Читать книгу Agentes Da Lei E Assaltantes - Katherine McIntyre - Страница 10

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Capítulo Três

James Donovan era um rato-de-esgoto traidor da mais alta ordem. Ellie o vira pela última vez no trabalho que deveriam fazer juntos na casa de algum cavalheiro rico no extremo oposto da cidade. Ao menor sinal de problema, ele a abandonou junto do outro sujeito com quem trabalharam, e chorou bicas quando ele não recebeu sua parte. Em vez de culpar os dois, James decidiu colocar o peso apenas nos ombros dela.

E, claro, ele a encontrou agora. Tudo que Ellie queria era beber um pouco de gim e ficar um pouco alegre, secar-se após a fascinante noite que teve, fugindo dos policiais. No entanto, não importa o quão longe ela viajou por esta cidade apodrecida, o problema estava a um paralelepípedo de distância.

Bernard Taylor saltou da cadeira ao lado dela, uma prontidão na postura sugerindo que ele viu seu quinhão de brigas. Não que o colete e as calças fizessem muito para esconder sua figura musculosa, que ela notou poucos minutos depois que ele engatilhou a arma carregada na têmpora dela. O homem parecia mais um arruaceiro do que um detetive.

— Ellie, aonde pensa que vai? — James perguntou, os lacaios clamando ao lado dele. O ridículo cruzou os braços e formou uma carranca de bom tamanho, como se a pose pudesse fazê-la tremer nas botas. — Creio que me deva um pouco mais do que uma bebida. — o tom sugestivo da voz dele a fez querer vomitar.

— Eu bem sei o que merece, Donovan, e não é nada agradável. — disse Ellie, dando alguns passos para diminuir a distância entre eles.

Os fregueses do bar que não eram nada estúpidos pararam para olhar entre os dois, ninguém ousou se envolver. O aperto de Ellie aumentou em torno das facas. Ela não deixou de notar como James baixou as mãos. Com certeza, o desgraçado puxaria uma pistola.

Ellie captou o lampejo de cobre de trás das costas dele. Não era uma pistola, nem uma lâmina.

Ah, não.

Ela encontrou os olhos de Bernard.

— Quando eu disser, precisamos correr.

Porque James Donovan era um covarde idiota que havia levado uma bomba a um bar cheio de pessoas inocentes. O estilhaço da bomba destruiria a maior parte da multidão ali dentro. Donovan se aproximou, os companheiros o flanqueando atrás dele para bloquear a fuga deles.

Sem saída, a não ser para cima.

— Corra. — Ellie gritou enquanto mergulhava para a esquerda, em direção ao bar.

Um guincho rápido, e ela subiu no balcão para começar a correr pela superfície. Gritos seguiram seu rastro enquanto ela pulava por cima das canecas de cerveja e copos de uísque amarelado chacoalhando ao seu redor. Ela arriscou um único olhar para trás.

Bernard não a seguiu por cima do bar. Em vez disso, o homem endireitou os ombros largos, baixou a testa e atacou.

Com a atenção de Donovan voltada para ela, ele não percebeu Bernard correndo até que fosse tarde demais.

Ellie pulou mais uma cerveja, os passos batendo nas vigas da taverna. Alguns bêbados tentaram golpear os tornozelos dela, mas ela sempre foi mais leve do que uma mulher comum.

O fim do bar apareceu à vista, a poucos metros de distância. A essa altura, mais gritos estouraram, os sons ásperos ecoando atrás dela.

Ellie não parou no final do bar, ela se lançou para fora da margem. Seus pés bateram no chão de madeira. Ela se virou a tempo de localizar cada sujeito por quem passou correndo, olhando em sua direção.

Novos amigos, por toda parte.

O velho grisalho nos fundos do bar se lançou sobre ela, os dedos quebradiços tentando se apoiar. Ela se esquivou com facilidade, muito menos embriagada do que a maioria dos clientes daqui.

Bernard se esquivou de James Donovan, mas os outros dois meliantes tentaram interferir na trajetória dele. Ellie trouxe seu olhar para o lado direito quando ele atacou com velocidade mortal. Bernard atirou o punho sob a mandíbula de um homem e, um instante depois, ele girou sobre os calcanhares, erguendo o cotovelo para cumprimentar o nariz do outro homem. Bernard Taylor possuía profundezas ocultas, para dizer o mínimo.

— Pare. — James gritou, levantando a bola de cobre na mão, um dispositivo do tamanho de um punho. — Ou esse bar inteiro vai abaixo com você.

Ele jogaria. Ela sabia que ele o faria.

— Rapazes, querem queimar junto do bar? — Ellie gritou para a multidão. — Se não, sugiro parar o idiota com a bomba. Ou o param, ou correm.

Bernard irrompeu entre os capangas e disparou na direção dela. Ellie estava mudando de um pé para o outro. Assim que ele a alcançou, ela voou.

Vários sujeitos no bar pularam de seus banquinhos, que caíram no chão. Alguns dos outros seguiram a recomendação de abordar James. Infelizmente para muitos deles, Donovan balançou o braço e a bola de cobre voou de suas mãos.

Ellie seguiu para a saída, ciente da morte garantida sendo arremessada em sua direção.

Bernard a ultrapassou com as longas pernas, mas para surpresa dela, ele estendeu a mão para trás e a agarrou pela mão, arrastando-a para frente com ele. A bomba girava na direção deles, pronta para bater nas tábuas do chão, passou pelas mesas e o bar, bem perto da entrada para a qual estavam correndo.

As panturrilhas de Ellie se contraíram com intensidade quando ela se lançou para a porta, segurando a mão de Bernard com força. O ombro dela acertou o batente da porta enquanto ela se arremessava.

Um clique deliberado ecoou em algum lugar do bar

Ellie caiu nas pedras do lado de fora, os joelhos batendo na pedra lascada. Bernard largou a mão dela e se jogou no chão.

Um zumbido encheu o ar, cada vez mais alto.

Tique, tique, tique… pop.

A rajada de calor saiu primeiro pela porta aberta, seguida pelo estrondo que sacudiu as madeiras do prédio antigo.

Os gritos vieram em seguida. Gemidos horrorizados, uma raiva alta e ensurdecedora, uivos roucos que fizeram a pele dele arrepiar. Ellie tapou os ouvidos com as mãos, tentando bloquear os sons. Ela fechou os olhos com força e respirou fundo. A culpa a assolava como carne viva, mas já fazia um bom tempo que dilacerava sua pele até os ossos.

Ela se levantou em meio à fumaça metálica que saía da porta aberta. Rajadas de fumaça preta e oleosa escapavam e, com base na contração de seu nariz, focos de incêndio surgiram lá dentro. Ninguém havia pedido àquele canalha que trouxesse uma bomba para o interior do estabelecimento, embora ela não conseguisse se livrar do puxão persistente em seus calcanhares que causava problemas aonde quer que fosse. Não como se ela algum dia fosse uma boa filha.

Bernard pairou sobre ela, com a mão estendida.

— Vamos sair daqui.

Ela aceitou a mão áspera e quente contra a dela, e ele a puxou com facilidade. Os músculos do homem se contraíram com o movimento, fazendo com que o tecido das mangas dele se enrugasse. Aqueles olhos escuros traziam uma intensidade sedutora enquanto ele a erguia como se pesasse pouco mais do que uma folha seca.

— Minha casa ou a sua? — Ellie falou devagar, as palavras saindo muito mais sensuais do que o previsto.

Ela não costuma ceder a impulsos urgentes, embora os sentisse aqui e ali.

O canto da boca dele se contraiu, revelando um sorriso delicioso emoldurado pelo bigode e barba pretos e grossos.

— Que tipo de cavalheiro eu seria se não acompanhasse uma dama até em casa? — ele lançou um olhar rápido para a taverna detrás deles, uma primeira chama dourada tremeluzindo no interior.

Alguns homens saíam cambaleando pela porta da frente, tossindo e cuspindo.

Alguns podem culpar James Donovan, mas outros apontariam os dedos para ela, e ela não queria ficar por perto para atrair a censura.

Ellie espanou as calças e partiu em um ritmo acelerado ao longo da rua na direção oposta de onde vieram. O cortiço que ela chamava de lar não ficava longe desta taverna, então ela assumiu a liderança. Se o belo oficial quisesse acompanhá-la de volta, ela não reclamaria. Afinal, ela meio que esperava que esta noite terminasse no fundo de um rio ou fosse presa a ferros.

Ela teve mais um vislumbre do Rato Afogado, deixando a culpa lá atrás, para queimar como as vigas que haviam se incendiado. O fogo cintilava nas janelas, e mais e mais homens tropeçaram para fora do bar, alguns sangrando por cortes abertos, enquanto outros tossiam como se tivessem contraído tuberculose. O prédio iria queimar e, talvez, outros próximos, como barris de pólvora esperando por um incêndio. Não que os policiais dessem a mínima, as dificuldades dos pobres nunca preocuparam os homens da lei.

Bernard caminhava ao lado dela, um enigma em um colete feito sob medida e calças compridas. O homem exalava uma masculinidade crua apesar dos suspensórios, algo primitivo que chamou a atenção dela desde o instante em que ele apontou a pistola para ela. Ele poderia ter sido um idiota tenso como a maioria dos gambés com os quais ela se envolvia, mas este detetive continha camadas que ela queria revelar.

— Estou começando a suspeitar que você invoca inimigos toda vez que entra em um lugar novo. — murmurou Bernard, a voz era um timbre rico que ela pensou gostar. O olhar arqueado que ele lançou enviou um arrepio por sua espinha.

— É um dom. — respondeu Ellie. — Considero o tédio abominável.

A respiração dela tornou-se entrecortada. As roupas ainda não haviam secado, a camisa e as calças grudavam na pele com um arrepio profundo. Vigas verdes claras filtravam a luz de uma lamparina a gás quebrada à frente, e as janelas escurecidas dos prédios de dois andares pelos quais passaram a fulminaram com o olhar de condenação.

— Daí a oferta de se juntar à minha caça a um assassino em série? — ele perguntou.

Folhas quebradiças arranhavam os paralelepípedos, um riscar que ecoava como garras. Gemidos vieram do beco mais próximo que eles passaram, mas ela sabia ser melhor não arriscar um vislumbre.

— Testemunhou o grande número de rostos amigáveis que atraio. — respondeu Ellie. — O que o faz pensar que anseio por policiais me perseguindo por esta cidade devido a uma falsidade? — o estômago dela apertou com força. Decerto ela ainda não estava longe demais de merecer perdão. — Além disso, posso ter me envolvido em alguns delitos leves, mas nunca matei a sangue-frio.

— Por que acha que não a arrastei para o cárcere? — Bernard murmurou.

Ela sentiu o cheiro delicioso de pólvora e cedro saindo dele, e a acariciou no núcleo. Atreveu-se a olhar para ele e se viu presa pela maneira como aqueles olhos não apenas deslizaram sobre ela, eles viam através dela.

— Porque você foi vítima de meus encantos multifacetados? — ela provocou, precisando acalmar o elevado tum-tum-tum de seu coração.

— Você é multifacetada. — respondeu ele. — Concordo com isso.

Diversão brilhou nos olhos dele, quase invisíveis à luz medonha da lanterna enquanto eles passavam. Ela já percebera o cortiço espiando por cima dos outros edifícios ao longo do caminho, a apenas alguns quarteirões de distância.

Eles contornaram um canto até a parede do fundo. A velha Susie sentava-se esparramada contra o tijolo, os olhos vidrados na escravidão de qualquer substância que pudesse disparar em suas veias. Benjamin estava parado na entrada dos fundos, fumando seu cachimbo e cuidando da própria vida, como todos faziam na vizinhança.

— Então, agente da lei. — disse Ellie, parando devagar ao encarar Bernard. — Amanhã à noite?

Ele enfiou as mãos nos bolsos das calças, o que destacava aqueles ombros largos e a estatura absoluta do homem. O olhar dela demorou-se na forma como o luar roçava a mandíbula quadrada. Enquanto ela o examinava, ela avistou a bolsa dela pendurada no bolso dele.

Aquele desgraçado de uma figa.

Ellie conteve um grunhido, um estrondo de choque filtrando-se por ela. Quando ele roubou dela? Se ele pensava que iria mantê-la na linha enquanto trabalhassem juntos, ele deveria pensar de novo.

— Encontro você aqui amanhã à noite. — disse Bernard, fazendo uma saudação com os dedos, ele girou o calcanhar enquanto se preparava para ir embora.

Não com o meu aluguel do mês nos bolsos.

Ellie agarrou-o pelo pulso.

Assim que os dedos dela roçaram a pele, ele se virou. Tão perto, ela podia sentir o toque de gim no hálito e o calor que emanava dele. Ela se inclinou e deu um beijo na bochecha dele.

O tempo todo, ela deslizou os dedos para a bolsa. Ellie roçou os lábios contra a pele quente da bochecha, e a respiração dele engatou, o foco nela. Bom. O nó se desfez, e ela puxou a bolsa para o lado.

Ellie se afastou e deu uma piscadela. Ele piscou por um momento, então aquele olhar intenso desceu sobre ela. Ele espalmou a cintura, procurando pelo item que faltava.

— Boa tentativa. — ela murmurou, levantando a bolsa enquanto dava mais alguns passos para trás. — Vejo você amanhã, querido.

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