa expressão, mas tenho que presumir que serei uma curiosidade somente pela minha altura, e não por isto. — Apontei para a lateral do meu rosto.
Hannah enrugou os lábios e acenou.
— Que assim seja.
Franzi a testa devido ao atraso, e lancei uma olhadela sombria ao guerreiro por trás dos controles para que prosseguisse. O guerreiro nos controles acenou para mim reconhecendo a minha ordem silenciosa.
— Esperem.
Uma voz profunda fez com que todos nós virássemos. Um dos guardas à porta caminhou na minha direção.
O nome dele era Ander e ele tinha sido um dos guerreiros que tinha me resgatado e a Dare da Colmeia. Ele era ainda maior do que eu, com ombros largos e uma cicatriz enorme que atravessava toda a lateral direita do seu rosto. Aquela marca era um sinal da sua ferocidade enquanto guerreiro, era o sinal do preço que ele tinha pago ao lutar pelo nosso regresso.
A minha cor era de um dourado claro, comum entre o nosso povo. A de Ander era mais escura, os olhos dele eram de um tom de aço enferrujado, e o seu cabelo e a sua pele de uma tonalidade mais escura, mais para o castanho e era mais comum nas famílias mais antigas. Eu já o conhecia, mesmo antes do nosso resgate. Ele era bastante temido e respeitado na nave de combate, e era um dos guerreiros de elite do Comandante Deston. Eu devia-lhe a minha vida. E Dare também. A sua presença na sala de transporte mostrava que o comandante e o seu segundo confiavam nele como pertencendo ao círculo mais íntimo e mais fiel de guerreiros, como uma pessoa de confiança.
Olhei-o nos olhos, de forma rigorosa, de um forasteiro marcado para outro. Observei-o, curioso, enquanto ele colocava de lado as suas armas e caminhava para se colocar diante de mim. — Ofereço-me como teu segundo.
Ander era um filho da mãe horrível e muitos anos mais velho do que eu, mas era feroz no campo de batalha. Eu não podia pedir por um guerreiro melhor para me ajudar a encontrar e a proteger a minha noiva. Ele tinha se mostrado leal para comigo, para Dare, e para o comandante durante muitos anos de combate. Eu não o conhecia muito bem, mas sabia o suficiente. Ele era digno de uma noiva. Céus, talvez fosse até mais digno do que eu.
Pensei na cerimônia de acasalamento que tinha servido como base para o meu emparelhamento, pensei naquele que tinha um segundo dominador que tinha fodido o traseiro da sua parceira com uma precisão prazerosa e hábil. Sabendo das necessidades da minha parceira só por aquele sonho, eu sabia que Ander serviria. Ele serviria bastante bem.
Virei-me para o comandante, visto que eu não levaria um dos seus melhores guerreiros sem a sua permissão. O meu antigo eu, o príncipe mimado que pensava que tudo lhe era devido, teria levado o guerreiro e não teria pensado minimamente nas responsabilidades daquele homem para com aqueles que estavam na nave, para com aqueles que estavam sob o seu comando, aqueles a quem ele protegia.
Ander também se virou para o comandante. O comandante estava de pé, com o seu braço em volta da cintura curva da sua parceira, com um raro sorriso no rosto. — Vão. Que os deuses os protejam.
A Dama Deston repousou a sua cabeça no ombro dele, o sorriso dela era genuíno. — Tentem não matar muitos idiotas. E tentem não a matar de susto. — Ela estendeu a sua mão e Dare colocou três colares pretos na palma da sua mão. Ela voltou-se para mim. — Penso que venham a precisar disto.
Neguei com a cabeça. — Temo, minha senhora, que eles não sobrevivam ao transporte. E que também não funcionem bem fora do alcance da nave.
— Oh. Então, eles ficarão aqui para quando vocês voltarem. — A mão dela caiu sobre a de Dare e ela agarrou-se aos seus dois parceiros, claramente triste enquanto nos observava um ao lado do outro no bloco de transporte. — Boa sorte. Vocês vão fazê-la surtar. Tentem ser pacientes.
Acenei enquanto me preparava para a torção dolorosa do transporte de longa distância, com Ander diretamente atrás de mim. Senti o pico de energia fluir pelas minhas células, o que significava que o protocolo de transporte tinha começado. Eu não entendi aquela frase, fazê-la surtar. E também não precisava ser paciente. Essa mulher da Terra, ela era a minha parceira. Nós tínhamos sido emparelhados. Ela ia conhecer a ligação tão bem quanto eu. Ela poderia perguntar-se quanto a Ander, mas eu tinha o escolhido como meu segundo, ela não tinha que me questionar. Eu sou o parceiro dela. Não há motivo algum para desperdiçarmos o nosso tempo cortejando a nossa nova noiva com rostos agradáveis ou palavras mansas.
Eu sou o parceiro dela!
Eu planejava simplesmente tomá-la. E se a minha noiva tivesse medo? E se ela protestasse contra o emparelhamento? Não importaria. Ela é minha e eu não desistirei dela. Eu vou conquistá-la, quer leve uma semana ou um ano, mas ela vai ceder.
Jessica, Terra
Agachei-me no telhado, mirando os policiais da Agência de Combate às Drogas através das longas lentes da câmera que estava escondida na minha mochila. O meu alvo estava sentado sob um guarda-sol, um de entre sete mesas num Café com jardim privado no coração da cidade. Eu estava vestida com a minha roupa de reconhecimento habitual, camisa preta e calça.
Os policiais eram convidados do cartel, a presença deles era a prova da natureza suspeita deles e a prova de que eles faziam parte da gangue. Era a prova de que eu tinha sido incriminada. O local estava fortemente vigiado com capangas rondando o terreno, armados, e mais homens varrendo o telhado a cada hora.
O que significava que eu tinha cerca de quinze minutos para me mandar daqui ou seria apanhada.
Uma mulher ajoelhou-se no cimento entre as pernas de um dos homens, dando-lhe um boquete por debaixo da mesa enquanto ele bebericava whiskey e gozava com o seu amigo. Ele nem sequer parou de falar enquanto a mulher drogada engolia profundamente o pau dele e brincava com as bolas dele. Toda a área estava abarrotada de traficantes de drogas, ladrões e prostitutas que os serviam, as escravas deles.
Eu não tinha certeza de quem era pior, a mulher que morreu devido à overdose de droga inicial por causa da bomba-P ou os sobreviventes obrigados a fazer trabalho escravo para conseguir mais uma dose.
Eu não tinha comido uma refeição completa por dois dias, o meu corpo estava desidratado e o meu estômago estava completamente vazio, excetuando os pacotes de proteína em gel e café. Eu não precisava sobreviver. Eu não tinha casa, nem dinheiro e nem família. Até mesmo o meu parceiro alienígena, o homem perfeito para mim em todo o universo, tinha me rejeitado. Tudo o que me restava era a minha honra e a oportunidade de me certificar de que mais nenhuma mulher fosse raptada e obrigada a se meter em redes de drogas e prostituição. O método de recrutamento desse grupo era injetar mulher cativas com um cocktail de drogas – chamado P, ou bomba-P nas ruas, diminutivo para bomba para putas – concebido para tornar qualquer mulher numa vadia insana. A droga funcionava incrivelmente bem. Depois de uma dose, ou a mulher se tornava numa viciada facilmente controlável ou morria.
A mulher que estava humilhando-se ao engolir o pau daquele homem garganta abaixo estava obviamente chapada.
Observei enquanto um dos tenentes do barão da droga local deslizou um saco cheio de drogas, dinheiro e sabe lá Deus mais o que para as mãos do agente da ACD que estava do outro lado da mesa e que abriu o saco, sorriu e pegou um único comprimido – eu conseguia ver a cor rosa clara do comprimido através das minhas lentes – que estavam na mala. Colocando-a entre o seu polegar e o seu dedo indicador, ele o ofereceu à mulher que chupava o seu pau por debaixo da mesa. Ela colocou-o debaixo da língua. Quase que imediatamente ela enrijeceu, e depois, sorriu numa névoa insana enquanto abaixava a cabeça e redobrava os seus esforços para fazê-lo gozar pela goela dela.
Fiz uma careta e apertei o botão e tirei fotografia atrás de fotografia, tendo o cuidado de não me mexer. Ainda não. Eu só precisava de mais um nome, de mais um rosto. Eu já tinha denunciado três dos melhores chefes de operação do grupo. Uma nota bem colocada e algumas fotos enviadas para alguns policiais honestos era todo o necessário para vê-los atrás das grades. Agora, eu só precisava saber quem nesse grupo comandava na câmara municipal e o meu trabalho estaria concluído. Eu iria derrubar os idiotas que estavam destruindo a minha cidade ou morreria tentando.
Respirando devagar e regularmente, eu nem sequer me contraía, nem um centímetro. Estava calor por debaixo da lona cinzenta que eu utilizava como camuflagem, mas não ousava me mexer. Os reflexos mais ligeiros do sol nas lentes da minha câmera poderiam alertá-los da minha presença. Eu me sentia como se fosse uma atiradora furtiva, mas a minha arma tinha informação, não balas. Pelo menos não por agora. Quando eu estava no exército, o meu equipamento de espingarda M24 SWS era muito mais mortífero.
A minha paciência foi recompensada quando um homem que eu conhecia bem demais finalmente saiu das sombras para se sentar diante dos dois agentes de combate às drogas.
Pisquei três vezes, com dificuldades, para livrar os meus olhos das lágrimas que se acumulavam ali. Eu deveria estar surpresa.
Mas não, e isso dizia-me tudo o que eu precisava saber. Cada pedaço da minha formação como sniper valeu a pena naquele momento. Eu não desmaiei. Mantive a calma, respirei devagar e compassadamente, mesmo enquanto a minha mente corria muito rápido. Merda. Caralho! Aquele idiota de uma figa!
Movendo-me com rapidez, tirei várias fotografias antes de me retirar, guardei o meu equipamento e fui direto para a casa dele. Eu sabia exatamente onde ficava porque já tinha estado lá antes. Várias vezes. Eu armaria uma cilada e o confrontaria, gravando tudo. A cidade precisava saber quem era o idiota que estava por detrás dos homicídios em série mais recentes, mas o mundo nunca acreditaria em mim. Eu era uma criminosa condenada, uma criminosa que ele tinha incriminado. Eu precisava de uma confissão, e precisava que fosse gravada.
Duas horas mais tarde, ele voltou para a sua casa colonial de quatro quartos para dar de cara comigo, à sua espera na sua sala de jantar formal no piso principal; a arma calibre doze que ele tinha comprado há anos num espetáculo de armas estava carregada, o cano repousava sobre a cadeira de jantar de costas altas cor cereja. Eu apontei a arma para o meio do seu peito. Ele sabia que eu era boa nos meus tiros. Eu tinha competido em concursos de tiro durante os meus quatro anos no Exército, ele próprio treinou-me.
— Jess. — Os seus olhos estavam arregalados, totalmente surpreso por me ver. Aquilo só durou um segundo antes de ele avaliar as suas emoções.
— Clyde.
Olhei para o meu antigo mentor sobre o topo da arma e abanei a minha cabeça lentamente, sem nunca tirar os meus olhos dele. Ele era um ex-militar, antigo chefe da polícia e, agora, o novo prefeito da nossa grande cidade. Ele sentou-se, vestido com o seu terno e gravata azul marinhos, parecendo bonito e harmonioso para um homem nos seus cinquenta anos, o exemplo da nossa cidade. Era um herói de guerra, os olhos dele eram definidos por linhas de riso. A covinha no seu queixo dava-lhe o título de solteirão mais cobiçado da cidade.
— Eu pensei que tivesse partido, que estava fora fodendo um alienígena.
Ele teve o descaramento de tirar um cigarro do seu bolso e acendê-lo enquanto eu o observava, o movimento lento do fumo dançava na serenidade do ar que estava entre nós.
— O alien não serviu para você? Veio aqui para uma foda, querida? Mais uma dose de P?
— Não, obrigada.
Ele encolheu os ombros e tragou profundamente o cigarro, exalando anéis de fumo como se não estivesse minimamente preocupado. — Pensei que seria bom da minha parte oferecer. Ouvi dizer que adorou o P da primeira vez que o tomou, pensei que quisesse experimentar outra ronda.
Estremeci. Eu não tinha contado nada a ninguém sobre aquela noite infernal, a noite que passei mais drogada e totalmente fora de mim. Eu tinha me trancado no banheiro encolhida no meu próprio corpo, no chão. Masturbei-me até a minha boceta sangrar, vomitei e vomitei durante horas, cada orgasmo só me oferecia um alívio momentâneo. A tortura tinha durado pelo menos a maior parte da noite e agora eu sabia exatamente de quem era a culpa. O meu dedo contraiu-se devido ao gatilho e ele deve ter notado, porque levantou as mãos no ar sinalizando que estava rendido.
— Calma.
— Eu confiei em você. — Só de pensar em matá-lo me dava uma vontade enorme de vomitar em minhas botas, mas eu o faria. Ele não merecia viver, mas eu precisava que ele confessasse. Só matá-lo não era o suficiente. A minha câmera estava pousada na borda da lareira, gravando tudo o que acontecia naquela sala, cada maldita palavra. — Por que fez isso?
— Fiz o quê? — Ele olhou-me nos olhos, calmo e sem pressa enquanto se movia para se sentar na sua poltrona reclinável favorita, a que costumava ter uma arma secundária enfiada entre a almofada do braço direito e o lugar. A arma agora estava guardada em segurança dentro do meu bolso, mas ele não sabia disso.
— Você sabe, a cilada que armou para mim. Aquela dezena de mulheres inocentes que matou. O negócio que fez com o cartel. Vender a tua cidade.
A mão dele moveu-se para o espaço entre as almofadas e eu sorri ao ver os olhos dele mudarem de vazios para completamente furiosos enquanto ele se apercebia de que a arma tinha desaparecido. Ele suspirou e levantou a mão para cruzar os braços sobre o peito.
— Faça o que quiser, Jess, mas não vai arrancar uma confissão de mim. Eu não fiz nada de errado.
Eu ansiava por matá-lo à queima-roupa, meter-lhe uma bala no peito do tamanho do Texas, mas algo me impediu.
Céus, por vezes ter uma consciência era horrível, não que este homem fosse compreender o que isso significava. Eu tinha matado durante o meu período no Médio Oriente, mas tinha sido obrigada a fazê-lo. Era matar ou morrer. Aquilo era diferente. Mas isto? Isto era homicídio a sangue frio.
Mas, sério, ele merecia morrer.
Olhei pra ele durante meio minuto, pensando nas minhas opções. Matava-o e corria? Amarrava-o e chamava a polícia?
Eles nunca acreditariam em mim. Nunca. Eu era uma vendida, uma policial ex-militar corrupta que tinha sido encontrada com mais de um milhão de dólares no banco, uma pilha de bomba-P na minha casa e com droga na minha corrente sanguínea. Nesta cidade, ele era um deus. Eu era uma criminosa e uma mentirosa. Eu era a ralé.
Ele lançou-me um sorriso arrogante e ver isso deixou-me irritada o suficiente para me levantar e dar um passo adiante. Eu teria de mentir para ele e arriscar irritá-lo o suficiente para que ele se entregasse. Obrigá-lo a confessar. Eu tinha saído do meu esconderijo assim que consegui tirar uma fotografia dele falando com os agentes, mas ele não sabia o que eu tinha visto ou não. — Eu não preciso de uma confissão, Clyde. Eu tenho fotos tuas no Café do boquete com uma prostituta entre as tuas pernas e um saco cheio de dinheiro das drogas na mesa.
— Sua puta. — ele zombou de mim, todas as tentativas de manter a aparência de humanidade tinham desaparecido. — Eu vou te drogar tanto, mas tanto que nem vai saber qual é o teu próprio nome, depois, vou te jogar no meio dos homens. Eles vão se atirar em você como se fossem cães.
Os neuroestimuladores nas minhas têmporas zuniram e eu balancei a minha cabeça para tentar dissipar aquilo. Tinha acontecido de novo, mas desta vez mais alto, um barulho estranho que eu nunca tinha ouvido, como de máquinas falando umas com as outras.
Dei um passo atrás e Clyde levantou-se da sua cadeira, agachando-se para tentar fazer a sua jogada enquanto eu estava distraída.
Merda. Havia algo de errado. Levantei uma mão até a minha têmpora e gemi. Eu tinha que sair daqui. Agora.
Era tarde demais. A dor se alastrou pelas minhas têmporas e eu caí de joelhos. A espingarda caiu no chão e eu curvei-me e queixei-me, lutando para manter-me consciente.
Clyde agarrou a arma e deu um passo na minha direção antes da porta da frente explodir internamente nas suas dobradiças. Três seres gigantescos entraram na sala de Clyde. Eles não eram humanos. Todo o corpo deles era metálico, mas não era duro e espelhado como as ferramentas do meu avô; era suave, como um metal que se move, que flui sobre o corpo deles como se fosse pele, como um tecido vivo. Os olhos deles eram prateados, mas no meio, no lugar onde deviam estar as pupilas, corriam pontos e linhas negros como se fossem padrões numa peça informática. Eles tinham pálpebras, mas não pestanejavam conforme entravam na sala e viam o homem que atirava neles com uma espingarda.
Eles pareciam ter saído de um filme. Os robôs ganharam vida. Aliens. Algo que definitivamente não era humano.
Clyde rebentou com um deles com a espingarda e eu agarrei a minha câmera e me joguei para debaixo da mesa da cozinha, a caminho dos fundos. Minha cabeça palpitava de dor, mas eu sabia que estes homens – ou o que quer que eles fossem – não estavam aqui para uma visita amigável. Se eles queriam Clyde, podiam ficar com ele.
O tiro saltou para fora da armadura deles, sendo completamente projetado para o outro lado da sala. Cerrei os dentes para continuar calada enquanto sentia um pedaço de uma bala cravar na minha perna e outra no meu ombro.
Eu já tinha passado por coisas piores, e em comparação com a dor de cabeça que sentia, aquilo não era nada.
Eu estava me rastejando para fora, para um pátio traseiro quando ouvi Clyde começar a gritar. Passos pesados se moveram na minha direção, a batida das botas metálicas que balançavam o chão de madeira por debaixo dos meus joelhos fazia parecer que um monstro estava vindo me buscar.
Desistindo de tentar me esconder, coloquei-me de pé e corri, a rota de fuga que eu tinha planejado veio a calhar agora, não para fugir do local com a minha gravação, como era o meu plano original, mas para fugir pela minha vida.
Clyde continuou a gritar de agonia, mas eu não voltei atrás. Corri, com uma das criaturas atrás de mim. Não importava quantas vezes eu virasse, quantos atalhos eu percorresse ou em que lugares eu tentasse me esconder. Ele continuava a correr atrás de mim, como se eu tivesse um farol…
Merda. Eu levantei as pontas dos meus dedos até as cicatrizes nas laterais de cada uma das minhas têmporas e amaldiçoei o destino, céus, e também amaldiçoei o príncipe alienígena que me abandonou. Eles tinham mesmo um dispositivo de localização. O certo era isto ser um maldito tradutor de línguas! O som crepitante tinha se dissipado, mas ainda estava presente, e eu percebi que era a língua deles. Tal como a Guardiã Egara me prometeu, quanto mais eu ouvia, mais claras se tornavam as palavras deles. Excetuando o fato de que eles não falavam em voz alta, como as pessoas normais, mas através de algum tipo de frequência de transmissão que os meus novos implantes conseguiam captar. Não era Inglês, mas eu entendia completamente.
— Encontrem a mulher. Temos de levá-la até o núcleo.
— Ela está a aproximadamente vinte metros da nossa posição. Vamos capturá-la em vinte e três ponto cinco segundos.
— O macho humano está morto. Apanhem a fêmea. Temos que sair deste planeta antes que a Aliança rastreie a nossa nave.
— Noventa segundos na nossa posição e velocidade atuais.
— Aumentar velocidade.
— Vamos aumentar a velocidade em quinze por cento.
Pensei rapidamente na Guardiã Egara e sobre as afirmações dela relativamente à perícia linguística do implante. Ela tinha razão. Se eu sobrevivesse a isto, teria de lhe enviar um bilhete agradecendo.
Noventa segundos até que aquela coisa me apanhasse? Eu corri mais rápido do que alguma vez corri na vida, grata pela primeira vez por ter me obrigado a treinar cinco dias na semana, e bati contra um peito enorme. Surpresa, olhei para cima, muito para cima, vi a pele prateada e gritei.