Читать книгу Magia, Caos & Assassinato - January Bain - Страница 9
ОглавлениеCapítulo Um
A coisa mais bonita que podemos experimentar é o mistério. É a fonte de toda a verdadeira arte e ciência. — Albert Einstein
Treze anos atrás
— Ela vai nos deixar ficar? — Os olhos de Tulipa se arregalaram, seu nariz e bochechas vermelhos por causa do vento congelante. Minha trigêmea estremeceu, limpando o nariz que escorria na parte de trás de sua luva vermelha. Endireitei a gola de sua jaqueta desgastada e enfiei o cachecol fino ao redor do pescoço dela. A neve estava caindo com mais força agora, já preenchendo as marcas que nós três fizemos andando do poste de luz da rua até a porta da frente, o aviso ainda soando na minha cabeça. “Não bata até você ter contado até cem se sabe o que é bom para você.” Doze, treze, catorze…
— Eu não tenho certeza, mas se formos realmente boas, talvez ela deixe. Pelo menos por esta noite — interrompi minha contagem para respondê-la.
— É, então não fique respondendo como você fez com a mamãe — disse Estrela, olhando acusadoramente.
— Eu nunca fiz isso! — O lábio inferior de Tulipa começou a tremer.
— Silêncio, ninguém tem culpa — eu disse. Se ela começasse a chorar, eu não sabia quanto tempo eu poderia me se segurar. Minha garganta tinha um caroço do tamanho de uma bola de beisebol. Trinta e um, trinta e dois, trinta e três.
Estrela fez uma careta, mas não disse nada, embora apenas depois de eu lhe dar meu olhar mais sério de irmã mais velha. Eu nasci um minuto antes da meia-noite, fazendo de mim a irmã mais velha por um dia inteiro. Não que os aniversários fossem celebrados, embora já tivéssemos oito anos. Mamãe disse que já dávamos trabalho demais em um dia normal. De jeito nenhum ela faria uma festa de dois dias para um trio de pirralhas.
Puxei o saco de papel que tinha todas as nossas posses para mais perto do meu peito, pensando no único livro precioso e a meia-caixa de Pop-Tarts que mamãe havia colocado para a nossa ceia. Talvez a vovó teria uma torradeira ou um fogão para aquecê-los? Ou talvez ela possa ter um pouco de suco, ou refrigerante? Minha garganta estava seca. Até mesmo água teria um gosto bom.
Estrela bateu os pés para continuar quente, seus sapatos cor de rosa deixando um padrão intrincado das solas enquanto ela amassava a neve. Seu cachecol tinha sincelos se formando de sua respiração quente batendo no ar gelado, e suas bochechas brilhavam vermelhas. Nenhuma queimadura — não ainda de qualquer maneira. Mas o vento estava ficando mais forte, soprando cristais de gelo do telhado nas nossas cabeças nuas.
Sessenta e seis, sessenta e sete. Olhei através do campo aberto entre a casa da vovó e a casa ao lado, visualizando lobos saindo das sempre-vivas da grossa floresta e circulando a cidade. Fomos deixadas do lado de fora em um dos dias mais frios do ano. Menos quarenta e sete graus, de acordo com o homem barulhento no rádio em nossa velha van. Eu vi o nome da cidade na placa de boas-vindas que levava até ela. Lago Nevado, população 1259. Eu tinha orgulho de ser a primeira a aprender a ler, a primeira a fazer a maioria das coisas. Então eu poderia ajudar minhas irmãzinhas, quando eles me deixassem.
Oitenta e nove, noventa. Eu estava tremendo agora, mal conseguia evitar chutar a porta com o meu pé. Mas uma promessa é uma promessa. Se a mamãe voltasse e me visse fazendo errado, levaria um tapa com certeza. Você sabe que ela não vai voltar, certo? uma pequena voz dentro de mim falou, fazendo minhas lágrimas aparecerem. Não! Nunca diga isso. Os tempos tinham sido difíceis, mas bem no fundo, mamãe nos amava. Ela vai voltar. Um dia. Quando as coisas estiverem melhores para ela, ela voltará. Ela prometeu. E se eu mantivesse minha promessa solene de cuidar das minhas irmãs, então tudo ficaria bem. Tinha que ficar.
— Certo, não vamos esquecer quem somos. As incríveis McCall. Certo, está na hora.
Assim que cheguei no cem a luz da varanda acendeu, um farol na escuridão, um holofote em nós três encolhidas no escuro.
— Pelo amor de Deus, o que vocês três estão fazendo do lado de fora esperando na neve?
Eu falei, segurando o pedaço de papel sujo com a tinta ligeiramente manchada: — Vovó Toogood, minha mamãe disse para lhe dar isso.
Se ela ficou surpresa comigo a chamando de vovó, ela não demonstrou. Ela pegou o papel e leu com uma expressão intensa. Eu a observei enquanto ela lia. Cachos escuros brilhavam em torno de um rosto suave. Ela estava usando um bom par de calças azuis com uma blusa combinando sobre um corpo magro, sem manchas ou buracos. Ela deve ser rica. Ela era mais baixa que a mamãe também. Quando ela olhou para Estrela, Tulipa e eu, a expressão em seus olhos azuis era gentil, como se ela tivesse certeza de alguma coisa. Gostei dela imediatamente. Eu queria muito que ela gostasse de mim também. Então, talvez ela se sentisse obrigada a ajudar minhas irmãs.
— Bem, vamos levar vocês para dentro então — ela disse, redobrando e enfiando a carta no bolso de suas calças.
Esperei até que minhas irmãs tivessem passado pela porta antes de olhar de volta para a floresta. A matilha de lobos havia desaparecido.