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CAPÍTULO NOVE
ОглавлениеRick observava Kirkland a apontar o putt, a rotina habitual, segurando no taco como um pêndulo, como se fizesse alguma diferença para a sua deplorável pancada. Olha para o agachamento de joelho valgo por cima da bola, como Jack Nicklaus, mas sempre que puxa o taco atrás para iniciar a pancada, sai da linha adequada e empurra o putt. Rick já vira aquilo acontecer muitas vezes, mas gostava demasiado de vencer para dizer a Kirkland qual era o seu problema.
Sexta-feira à tarde era a altura de ir para o campo de golfe, gozando em doses semanais o estatuto de membro, que valia mil e trezentas libras. Levou três anos a arranjar os patrocinadores, mas já conseguira e ia aproveitar o estatuto de membro sempre que podia, não deixando a relva crescer-lhe debaixo dos pés. Sexta-feira era o melhor dia, mas, se pudesse, tentava jogar nos torneios de fim de semana, baixando o seu handicap.
O campo chamava-se Shooters Hill (Monte dos Atiradores – N. do T.), em Greenwich, a um par de quilómetros de Canary Wharf, por mais que custasse a acreditar. Vistas dos montes suaves do norte de Kent, a luzir como agora sob um sol delicado de fim de tarde. Dado o seu emprego, achava divertido ser membro daquele clube em particular, mas dava-lhe jeito, e se também conseguisse um over sobre Kirkland, melhor ainda.
O putt de Kirkland deslizou para lá do buraco. Aí vais tu – não aprende. Rick aspirou o próprio ar por entre os dentes.
“Por pouco, companheiro, por pouco. Um putt traiçoeiro.”
Kirkland meteu no buraco quando estava na linha de Rick, tirou a sua bola do buraco, dobrando um joelho e esticando a outra perna para se equilibrar, como uma cegonha. Era novo na Divisão e Rick trazia-o debaixo da asa mas não ia dar-lhe mimos. Quem estivesse na Divisão já tinha o que era preciso e podia defender-se.
O tee seguinte era um short par 3, sendo Rick a jogar… quando o seu telefone tocou.
Kirkland, levantando as mãos, dizia: “Só podes estar a brincar comigo”; Rick, olhando para o ecrã e levantando o indicador: “Tenho de atender isto.”
Disse para o telefone: “OK, cara de cu, porque é que não me disseste que ias? E, afinal, onde diabo estás tu?”
A voz de Storey estava calma, como habitualmente, aquela maneira que ele tinha de se distanciar duma pessoa, estando sentado na cadeira ao lado. Era o dom do afastamento. Tornava-o bom no seu trabalho.
Quando tinha.
“Não quis falar contigo, já sabia o que ias dizer” – afirmou Storey.
“Tens razão, embora duvide que tivesse muito que dizer – era mais provável deixar-te sem sentidos. Desde logo, não demorou muito a perceber que não tens muito juízo.”
“Foi a minha decisão, Rick. Não podia continuar e, depois, não podia ficar na cidade. Além disso, o meu pai morreu. Tinha coisas a tratar.”
Aquilo fez Rick conter-se mas não por muito tempo. Entendia a família mas achava que Storey podia ter ultrapassado a situação, podia ter parado por uns tempos, como os psiquiatras recomendaram, regressando depois e voltando a montar na sela, como eles diziam.
“Storey” – disse ele –, “és um idiota. O que te aconteceu podia ter acontecido a qualquer pessoa. Estavas a cumprir ordens e, além disso, foste ilibado.”
“Não devia estar em posição de precisar de ser ilibado. O erro foi meu.”
Rick estava com ele nessa noite e ainda conseguia ver o corpo no chão, outros elementos da equipa à volta, a olhar para ele, todos a pensar: Pobre filho da mãe, Storey, isto vai dar merda.
Independentemente de quanto se treinar, as coisas podem sempre correr mal.
Não importa. Pensou no que Thomas lhe dissera – Traz o Storey de volta, precisamos dele – era uma dos melhores, olho vivo, bons pulmões. Ir aonde Storey morava antigamente não levara a parte nenhuma, com exceção dum remoque da vizinha, aquela jovem de provocar suores que, pensava ele, sabia mais do que dizia. Provavelmente gostava de Storey. Era frequente as mulheres gostarem dele.
“Percebo por que razão te afastaste, precisavas de tempo, e essa merda toda. Mas estás a deitar fora coisas a mais. Devias recompor-te e voltar para aqui.”
“Eu demiti-me – já não te lembras?”
“Podes ser desdemitido.”
“O Thomas tem falado contigo? O encanto habitual em pessoa? Estou a vê-lo a querer que fales comigo para voltar porque não suporta fazê-lo ele pessoalmente.”
“Não interessa, pois não? Não tem a ver com ele.”
“Eu sei, estás a pensar em mim. Vocês aí são tão calorosos e fofos… Vai dormir abraçado a um ursinho de peluche.”
Kirkland estava a treinar o seu swing, a olhar para a sua extensão, segurando a sua última posição e inspecionando a inclinação do cotovelo, como se pertencesse a outra pessoa. Rick virou as costas e disse a Storey: “Então, se não voltas e não me dizes onde estás, porquê esta chamada? Se não te importas, tenho aqui um jovem à espera duma boa pancada. E não, não quero corrigir a frase.”
“Tu e a porra do teu golfe. Por acaso, podias ser-me útil.”
Aí está, pensou Rick. Nunca desligam, quando precisam de alguma coisa. Não conseguem tirar o sistema da cabeça – acesso a informação que não conseguem obter em mais parte nenhuma. Sabia que havia muitos homens que deixavam a polícia para ir para a segurança privada e depois faziam uma chamada, como quem não quer a coisa, só para saber como estamos, e podes arranjar-me um endereço… Normalmente dizia: “Não, não posso. Se querias esse tipo de acesso devias ter ficado na polícia.”
Mas provavelmente era melhor manter Storey do seu lado em vez de o chatear já. Se Thomas o queria de volta, tinha de continuar a falar com Storey até ceder alguma coisa e poder fazer a sua jogada.
“Queres usar-me e deitar-me fora como se fosse uma toalha suja” – disse.
“É isso mesmo.”
Então Rick ouviu Storey falar-lhe no pequeno grupo em que tropeçara, uma mulher chamada Araminta e um homem chamado Cliff. Por alguma razão envolvera-se com eles e agora estava a alinhar para descobrir o que andam a fazer. Não sabiam nada acerca dele, mas parecia que gostavam da maneira como se portava.
“Então que é que queres? Prisões? Cauções?” – perguntou Rick.
“Tudo. Conheço o Elliott porque já o conhecia da escola. Bem, via-o por aí. Quanto a esta Araminta, acho que é uma completa fraude. Era bom se de repente aparecesse relacionada com ele, mas duvido que apareça.”
“Devias entregar isso aos polícias locais. Para que diabo estás a envolver-te?”
“Dá-me algo para fazer. Além disso, sou um combatente contra o crime, não sou? Nascido para combater o crime.”
“Desaparece. Agora vou dar uma pancada para o buraco catorze, portanto, desampara-me a loja.”
“Vê lá se cais e te magoas.”
Rick cortou a ligação, virou-se e viu Kirkland a olhar para ele, levantando o sobrolho como que à espera de que lhe dissesse de quem era a chamada.
Esquece. Não precisava de saber de nada. Se ia violar a lei, dando informações a Storey, quanto menos pessoas soubessem, melhor.