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Capítulo 2

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Mia ficou a olhar para a expressão decidida de Alessandro. Observou os seus olhos de aço e o seu olhar concentrado e tentou entender o que acabara de ouvir.

– Desculpe? – perguntou, finalmente, desejando que os nervos não se notassem.

Fazia o possível para se mostrar como a secretária impávida e perfeita, mas, naquele momento, parecia que era apenas uma fachada fraca.

– A uma gala de beneficência no Ritz – esclareceu Alessandro, num tom impaciente. – Muitos dos clientes do Dillard estarão lá. Vou garantir-lhes que os seus investimentos estão a salvo. E tu virás comigo.

Portanto, tratava-se de uma ordem e uma que não podia permitir-se desobedecer. No entanto, a mente de Mia não parava de dar voltas. Nunca fora a um evento tão importante, e além disso, como o faria? Como sua secretária? Como sua acompanhante?

Não, é claro que não. Devia estar louca para ter pensado nisso e, no entanto, o modo como ele dissera «comigo» parecera…

Possessivo. Como se estivesse a marcá-la a fogo com as suas palavras.

Porém, é claro, não fora isso que quisera dizer. A perspetiva horrorizava-a e, sem dúvida, a ele, ainda mais.

Mas porque precisava dela num evento assim?

– Não sei se… – começou a dizer. E parou porque não sabia bem o que queria dizer. Que não tinha o costume de ir a esse tipo de eventos? Que ia sentir-se deslocada? Sem dúvida, mas a última coisa que queria era admitir a sua fraqueza. Parecia que Alessandro Costa estava à espera que lhe desse uma boa razão para a despedir e estava decidida a não lhe facilitar as coisas.

– Não sabes se…? – repetiu ele num tom como se estivesse a desafiá-la.

Mia ergueu o queixo.

– Quando é a gala?

Um sorriso apareceu nos lábios de Alessandro e ela ficou paralisada. O homem já era arrebatador, mas que o céu a ajudasse quando sorria. Os olhos transformaram-se em prata e Mia derreteu-se por dentro. Engoliu em seco e voltou a erguer o queixo.

– Às sete.

A mente de Mia começou a trabalhar depressa. Sem dúvida, tratava-se de um evento em que a roupa formal era necessária e o seu único conjunto adequado era um vestido de coquetel básico, preto e bastante insípido. Tinha-o no seu apartamento de Wimbledon e demoraria quase uma hora a chegar lá e, depois, teria de voltar…

– O que se passa? – perguntou Alessandro, que já parecia, sem dúvida, irritado. – Porque parece que isto é impossível, quando posso garantir-te que não é?

– Por nada – apressou-se a dizer Mia. – Estarei pronta às sete.

– Um quarto para as sete – corrigiu ele. – Em ponto. Gosto de ser pontual.

Mia regressou à secretária e não foi capaz de se concentrar. Embora também não tivesse muito para fazer. Estava no limbo, tal como todos os outros, à espera que Alessandro Costa decidisse como gerir a sua última aquisição e se, no dia seguinte, continuariam a ter trabalho.

Uns minutos depois de ter saído do escritório dele, Alessandro também saiu sem sequer olhar para ela. Quando entrou no elevador, Mia tentou não reparar em como o tecido caro do fato se ajustava aos ombros ou como o cabelo preto brilhava como o azeviche à luz. De facto, pensou, aquele era um bom momento para voltar ao seu apartamento e ir buscar o vestido.

O coração acelerava dentro do peito quando pegou na mala e saiu, com medo de encontrar Alessandro e ter de lidar com a sua raiva. Era hora de almoço e tinha um motivo para deixar o escritório, mas o seu emprego estava na corda bamba.

Uma hora e meia mais tarde, Mia estava a correr para o elevador, com falta de ar e com o vestido e os sapatos apertados contra o peito num saco. E quando as portas se abriram, entrou… e encontrou Alessandro Costa.

Ficou com falta de ar e teria chocado contra ele se Alessandro não lhe tivesse posto as mãos nos ombros para a estabilizar. Durante um segundo, a sua proximidade embriagou-a. O poder e o calor de Alessandro surgiam do seu corpo em ondas. A mente toldou-se e, depois, ficou em branco. Pôs as palmas das mãos no seu peito musculado e abriu os dedos instintivamente, como se quisesse sentir mais o corpo dele. Não conseguia pensar em alguma coisa para dizer. Nem sequer conseguia mexer-se, só tinha consciência do seu corpo poderoso e duro perto do dela. Se balançasse ligeiramente as ancas, tocaria nele.

Então, Alessandro soltou-a e recuou com os dentes cerrados enquanto lhe lançava um olhar depreciativo.

– Onde estiveste?

– Lamento muito, procurava-me?

– Queria os relatórios dos clientes menos importantes do Dillard. Achavas que me conformaria apenas com os dez primeiros? – Foi cortante, até para ele. Tinha o corpo dormente por causa da tensão que mal conseguia conter.

– Lamento muito, saí para almoçar.

– Durante hora e meia?

Mia abanou a cabeça e sentiu que o pescoço e a cara coravam. Receara exatamente aquele cenário e, agora, era uma realidade com que não sabia como lidar. Alessandro continuava a estar muito perto e, cada vez que Mia respirava, inalava o cheiro da sua loção pós-barba e sentia o seu calor.

– Não, é claro que não. – Esticou as costas e tentou agarrar-se aos últimos farrapos de compostura que lhe restavam. Conseguia fazer isso. Tinha de o fazer. – Já que pergunta, fui ao meu apartamento buscar um vestido para usar esta noite. Mas já vou preparar os outros relatórios.

Alessandro ficou a olhar para ela durante um instante angustiante, antes de assentir brevemente com a cabeça.

– Muito bem. Quero os relatórios dos outros clientes dentro de uma hora.

Mia não tinha a menor dúvida de que estaria a contar o tempo ao segundo. Uma vez de volta à sua secretária, pendurou o vestido na porta e foi a correr buscar os relatórios. Seria difícil ter tudo pronto numa hora, mas demonstraria a Alessandro que era capaz de o fazer.

Conseguiu reunir tudo com dedos ágeis e mente desperta e apontar as notas relevantes. Entrou no escritório de Henry, agora o de Alessandro, um minuto antes da hora. Alessandro consultou o seu relógio quando Mia atravessou as portas e, depois, esboçou um dos seus sorrisos ténues durante um segundo.

– Impressionante – disse, depois de um instante. Parecia admirado, embora contrariado. – Não pensei que conseguisses fazê-lo numa hora.

– Subestima-me, senhor Costa.

Alessandro ficou a olhar para ela e Mia sentiu que todo o seu corpo começava a bulir.

– Talvez – murmurou, esticando o braço para que lhe entregasse os relatórios.

Mia passou-lhos e, depois, examinou-os com ele, sentada do outro lado da secretária.

– Precisa de mais alguma coisa? – perguntou, depois de examinarem os relatórios todos.

– Sim – afirmou Alessandro, com secura. – Mostra-me o teu vestido.

Mia abriu a boca e, depois, fechou-a de repente.

– O meu… vestido?

– Sim, o teu vestido. Quero certificar-me de que é adequado. Vais ser a minha acompanhante e o teu aspeto é importante.

– A sua acompanhante… – A mente de Mia começou a dar voltas. Sem dúvida, não estaria a sugerir…

– Vamos juntos – esclareceu ele, para destacar a impossibilidade absoluta do que ela podia estar a pensar. – Deves estar adequadamente vestida. E, agora, mostra-me o vestido.

Mia levantou-se sem dizer nada. Não sabia o que Alessandro Costa considerava «adequado», mas dava-lhe a impressão de que o seu vestido de coquetel comprado nos saldos não estaria à altura. A menos que quisesse que fosse discreta, até invisível, como Henry Dillard desejara. Como Mia estava habituada a ser desde criança, deslizando entre as sombras sem atrair a atenção sobre si própria para não causar a raiva do pai. E a verdade era que não sabia se seria capaz de ser de outra forma.

Foi buscar o vestido e mostrou-lho ao voltar ao escritório.

– Servirá? – perguntou, incapaz de evitar um tremor leve na voz. O patrão nunca antes fiscalizara o seu vestuário e não gostava.

– Tencionas usar «isso»? – Alessandro parecia escandalizado e completamente depreciativo. – Queres que te confundam com uma das empregadas?

Mia ergueu o queixo.

– É apropriado.

– É horrível. Não podes usar isso – declarou Alessandro, categoricamente.

– Não tenho mais nada – reconheceu ela. – Portanto, se quiser que vá…

– Então, vou certificar-me de que usas outra coisa – murmurou Alessandro, tirando o telemóvel do bolso. – Não vou entrar de braço dado contigo como se fosses uma Cinderela vestida com farrapos.

– Então, vais ser a minha fada madrinha? – perguntou Mia, com acidez, tratando-o por tu sem se aperceber.

Os olhos de Alessandro brilharam como prata líquida e esboçou um sorriso.

– Ena, é a primeira vez que alguém me chama assim – disse, sorrindo um pouco mais.

Mia obrigou-se a desviar o olhar.

Alessandro afastou-se um pouco dela enquanto falava ao telefone e pedia uma estilista pessoal que aparecesse imediatamente no escritório. O seu braço direito, Luca, começou imediatamente a trabalhar nisso.

Alessandro desligou e virou-se para Mia, tentando não reparar em como o peito lhe subia e lhe descia com cada respiração agitada. Estava claro que não gostava que ele decidisse o que tinha de usar, embora devesse agradecer por ter vetado a sua escolha. O vestido preto tinha um aspeto barato e aborrecido.

– Não vejo porque tenho de usar um vestido elegante, sou uma secretária – disse ela, fazendo claramente um esforço para moderar o tom. – Nem entendo porque tenho de ir a essa gala…

– Tens de ir porque haverá muitos clientes do Dillard lá – respondeu Alessandro. – E tu conhece-los melhor do que eu. Preciso dos teus conhecimentos nesta matéria e preciso que uses um vestido adequado para a ocasião. Portanto, peço-te que escolhas algo de que gostes da seleção que a estilista vai trazer. Até chegar, podes voltar ao trabalho.

Mil assentiu brevemente com a cabeça, virou-se e saiu do escritório, fechando a porta com uma firmeza que quase podia considerar-se força. Aquilo zangou Alessandro, mas, ao mesmo tempo, achou graça. Normalmente, não gostava que as pessoas se opusessem a ele, odiava qualquer sinal de falta de respeito ou de desobediência. E, no entanto, embora a rebeldia de Mia o incomodasse, aquela faísca de desafio… também o acendia de certo modo.

Aquela certeza fê-lo sentir-se incomodado. Sentia-se atraído por ela, reconheceu, contrariado, e aquilo era algo que, sem dúvida, podia e devia controlar. Não havia espaço para a atração no local de trabalho e o autocontrolo sempre fora o seu credo pessoal, o seu modo de viver. O que o fizera manter-se no topo.

Nunca seria como a mãe, cuja vida fora atirada pelas ondas dos desejos de outras pessoas. A sua pobreza material e mental fizera com que fosse constantemente vulnerável e procurasse o amor em relações instáveis e superficiais.

Alessandro nunca seria assim… nunca estaria à mercê de outra pessoa, mesmo que sentisse desejo.

E, no entanto, tinha consciência daquela atração e também de que a vontade de ver Mia vestida com uma roupa apropriada não era tão profissional como a fizera acreditar.

Tal como ela indicara, como secretária de Dillard, podia perfeitamente ir com um vestido simples. Mas ele não queria ver Mia com um saco do lixo.

Alguns minutos mais tarde, Luca enviou-lhe uma mensagem dizendo que a estilista chegara e Alessandro levantou-se para ir buscar Mia. Estava à sua secretária e, quando ele se aproximou por trás e olhou para o ecrã do seu portátil, uma onda de descontentamento atravessou-o.

– Estás a trabalhar no teu currículo?

Incomodada, mexeu-se na cadeira e esbugalhou os olhos, alarmada, ao vê-lo a olhar para o ecrã, mas, quando falou, fê-lo num tom sereno.

– Para quando já não for «útil».

– Esse momento ainda não chegou. – Alessandro tocou no rato com um movimento brusco para fechar o documento sem guardar as mudanças. Mia cerrou os dentes, mas não protestou. – A estilista chegou. Podes usar o meu escritório.

Os olhos de Mia mostravam fúria e Alessandro questionou-se o que a teria incomodado: Que rejeitasse o vestido, que encomendasse outro ou os seus modos, que eram mais autocráticos do que o habitual porque lhe parecia a melhor defesa contra aquela atração irritante e inconveniente que bulia sob a superfície.

Não queria fazer as coisas daquela forma. Nunca. As relações não estavam no seu campo de visão e o sexo era apenas uma urgência física que precisava de saciar como qualquer outra. Então, porque se sentia daquele modo tão estranho com Mia James?

Mas controlá-lo-ia. Não se deixaria levar. O trabalho era demasiado importante para o pôr em perigo por um instante de satisfação, mesmo que fosse com alguém tão cativante como a mulher que tinha à sua frente.

– Vens? – perguntou, tenso.

Ela assentiu, levantou-se da cadeira com elegância inconsciente e seguiu-o com passo firme. A estilista chegou alguns minutos mais tarde com uma coleção de cabides tapados por plásticos e com um assistente atrás que carregava vários sacos e caixas. Alessandro fiscalizou como lhe mostravam tudo e, depois, decidiu deixar Mia sozinha.

– Avisa-me depois de escolheres – pediu.

Ela arqueou uma das suas sobrancelhas douradas.

– Para que aproves?

– É claro. – Aquele era o sentido de tudo aquilo, não era? Mas Alessandro decidiu moderar a sua resposta em benefício de Mia. – Obrigado por tratares deste assunto.

Mia cerrou os dentes.

– Como se tivesse escolha…

Alessandro franziu o sobrolho.

– Estou a oferecer-te um vestido. O que tem de questionável?

– Não é por causa do vestido e sabes – queixou-se ela. – É a tua atitude.

Alessandro assentiu.

– Sim, tenho consciência disso – admitiu, com secura. – Portanto, pelo menos, estamos de acordo em alguma coisa.

Durante as horas seguintes, não foi capaz de se concentrar no trabalho que tinha, algo que o incomodou tanto como tudo o que se relacionava com Mia James. O que é que aquela mulher tinha para que estivesse obcecado com ela? Tratava-se apenas da sua beleza inegável ou havia mais alguma coisa?

Em qualquer caso, era um problema, era alarmante. E tinha de parar.

– Senhor Costa? – A voz aflautada da estilista interrompeu os seus pensamentos. Há quanto tempo estava a olhar para o ecrã do computador? – A menina James já escolheu um vestido.

– Obrigado. – Alessandro levantou-se e entrou rapidamente no escritório, preparando-se para o que ia ver.

Apesar da sua intenção de permanecer impertérrito, ficou paralisado com a visão de Mia. O seu corpo esbelto estava tapado por um vestido de seda azul que abraçava a sua figura, antes de cair até aos tornozelos num desdobramento exuberante de tecido brilhante. Em vez de apanhado com um gancho, tinha o cabelo apanhado num coque elegante. No seu pescoço e orelhas, resplandeciam diamantes. Parecia uma deusa nórdica, uma rainha de gelo e tudo nela era bonito e embriagador.

O desejo apoderou-se dele com uma onda avassaladora e inesperada por causa da sua intensidade e força. Queria tirar-lhe os ganchos do cabelo, queria abrir o fecho discreto das costas do vestido, contar os botões das vértebras e saborear a suavidade da sua pele.

Sentia desejo. E Alessandro nunca se permitia desejar.

– E então? – perguntou Mia, num tom rouco. – Serve?

– Sim – confirmou ele, depois de um segundo de silêncio tenso. Custou-lhe pronunciar a palavra. – Serve.

Mia deixou escapar um suspiro, virou-se e a estilista parou de sorrir ao ouvir aquele elogio tão fraco. Não se importou. Já estava a arrepender-se de ter pedido a Mia para o acompanhar naquela noite. Tinha mais vontade de o fazer do que devia.

– Também vou mudar de roupa – disse, depois de decorrerem uns segundos em que ninguém falou. – Saímos dentro de dez minutos.

Mia assentiu sem olhar para ele e Alessandro ficou, mais uma vez, cativado pela curva do seu queixo e a forma da sua cintura que rogava ser explorada e saboreada. Virou-se rapidamente e saiu do escritório sem dizer mais nada.

Quanto mais depressa acabasse a noite, melhor. O desejo que sentia era inconveniente e avassalador. Mas controlá-lo-ia, como tudo o resto na sua vida. Só lhe custaria um pouco mais do que antecipara.

Uma paixão sem igual

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