Читать книгу Agentes Da Lei E Assaltantes - Katherine McIntyre - Страница 8
ОглавлениеCapítulo Um
O sangue manchando as mãos de Ellie Whitfield era um motivo tão bom quanto qualquer outro para fugir dos gambés. Não que ela precisasse de um, em sua linha de trabalho, policiais significavam más notícias e moedas perdidas. Ainda assim, a tinta carmesim em seus dedos não a pintava da melhor maneira, não se ela continuasse agachada ao lado de um cadáver.
Os gritos vinham do lado oposto do beco, não dava tempo de refletir demais.
Ellie saltou para o outro lado, para as sombras consumidoras. As moedas que ela roubou tilintaram nos bolsos das calças, moedas o bastante para pagar o aluguel do próximo mês. Nada que alguém tão pobre como uma barata de rua pudesse deixar passar. O ar deste lado da cidade estava pesado, cobria sua pele como óleo, mas ela engoliu em seco. Chegou ao final do beco, que cortava outro. Os edifícios altos surgiam de cada lado.
O som da sirene da polícia ecoava pela noite tranquila em Camden Town.
Pelo menos, estava tranquila até ela vaguear pelas ruas e observar os cavalheiros e ladies passarem, seus passos um pouco mais leves após ela fugir com seus bens. Ela não teria sido pega se não fosse a mulher morta em quem tropeçou no final.
O rabo de cavalo se desfazia em suas costas, alguns fios grudados na testa suada. Os policiais adoravam desfilar como se fossem donos desta cidade, mas ela disparou na direção de casa, Islington, uma das áreas a que eles meio que desistiram de agir. A polícia só servia àqueles que traziam moedas suficientes para refletir luz, e ela sempre esteve atrás de sucata desde que saíra do ventre da mãe.
As batidas dos sapatos de Ellie soavam mais alto nos paralelepípedos do que ela gostaria, mas agora ela precisava de mais velocidade do que silêncio. O canal borbulhava ao longe, e o tomp-tomp-tomp dos policiais atrás dela sussurrava que se mover rápido era mais essencial do que nunca.
O sangue nas pontas dos dedos já secara quando ela fechou as mãos com força e correu por outro beco à sombra de um estabelecimento de barbearia e açougue. Por toda a Londres, sombras marchavam à noite, ameaçando sufocar os fracos, os tolos ou os apenas azarados. Ela foi todos os três no passado, mas sobrevivera, aos trancos e barrancos.
Ajuda ter uma tecnomante como irmã.
O beco acabou, e ela irrompeu na estrada. Assim que ela entrou em cena, um grito veio de algumas lojas abaixo, e os feixes intensos brilharam nas órbitas do carrasco: mecanismos que lançavam luz do sol mesmo na calada da noite. Sujeitos como eles são equipados com todas as bugigangas.
Os três policiais a viram e, a menos que ela encontrasse um esconderijo e conseguisse se limpar, o sangue que manchava sua blusa a fazia parecer tão culpada quanto o governador. Ellie soltou um grito e jogou a mão para o ar enquanto avançava, ainda em perseguição. Se quisessem atingi-la, ela os deixaria em mau estado antes de escapar.
Pelo menos, se a sorte não a abandonasse esta noite.
Cliques ecoaram atrás dela, e um olhar para trás a recompensou com o brilho do éter das pistolas modificadas que os policiais apontaram na direção dela. Ela não poderia fugir de uma bala.
À direita dela, os edifícios se estendiam, vielas estreitas em abundância.
À esquerda, algumas fachadas de lojas seguiam intercaladas ao longo do canal.
A sorte nunca favoreceu os covardes.
Ellie deu um passo na direção do canal, saltando tão rápido quanto suas pernas podiam. Seus sapatos bateram nos paralelepípedos com tanta força que ela sentiu as reverberações, canela acima. Ela apertou os cordões das bolsas em volta do cinto, onde havia colocado as suas últimas moedas surrupiadas. Os passos não haviam cessado e, a qualquer momento, as primeiras balas disparariam. O vento varreu mechas de seu cabelo para trás, trazendo consigo os cheiros nocivos do canal. Essas águas infernais agitavam-se diante dela, vorazes a esta hora da noite.
Bem, ela precisava se livrar dessa encrenca.
Um metro e oitenta a separava das águas do Canal Regente, balançava para a frente e para trás, o refugo flutuando no topo como espuma.
Não há tempo como o presente.
Ela sentiu o estômago se apertar quando saltou para a beira do canal. As pontas de seus sapatos roçaram a borda. Gritos soaram mais altos atrás dela, assim como os passos.
Um segundo poderia significar salvação ou uma bala no estômago.
Ellie deu um pulo. O mundo girou e o tiroteio ecoou, mas ela não conseguia reagir enquanto se jogava no rio abaixo. As paredes de pedra do canal giraram em torno dela, enquanto ela se inclinava em direção ao pântano. Ela atingiu a superfície da água com um golpe que feriu a pele, e submergiu. A água a envolveu como um punho gelado, e sua respiração quase desapareceu ante o choque.
Ellie pôs-se a chutar, a água correndo ao redor de seus membros, tentando puxá-la mais fundo. Ela lutou com a mesma ferocidade. Mal conseguia ver através da água turva enquanto nadava na direção de Islington.
Deixe os policiais tentarem atirar em mim agora.
A respiração ficou tensa no peito, rasgando a cavidade. Ela flutuou para cima e impulsionando-se acima da água para uma arfada.
O ar frio inundou seus pulmões, de alguma forma tão congelante quanto a água em que nadava. Os braços de Ellie se moviam de maneira mecânica, como as bonecas que o cunhado Silas criava, mas ela continuou nadando pelo canal, para longe da cena do crime que não cometeu. Gritos ecoaram no ar, e o barulho de tiros e respingos soou bem atrás dela, mas não a alcançaram ainda. Ellie submergiu outra vez, de volta ao abraço frio do rio.
A água turva deu cobertura suficiente, embora o líquido escorregadio de óleo grudasse em sua pele. Ela chutou com mais força, o redemoinho turbulento da lama puxando seus calcanhares encharcados. Abaixo da superfície, as distrações desapareceram, a água gelada trazendo sua mente a uma clareza cristalina. Os membros estavam dormentes, mas ela continuou a nadar à frente, levantando-se para respirar fundo quando precisava. Em pouco tempo, seu ambiente mudou. Casas de dois andares assomavam-se à beira do rio, com a estrutura gasta e telhas quebradas, as janelas escancaradas como uma boca desdentada.
Os gritos dos policiais diminuíram, e Ellie diminuiu o movimento frenético para um ritmo mais lânguido. Ela não poderia nadar todo o caminho de volta para Islington, além disso, eles estariam seguindo o rio. Que tipo de criminoso tomaria uma rota tão circunspecta?
Um maltrapilho, é isso.
Ellie chutou na direção da costa. Havia se afastado o suficiente dos tiras para guiá-los a becos e vielas sem rumo. Ela rezou para que os desgraçados não tivessem dado uma boa olhada em seu rosto. Com uma reputação em constante expansão na cidade, a última coisa de que ela precisava anexar ao final de sua miríade de títulos era o de assassina. A irmã, Theo, teria uma síncope.
Ela se atrapalhou com a parede de pedra à sua frente, deslizando as pontas dos dedos entorpecidos ao longo da superfície. As unhas se prenderam nas rachaduras, e ela encontrou apoio. Ellie se levantou da água, piscando para tirar a sujeira dos olhos enquanto escalava as pedras. As mãos doíam e todo o corpo ameaçava se revoltar, mas ela cerrou a mandíbula e continuou a subir. Os ventos fortes ao redor da cidade não lhe custaram um centavo antes, mas devido à maneira como suas calças e blusa colavam em sua pele, e pela água escorregando pelas costas e pernas, ela daria um braço por um fogo quente.
Ellie içou-se por cima da saliência. Nesta parte da cidade, os edifícios brilhavam, mas eles não a impressionavam com a metade do medo que as mansões no lado refinado de Londres. Uma lua torta piscava acima, estrangulada pela poluição que as colunas na distância próxima canalizavam para o céu. Um arrepio percorreu Ellie quando se empurrou para cima e lutou com os próprios membros amortecidos para ficar de pé.
A água jorrava dela como um lençol sendo torcido, espirrando no chão. Ellie olhou para sua blusa e colete: ainda um pouco manchados, mas pelo menos ela não parecia mais ter mergulhado os dedos em sangue para pintar. Algumas sombras mudaram, e suas mãos deslizaram para as facas que enfiara na cintura. Um sujeito com calças sujas tropeçou mais do que passou, mas o fluxo constante de murmúrios não era para ela.
Ellie puxou as facas, brandindo uma em cada mão. Enquanto se levantava, deslizou os nós dos dedos contra a bolsa de moedas para se assegurar do peso. O aluguel venceria mesmo se ela tivesse furtado o suficiente ou não, caso contrário, ela e a mãe estariam nas ruas. Dois rufiões mais altos tentaram passar por ela como se não estivessem avaliando o quanto ela poderia ser uma ameaça.
Ellie girou as facas e mostrou os dentes ao passar. Difícil ser ameaçadora ao parecer um rato afogado, mas ela faria o que podia. Os dois homens deram um olhar um pouco mais duro, mas ela não piscou. Predadores não evitavam o confronto, e ela nunca mais seria a presa.
Mesmo assim, o cheiro de terra compactada e o tec-tec-tec da água caindo a levaram de volta àquela época escondida no porão de Blair. Até hoje, ela se xingava por ter se distraído a ponto de ser pega por trapaceiros de quinta. A isca do tilintar frio e forte dos xelins a atraía todas as vezes. Ainda mais com a saúde de mamãe piorando.
Um dos homens farejou na direção dela, mas nenhum dos dois alcançou as pistolas salientes sob os coletes.
Ellie passou, gotas de água escorrendo pelas costas, braços e pernas. A cada passo, mais borrifadas no chão, como se ela trouxesse as próprias chuvas. Nesta parte da cidade, vivas e assobios estrondosos ecoavam dos bares, os camaradas tropeçando nas letras como se a noite se aproximasse do fim.
Casa.
Ela precisava voltar para casa para se certificar de que mamãe havia tomado o remédio. A mulher gostava de testar a paciência da filha, a cada dia, com suas inúmeras maneiras de evitar o xarope de tratamento. Porém, primeiro Ellie precisava fazer mais uma parada. Ela estava uma hora atrasada ao pegar a próxima remessa de remédios da mãe na casa abandonada de Gladstone. O farmacêutico do beco que vendia para os rudes de Islington não se arriscava. Dinheiro adiantado antes de colocar as mercadorias em engenhocas à prova de tecnomantes.
Os ombros dela ficaram tensos enquanto caminhava, seu corpo preparado para uma briga a cada beco em que virava. Tão perto de Islington, o fedor familiar de mijo, suor e cerveja velha flutuou até ela com poder. Ellie apertou o cabelo com uma das mãos, a outra com a faca bem segura. Melhor um desgraçado ser atravessado pela lâmina dela, do que se tornar vítima da deles.
A morte era tão regular quanto a poluição nesta parte da cidade, mas a desfiguração precisa e metódica do cadáver em que ela tropeçara não era. Sussurros aumentaram ao longo das semanas enquanto os jornais circulavam histórias desse assassino, o Açougueiro da Rua Broad, desde o primeiro assassinato. E agora, os policiais podem tentar atribuir essas atrocidades a ela.
A condensação agarrava-se aos seus braços, as roupas úmidas ameaçando sufocá-la enquanto deslizava por outro beco úmido, o paralelepípedo apodrecendo sob seus sapatos. Os lampiões a gás lutavam para lançar seus raios na lama escura que se agarrava a essas ruas familiares. O clique gentil de seus passos cantava uma melodia própria, assim como o solavanco de um eventual autocarro pela rua, e os gritos ásperos e chamados de taverna em taverna.
Fantasmas passavam por essas ruas laterais, quer estivessem mortos, agonizantes ou marcados para morrer. Ellie era a terceira desde o momento em que apareceu neste mundo. Nenhum poder como a irmã, mais pobre do que um limpador de chaminés e de persuasão feminina: ela se casaria ou seria enviada às fábricas para sangrar na calçada como todos os outros definhando aqui.
A treliça quebrada da casa Gladstone destacava-se no final do beco.
Ellie apressou o passo. Neste ponto, ela desesperava-se para se livrar desta roupa encharcada.
O ar ficou tenso com o silêncio ao seu redor, e ela sacou a outra faca, de prontidão. A maioria se desviava da casa de Gladstone, tendo aprendido há muito tempo que não seria capaz de roubar ou mexer nessas caixas. Mesmo assim, alguns tentaram. Ela não passou por tudo que acabou de acontecer ao fugir dos gambés para ser apagada assim que entrasse na casa.
Ellie testou a maçaneta. A porta se abriu sem nenhum rangido. Para um prédio abandonado, a via principal permanecia intacta, mantida assim como um respeito silencioso aos poucos que se compadeceram e ofereceram remédios aos pobres. Em geral, uma dose de gim para a constituição era o máximo que os habitantes de seu cortiço podiam pagar.
As sombras caíam em cascata acima dela, nenhuma luz nesta casa de passagem. Ela enfiou a mão no bolso para pegar a lanterna que a irmã fizera para ela nas Indústrias Kylock. Alguns movimentos, e o dispositivo encapsulado fez tique-taque. Um fraco brilho de éter lançava raios esverdeados nas tábuas do piso à frente. O ar aqui cheirava a uma combinação de mofo e sabugueiro: rico e em decomposição, tudo de uma vez.
Ela contava os passos enquanto caminhava, atenta o tempo todo por uma respiração, um rangido ou um sussurro no escuro.
Ellie entrou na primeira sala, onde a mesa se estendia por toda a parede do fundo com uma dúzia de diferentes caixas de metal soldadas a ela. O remédio da mãe estava na de número seis hoje. Ela deu um passo à frente, passou o dedo pela costura superior para acordar a máquina e inserir o código de sete dígitos na longa fechadura de combinação presa ao lado da caixa. Após os primeiros quatro dígitos, um clique do mecanismo ecoou, e ela inseriu os outros de trás para frente.
A fechadura se abriu, e um suspiro escapou de seus lábios. Talvez ela pudesse escapar desta noite ilesa, afinal. Ellie enfiou a mão e guardou a garrafa no porta-moedas com o resto dos tesouros que ela roubou esta noite. O assobio de uma música escapou de seus lábios enquanto ela passeava pela porta da frente da casa de Gladstone.
Um clique soou à sua esquerda.
Um cano fulminou na direção dela, quase tão sombrio e feroz quanto o homem uniformizado empunhando a arma.