Читать книгу Uma paixão sem igual - Kate Hewitt - Страница 5
Capítulo 1
Оглавление– Já aí vem!
Mia James sentiu um nó no estômago enquanto corria para se sentar atrás da sua secretária com os ombros para trás e o queixo erguido.
– Está no elevador…
Os números que havia em cima das portas prateadas brilharam um atrás do outro. Dois… e três…
Pelo canto do olho, Mia observou como os seus colegas da Investimentos Dillard faziam o mesmo que ela, correndo para as secretárias e sentando-se, muito erguidos. Eram como adolescentes à espera da inspeção do diretor. Um diretor particularmente rígido e até desumano… Alessandro Costa, conhecido pela sua crueldade, era um multimilionário que começara do zero e que, desde o dia anterior, era o novo diretor-geral da Investimentos Dillard.
Alessandro Costa comprara a empresa através de uma manobra calculada e inteligente que deixara todos os empregados chocados, incluindo o chefe de Mia e, até então, diretor-geral, Henry Dillard. O pobre Henry estava completamente devastado e envelhecera dez anos numa questão de minutos ao perceber que não podia evitar que a Costa International ficasse com o controlo das ações. Tudo acontecera antes de ele ter tempo de se aperceber do que se passava.
Quatro… e cinco… as portas do elevador abriram-se e Mia susteve a respiração quando o novo diretor-geral da Investimentos Dillard as atravessou. Vira as suas fotografias na Internet quando fizera uma busca exaustiva na noite anterior ao confirmar a notícia. O que vira não a tranquilizara.
Alessandro Costa era especialista em opas hostis, depois das quais despojava as empresas dos seus ativos e dos seus empregados e absorvia-as na sua corporação gigantesca, a Costa International.
Mia tentou não estabelecer contacto visual com Alessandro Costa, mas apercebeu-se de que não conseguia parar de olhar para ele. As fotografias da Internet não lhe faziam justiça. Não comunicavam a energia intensa que tinha, como se um campo de força o rodeasse.
Tinha o cabelo curto e tão preto como a noite e emoldurava um rosto cheio de linhas duras, desde o queixo até ao nariz e às sobrancelhas escuras por cima dos olhos cinzentos e frios como o aço. O seu corpo, alto e poderosamente atlético, estava tapado por um fato de seda cinzento-escuro feito à medida. A gravata prateada condizia com a cor dos olhos. Mia pensou num laser ou numa espada… algo poderoso e letal. Uma arma.
Alessandro entrou no andar cheio de secretárias com passo firme e decidido, olhando para tudo com os seus olhos de falcão. Dava a sensação de que até o ar tremia. Alessandro Costa era incrivelmente intimidante.
Mia sabia que o seu emprego estava praticamente condenado, mas estava decidida a fazer tudo para o manter. Trabalhava na Investimentos Dillard desde os dezanove anos, quando saíra de um curso de gestão e tecnologia, emocionada e feliz por poder ser finalmente independente.
Durante toda a infância, estivera sob o controlo do seu pai autoritário, fazendo o que ele mandava e dançando ao seu ritmo. A mãe sempre se mostrara servil e obediente com ele e Mia jurara que conseguiria a sua liberdade assim que pudesse e que nunca cometeria o mesmo erro que a mãe, casando-se com um homem encantador e, ao mesmo tempo, controlador… Nem sequer se casaria.
Alessandro Costa parou no meio do andar com os pés afastados e as mãos nas ancas. Parecia um imperador a fiscalizar os seus domínios.
– Quem é a Mia James? – perguntou, com um sotaque italiano leve.
Mia sentiu que todos os olhares da sala se viravam para ela de repente. Como se fosse uma menina na escola, levantou a mão e esperou que a sua voz fosse forte.
– Eu. – Pareceu-lhe estridente, até agressiva.
Alessandro Costa semicerrou ainda mais os olhos enquanto a observava e cerrou os dentes.
– Venha comigo – disse, entrando no escritório de Henry Dillard, o único espaço privado do andar. Tratava-se de uma divisão elegante com painéis de madeira e poltronas de couro, quadros bonitos a óleo e cortinas pesadas. Parecia um clube de cavalheiros ou o escritório de uma mansão elegante.
Costa dirigiu-se para a secretária enorme de mogno por trás da qual Henry se sentava sempre enquanto Mia o ouvia a ditar as notas. Era um homem criado à antiga a quem custara informatizar a empresa. Sentiu uma pontada ao pensar que tudo aquilo acabara. Henry fora para a sua fazenda de Surrey e não sabia se voltaria a vê-lo. E tudo por causa deste homem.
Alessandro Costa estava atrás da secretária antiga de Henry com as mãos na superfície lisa e a olhar para ela com olhos magnéticos. Todo o seu corpo irradiava uma energia impossível de conter. Era um homem pronto para a ação e Mia ficou tensa.
– Preciso de ti – afirmou Costa.
E absurdamente, aquelas palavras fizeram com que o seu coração acelerasse. Não o dizia daquele modo, é claro que não, mas talvez significasse que poderia manter o seu emprego.
– Ah… sim?
– Sim, pelo menos, por enquanto. – Costa esticou as costas e observou-a com frieza. – Há quanto tempo eras a secretária do Dillard?
– Há sete anos.
– Entendo. E, segundo parece, o Dillard era um pouco antiquado. E muitos dos seus clientes também, é claro.
– O que me faz perguntar porque comprou a empresa – replicou ela.
Costa levantou as sobrancelhas sem desviar o olhar dela e algo ganhou vida em Mia. Algo que, certamente, não ia reconhecer.
– É, não é? – comentou ele. – Por sorte, não tens de te preocupar com isso.
E aquilo pô-la firmemente no seu lugar.
– Muito bem. – Não desviou o olhar do seu olhar de aço, embora lhe custasse. Cada vez que olhava para ele, sentia que algo se acendia nela de um modo de que não gostava.
Aquele homem era muito intenso e assustador, mas também havia algo que a atraía, algo na sua energia selvagem e na sua concentração incrível.
– Então, porque precisa de mim? – perguntou, decidindo que ter uma conversa profissional era o melhor que podia fazer.
– Preciso dos teus conhecimentos sobre os clientes do Henry para poder lidar com eles adequadamente. Portanto, enquanto fores útil…
Aquilo foi uma ameaça velada ou talvez fosse apenas uma declaração de factos.
– E quando não for útil? – perguntou, embora não soubesse se queria saber a resposta.
– Então, vais-te embora – respondeu Costa, com brusquidão. – Não fico com empregados inúteis. É uma má prática para o negócio.
– E o resto da equipa?
– Isso também não te diz respeito.
Ena! O homem não se importava de ser brusco, mas Mia não percebeu crueldade nas suas palavras, só uma declaração dos factos crus. E poderia agradecer-lhe, mesmo que não gostasse do que ouvia.
Em qualquer caso, enfrentar Alessandro Costa sem necessidade era o caminho mais rápido para a demissão e ela queria manter o seu emprego. Precisava dele. Era a única coisa que tinha.
– Muito bem. – Mia esticou as costas e ergueu o queixo, decidida a mostrar-se tão profissional como ele. – O que quer que faça?
Algo brilhou nos olhos cinzentos de Alessandro, algo que quase parecia aprovação e que lhe causou uma onda de prazer traiçoeira que lhe percorreu todo o corpo, da cabeça aos pés.
– Quero os relatórios dos clientes principais do Dillard com notas sobre as suas peculiaridades, hábitos, tendências e qualquer outra informação pertinente dentro de uma hora.
– Está bem. – Mia pensou que seria capaz de o fazer, mesmo que fosse um prazo pequeno.
– Muito bem. – Sem dizer mais nada, Alessandro Costa saiu do escritório e fechou a porta atrás dele.
Mia deixou escapar um suspiro e sentou-se na cadeira à frente da secretária. Tremiam-lhe as pernas. Agora que se fora embora, sentia-se consciente de quanta energia Costa lhe arrebatara. Estava fisicamente cansada.
E também… afetada. A personalidade forte daquele homem era apenas uma parte do seu carisma intenso. Mia levantou-se. Tinha de demonstrar a Alessandro Costa que era útil. Essencial, até. Porque não estava pronta para enfrentar a alternativa.
Saiu do antigo escritório de Henry e sentou-se à sua secretária, que era do lado de fora. As pessoas que tinham estado à espera da chegada de Costa dispersaram e estavam todas nas suas secretárias, a fingir que trabalhavam.
Mas ela tinha de se concentrar. Tinha um trabalho para fazer.
A Investimentos Dillard era ainda mais caótica do que imaginara. Depois de uma manhã de reuniões com os empregados e depois de fiscalizar o estado da empresa, Alessandro Costa só podia sentir desprezo por Henry Dillard, um homem cujo exterior afável escondia uma fraqueza terrível… uma fraqueza que causara a perda inevitável da sua empresa, dos ativos dos seus clientes e do bem-estar dos seus empregados. Alessandro alegrava-se por ter posto fim à sua inépcia disfarçada de benevolência.
Ao recusar-se a estar à altura dos tempos que corriam e procurar novas oportunidades e investimentos, Henry Dillard levara a empresa e a carteira de clientes à bancarrota. Se Alessandro não tivesse comprado a empresa, teria sido comprada por outro. Mas era melhor que fosse ele. Aquele era o seu âmbito de competência e a missão da sua vida: Comprar empresas fracassadas ou corruptas e transformá-las em algo útil ou desmantelá-las por completo.
Teria de despedir, pelo menos, um terço dos empregados que conhecera naquele dia. Tentava sempre transferir as pessoas para outros empregos dentro da sua carteira de empresas, mas a maioria dos empregados que conhecera naquele dia não merecia essa oportunidade. A secretária de Dillard, Mia James, era uma exceção, no entanto…
Para sua tristeza, Alessandro sentira-se intrigado por ela. Era bonita à sua maneira, inglesa e aborrecida: Cabelo loiro e liso, olhos azuis, alta e de compleição atlética, sem curvas que chamassem a atenção. Competente em todos os sentidos e, certamente, não se tratava do tipo de mulher que, normalmente, despertaria o seu interesse sexual.
E, no entanto, intrigava-o. Não gostava que isso acontecesse e muito menos com uma secretária que, certamente, mudaria o mais depressa possível, porque gostava de trabalhar sozinho. Só sabia viver a sua vida na solidão. Aprendera na infância e continuara assim na idade adulta. Pensava que nunca mudaria. Nunca.
Mia James estava à espera no escritório de Dillard quando entrou uma hora mais tarde. Alessandro era sempre pontual e mantinha a sua palavra.
– E então? – perguntou. – Tem os relatórios?
Ela levantara-se quando Alessandro entrou e reparou, contrariado, nas suas pernas compridas e esbeltas, tapadas por meias pretas, nos pés calçados com sapatos pretos de salto raso. Usava uma saia preta, um casaco e uma blusa branca. Tinha o cabelo loiro e comprido apanhado com um gancho. Não conseguia encontrar problemas e, no entanto, sentia-se incomodado. Até irritado com o seu interesse nela e a sua presença.
Não gostava que as pessoas o afetassem. Ele não trabalhava as emoções e, certamente, não agia de acordo com elas. A sua infância perturbadora era a prova do poder das emoções e do seu perigo e, por isso, Alessandro precisava de ter o controlo. Sempre.
– Tenho tudo aqui – disse Mia, num tom firme e calmo. – Relatórios pessoais e informação relevante dos dez clientes mais importantes do Dillard.
– E como determinaste quem são os mais importantes? – perguntou Alessandro, num tom seco.
Olhou para ele com os seus olhos azuis. Não parecia afetada com o tom.
– São os maiores investidores e os que estão há mais tempo com o Dillard.
Não mordeu o anzol da sua irritabilidade, mais um ponto a seu favor. No entanto, zangou-o ainda mais.
Alessandro sentou-se atrás da secretária e fez-lhe um gesto com a mão para que se aproximasse.
– Mostra-me.
Mia hesitou durante um instante quase impercetível. Depois, agarrou na pilha de pastas e aproximou-se da secretária, pondo-as à frente dele e abrindo a primeira.
– James Davis, um milionário que criou a sua própria empresa para gerir os seus interesses financeiros. Dinheiro herdado. Generoso até ao extremo. Amável e de tratamento fácil, mas com pouca sensatez. Falando com clareza: Não se importa de seguir o caminho que lhe indicarem.
Alessandro ficou em silêncio, impressionado com o facto de Mia ter conseguido resumir o cliente tão depressa e com tanta clareza. Dera-lhe a informação relevante, sem coisas desnecessárias, tal como queria. Poucas pessoas o impressionavam, mas Mia James fizera-o. Em mais de um sentido.
Olhou para a folha de cima que detalhava os investimentos do homem, mas os números desapareceram à frente dele quando inalou o cheiro de Mia James, suave e cítrico. Estava muito perto dele, com os seios à altura do seu olhar. Não é que estivesse a olhar, mas reparou como a camisa de algodão bem engomada destacava a sua figura esbelta.
Mas em que estava a pensar?
Incomodado consigo próprio e com os seus pensamentos errantes, Alessandro virou as páginas, reparando em todos os detalhes com mais concentração do que a habitual.
– Está a operar com perdas – observou, depois de um instante.
– Sim. – Outro instante leve de hesitação. – Muitos dos clientes do Dillard estão a fazê-lo, dada a situação financeira atual. Mas o senhor Dillard esperava que as coisas melhorassem nos próximos dezoito meses.
Quando ele já estivesse reformado e não tivesse de se preocupar com os mercados nem com a forma como afetavam os seus clientes. Alessandro falara ao telefone com Henry Dillard no dia anterior, quando o negócio se finalizara. Tentava tratar sempre os seus adversários com dignidade, sobretudo, quando ganhava. E ganhava sempre.
Dillard estava furioso porque fora vencido por alguém que considerava socialmente inferior… e deixara-o muito claro. Alessandro não o tivera em conta, era frequente quando escolhia empresas geridas por homens como Henry Dillard, homens ricos e fracos. Quase sentia pena do homem, não era corrupto como os outros executivos que Alessandro conhecera, era apenas um inepto. Destruíra a empresa familiar, sem se importar com as necessidades dos seus clientes e, agora, zangava-se porque alguém que ele considerava que não a merecia a conseguira de forma justa. Alessandro não sentia respeito por pessoas assim. Lidara com muitas na sua vida, primeiro, quando era criança e não tinha poder e, depois, já adulto.
– Dezoito meses é uma vida no mercado de valores – disse a Mia. – O Henry Dillard devia ter sabido isso. – Virou-se para olhar para ela e levantou a cabeça para ver os seus olhos azuis. Quando os seus olhares se encontraram, algo ecoou no seu interior, como um sino gigantesco. Sentiu como reverberava por todo o seu corpo e pareceu-lhe que Mia sentia o mesmo, a julgar pelo modo como as pupilas se dilataram e pela forma como humedeceu os lábios com a língua.
– Senta-te! – ordenou.
A surpresa apareceu brevemente nos olhos de Mia antes de obedecer em silêncio e de se sentar à frente dele com a secretária no meio. Assim, estava melhor. Agora, não se distrairia.
Não o permitiria.
– O seguinte, por favor – pediu.
E Mia mostrou-lhe o resto dos clientes, todos eles com dinheiro de família e com uma visão antiquada dos investimentos, da riqueza, do risco e de tudo. A Investimentos Dillard era uma instituição que dormira à sombra da bananeira durante demasiado tempo… E fora exatamente por isso que Alessandro a comprara.
Quando acabou os relatórios, olhou para Mia, que continuava sentada com as costas muito direitas, os tornozelos cruzados e uma expressão serena. Parecia uma duquesa. Aquilo incomodou-o, como tudo o resto relacionado com ela, e era uma reação que sabia que era absurda. No entanto, ali estava. Além disso, preferia sentir-se incomodado do que afetado. O que também acontecia. Infelizmente.
– Obrigado por isto – agradeceu, finalmente, num tom irritado.
– Precisa de mais alguma coisa?
– Conheces bem aos clientes do Dillard?
Uma nuvem de surpresa atravessou a expressão plácida do seu rosto como o vento na água e, depois, Mia encolheu suavemente os ombros.
– Bastante bem, suponho.
– Interages com eles com frequência?
– Quando visitam o escritório, sim. Converso com eles, ofereço-lhes café, esse tipo de coisas. – Mia fez uma pausa e estudou-lhe o rosto, como se procurasse alguma pista do que queria dela. – Também organizava todos os anos a festa de verão para os clientes e as suas famílias, que se celebrava na fazenda do senhor Dillard em Surrey. Depois de sete anos, posso dizer que conheço muitos deles bastante bem.
Alessandro não duvidava, o que tornava Mia James insubstituível… por enquanto. Poderia ajudá-lo a conhecer os clientes de Dillard e, assim, poderia tomar uma decisão mais informada sobre o que fazer.
– Precisa de mais alguma coisa? – perguntou Mia, enquanto ele continuava a observá-la fixamente.
– Sim – afirmou Alessandro, ao mesmo tempo que uma ideia cristalizava no seu interior. – Que venha comigo a uma gala de beneficência esta noite.