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CAPÍTULO UM

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A terceira vez que Paul Storey a viu era aquilo de que depois se lembraria, quando tudo correu mal.

Não olhara para ele nem lhe dissera nada, pelo menos de início. Mas sabia que tinha reparado nele quando transpôs a porta. Mesmo numa sala cheia de gente, havia algo na maneira como o ignorou – uma tomada de consciência estudada.

Perguntou a si mesmo se devia ir ter com ela, apresentar-se de modo informal, sentar-se à sua frente numa das mesas quadradas pretas e iniciar uma conversa. Vem cá todos os dias, não vem?... Não, era demasiado óbvio. Não produzia o efeito que pretendia. Talvez não devesse dizer nada, limitando-se a puxar uma cadeira, desdobrar um jornal, acenar-lhe com a cabeça e fazer as palavras cruzadas.

Talvez pensasse, então, que andava a persegui-la. Coisa que não era verdade. Era uma mulher atraente e ele acabava de reparar nela…

Entrava todas as manhãs à mesma hora no Starbucks, pouco antes do almoço. Roupa diferente todos os dias, mas com classe, de bom corte, saia abaixo dos joelhos, blusa justa no peito. Como uma mulher de negócios que, apesar de tudo, ainda pretende dar um ar de alguma sensualidade. Trazia uma pequena pasta castanha com fechos dourados. Saltos com alguma altura, mas sem dar um aspeto ordinário. Cabelo louro bem penteado, liso, preso atrás das orelhas… não, duma orelha – a orelha que usava quando estava ao telefone.

Escolhia sempre uma mesa à janela, olhando, através da Broadgate, para lá da estátua de Lady Godiva, em direção ao Wagamama e ao café que fica ao lado. Tinha um computador pequeno em que depenicava e depois parava e olhava pela janela. Mordia o lábio inferior. Bebericava um “Starbucks flat white”. Tinha boa estrutura, testa alta, sobrancelhas arqueadas que pareciam ter sido desenhadas com um lápis, e um toque de cor nas pálpebras. Nariz retilíneo pequeno, mas uns lábios que podiam ser ligeiramente mais carnudos. A pele era imaculada.

Desta vez, só estivera sentada cinco minutos e já estava outra vez de pé, a organizar as suas coisas dentro da carteira – chaves, bolsa, pacote de Kleenex, trocos que recebera do empregado. A meter o computador na pasta. Parecia irritada, nervosa, agora de pé, imóvel, a olhar pela janela para as pessoas que passavam.

Depois, virando-se e olhando diretamente para ele.

Agora, estava a caminhar na sua direção e ele não conseguia mover-se. Estava preso, sentado numa das cadeiras altas, junto da outra janela, perto dum altifalante que tocava Dylan.

Parou a um metro de distância, olhos pretos, loura esbelta de altura mediana, um pouco mais jovem do que ele, rosto um pouco duro.

A dizer: “Se vai ficar a olhar fixamente para mim o dia inteiro, podia, pelo menos, apresentar-se.”

“Estava à espera do momento certo. Não era este.”

“Que quer?”

“Viver um dia de cada vez sem complicações. Obrigado por perguntar.”

“De mim. Que quer de mim?”

Estava a entrar no jogo. Ele gostava disso. Era o que admirava nas mulheres de Londres – tinham pressa. Significava que podia acompanhar o ritmo delas ou abrandar. Nem sempre era ele a marcar o ritmo, tentando avaliar com que rapidez avançar. Era bom encontrar alguém assim na velha terra natal.

“Pergunto a mim mesmo por que razão veio aqui” – disse ele.

“Porque é que não havia de vir?”

“Está em traje de executiva. Está maquilhada. Traz um computadorzinho portátil e um telefone inteligente, senta-se a um canto e age como uma mulher de negócios. Onde é que as pessoas pensam que está quando fala com elas ao telefone? Qual é o endereço do escritório que tem no seu cartão de visita? Não consigo deixar de me interrogar acerca destas coisas.”

“Você é polícia?”

“Pareço um polícia?”

Percorreu-o de alto a baixo com os olhos como se ainda não se tivesse preocupado em olhar para ele.

“Deve ser” – disse ela. “Lá para o extremo mais inferior do espetro.”

“Seguros.”

“Vendas?”

“Perito. A sua casa arde ou tem uma inundação, eu digo quanto é que provavelmente vai receber.”

“Mas você está todos os dias no Starbucks. A observar mulheres estranhas e a assustá-las.”

“Você não está assustada.”

“Não? Como é que sabe? Como é que sabe o que é ir a um local público e descobrir alguém a olhar fixamente para si todos os dias?”

Paul encolheu os ombros. “Não pensava que fosse assim tão óbvio. Pretendia ser furtivo.”

“Eu apenas quero entrar aqui, tomar o meu café e não ser observada. Está bem?”

Estava a perder gás, com a ameaça a desaparecer-lhe dos olhos. Ele tentou situar o seu sotaque – uma vaga cadência escocesa, mais costa leste do que oeste. Era tão ligeiro que perguntou a si mesmo se não se teria dissipado por viver no Sul. Era atraente, fazia com que apetecesse ouvi-la falar para se poder acompanhar os altos e baixos.

Pegava, agora, na pasta e apoiava-se alternadamente numa e na outra perna. Trazia a sua habitual blusa branca por baixo do casaco escuro e ele pensou ver um soutien preto por baixo da blusa. Não tinha, portanto, um ar tão de executiva como isso.

“Como se chama?” – perguntou ela.

“Paul Storey.”

“Com ou sem e?”

“Com. Não há muita gente que faça essa pergunta. Vai procurar-me no Google?”

“Devia ir?”

“Eu não iria. Como é o seu nome?”

“Nem pense. Achava que tinha olhado para mim durante o tempo suficiente para eu lhe conceder um encontro?”

“Passou-me isso pela cabeça.”

“Não vai acontecer.”

“Estou a compreender.” Baixou a voz. “Que se passa? De que é que tem medo?”

“Da vida” – disse ela –, “do universo e de tudo. De muita coisa. E, respondendo à sua primeira pergunta, venho para aqui trabalhar porque o barulho ajuda-me a concentrar-me. No escritório há silêncio a mais.”

“Que faz?”

“Jornalista, pasquim local. Não é que seja da sua conta. Satisfeito?”

“Claro. Porque não haveria de estar?”

Parecia estar prestes a acrescentar qualquer coisa, mas, em vez disso, virou-se e foi-se embora. Observei o seu perfil enquanto empurrava a porta e se dirigia para a esquerda, em direção ao Primark. Com um sorriso aberto, girou a cadeira para se virar para a parede e pegar no café.

A pensar que ela não era jornalista! Vestia-se bem de mais e era mais nervosa do que qualquer jornalista que alguma vez conhecera.

Mas também que não se importava. Afinal, ele também não trabalhava em seguros.

Storey

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