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Capítulo 2

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Damen levou-a até à cozinha por uma escada de serviço e, de lá, saíram para o jardim. Abriram caminho entre as árvores frutíferas, atravessaram a horta e passaram por baixo de um arco de pedra para seguir um caminho que levava ao cais, onde esperava uma lancha.

O piloto ofereceu-lhe a mão, mas Damen adiantou-se, pegando nela ao colo. Quando a deixou no chão da lancha, Kass balançou sobre os saltos altos e sentou-se o mais depressa que pôde. Damen sentou-se à frente dela e o piloto pôs o barco a trabalhar a toda a velocidade para se afastar da vila. Kassiani agarrou-se à beira do banco com uma mão, tentando controlar o véu pesado com a outra enquanto olhava para a propriedade, e para o copo-d’água, que deixavam para trás.

A vila era grande, uma das mais antigas da zona na costa ateniense. Fora construída à frente do Egeu e o arquiteto certificara-se de que todas as divisões tinham vista para o mar cor de turquesa e para o templo de Poseidon na colina.

Dali, conseguia ver as luzes suaves e douradas no jardim, as lâmpadas às cores penduradas nas árvores e os candelabros que iluminavam dúzias de mesas. Dali, o copo-d’água parecia mágico e Kassiani sentiu uma pontada de tristeza. Aquele não era o casamento que os convidados esperavam.

Tentou imaginar a reação deles quando descobrissem que os noivos tinham desaparecido. Ficariam para jantar quando soubessem que os noivos se tinham ido embora? Talvez ficassem para desfrutar do copo-d’água esplêndido. Alguns, alegrar-se-iam por não haver brinde e, outros, aqueles que gostassem de Damen, sentir-se-iam confusos e preocupados.

O casamento fora um desastre.

Como é que Damen lhe chamara? Uma farsa?

De repente, Kass sentiu-se culpada e angustiada. Aquilo era uma loucura. E, agora iam-se embora, mas não sabia para onde. Quando o cabo começou a desaparecer da sua vista, o piloto diminuiu a velocidade da lancha para se aproximar de um iate enorme. Havia vários membros da tripulação à espera deles numa plataforma, a segurar uma escada.

– Tira os sapatos – aconselhou Damen. – Será melhor não subires a escada com esses saltos. Quanto medem?

– Não sei, são muito altos – admitiu ela, tirando os sapatos que lhe tinham magoado os pés durante toda a tarde.

Damen pegou nela ao colo para a pôr na plataforma.

– Consegues subir a escada com esse vestido? – perguntou.

– Que outra coisa posso fazer, tirá-lo?

– Não – respondeu ele.

– Então, consigo subir a escada com o vestido.

Quando chegou ao topo, ajudada pelos membros da tripulação, deixou escapar um suspiro de alívio. Um empregado acompanhou-a ao interior, levando-a por várias escadas e corredores. As paredes eram de teca brilhante e os móveis, elegantes e discretos. Não tinha nada a ver com o iate do pai, que fora construído para a sua esposa. Infelizmente, Kristopher Dukas nunca entendera o gosto da sua mãe, de modo que o iate era exageradamente feminino, com paredes cremes, superfícies douradas, estofos florais e colunas horrendas por todo o lado para que o interior parecesse um templo grego. Kassiani achava-o estridente e feio e odiava que a obrigassem a participar nos cruzeiros que faziam pelo Mediterrâneo, prendendo-os a todos numa cela flutuante.

Susteve a respiração quando o empregado que a acompanhava parou à frente de uma porta. Não sabia se era o quarto principal ou um camarote para convidados, mas teve a certeza assim que pôs um pé no quarto. Tinha de ser o quarto principal porque era enorme, com uma parede de vidro e uma coberta privada de onde conseguia ver o templo de Poseidon, com as suas colunas majestosas e brilhantes como o ouro. As ruínas antigas eram impressionantes e Kass saiu para a coberta para as admirar, mas as luzes de uma vila do outro lado da baía competiam pela sua atenção.

A vila de Damen, onde o copo-d’água tinha lugar.

Talvez o seu sangue grego reconhecesse que voltara a casa porque, de repente, levou uma mão ao peito, embargada pela emoção.

– Arrependes-te? – perguntou Damen, atrás dela.

Kassiani virou-se, tentando esboçar um sorriso.

– E tu? Arrependes-te? Não sou a mulher que tu querias.

– Não – respondeu ele, sem hesitar.

– Entendo que te sintas dececionado. A Elexis é muito bela.

– Parece-se com a tua mãe.

– E eu pareço-me com o meu pai.

– Não escolhi a Elexis pela sua beleza.

Kassiani esboçou um sorriso. Não acreditava.

– Em qualquer caso, suponho que já nada disso importe, pois não?

Olhou para o Cabo Sunião, brilhante e dourado, com o templo famoso de mármore construído no ano 440 a.C. Era incrível que ainda permanecesse de pé.

– Imagino que tenhas fome.

– Tenho aspeto de quem passa fome? – brincou Kassiani

Observou-a em silêncio por um instante.

– Vou pedir que te tragam uma bandeja.

– Não vais comer nada?

– Tenho de tratar de uns assuntos.

Era a sua noite de núpcias, mas não queria jantar com ela. Não devia incomodá-la. Era a substituta por obrigação e ele era o noivo humilhado. Não devia surpreender-se por querer manter a distância.

– Nesse caso, muito obrigada. Posso comer aqui fora?

– Sim, claro. Vou pedir que preparem uma mesa.

Kass ia agradecer, mas Damen já se virara e viu-o a desaparecer com um nó na garganta.

Aquilo não seria fácil.

O escritório de Damen, na coberta do segundo andar, era semelhante ao seu quarto, com uma parede de vidro, outra parede com estantes cheias de livros, obras de arte de tamanho grande aqui e acolá e uma secretária enorme virada para o mar.

Desejava o mar. Só de olhar para o mar e para o horizonte, conseguia relaxar e respirar à vontade.

Comeu alguma coisa enquanto estudava o acordo que havia no ecrã do seu computador. Um acordo de há três anos, embora a discussão sobre a fusão com Dukas tivesse começado há cinco anos, quando Elexis ainda estava na universidade. Foi Kristopher que propôs esse casamento combinado, sugerindo uma fusão que os transformaria num empório poderoso que controlaria rotas de navegação por todo o mundo.

Damen sentira-se intrigado, mas não o suficiente porque conhecia a reputação de Kristopher Dukas, que costumava fazer acordos demasiado apressados e ambiciosos.

Ele também era ambicioso, mas geria o seu negócio com integridade. No entanto, dois anos depois, quando soubera que Kristopher estava a oferecer a filha a outro armador grego, viajara para São Francisco para discutir um casamento que poderia ser benéfico para os dois.

Damen não sentia nada por Elexis, que mal conhecia. Era apenas um meio para obter um fim. E, no entanto, quando finalmente a conhecera, pensara que, para além de ser uma boa esposa e a mãe dos seus herdeiros, poderia ser um ativo valioso para ele. As pessoas sentiam-se atraídas por Elexis e isso seria muito útil para entreter os clientes.

Poderia dedicar-se ao aspeto social e, desse modo, ele poderia concentrar-se nos negócios.

O amor nunca fizera parte do acordo porque Damen não amava. Precisava de certas pessoas na sua vida para conseguir coisas. Respeitava as pessoas que trabalhavam para ele, mas não tolerava fraquezas. Quanto mais benéfico alguém fosse, mais o valorizava. Era simples.

Era frio e não tinha sentimentos, mas nunca se desculparia por ser pragmático e estratégico.

Isso levara-o dos olivais de Quios até ao leme da Naval Egeu, que se transformara na Naval Alexopoulos quando o idoso senhor Koumantaras morreu. A família não gostara, mas Damen não tinha remorsos. Os filhos de Koumantaras não queriam trabalhar no negócio familiar. A única coisa que queriam era viver dos lucros. Porque haveriam de se importar se a empresa mudasse de nome?

Algum dia, a Naval Dukas também perderia o seu nome e faria parte da poderosa Naval Alexopoulos.

Damen fechou o computador para olhar para o céu escuro pela janela.

As luzes do templo de Poseidon apagar-se-iam à meia-noite, mas eram apenas dez horas e continuavam acesas.

Damen tamborilou com os dedos no braço da cadeira, tentando acalmar o seu mau humor. Detestava que Kristopher Dukas tivesse brincado com ele. Demorara muitos anos a aprender a controlar o seu mau feitio e a sua raiva, mas, naquele dia, estavam a pô-lo à prova. Naquele dia, queria dar rédea solta à sua cólera.

Pensou em Kassiani no quarto principal e fechou os olhos, abanando a cabeça.

Devia dormir num camarote para convidados. Longe dele para que pudesse esquecê-la.

Contudo, estava no seu quarto, à espera que voltasse.

Sentiu um nó no estômago.

Não a desejava. Não queria ofendê-la, mas não a desejava. Não era a noiva que lhe fora prometida. Kristopher prometera-lhe a sua melhor filha e ele acreditara que cumpriria a sua palavra. Fora por isso que investira na Naval Dukas, na edificação de portos na Costa Oeste e na construção de novos barcos, sabendo que esse investimento estabilizaria ambos os negócios no futuro.

Mas o casamento seria anulado.

E, portanto, o acordo não seria válido.

Já enviara uma mensagem de correio eletrónico ao seu advogado para que começasse o processo de dissolução da sociedade. Agora, só tinha de devolver Kassiani ao pai e encarregar-se da papelada legal.

Quando acabou de jantar, Kassiani voltou ao interior do quarto principal luxuoso. Damen teria de voltar em algum momento. E, então, estariam sozinhos.

Ali, no quarto.

Tinha de encontrar confiança em si própria para ir para a cama com ele porque, se o casamento não fosse consumado, Damen anulá-lo-ia e os Dukas perderiam tudo.

Ela não era a filha favorita, mas era leal à família e queria proteger a empresa do pai. Aceitara casar-se com Damen para que a Naval Dukas não fosse destruída por processos legais intermináveis. E Damen poderia destruí-los. Os processos de restituição deixariam a empresa na ruína.

Como o pai dissera naquela manhã, não podia devolver o dinheiro a Damen. O casamento devia acontecer e o casamento devia ser consumado.

E isso significava que devia seduzir Damen naquela noite.

Embora não fosse fácil. Não só porque era virgem, mas porque não tinha experiência. Só a tinham beijado uma vez, um beijo trôpego tão húmido e desagradável que não quisera voltar a beijar ninguém.

Comparado com esse assédio violento, o beijo na capela fora… emocionante. Quando Damen lhe levantara o queixo para a beijar, Kass sentira um formigueiro de antecipação. Os seus lábios eram firmes e frescos e, no entanto, sentira um arrepio.

Tremia quando se afastara e dera por si a desejar que o beijo durasse mais.

Talvez, assim, tivesse sido capaz de processar os seus pensamentos e todas essas sensações desconhecidas.

Gostava de dados, de análises. A informação era de grande ajuda e precisava de mais informação.

Como ia seduzir Damen quando não sabia nada sobre o assunto? É claro, sabia como era o corpo de um homem porque estudara anatomia. Além disso, a Internet estava cheia de fotografias e filmes.

Sabia que os homens gostavam que uma mulher fizesse um striptease e dançasse para eles. Aparentemente, isso excitava-os. E também gostavam de ter as mulheres de joelhos, obedientes e dispostas a agradá-los.

Kass tentou imaginar-se de joelhos à frente de Damen, com as mãos nas suas coxas e a mexer os dedos para o fecho das suas calças…

Essa imagem causou-lhe uma corrente de sensações desconhecidas: Arrepiou-lhe a pele, os seios incharam e sentiu um formigueiro entre as coxas. Estava nervosa e excitada ao mesmo tempo.

O seu mundo estava de pernas para o ar.

Fora para Atenas há cinco dias, esperando ir ao casamento da irmã, mas, no dia da cerimónia, o pai acordara-a muito cedo para lhe dizer que devia substituir Elexis e casar-se com Damen Alexopoulos.

E ela, desesperada por conseguir a aprovação do pai, fizera-o. Agora, em vez de voltar a São Francisco, tinha de ficar na Grécia e ser a esposa de Damen Alexopoulos, um desconhecido.

Kassiani olhou-se ao espelho. Continuava a usar o vestido de noiva de Elexis e as costuras estavam prestes a rebentar. Mesmo usando o espartilho, o vestido era demasiado apertado.

Nunca sonhara com o dia do seu casamento, mas, se o tivesse feito, não teria escolhido um vestido que a fazia parecer mais voluptuosa e gorda.

Não, teria escolhido algo simples, uma túnica de cetim com um ombro a descoberto para disfarçar o seu busto amplo. Sem camadas de tecido, sem esse decote e sem pedraria.

Kassiani passou os dedos pelas suas curvas. Os seus seios eram mais do que voluptuosos. Sempre odiara as ancas largas, as coxas e a barriga arredondada, como se praticasse a dança do ventre com frequência em vez de passar horas a correr na passadeira, a passear ou a fazer exercício para se parecer com a irmã e a mãe.

Porém, nunca seria magra. O seu aspeto era o que era e, mesmo que o marido estivesse dececionado, tinha de lhe demonstrar que tencionava ser uma boa esposa, que era capaz de o ser.

Encontraria uma forma de o satisfazer.

Mas como?

E se não conseguisse excitá-lo?

Kass tirou o telemóvel da mala e, enquanto tentava tirar o vestido, a faixa e o espartilho, procurou: «Como excitar os homens». Encontrou várias páginas que ofereciam conselhos sobre como agradar a um homem na cama. Desde doze zonas erógenas que não deveriam ser ignoradas ao artigo mais prático e útil: «Cinco truques para o melhor sexo oral da tua vida».

Nua, dirigiu-se para a casa de banho e, com cuidado para não molhar o cabelo, ainda apanhado por cima da cabeça num coque elaborado, tentou livrar-se das marcas do espartilho, que não pareciam dispostas a desaparecer, por muito que esfregasse.

Depois de tomar banho, vestiu um robe branco que pendia da porta, sentou-se na beira da banheira e começou a ler tudo o que pôde sobre como agradar a um homem.

Continuava a ler quando ouviu uma pancadinha na porta da casa banho e se levantou com um salto para abrir, fechando o robe com uma mão.

– Vesti o teu robe, espero que não te importes. Não trouxe roupa.

Damen assentiu com a cabeça.

– Kassiani… isto não vai funcionar. Pedirei a um empregado para te trazer alguma roupa e, depois, vou levar-te de volta à vila de Sunião.

Ela engoliu em seco.

– Estás assim tão dececionado?

– Não, não é isso.

– Então, porque me mandas embora sem me dar uma oportunidade?

– Porque estava noivo da Elexis, não de ti.

– Mas a Elexis foi-se embora e eu estou aqui.

– As irmãs Dukas não são intercambiáveis!

– Porque não sou bonita como ela?

– Porque não és dura como ela. – Damen pronunciou essas palavras com tal ferocidade que Kass ficou espantada. – Queria uma esposa que não sentisse nada, uma mulher que não pudesse magoar. Não te conheço bem, Petra Kassiani, mas o instinto diz-me que sentes profundamente.

Kass sentiu que lhe ardia a cara de vergonha porque tinha razão. Sentia profundamente, mas odiava esse aspeto da sua personalidade, pois ela preferia o intelecto às emoções.

– Entendo o tipo de casamento que queres. Não espero romance, flores, poesias…

– Nem ternura, amabilidade e paciência?

– Não acho que sejas capaz disso.

– Sou – garanto-te.

– Ias casar-te com a Elexis para salvar a Naval Dukas.

– Ia casar-me com a Elexis para desmantelar a Naval Dukas.

Kass olhou para ele com os olhos esbugalhados.

– Não acredito.

– Se ficares, se te tornares a minha esposa e o acordo se mantiver, não haverá Naval Dukas dentro de cinco anos. Fará parte da Naval Alexopoulos.

Olhou para ele, cética, mas receosa.

– Essa é a tua forma de dizer que devo voltar para ao pé do meu pai?

– Eu não sou nada para ti, Kassiani. E tu não és nada para mim.

– Casei-me contigo. És o meu marido.

– Mas não me conheces. Não me deves lealdade.

– Prometi cuidar de ti e ser uma boa esposa e tenciono cumprir essa promessa.

– Mesmo que queira destruir o negócio do teu pai?

Demorou uns segundos a responder:

– Desde o começo, isto era uma fusão entre duas famílias e dois negócios. O mais poderoso ganha sempre nas fusões e tu és o sócio mais forte, portanto, a mudança era inevitável.

Suspirando, Damen virou-se para sair para a coberta e Kass viu-o a passar uma mão pela cara várias vezes. Estava a lutar consigo próprio, pensou.

Não sabia contra o que lutava, mas fosse o que fosse, estava do seu lado. Tinha de ser assim porque se tinham casado e queria uma nova vida. Uma vida diferente.

Queria ser uma Alexopoulos, não uma Dukas, mas, se não tivesse cuidado, ele devolvê-la-ia a terra, ao seu pai, e isso era a última coisa que queria fazer.

Decidida, Kass saiu para a coberta. As nuvens escondiam a lua e não conseguia ver o rosto de Damen, mas os seus ombros estavam rígidos e, mesmo de costas, parecia inalcançável.

– Damen…

– Volta para dentro, Kassiani. Não consigo pensar com clareza se estiveres ao meu lado.

– Talvez isso seja bom.

– Não, não é.

Começara a refrescar e o vento mexia o seu cabelo e as lapelas do robe.

– Por favor, dá-me uma oportunidade.

– Não supliques, Kassiani.

– Dá-me uma oportunidade, é só isso que peço.

– Porquê?

– Quero outra vida, uma vida afastada da minha família.

– Comigo, não terás uma família feliz.

– Não estou a pedir um conto de fadas. Não sou bonita nem popular como a minha irmã e sair com homens é um pesadelo para mim. Sei que ias casar-te com a minha irmã porque queres ter herdeiros. Evidentemente, ela não está disposta a ser mãe, mas eu estou. Dá-me uma oportunidade para te demonstrar que posso ser uma boa esposa, que posso agradar-te. Se não puder, se não tiveres interesse, apesar dos meus esforços, então, voltarei para casa. Mas não posso aceitar uma rejeição antes de ter tido a oportunidade de demonstrar a mim própria…

– O teu pai manipulou-me – interrompeu ele.

– Mas conseguiste o que querias: O acordo, os portos, os barcos, tudo menos a Elexis. Se não a amas, porque não posso ser a substituta? Porque não posso ser a mãe dos teus filhos? É porque não sou bonita?

– Não é isso.

– Não acredito, mas tanto faz. Sei como sou e…

– Para! – Damen segurou-lhe o braço. – Isto é uma loucura, Kassiani. Eu nunca estaria com uma mulher contra a sua vontade e viste-te forçada a aceitar este casamento para salvar o pescoço do teu pai.

– Este casamento salva-me – corrigiu ela, num tom emocionado. – Odeio viver na casa de Nob Hill. Nunca foi o meu lugar e sei muito bem o que a minha família pensa de mim. Sou a feia, a que os envergonha e a que decidiram deixar para trás. Casar-me contigo permite-me fugir de tudo isso, Damen. Ofereces-me uma nova vida, um futuro.

– Serias mais feliz sem mim.

Kass hesitou, com um nó na garganta.

– Sei que não é fácil olhar para mim…

– Pelo amor de Deus, não digas essas coisas! Tu não és a tua irmã, mas não és feia. – Damen soltou-a e deixou cair as mãos. – Não voltes a dizer isso porque é mentira e tu és demasiado inteligente para pensar assim.

– Podes fazer amor comigo?

– Kassiani…

– Nem sequer consegues imaginá-lo?

– Essa não é a questão.

– Mas é. Se for capaz de te agradar e demonstrar que consigo ser uma boa esposa, talvez este casamento tenha futuro – insistiu ela, levantando o queixo num ar de desafio. – Sei que gostas de fazer acordos, Damen. Porque não fazes este acordo comigo?

– É um acordo horrível.

– Porque, se perderes, estarás preso?

– Não, porque se tu perderes, passarás todo o dia a chorar e eu vou sentir-me como… qual é a palavra na tua língua? Um monstro? Uma besta?

– Um idiota.

– Um idiota – repetiu ele.

– Mas não vou chorar e não terás de te sentir como um idiota se me deres uma oportunidade. Sei que não me desejas, mas a história está repleta de casamentos por conveniência e muitos deles acabaram por ser relações benéficas para ambas as pessoas. Porque não pode ser assim para nós?

– E como saberemos quem ganhou?

– Se consumarmos o casamento esta noite, eu ganho. Se não o fizermos, ganhas e voltarei para casa com o meu pai.

Damen deixou escapar um suspiro enquanto passava uma mão pelo cabelo.

– Tens um plano, querida?

– É verdade – confirmou Kass. – Vou seduzir-te.

A noiva substituta

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