Читать книгу Uma paixão sem igual - Kate Hewitt - Страница 7
Capítulo 3
ОглавлениеMia sentiu-se como se tivesse caído pelo buraco da toca de um coelho e tivesse aparecido numa realidade alternativa… uma realidade em que viajava de limusina, bebia champanhe e entrava numa sala de baile resplandecente de braço dado com o homem mais bonito do lugar.
Para seu espanto, naquela noite, sentia-se como a rainha do baile. Tudo começara quando a estilista lhe trouxera vários vestidos lindos para que escolhesse um e, depois, arranjara-lhe o cabelo e fizera-lhe a maquilhagem, antes de acabar com o conjunto de colar e brincos de diamantes mais incrível que Mia alguma vez vira.
Gabava-se de ser sempre sensata e pragmática e pensara que deixar-se cuidar e arranjar daquele modo seria enjoativo. Não esperava desfrutar… mas estava a fazê-lo. Submetera-se a todas as instruções da estilista e saboreou o momento. Uma parte dela estava horrorizada com o que aquilo podia significar, mas era apenas uma noite. Uma noite mágica depois de uma vida inteira de cabeça baixa e trabalho árduo. Porque não haveria de desfrutar?
E, depois, quando Alessandro entrou no escritório e olhou para ela… Naquele momento, foi como se o mundo saísse da sua órbita. Durante um segundo, Mia viu o brilho de aprovação masculina nos seus olhos como um fogo dourado que a acendeu e fez o sangue bulir enquanto a sua mente dava voltas a possibilidades com que nunca se atrevera a sonhar.
Então, Alessandro dissera-lhe que «servia», no tom lacónico habitual, e Mia questionara-se se teria imaginado tudo. Devia ser assim. Afinal de contas, tratava-se de Alessandro Costa. O diretor-geral desumano e arrogante de quem tinha um pouco de medo. Não era um homem interessado nela. Não era o seu acompanhante da noite.
E, no entanto, Mia sentia que era. E o mais preocupante era que gostava da sensação. Ela, que se mantivera afastada do amor, das relações românticas e até da sedução porque não queria que exercessem aquele tipo de poder sobre ela. Porque a mãe se apaixonara pelo seu pai há muitos anos e as coisas tinham corrido mal.
– «Ele ama-me, Mia. A sério. Mas custa-lhe demonstrá-lo.»
Mia ouvira demasiadas vezes as desculpas da mãe antes de morrer de cancro quando ela tinha catorze anos, demasiado gasta e desesperada para continuar a aguentar mais. Mia teve de esperar mais quatro anos antes de poder livrar-se finalmente do controlo do pai. E, depois, decidiu manter-se forte, independente e sozinha. A salvo.
Contudo, naquela noite, relaxaria as regras, até as infringiria. Naquela noite, esqueceria que existiam. Afinal de contas, era apenas uma noite. Uma noite única e maravilhosa em que poderia fingir durante algumas horas que era a Cinderela e que estava no baile com o seu príncipe encantado, antes de o relógio marcar indevidamente a meia-noite.
Tinham chegado de limusina ao Ritz e Alessandro, impressionante de smoking, mal falara, o que Mia achava bem porque mal conseguia pensar. Toda a situação era avassaladora. Embriagadora. Maravilhosa.
Quando chegaram à entrada e Mia saiu do carro, os flashes das máquinas fotográficas cegaram-na. Alessandro deu-lhe o braço e sorriu para os repórteres. As suas cabeças quase se tocavam.
O que é que Alessandro estava a fazer e porquê? Sentia-se deslocada e a sensação aumentou quando ele se aproximou de um grupo de pessoas, algumas das quais a conheciam, e a apresentou como «a sua acompanhante».
Mia reparou nas sobrancelhas levantadas, nos sorrisos curiosos e nos olhares especulativos e, como todos os outros, questionou-se o que Alessandro Costa estava a fazer.
– Porque não dizes às pessoas que sou a tua secretária? – perguntou, quando ficaram a sós por um instante. Bebera duas taças de champanhe e sentia a língua solta.
– Porque, esta noite, és uma mulher linda que me acompanha num evento.
– Mas… – Mia abanou a cabeça devagar e tentou discernir que emoção havia por trás daquele exterior frio e daqueles olhos opacos como vidros fumados. – Porquê?
Alessandro encolheu os seus ombros poderosos e os músculos mexeram-se por baixo do tecido caro do smoking.
– E porque não?
– Não pareces um homem que faça alguma coisa sem uma boa razão – murmurou ela.
– Ena, a tua perceção surpreende-me, Mia. – O seu tom de voz, com aquele sotaque leve, pareceu acariciar as duas sílabas do seu nome.
– De onde és? – perguntou ela. – Quando procurei na Internet, não encontrei esse dado.
Alessandro levantou as sobrancelhas.
– Procuraste-me?
Mia encolheu os ombros.
– Quando soube que tinhas comprado a empresa, sim, é claro. A informação é poder.
– Certo. – Alessandro não desviou o olhar. – É isso que queres? Poder?
– Quero manter o meu trabalho – admitiu, depois de uma pausa de um segundo. – E conhecer o meu patrão ajuda-me.
Alessandro segurou-a pelo cotovelo com uma mão quente e levou-a para um grupo de pessoas.
– Onde vamos?
– Vamos misturar-nos com as pessoas, é claro. Foi por isso que viemos. Vais apresentar-me a toda esta gente e, depois, vais contar-me os seus segredos.
Antes de conseguir protestar dizendo que já lhe contara tudo o que sabia nos relatórios, já estavam no grupo. Alessandro mantinha a mão na sua cintura.
Mia ouviu, de longe, a conversa pouco importante, reparando no modo social e amável que Alessandro tinha de se comportar. Podia ser encantador se quisesse, um facto que a alarmou. Se Alessandro Costa a afetava quando era brusco e cortante, que Deus a ajudasse quando fosse amável.
Mia conhecia várias pessoas do grupo por causa de Dillard e apresentou Alessandro a mais outras ao longo da noite, sentindo-se como se estivesse a interpretar um papel. O seu único objetivo agora era chegar ao fim da noite sem se envergonhar ou perder completamente a cabeça pelo homem que tinha ao lado.
Quando voltaram a ficar sós e ela estava a beber a terceira taça de champanhe, decidiu perguntar.
– O que queres de todas estas pessoas? – perguntou, com a língua definitivamente solta. – E porque compraste a Investimentos Dillard se está a perder dinheiro?
– Isso não tem de ser sempre assim.
– E, no entanto, um homem como tu… – Mia abanou a cabeça.
– Um homem como eu? – repetiu ele. – O que queres dizer com isso? – perguntou, aproximando-se mais. – O que sabes sobre mim depois de me procurar na Internet, Mia?
Alessandro não tencionara fazer aquela pergunta, mas sentia curiosidade.
– Bom… – Mia humedeceu os lábios, o que causou uma pontada involuntária de desejo nele. – Apoderas-te de empresas, deixa-las sem recursos, despedes noventa porcento do pessoal e, depois, as empresas são absorvidas pela Costa International.
Aquela era a síntese sem ser completamente verdade, mas Alessandro não tinha vontade de defender as suas ações. Falavam por si só.
– Vais fazer o mesmo com a Dillard? – Mia ergueu um pouco o queixo. – Vais despedir toda a gente? Divertes-te a arruinar a vida das pessoas?
Alessandro ficou a olhar para ela por um instante, lutando contra o desejo de lhe explicar a verdade da sua missão. Mas não. Não queria que a sua opinião importasse.
– O que achas? – perguntou, tentando parecer despreocupado.
Mia abanou lentamente cabeça.
– Não me pareces cruel. A imprensa descreve-te como uma espécie de cobói, alguém que surgiu do nada e que experimentou uma ascensão meteórica. Alguém que não é completamente honrado, mas também não é cruel.
– Bom, enganam-se – afirmou Alessandro, despreocupadamente, embora sentisse aquelas palavras como lâminas na pele. – Não sou respeitável.
– E os empregados que despedes? Pessoas inocentes… não te importas?
Mais do que ela alguma vez saberia.
Os olhos de Mia mostraram fúria ao ver que não respondia.
– Devias importar-te. A imprensa diz que foste criado num ambiente pobre. Num subúrbio de Nápoles. É verdade?
– Sim. – Alessandro fez o possível para parecer aborrecido. De facto, era assim.
A última coisa que queria era falar do seu passado patético… Do caos interminável de se mudar de um apartamento imundo para outro, das temporadas em lares de acolhimento quando a mãe perdera a custódia, dos trabalhos intermináveis que aceitara a limpar escritórios e dos namorados incontáveis que procurara para tentar desesperadamente mitigar a tristeza da sua vida.
– Então, se sabes o que significa ser pobre, viver no limite, como podes despedir as pessoas assim?
– Porque sei o que é o trabalho árduo – afirmou Alessandro, num tom gelado. – E ganhar o que tenho. E todos os que trabalharem arduamente terão uma posição na Costa International. Garanto-te.
Mia esbugalhou os olhos.
– A sério?
Parecia tão esperançada que Alessandro sentiu um calafrio.
– A Investimentos Dillard estava a morrer. Comprei a empresa antes de morrer. O que fiz foi salvar os empregos das pessoas a longo prazo. Não sou o monstro que pensas – afirmou.
Ela ficou a olhar para ele durante um bom bocado e Alessandro sentiu que estava a olhar para o seu interior. Aquele olhar azul atravessou-lhe a alma e chegou até profundidades que achava fechadas para sempre. Desviou o olhar, encolheu os ombros e bebeu um gole da sua taça de champanhe enquanto tentava controlar as emoções aceleradas.
– Pergunto-me quem és realmente – murmurou Mia. – Questiono-me o que escondes.
Alessandro ficou a olhar para ela, incapaz de desviar o olhar. Sentiu uma pontada na barriga.
– Vamos dançar – sugeriu, num tom de voz áspero por causa da emoção.
Se dançassem, não falariam. Mia não diria nada nem veria coisas no seu interior. Certificar-se-ia disso.
Ela assentiu com a cabeça, deixaram as taças vazias na mesa mais próxima e Alessandro deu-lhe a mão e levou-a para a pista de dança de parqué. Tocava uma música sensual e lenta de saxofone quando Alessandro a abraçou.
Mia tocou suavemente com as ancas nas dele e Alessandro sentiu uma labareda de calor quando começou a mexer-se com ela. Mia seguiu o ritmo dos seus movimentos com elegância, as ancas sinuosas e o corpo leve. Leve e ansioso. Sentiu-a a tremer e soube que, como ele, sentia aquele desejo inconveniente e embriagador que se tornava mais forte com cada segundo que se mexiam em uníssono. Perceber aquilo fez com que a desejasse mais. Para Alessandro, o sexo fora sempre uma questão de desafogo, mas aquilo era diferente. O desejo que crescia dentro dele como uma hera venenosa parecia capaz de o embargar. De acabar com o seu raciocínio, a sensatez e, pior ainda, o autocontrolo que fora a pedra angular da sua existência, a âncora da sua alma. E o mais alarmante de tudo era que, naquele momento, nem sequer se importava.
Acabou a música e começou outra e eles continuaram a dançar. Alessandro aproximou-a mais de modo a que o seu corpo descansasse no dele. Rodeou-lhe o pescoço com os braços e tocou-lhe com o peito nos seios. Tinha a cabeça ligeiramente inclinada de modo que Alessandro conseguia ver a curva delicada do seu pescoço. Sentiu o desejo irreprimível de encostar os lábios à sua pele.
Podia fazê-lo e, naquela neblina de desejo, cansaço e champanhe, não conseguia recordar uma única razão para não o fazer. Então, Mia deitou a cabeça para trás e o seu olhar fixou-se no dele. Era como se estivessem a partilhar uma conversa no silêncio, um desejo partilhado e um desejo profundo, uma pergunta e uma resposta, tudo encapsulado num único olhar ardente.
Nenhum dos dois falou, mas Alessandro sentiu que um calafrio percorria o corpo de Mia enquanto a segurava entre os seus braços. O pouco que restava de prudência desapareceu.
– Vamos – disse, num tom áspero de desejo.
– Onde? – murmurou ela, entre os seus braços.
– Onde quer que seja.
Mia esbugalhou os olhos e entreabriu os lábios. Engoliu em seco e Alessandro esperou pela resposta, a que já lhe dera no desejo silencioso do seu olhar. A canção acabou e os seus corpos pararam. Alessandro continuava à espera a suster a respiração.
Então, ela assentiu com a cabeça.
Alessandro não esperou mais nada. Deu-lhe a mão, atravessou a pista de dança e saiu da sala de baile e do hotel para a noite quente de primavera.