Читать книгу Storey - Keith Dixon, Keith Dixon - Страница 7

CAPÍTULO DOIS

Оглавление

“Senhor Storey, se quer a minha opinião de profissional, o preço que fixou é de longe demasiado elevado para a casa do seu pai. As habitações na... bem, na sua zona de Coventry deram um grande tombo nos últimos anos. O senhor visa pessoas à procura da primeira casa e o preço que pretende vai desincentivá-las até de a ver por dentro.”

Des-incentivá-las? Meu Deus! “O problema não é meu, pois não? Essa é que é a sua função, vender” – disse.

“Claro…”

“Olhe, baixo cinco por cento se estiverem interessados em fazer negócio.”

“Hoje em dia os compradores são muito mais agressivos. É provável que façam ofertas quinze a vinte por cento abaixo do preço pedido, especialmente na sua zona. A escola local não tem grande reputação e, como sabe, tem sido noticiado um certo número de crimes no último ano. Coisas de pouca importância, coisas pequenas, mas que marcam, por assim dizer.”

“Compreendo o que está a dizer, mas não me importo. Tenho de vender.”

O agente imobiliário chamava-se Jeremy Frost e Paul não gostava dele. Havia muita coisa que lhe desagradava na sua postura. Fingia ser realista ao mesmo tempo que continuava a agir como seu amigo. Talvez fosse assim que trabalhassem atualmente.

Frost estava agora reclinado na sua reluzente cadeira de pele, a descrever o que iam fazer, a alinhar as fotos para serem distribuídas pelos vários parceiros nacionais, a colocar o vídeo no ecrã cíclico da vitrina, e, se quisesse pagar um pouco mais, podiam dar-lhe um espaço especial no portal da web, o que significava uma imagem maior e um aumento garantido de trinta por cento do número de visualizações…

Tratar da venda da casa do pai trouxera à superfície o pior que guardava. Era a casa onde fora criado e agora tinha de a vender. Era como se lhe tivessem pedido que arrancasse um braço e o leiloasse no eBay.

Perguntava Frost: “Tem uma data limite para a venda? Até regressar a Londres?”

“Eu não vou regressar.”

“Ah!, mas pensava…”

“Está preso a mim.” Fez um sorriso aberto. “O seu cliente favorito.”

Frost, devolvendo o sorriso: “Todos os nossos clientes são nossos favoritos.”

“Claro que sim. Mas uns são mais favoritos do que outros, não é? Alguns são tocados pelas vossas mãos mágicas e vendem rapidamente, enquanto outros são deixados a apodrecer. Eu não vou ser um desses, pois não, Jeremy?”

A expressão do agente pareceu congelar e começou a falar da satisfação do cliente, de questionários e dos muitos clientes que se mantinham com eles ao longo de várias vendas…

Paul alheou-se, a pensar: E ele? Que é que vendeu a si mesmo? Sabia que a situação estava a consumi-lo – ir todas as noites para casa, para uma casa vazia que ainda cheirava ao purificador do ambiente que o pai usava. Decidira vender e, depois, procurar outra coisa… um apartamento simpático, talvez perto do centro da cidade, ou uma coisa nos subúrbios mais finos, Styvechale ou Cheylesmore. Até então passaria o mínimo de tempo possível em casa. Tomar o pequeno almoço, sair, voltar à noite e cozinhar alguma coisa para jantar nos tachos e frigideiras que o pai usara durante trinta anos. Depois, ir para a cama, no mesmo quarto onde dormira até sair de casa para ingressar na Faculdade. As recordações… a paz… faziam parte do argumento de venda que criara para si mesmo: era um local temporário para voltar a ambientar-se. Depois de toda a agitação lá do Sul.

“Que tal?” – perguntou Frost.

Paul não ouvira a maior parte, mas não se importava. Os pormenores não eram tão importantes para ele como para Frost. Os compradores ou gostavam do aspeto e do preço da casa ou não gostavam. Ficaria lá o tempo que tivesse de ficar. Certamente não ia voltar a Londres e, em definitivo, não voltaria ao trabalho. Uma vez que se saia da polícia, incendeiam-se as pontes. É virar as costas ao incêndio e procurar nas sombras alguma coisa para ocupar o tempo.

“Faça o que tem a fazer. Venda-a, mas não dada” – disse.

“Nunca faria isso.”

“Eu sei que não, Jeremy. Conto consigo para vender a casa, mas do ponto de vista financeiro não preciso de o fazer. Compreende? Portanto, quero que faça o melhor negócio possível sem afugentar as pessoas. Se não tiver perspetivas nas próximas três semanas, reconsiderarei a questão do agente de que me sirvo. Não quero fazê-lo porque é uma dor de cabeça e não quero envolver-me outra vez nessas conversações bizarras. Venda a casa por um bom preço e ganhe a sua parte. É muito simples. Portanto, não se ponha aí de papo para o ar a ver em que param as modas. Sairei de casa quando quiser trazer cá pessoas para a verem e não interferirei. Mas tem de dar o seu melhor, ambos sabemos disso.” Reparou que Frost empalidecera e perdera a sua petulância. “Não se preocupe” – disse Paul –, “eu não sou mau tipo. Sou apenas um pouco impaciente, de vez em quando. Portanto, ajude-me a resolver isto e tudo correrá bem. De acordo?”

Estava agora em pé, olhando para a cara transtornada de Frost. Pensou que a confusão e o medo que nela via refletiam provavelmente a confusão e o medo que ele próprio tinha, embora nunca o confessasse, nem a si próprio nem a ninguém.

“Já tem os meus números” – disse. “Não tenha medo de os usar.”

Conduziu até casa, passando por ruas que achou mais apinhadas do que se recordava e estacionou à porta de casa do pai. Havia uma garagem nas traseiras, mas era difícil chegar lá e, além disso, estava cheia de coisas que o pai nunca tratara de deitar fora – uma velha máquina de lavar Hotpoint, uma mesa com uma perna partida, uma cadeira de braços. Dissera ao pai que se livrasse de toda aquela bagunça, mas parecia que ele nunca arranjara tempo para isso. Demasiado ocupado no bar ou na horta. A criar coisas que nunca comeu.

Estava a aquecer uma refeição no micro-ondas quando o telefone tocou.

“Milly.”

“Storey. Não telefonas, não escreves…”

“Quando nos morre o pai há coisas a fazer. Socializar não é uma delas.”

“Não tentes fazer com que me sinta culpada. A última vez que me senti culpada dalguma coisa foi em dois mil e quatro, quando derrubei um velhote com um andarilho.”

“Ias a conduzir?”

“A andar demasiado depressa, sem ver por onde ia. Não foi por isso que telefonei.”

“Porque é que telefonaste?”

Ela soltou um suspiro irritante e Paul imaginou-a recostada no seu sofá, no apartamento que alugou ao lado do dele, em Battersea. Estaria de maillot e camisola pretos para treinar as rotinas de dança à frente da televisão, na prateleira por cima da qual se alinhavam os seus troféus reluzentes. Dançava aos fins de semana, com um tipo de Fulham, danças de salão e ensaiava o melhor que podia os seus passos.

Storey era, para ela, um projeto. Houve uma altura em que podiam ter tido alguma coisa, mas ele escolheu mal a oportunidade e deixaram de se falar durante três meses. Depois, reataram, mas numa base diferente. Ele apreciou o facto de ela ainda querer falar com ele, apesar de se ter vindo embora com apenas dois dias de pré-aviso, descarregando em cima dela a responsabilidade de vender a mobília antes que o senhorio a desse. Era hábil – havia de tratar do assunto.

“Ontem à noite apareceu um tipo para falar contigo” – disse ela. “Ouvi-o bater à tua porta e fui lá fora. Disse que trabalhava contigo e queria conversar.”

“Como era ele?”

“Um pouco mais alto do que tu, cabelo cortado à escovinha, lábios grandes, muito vermelho, como se usasse batom ou qualquer coisa parecida.”

“O Rick. Imaginei que ele pudesse aparecer.”

“Obrigado por me teres avisado.”

“Que lhe disseste?”

“Olha, é aqui que esta conversa se torna interessante, sabes? A maioria das vezes sou uma rapariga muito calma, mas, na realidade, neste caso portaste-te mal comigo, Storey. Não preciso de toda a tua história despejada na soleira da minha porta. Tenho a minha própria vida, sabes? Está bem que tenhas tido que ir tratar do funeral, e isso tudo, mas não tinhas de te ir embora, pura e simplesmente. Não quero saber da tua tensão, nem quero saber do teu trabalho. Não quero saber das tuas estantes. Não tens o direito de despejar isso tudo em cima de mim e depois pirares-te para as Midlands.”

“De acordo. Fiz mal. Então, que disseste ao Rick?”

Agora, imaginava-a a olhar para o teto, tentando lembrar-se do que o seu conselheiro lhe dissera acerca de se deixar controlar pela ira. Devia estar a contar até dez. Ou a imaginar anjos. Não imaginava o que ela faria para se recompor. “Disse-lhe que te tinhas ido embora” – respondeu. “Não disse para onde nem porquê. Fingi que não sabia. Não era isso que querias?”

“Não mencionaste o meu pai? Nem Coventry?”

“Segui as tuas instruções.” Já mais calma, um pouco aborrecida, num tom que ele reconhecia bem. “Que é que esse Rick quereria, afinal? Pensava que te tinhas demitido.”

“E demiti. Provavelmente, pensa que consegue fazer-me voltar atrás. Arma-se sempre um pouco em psicólogo. Achava que me conhecia melhor do que eu mesmo.”

“Merda, Storey, tu não te conheces. Andas a caminhar no escuro.”

“Inclino-me perante o teu superior conhecimento.”

“Olha para a tua história recente. Isso dir-te-á tudo o que precisas de saber.”

“Tenho de ir. O meu micro-ondas acaba de apitar.”

“Sim, está bem, não deixes arrefecer o hambúrguer.”

“É um empadão de carne.”

“Então, voltaste às origens. Receio por ti, receio mesmo.”

“Telefono-te quando estiver mais estabilizado.”

“Como se isso fosse acontecer” – disse ela, desligando.

Storey

Подняться наверх