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Jane limpou as mãos suadas na bainha da saia preta e olhou pela janela escura do Mercedes para o pequeno aglomerado de pessoas reunidas em torno do caixão fechado. — Isso está errado, Luke. Eu não deveria estar aqui.

Luke desligou o telefone e deu um tapinha na mão de Jane. — Nós já discutimos isso. Seria pior se você não desse a família suas condolências pela perda — disse ele. — Você está perfeitamente segura, Sal estará bem atrás de você.

— Não é isso que eu quis dizer — disse ela. A última coisa que precisava era intimidar a família com a presença de Sal. — Por minha causa, o pobre homem está morto. Eu sou a última pessoa que eles querem ver.

— Foi considerado um acidente — ressaltou.

— O homem está morto. — Ela fechou os olhos e apertou a mão na testa. Agora não era hora de ter outra enxaqueca. — Eu não estava prestando atenção na estrada e, por causa disso, um homem perdeu a vida.

Luke pegou a mão dela e deu-lhe uma aspirina. — Você não estava distraída. — Ele entregou-lhe uma garrafa de água. — Uma das minhas fontes na investigação me disse que havia álcool no sistema dele.

— Eu tenho certeza que eles teriam encontrado no meu também se tivessem se incomodado em verificar. — Jane colocou o comprimido em sua boca e voltou sua atenção para o funeral. Uma mulher pequena e idosa, provavelmente a mãe do homem, encostou-se a um rapaz e chorou no peito dele.

— Agradeça ao pensamento rápido do Sal. — Luke virou-se para o som de pedras esmagadas quando uma van de notícias parou ao lado do carro. — Boa. Eles estão aqui.

— Você chamou a mídia? — Jane engasgou. — Inacreditável.

— Olha Jane. Não podemos nos arriscar que esse incidente manche sua reputação impecável. — Luke bateu na parte de trás do banco do motorista. — Ela está pronta — disse ele para Sal.

— Eu prefiro fazer isso em particular. — Ela detestava a ideia de ter suas desculpas transmitidas no noticiário da noite.

— Sua corrida para cargos políticos afeta além de você — disse Luke inflexivelmente. — Pense em toda a mão-de-obra e dinheiro que fizeram você ser que é hoje. Você deve isso ao partido.

Por mais que Jane detestasse admitir, ele estava certo; muitas pessoas confiavam nela e no jogo da política, imagem era tudo.

Luke olhou para o relógio. — São apenas alguns minutos. Você tem a angariação de fundos do Hospital Infantil de Houston em uma hora.

O estômago de Jane se agitou. Ela não conseguia pensar em deixar esta pobre família e depois ir direto para um evento de angariação de fundos, onde daria seu discurso sobre a importância de uma comunidade se apoiar mutuamente em momentos de necessidade. Ela se sentia como uma fraude.

A porta se abriu e Sal estendeu a mão, esperando. Ela suspirou quando colocou a mão na dele e saiu. Enquanto caminhavam em direção ao encontro, ela podia sentir olhos olhando para ela com curiosidade. Ela manteve a distância e esperou pelo momento apropriado para se aproximar dos Durans. Ela não pôde deixar de pensar no menino, Javier, que estava sentado atrás dela naquele dia fatídico em que seu voo de Los Angeles caiu, matando todos, exceto eles dois.

Quando ela descobriu que o homem com quem colidiu se chamava Javier Duran, ela fez Luke checar seu passado. As chances de ele ser o mesmo Javier que ela conhecera há muitos anos eram pequenas, mas não conseguia se livrar da sensação incômoda de que era a mesma pessoa. Ela ficou aliviada quando Luke disse que não era, mas triste quando soube que o Javier do avião havia morrido anos atrás de câncer.

— Senadora — Sal tocou seu cotovelo e levou-a para mais perto do encontro.

Jane olhou para a equipe de reportagem e apertou os lábios em uma linha fina. O poder do dinheiro, ela pensou. Certifique-se de obter a garota-propaganda do partido da Federação Americana na foto consolando a família.

Quando a cerimônia chegou ao fim, Jane esperou que os outros saíssem antes de se aproximar. Respirando fundo, ela enxugou as mãos contra a saia uma última vez e caminhou em direção à família em luto.


Levou cada grama de força para Naomi ficar onde estava e não fugir da dor que ameaçava dominá-la. Nos últimos dois dias de preparação para o funeral, ela conseguiu afastar a dor de perder seu pai.

A visão de Welita chorando em seu lenço de renda preta rasgou seu coração, e ela se perguntou que tipo de Deus faria isso com eles. De todas as pessoas do mundo, por que ele? Porque agora? Não era justo, seu pai estava finalmente transformando, reconstruindo sua vida, apenas para perdê-la em um instante.

Ela colocou uma rosa em seu caixão e se perguntou o que faria sem ele. Foi então que viu, pelo canto do olho, uma mulher esbelta saindo de um Mercedes preto. Seus olhos se estreitaram quando reconheceu quem era. Quem diabos ela pensa que é, vindo para cá?

Ela xingou baixinho quando dois homens com câmeras seguiram atrás da senadora.

Chuy cutucou o braço dela. — O que está errado?

— Ali. — Ela inclinou a cabeça na direção dos intrusos. — A atitude daquela mulher. Ela trouxe sua própria equipe de câmera.

— Acabamos aqui, eu direi a Lalo para pegar o carro. Welita não precisa passar por isso. — Chuy correu para Welita, que estava ocupada conversando com o padre.

— Depressa. — Naomi observou a senadora enquanto vinha na direção deles, com os sapatos de salto alto esmagando as pedras que se alinhavam no caminho. Um gigante imenso se arrastava atrás dela. Com seu chapéu de cowboy preto e botas de crocodilo, ele parecia o típico texano, mas o olhar feroz em seus olhos gritava perigo. Ela estremeceu.

— O que há de errado, Mijita? — Welita se aproximou dela. — Chuy diz que você quer ir embora.

— Está ficando quente, e o calor não é bom para o seu problema cardíaco — disse Naomi. — Precisamos levá-la para casa.

Welita parecia desnorteada. — Meu coração está…

— Sra. Duran — Jane chamou.

— Merda — Naomi murmurou baixinho.

Welita se virou e o reconhecimento cruzou seu rosto. — Senadora Sutherland.

Naomi entrou na frente de Welita. — Senadora, não temos nada a dizer a você. — Ela pegou o braço de Welita e virou-a para a direção do carro deles.

— Não, por favor — disse Jane, dando um passo à frente. — Por favor, não se ofenda. Estou aqui para oferecer minhas condolências.

Naomi virou-se. — Você não está aqui por nós. — Ela lançou um olhar para as câmeras de notícias. — Você está aqui para o seu próprio benefício, sua p…

— No seas grocera, Naomi! — Welita repreendeu. — Cuidado com a sua língua.

— Eu sinto muito, Welita. Essa mulher não merece nenhuma gentileza. Ela vem valsando aqui com sua Mercedes chique como se fosse dona do lugar, pensando que pode dizer "me desculpe" e nós vamos acreditar e perdoá-la.

— Essa não é minha intenção. Olhe — Jane respirou fundo —, vamos nos acalmar antes que as coisas saiam do controle.

— Acalmar? Acalmar? — Naomi soltou Welita e deu um passo ameaçador em direção a Jane, com as mãos se fechando em punhos. — Senhora, você não tem ideia do que eu sou capaz de fazer.

— Chuy, pare-a — disse Welita, arregalando os olhos enquanto observava Sal alcançar o interior de seu terno.

Lash

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