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XIV SAUDADE

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Tu és o cálix;

Eu, o orvalho!

Se me não vales,

Eu o que valho?


Eu se em ti caio

E me acolheste

Torno-me um raio

De luz celeste!


Tu és o collo

Onde me embalo,

E acho consolo,

Mimo e regalo:


A folha curva

Que se aljofara,

Não d'agoa turva,

Mas d'agoa clara!


Quando me passa

Essa existencia,

Que é toda graça,

Toda innocencia,


Além da raia

D'este horizonte—

Sem uma faia,

Sem uma fonte;


O passarinho

Não se consome

Mais no seu ninho

De frio e fome,


Se ella se ausenta,

A boa amiga,

Ah! que o sustenta

E que o abriga!


Sinto umas magoas

Que se confundem

Com as que as agoas

Do mar infundem!


E quem um dia

Passou os mares

É que avalia

Esses pezares!


Só quem lá anda

Sem achar onde

Sequer expanda

A dôr que esconde;


Longe do berço,

Morrendo á mingoa,

Paiz diverso...

Diversa lingoa...


Esse é que sabe

O meu tormento,

Mal se me acabe

Aquelle alento!


Ah, nuvem branca

Ah, nuvem d'oiro!

Ninguem me estanca

Amargo choro;


E assim que passes

Mesmo de largo...

Vê n'estas faces

Se ha pranto amargo.


Tu és o norte

Que me desvias

De ir dar á morte

Todos os dias;


A larga fita

Que d'alto monte

Cerca e limita

O horizonte!


Tu és a praia

Que eu sollicito!

Tu és a raia

D'este infinito!


Se ha uma gruta

Onde me esconda

Á força bruta

Que traz a onda;


Á força immensa

D'esta corrente

D'alma que pensa,

Alma que sente;


Se ha uma véla,

Se ha uma aragem,

Se ha uma estrella,

N'esta viagem...


É quem eu amo,

A quem adoro!

E por quem chamo!

E por quem choro!

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