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Naomi jogou o último saco na lata de lixo e sentou-se em frente ao pai nos degraus da varanda da frente. Ele estava brincando com uma moeda vermelha, seu símbolo de sobriedade de um mês, lançando-a por entre os dedos. Ela se encostou no corrimão olhando as estrelas no céu sem nuvens e ambos ficaram em um silêncio confortável, não querendo perturbar a rara quietude da noite. Tiros e sirenes soando à distância eram comuns. Mesmo que Naomi morasse a poucos quilômetros de distância, ela se preocupava com a avó e Chuy morando em um bairro tão perigoso.

— Você se divertiu, Mijita? — Perguntou Javier.

— Eu adorei, pai. — Naomi olhou para a garrafa marrom que ele segurava. Ela esperava que ele não estivesse bebendo de novo.

— É cerveja de raiz — disse ele, lendo a expressão em seu rosto. — Eu sei que você está preocupada que eu vou começar a beber de novo. Você tem a minha palavra que não vou beber novamente.

— Você mantém contato com seu padrinho?

— Todo dia.

— Bom.

Seu pai ficou quieto por um momento, se mexeu e limpou a garganta antes de falar. — Há algo que eu quero te dar.

— Papai...

— Antes de dizer não, deixe-me explicar. — Ele deu um tapinha no local ao lado dele. — Venha aqui.

— Mas...

— Por favor, isso é importante.

Ela deslizou através do degrau, e o desconforto tomou conta enquanto esperava que seu pai falasse. A última vez que ele fez a cara que estava fazendo agora foi quando teve que dizer a ela que sua mãe morreu.

Ele enfiou a mão no bolso e tirou um delicado colar de prata. Faíscas azuis e brancas brilhavam nos minúsculos diamantes que se alinhavam no crucifixo enquanto pendia sob a luz da varanda ‒ o colar de sua mãe. Lágrimas nadaram em seus olhos quando se lembrou de estar sentada na cama do hospital, a mãe pálida de dor, círculos escuros sob os olhos, as bochechas magras, mas sempre que ela tocava o colar, a paz cintilava em seus olhos. Sua fé era tão forte; Era algo que Naomi desejava que também tivesse.

Ela deslizou os dedos, sentindo o toque frio da prata. Quando a mãe morreu, o pai guardou-a numa pequena bolsa aveludada e levava-a sempre consigo. — Eu não posso.

— É seu — disse ele, sua voz soando alta na noite tranquila, mesmo que ele falasse com um sussurro.

Naomi baixou a mão. — Isso pertence a você.

Ele pegou a mão dela e virou-a. Ele largou o colar na palma da mão e olhou para o colar por um momento antes de fechar a mão dela. Colocando a mão sobre, ele olhou em seus olhos com um olhar firme. — O futuro está em suas mãos.

— Papai, eu...

— Você ouviu o que eu disse?

— Sim, mas...

— Vou me sentir melhor sabendo que você tem isso. Você está crescida e tem uma vida plena à sua frente. Você precisa sair para se divertir, conhecer alguém especial. Quando foi a última vez que você foi a um encontro?

Naomi fez uma careta. Havia algo sobre ver seu pai perder o amor de sua vida que colocava a palavra namoro em perspectiva. Ela pensou em todos os caras que tinha namorado antes, e não conseguia pensar em um com quem se importasse tão intensamente quanto seus pais se importavam um com o outro.

— Eu não estou interessada em namorar, pelo menos não por agora.

Javier sacudiu a cabeça. — Não se feche para o amor, Mijita. Quando for a hora certa, a pessoa irá encontrá-la. Tudo que você precisa é ter fé. — Ele pegou o colar da mão dela e colocou-o em volta do pescoço.

Naomi estudou seu rosto e se perguntou por que ele estava agindo tão estranho. Ele parecia querer contar mais a ela, então ficou em silêncio, esperando que ele falasse. Em vez disso, ele suspirou e se levantou.

— Onde você está indo? — Ela perguntou, surpresa por ele estar saindo.

— Trabalhar. — Ele tirou as chaves do carro do bolso. — Estou fazendo limpeza no escritório à noite.

— Você tem dois empregos de meio período?

— Eu tenho um monte de contas para pôr em dia. Não olhe para mim assim. — Ele bateu na linha de expressão no meio de sua testa. — Você vai ter rugas antes dos trinta anos.

— Agora que você está melhor, talvez possa conseguir um emprego de TI. — Ela olhou para longe, sabendo que até mesmo o seu diploma em ciência da computação não poderia apagar o rastro de repreensões que recebera de seus empregadores anteriores. Ela não podia deixar de manter a esperança de que em uma cidade grande como Houston, ele pudesse encontrar um emprego e que alguém lhe desse um novo começo antes que o mundo da tecnologia decolasse.

— Talvez. — Javier ligou a ignição, e as luzes que envolviam o Mustang piscaram para a vida.

— Você e Chuy fizeram um bom trabalho. — Naomi se afastou para ver melhor. — É muito legal. Vocês dois deviam entrar nesse negócio juntos.

— Isso não é uma má ideia. Embora, conhecendo Chuy, ele devoraria todos os lucros. — Ele colocou o carro em marcha a ré. — Te vejo amanhã. Não esqueça de colocar o capacete.

— Eu sempre coloco. — Ela acenou.

Ele estava na metade da rua quando do nada ela teve um forte desejo de correr atrás dele. Ela balançou a cabeça e se repreendeu por agir como boba.

— Eu o vejo amanhã. — Ela ligou a moto e seguiu na direção oposta.


Jane Sutherland encostou-se à pia e tirou os Jimmy Choos. Depois de cinco horas conversando e bebendo com os ricos de Houston e com os mais importantes do Texas, seus pés gritavam de dor. Ela mexeu os dedos quando o chão esfriou seus pés doloridos. Muito melhor, pensou. Se pudesse participar de eventos formais descalça, isso tornaria tudo muito mais divertido.

Ela olhou para o espelho e aplicou uma nova camada de batom rubi. Seu cabelo loiro platinado penteado para trás em um coque, destacava grandes olhos cor de safira. Quarenta e sete anos evitando o sol ‒ ela queimava com facilidade ‒ mantiveram o rosto pálido e sem rugas.

Houve uma batida na porta. — Senadora Sutherland? O Sr. Prescott tem um convidado que gostaria de lhe apresentar.

— Eu já estou indo. — Jane suspirou e colocou o batom em sua bolsa Gucci. Outro convidado. Outra bebida.

Quando ela começou sua carreira política, não tinha idéia de que a maior parte do tempo seria gasto na captação de recursos. Havia ingenuamente pensado que ela seria diferente dos outros. Ela faria a diferença. Agora, a única diferença que fazia era se seus apoiadores financeiros se beneficiariam de suas generosas doações para sua campanha.

Ela abriu a porta para encontrar um homem de aparência distinta em pé no corredor.

— Senadora. — Ele abriu um sorriso glorioso. — Eu estava prestes a ver se você precisava da minha ajuda.

— Se bem me lembro, da última vez que você se ofereceu para me ajudar e veio atrás de mim no banheiro feminino, espirrei água em toda a sua gravata de seda. — Jane sorriu para Luke Prescott.

Ele ofereceu seu braço, e ela colocou a mão. — Eu estava te fazendo um favor, te levantando para poder lavar as mãos. Eu não tinha ideia de que você destruiria minha gravata de seda favorita.

— Esse é o risco de ter uma criança de cinco anos de idade como companhia. — Jane apertou o braço carinhosamente.

Seu pai trabalhava para Luke Prescott e ele era um amigo próximo da família. Ao crescer, Luke estava sempre presente nos eventos importantes de sua vida, na liderança da peça da escola, graduação, formatura, mesmo quando o pai não estava. Então, quando a mãe morreu, ele ligava pelo menos uma vez por dia. Ele se tornou seu confidente mais próximo. Foi ideia dele ir para a faculdade de direito, e depois disso, ele encorajou e apoiou sua corrida para o congresso.

— Graças a Deus, eu tinha uma dúzia mais como aquelas. — Seus olhos cinzentos brilharam.

— E por que você não teria? Eu imagino que um bilionário teria pelo menos um par.

— Vamos lá, Jane. Seja gentil com os super ricos, nós também temos sentimentos.

Jane parou na entrada do salão de baile. A sala estava cheia de apoiadores do partido da Federação Americana, todos esperando grandes coisas dela. Tudo o que sempre quis foi ajudar a dar às pessoas uma vida melhor. Quando isso se transformou em usar um vestido de grife e conversar com pessoas que pagavam o preço de um carro pequeno só para estar na mesma sala que ela? Se não fosse Luke insistindo e comprando seu guarda-roupa, o que ele considerava um uniforme necessário, ela usaria algo menos ostensivo.

— Estou um pouco cansada, Luke. Vamos encerrar a noite.

— Mais uma pessoa — ele sussurrou em seu ouvido. — Os Conoleys estão morrendo de vontade de conhecê-la pessoalmente. Eles voaram todo o caminho desde Oklahoma.

— Em seu jato particular, tenho certeza.

— É um pequeno.

— Oh, minhas desculpas. — Jane fingiu preocupação. — Eu não sabia o quanto eles estavam sofrendo. Vamos conhecê-los. — Ela poderia muito bem acabar com isso. Por mais que odiasse a arrecadação de fundos, ela era apaixonada pelo partido da Federação Americana, acreditando que seu valor central de responsabilidades fiscais e comunitárias beneficiaria o país.

Depois de conhecer os Conoleys e tomar uma bebida com eles, Luke a levou para outro grupo de pessoas para se conhecerem. Toda vez que tentava sair, Luke achava uma desculpa para ela ficar. Era estranho que, à medida que a noite avançava, ela se sentia bêbada, embora mal tivesse bebido um copo de vinho. Ela olhou para a bebida, imaginando como ainda poderia estar meio cheia, era como se não estivesse bebendo nada.

— Já tive o suficiente, Luke — disse ela.

— Vá e tenha o seu sono de beleza. — Ele acenou para um homem alto de pé na periferia da sala. — Sal vai te seguir até em casa.

— Isso não é necessário — disse ela. Sal era o guarda costa pessoal de Luke. Onde quer que Luke fosse, Sal estava logo atrás, espreitando nas sombras. Ele tentva se misturar com os outros, o que era difícil para uma enorme massa de dois metros de músculos, e as botas de crocodilo que sempre usava também não ajudavam.

Sal estava ao lado de Luke, seu rosto vazio de emoção. Seus olhos negros olharam por cima de Jane e, por um momento, ficaram tensos e a olharam como se ela estivesse abaixo dele. Uma sensação fria atingiu a boca do seu estômago, ele nunca tinha olhado para ela assim antes e se perguntou o que fez para ganhar um olhar assim.

Luke deu-lhe um leve aceno e Sal deu a Jane um último olhar antes de abrir caminho pela multidão e desaparecer do salão de baile. — Eu vou deixá-la ir agora, mas você terá que se acostumar a ter pessoas ao seu lado em todos os momentos quando for presidente. — Luke a pegou pelo cotovelo e caminhou até o saguão.

Jane riu. — Você está se adiantando. Vamos esperar e ver se consigo sobreviver ao meu mandato atual. Eu mal ganhei meu assento na primeira vez. — Quando Luke e seus amigos sugeriram que concorresse para o Senado pelo Partido da Federação Americana, ela nunca pensou que realmente venceria, já que o partido era novo e tinha poucos apoiadores. Luke, por outro lado, não teve dúvidas.

— Eu nunca estive errado quando se trata de situações como esta. Marque minhas palavras, Jane. Você será a presidente dos Estados Unidos.

As palavras enviaram um arrepio através de Jane. Ela deveria ter ficado feliz em ouvir essas palavras, Presidente Sutherland. Por que o frio que sentia parecia mais medo do que excitação?

Uma leve chuva caia enquanto ela dirigia seu prateado Jaguar XF ‒ um presente de Luke quando se formou na faculdade de direito há muito tempo ‒ nos arredores de Houston em direção a sua casa nos subúrbios. Sentindo-se leve, ela ligou o ar e dirigiu o ar frio em direção ao rosto. Agarrando o smartphone, apertou um botão e esperou pelo bipe familiar.

— Toque Mozart — ela instruiu.

Eine Kleine Nachtmusik tocou através dos alto-falantes enquanto dirigia por uma estrada sinuosa. Os faróis do carro ricochetearam no vidro dos prédios de escritórios pelos quais passou. Enquanto ela olhava para a estrada, lutando para se manter acordada, viu uma luz na rua piscando à distância. Quando passou, a luz se intensificou e depois voltou ao normal. Ela então viu outra luz fazendo a mesma coisa ‒ piscar, ficar mais brilhante, depois voltar ao normal ‒ enquanto passava por cada um deles.

Eu devo ter bebido mais do que pensei. Ela deu um tapa nas bochechas levemente.

O telefone tocou e ela pulou assustada. Olhando para baixo, viu o nome “Luke Prescott” escrito na tela.

Tudo pareceu acontecer de uma vez. Um peso enorme pressionou seu peito, e por um segundo, ela pensou que estava tendo um ataque cardíaco. A pressão se espalhou como se envolvesse todo o seu corpo em um casulo, protegendo-a. Foi o mesmo sentimento que teve trinta e cinco anos atrás, pouco antes do avião em que ela e sua mãe estavam, caísse. Houve um grito de pneus e uma descarga de adrenalina a varreu. A última coisa que viu antes de desmaiar foi um cavalo dançando em direção a ela.

Lash

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