Читать книгу Paciente 807 e suas maldições - Guilherme Campos Cardoso - Страница 7
Capítulo 3 Memórias passadas
ОглавлениеHoje acordei e minha mente estava cansada, parecia que precisava de um descanso e dormir não era umas das opções, então decidi ir até aquela ala vazia do espelho onde poderia ver minhas profundas memórias. Dei alguns passos até o banheiro, até lá sem nenhum problema, olhei fixamente para o espelho e ele deu uma trincada e uma fonte de luz fraca entre os trincos e um apagão acontece.
Acordei dentro de um quarto diferente dos outros, e decidi dar uma olhada, e claro, o lugar estava vazio como anteriormente exceto pela enfermeira, que logo disse:
–Já faz um tempo que você não aparece.
–Estive ocupado durante este tempo, mas agora gostaria de rever algumas memórias.
–Como desejar.
Ela me levou até aquela cadeira assustadora com aquele capacete embutido nela e me fez sinal para sentar, claro, eu obedeci e sentei na cadeira. As primeiras coisas que senti foram os choques fortes que atingiram meu corpo.
Assim minha mente foi para outro lugar.
E assim me vi com nove anos de idade e com meu irmão de doze anos, e meus pais se preparando para nos levarem para o shopping, olhei em volta e vi que nossa casa na época não era grande coisa, mas dava saudades. Com tudo preparado estávamos indo para o carro em direção ao shopping, pois meu irmão mais velho Oliver estava precisando de um par de sapatos novos.
Chegando no shopping fomos direto a loja para comprar logo os sapatos de Oliver. Já na loja comentei:
–Tem algum tênis em mente?
–Não, só quero um que seja funcional.
E então ele disse mais:
–Depois de comprarmos o tênis vamos ao fliperama?
E muito empolgado respondi:
–Claro!
Depois de comprados os sapados, eu e Oliver pedimos permissão para nossos pais para ver se podíamos ir para o fliperama, e por sorte eles deixaram, fomos caminhando tranquilamente e quando chegamos compramos algumas fichas para jogar. Fui jogar um jogo de luta, o Mortal Kombat, e estava me divertindo bastante, mas um valentão decidiu por uma ficha e jogar contra mim e pegar para ele a máquina e, por sorte, ganhei, mas, digo, acho que não foi uma boa ideia na época. Acabei tomando um soco na cara. Tudo ficou preto em minha volta, só escutava as pessoas conversando: tudo indicava que havia um tumulto e meu Oliver me havia me defendido dando ao valentão uma lição. Foi aí que comecei a achar meu irmão meu herói.
Depois da memória vista, a cadeira e o capacete foram retirados do meu corpo e sai de lá para dar mais uma olhada na ala vazia. Dando alguns passos vi que no quadro de avisos havia uma foto com a enfermeira e um aviso “Pessoa desaparecida”. Depois de ler o aviso fui ver mais informações sobre isso e fiquei sabendo sobre um serial killer em sua cidade, parece que tinha uma hipótese que ela havia sido capturada e morta por ele. E para tirar minha curiosidade, fui perguntar a ela.
–Olá, como vai?
–Estou bem, como foi a sessão com a memória?
–Foi boa, mas estou com uma dúvida, você se lembra de como você veio parar aqui?
–Infelizmente não tenho uma resposta para você, só estou encarregada de ajudar aqui, e tenho uma chave para lhe entregar.
Com isso, com a maior calma do mundo, ela me entregou uma chave com a numeração 23, e depois ela me disse:
–Os armários ficam lá no fundo depois do galpão.
Com a informação dada eu segui em frente e fui caminhando até depois do galpão, procurei o armário com a numeração 23 e o abri. Ali estava uma foto minha junto com meu irmão quando eu tinha quinze anos e ele dezoito anos. Caramba Oliver, como sinto sua falta cara.
Depois eu decidi visitar mais uma memória minha, cheguei perto da cadeira e sentei nela e com isso ela me deu uns pequenos choques e um apagão.
Acordei em minha casa com minha mãe, meu pai e meu irmão, estávamos nos preparando para ir a uma festa de meu irmão, eu tinha cerca de quinze anos e ele dezoito anos, como na foto que peguei. Chegando na festa, eu sempre lembro que meu irmão é o oposto de mim, ele é uma pessoa muito extrovertida e sou totalmente ao contrário, sempre odiei festas, mas como essa era importante para ele decidi ir.
Quando já estávamos interagindo com as pessoas, ou bem dizendo, ele interagindo com as pessoas, a festa começou a melhorar, e claro, Oliver começou a beber, mas depois disso fui tentar me socializar na festa. Consegui me dar bem com uma garota, ela era boa de papo gostava das mesmas coisas que eu, como livros e quadrinhos. E ela me convidou para ir em um quarto mais particular e eu, claro, aceitei. Eu estava muito nervoso, pois nunca tinha ficado com uma garota na vida, mas ela tomou partida, porque ela percebeu que eu era tímido, mas comecei a ouvir uns barulhos e vozes. Era meu irmão, ele chegou e entrou no quarto e a primeira coisa que ele fez foi vomitar no chão de tanto beber, mas tive que largar a garota e fazer o trabalho de irmão, cuidar dele. Peguei as chaves do carro que estavam no bolso dele e, detalhe, nem sabia dirigir e até hoje não sei. Fomos até o carro juntos com um balde para ele vomitar. Caramba ele tinha exagerado, estava passando muito mal, e ainda tinha estragado minha noite com a possível garota que talvez pudesse ter ficado comigo. Mas ele é meu irmão o que posso fazer, não devo largar ele, pensava. Então fui dirigindo lentamente até a nossa casa e o levei até a cama e o deitei de lado, e assim um apagão aconteceu e acordei na cadeira na ala vazia.
Caramba, Oliver, você já me fez cada uma, essas memorias estão me ajudando um pouco com caos desse lugar.
Com a visão terminada, a cadeira desacoplou de meu corpo e sai dela, dei alguns passos até a direção do espelho, mas a enfermeira foi em direção a mim e disse:
–Tenho outra chave para o senhor.
E com educação eu respondi:
–Obrigado, vou verificar o armário.
E vi que ela me entregou uma chave com o numero vinte e quatro, não estava gostando nada disso.
Segui em direção até o balcão e prossegui, cheguei até a porta onde ficam os diversos armários, e com isso chegando perto no armário 24, o abri. Havia uma aliança nele, era isso que temia pelo número da chave, achei melhor sair no instante, pois não estava mais com cabeça de ver memórias, principalmente essa que estou presumindo.
Saindo da sala dos armários, segui reto até o corredor e enxerguei o espelho, o olhei fixamente e aconteceu o de sempre, ele trincou, houve um rastro luz e aconteceu o apagão.
Acordei em meu quarto na ala mais forte, fui olhar para fora para ver se tudo estava normal, a primeira coisa que fiz foi olhar as horas e que surpresa, a minha saída não contou nenhum segundo a mais ou a menos, o tempo na ala escondida não conta. Quem sabe possa usar isso ao meu favor para relaxar meus pensamentos.
Depois de tudo voltei ao quarto e percebi alguns barulhos. Decidi olhar para fora, eram os enfermeiros trazendo mais um internado para cá, normal, mas estranhamente o barulho estava chegando perto demais de onde durmo, mas que droga, era um colega de quarto!
Os enfermeiros largaram o paciente no quarto em que fico, ele parecia um pouco agitado porque os enfermeiros tiveram que segurar ele bastante, mas depois de um tempo, ele se acalmou, e se deitou na cama ao lado da minha.
E depois de um tempo ele se sentou na cama e me disse:
–Qual o seu motivo de estar aqui colega?
–Depressão.
–E você?
–Sou viciado em morfina.
–Agora quero dormir, amanhã conversamos mais, e a propósito, qual seu nome?
–É Joe, e o seu?
–Dexter, muito prazer em te conhecer, mas agora vou ir dormir, boa noite.
–O prazer é meu, cara, boa noite.
E com isso terminamos a conversa, e claro, a insônia me atacou outra vez, quando será que vou conseguir dormir aqui? Já perdi as contas das noites que passei neste lugar.