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Prólogo

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Kassiani Dukas estava imóvel no sofá branco da sala, a tentar tornar-se invisível enquanto o pai, Kristopher Dukas, passeava de um lado para o outro com as mãos atrás das costas. Estava furioso e a última coisa que queria era que essa fúria se virasse contra ela.

As coisas tinham corrido mal. Elexis fora-se embora. A irmã mais velha devia casar-se com Damen Alexopoulos no dia seguinte, mas Elexis desaparecera durante a noite. Escapulira-se da vila do noivo na Riviera ateniense, onde se alojavam também o pai e ela, para viajar para Atenas com os amigos, mais do que dispostos a afastá-la de um casamento que ela nunca quisera.

E, agora, o pai estava prestes a dar a notícia ao magnata grego poderoso, um homem brilhante, ambicioso e perigoso quando era traído.

E acabara de ser traído.

A porta abriu-se nesse momento e Damen Alexopoulos entrou na sala, deixando Kassiani com falta de ar. Vira-o antes, em São Francisco, durante a festa de noivado com Elexis, mas não falara com ele porque só estivera lá meia hora, a cumprimentar uns e outros, antes de voltar para a Grécia.

Tinha uns olhos cinzentos penetrantes, umas feições marcadas e uns lábios firmes e carnudos que a fascinavam. Era mais alto do que recordava e os seus ombros pareciam mais largos. Moreno, atlético, com umas pernas compridas e poderosas…

Kass nunca entendera porque é que Elexis não achava aquele exemplar fabuloso de homem atraente, mas a irmã preferia os modelos e atores jovens que a adulavam, esperando beneficiar do seu dinheiro e da sua notoriedade.

– Disseram-me que querias ver-me – disse Damen, num tom profundo e rouco que causou um arrepio a Kassiani.

– Bom-dia, Damen – cumprimentou o pai, tentando mostrar-se despreocupado. – Está uma manhã bonita, não está?

– Linda, mas tive de interromper uma reunião importante para vir aqui porque me disseram que era algo muito urgente – replicou ele, num tom impaciente.

– Muito urgente? – repetiu o pai, tentando sorrir. – Não, eu não diria isso. Lamento muito que te tenhas preocupado.

– Não estava preocupado – apressou-se a dizer Damen. – Mas, já que estou aqui, porque me chamaste?

Kassiani encolheu-se contra o sofá, como se tentasse tornar-se invisível. Não era fácil porque era uma rapariga grande, rechonchuda, de curvas marcadas, seios grandes e um rabo generoso que, ultimamente, se usava muito quando se tinha uma cintura estreita. Mas a sua cintura não era particularmente estreita, a barriga não era plana e as suas coxas tocavam-se. Ao contrário da irmã mais velha e fotogénica, não tinha uma conta no Instagram nem publicava selfies porque não ficava bem nas fotografias.

Não fazia parte dos círculos da alta sociedade, não viajava de avião privado nem ia a festas em Las Vegas, nas Caraíbas ou no Mediterrâneo.

Se o seu apelido não fosse Dukas, teria sido uma rapariga normal. Se o pai não fosse um dos gregos mais ricos dos Estados Unidos, ninguém repararia nela.

Seria invisível.

Com o passar dos anos, Kass começara a desejar ser realmente invisível, pois sê-lo era melhor do que ser visível e digna de compaixão. Visível e desdenhada. Visível e rejeitada. E não só por celebridades e membros frívolos da alta sociedade, como pela sua própria família.

O pai nunca mostrara o menor interesse por ela. Só se interessava pelo seu filho e herdeiro, Barnabas, e pela linda Elexis, que o apaixonara desde que nascera com os seus olhos castanhos grandes e as suas birras simpáticas.

Kass nunca fora simpática. Para a sua família, era uma menina silenciosa, esquiva e impossivelmente teimosa que se recusava a conversar com os convidados importantes do pai. Não queria cantar ou tocar piano. Em vez disso, Kass queria falar de política e economia. Desde pequena, sentira-se fascinada pela economia e fazia previsões sobre o futuro da indústria naval que horrorizavam o pai. Pouco importava que lesse melhor do que qualquer criança da sua idade ou que fosse a melhor da escola a matemática. As boas raparigas gregas não pensavam em assuntos de interesse nacional, política ou economia. As boas raparigas gregas casavam-se com homens gregos para criar a geração seguinte. Essa era a sua responsabilidade, esse era o seu valor, mais nada.

Kassiani deixara de ser incluída nas festas familiares. Não a convidavam para jantares ou eventos. Transformara-se na filha esquecida.

– Agradeço-te por teres vindo imediatamente – estava a dizer o pai. – Lamento ter-te incomodado, mas temos um problema.

O pai de Kassiani era um armador como Damen, mas greco-americano, nascido e criado em São Francisco. Sabia que estava nervoso, mas a sua voz não o traiu. Antes pelo contrário, parecia positivo e otimista.

E Kass alegrava-se por isso. As pessoas não deviam trair os seus medos nas negociações e a fusão da Naval Dukas com o empório Alexopoulos graças ao casamento de Damen e Elexis era uma transação comercial. Uma transação que, nesse momento, estava em perigo.

O pai não podia devolver o dinheiro que Damen investira na Naval Dukas, que estava à beira da ruína devido a uma má gestão. A empresa teria ido à falência sem uma injeção de dinheiro e Damen fora esse investidor. Mantivera o seu compromisso, mas, agora, Kristopher tinha de lhe dizer que os Dukas não iam cumprir a sua parte do acordo.

Kass olhou pela janela da vila. O sol refletia-se nas águas brilhantes do mar Egeu, de uma cor turquesa vibrante, mais claras do que as águas turvas do Oceano Pacífico.

– Não sei se entendo – disse Damen, então. O seu tom era amistoso, mas Kass sabia que aquilo era apenas o prelúdio da batalha.

Os pugilistas chocam as luvas antes de começar o combate e os jogadores de futebol apertam as mãos.

Damen e o pai estavam a cruzar as espadas.

Kass olhou para ambos. Damen não parecia um magnata. Era demasiado atlético, demasiado imponente. Tinha a pele bronzeada e o aspeto de um homem que trabalhava no cais, não à frente de uma secretária. Contudo, era o seu perfil que mais chamava a atenção. Eram essas feições esculpidas, tão severas como tudo nele: A testa larga, as maçãs do rosto altas, a cana do nariz, que parecia ter sido partido mais de uma vez.

Era um lutador, pensou, e não aceitaria bem a notícia que o pai estava prestes a dar-lhe.

– Temos um problema. A Elexis foi-se embora – anunciou Kristopher, então. – Espero que volte em breve, mas…

– Não temos um problema, tu tens um problema – interrompeu Damen.

– Eu sei – assentiu o pai –, mas pensei que deveríamos avisar os convidados enquanto temos tempo.

– Não vamos cancelar o casamento. Não haverá promessas falhadas nem humilhação pública. Está claro?

– Mas…

– Prometeste-me a tua melhor filha há cinco anos e espero que cumpras o prometido.

«A tua melhor filha.»

Kassiani mordeu o lábio inferior para conter a dor e a humilhação.

Então, viu que Damen olhava para ela com uma expressão séria e com as pestanas pretas espessas a emoldurar uns olhos intensos de cor cinzento-escura. Não sabia o que pensava, mas esse olhar breve intensificou a sua dor.

Ela não era «a melhor filha» e nunca seria.

Damen virou-se para o seu pai, esboçando um sorriso desdenhoso.

– Vemo-nos amanhã na igreja – disse. – Com a minha noiva.

E, depois, saiu da sala.

A noiva substituta

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