Читать книгу Obsessão implacável - Amante para se vingar - Lucy Gordon - Страница 6

Capítulo 1

Оглавление

A mansão Demetriou ficava situada nos subúrbios de Atenas, sobre uma colina de onde se avistavam as terras que a família sempre tinha considerado suas. Até àquele momento, a única coisa que lhes tinha feito sombra fora o Pártenon, o templo clássico construído mais de dois mil anos antes, o ponto mais alto da Acrópole, mas quase invisível da sua posição do outro lado da cidade. No entanto, há algum tempo que um novo edifício eclipsava a majestosa Villa Demetriou. Tratava-se de um falso Pártenon, erigido por Homer Lukas, o único homem da Grécia que se atrevera a desafiar a família Demetriou ou os deuses milenares que guardavam o templo original.

Mas Homer estava apaixonado e, logicamente, tentava impressionar a sua noiva no dia do casamento. Naquela manhã de Primavera, Lysandros Demetriou estava à porta do casarão, a contemplar Atenas, incomodado por ter de perder tempo a assistir a um casamento estúpido, quando, na verdade, tinha muitas coisas importantes para fazer. De repente, ouviu um ruído atrás de si e virou-se. Era Stavros, um velho amigo do seu falecido pai que vivia perto dali. Tinha o cabelo branco e estava demasiado magro, o resultado de uma longa vida de excessos.

– Vou para o casamento – disse. – Vim, caso quisesses que te levasse.

– Obrigado. Agradeço-te – disse Lysandros, com frieza. – Se chegar cedo, ninguém se ofenderá se partir cedo.

Stavros soltou uma gargalhada.

– Estou a ver que os casamentos não te deixam nada sentimental.

– Não é um casamento. É uma exibição – disse-lhe, com sarcasmo. – Homer Lukas caçou uma estrela de cinema e quer mostrá-la a toda a gente. E as pessoas desejar-lhe-ão felicidade e depois insultá-lo-ão nas suas costas. Eu só lhe desejo que Estelle Radnor lhe torne a vida impossível. Com um pouco de sorte, fá-lo-á… E porque tiveram de se casar em Atenas? Não chegava um daqueles hotéis gregos falsos, como da outra vez?

– Porque o nome de Homer Lukas é sinónimo de estaleiros gregos – disse Stavros. – Depois do teu, claro – acrescentou rapidamente.

Durante anos, as empresas das famílias Demetriou e Lukas tinham monopolizado o ramo da indústria naval, não só na Grécia, mas também em todo o mundo. As famílias eram inimigas, rivais, mas tentavam sempre manter as aparências diante da opinião pública, porque era mais rentável assim.

– Suponho que possa ser um verdadeiro enlace por amor – disse Stavros, com cinismo.

Lysandros arqueou os sobrolhos.

– Um verdadeiro…? Quantas vezes já se casou ela? Seis? Sete?

– Tu é que devias saber. Não foste convidado para um dos seus casamentos há anos?

– Não fui convidado. Naquele momento, hospedava-me no hotel de Las Vegas onde se celebrou o copo-d’água e vi o espectáculo ao longe. Voltei para a Grécia no dia seguinte.

– Sim. Eu lembro-me. O teu pai estava muito confuso. Contente, mas confuso. Pelos vistos, tinhas-lhe dito que não querias voltar a saber nada do negócio. Desapareceste durante dois anos e então, de repente, apareceste e disseste-lhe que estavas pronto para voltar para o trabalho. O teu pai tinha medo de que não estivesses à altura depois de… Bom… – parou ao ver o olhar sombrio de Lysandros.

– Sim – disse, num tom comedido que era muito mais arrepiante do que um grito. – Bom, isso foi há muito tempo. O passado está lá atrás.

– Sim, e o teu pai ficou finalmente convencido das tuas capacidades. Os seus medos desapareceram porque voltaste transformado num verdadeiro leão, capaz de aterrorizar toda a gente. Estava muito orgulhoso de ti.

– Bom, esperemos que consiga aterrorizar Homer Lukas. Caso contrário, estarei a perder as minhas faculdades.

– De qualquer forma, deves ter cuidado – disse Stavros. – Não parou de te ameaçar. Diz que os fizeste perder milhões, a ele e ao seu filho. Inclusive, chegou a dizer que lhos roubaste.

– Eu não roubei nada. Simplesmente, ofereci um negócio melhor ao cliente – disse Lysandros, com indiferença.

– Mas foi à última hora – disse Stavros. – Pelos vistos, estavam prestes a fechar o negócio. O cliente tinha a caneta na mão, prestes a assinar, quando lhe tocou o telefone. E eras tu. Deste-lhe uma informação privilegiada que só poderias ter obtido de uma forma… pouco honrada.

– Não penses que foi para tanto – disse Lysandros, encolhendo os ombros. – Já fiz coisas piores – acrescentou, num tom arrogante e cínico.

– E foi assim – disse Stavros, continuando a história. – O homem largou a caneta, cancelou o negócio e entrou no teu carro. Dizem por aí que Homer fez oferendas interessante aos deuses do Olimpo para que leves o castigo que mereces.

– Mas, até agora, continuo sem castigo, portanto, se calhar, os deuses não estavam a ouvi-lo. Dizem que inclusive chegou a resmungar um palavrão quando viu o meu convite para o casamento. Espero que o tenha feito.

– A sério que não vais levar ninguém contigo?

Lysandros assentiu com a cabeça, sem lhe dar muita importância. Estava habituado a assistir a muitos casamentos por obrigação, às vezes, acompanhado de sócios ou amigos, mas nunca com uma mulher. Isso teria chamado a atenção dos media e não queria que a mulher ficasse com uma ideia errada. Uma mulher despeitada podia provocar muitos danos e ele não queria esse tipo de confusões mediáticas.

– Muito bem. Vamos – disse Stavros.

– Receio que tenha de me atrasar um pouco.

– Mas acabaste de dizer que ias comigo…

– Sim, mas, de repente, lembrei-me de uma coisa que tenho de fazer. Até logo.

A contundência da sua despedida foi tal que Stavros não se atreveu a insistir mais.

O carro esperava-o à frente da porta. No banco de trás estava a sua esposa, que se tinha recusado a acompanhá-lo a ir chamar Lysandros. Dizia que aquela casa desolada e sombria encaixava perfeitamente com o homem sinistro que vivia nela.

«Como pode viver num sítio tão grande e silencioso, sem família, só com alguns empregados?», tinha-lhe perguntado ela mais de uma vez. «Arrepia-me. E não é a única coisa nele que me faz tremer», acrescentara, pensando que não era a única que tinha essa opinião.

Na verdade, quase toda a Atenas estaria de acordo com ela.

Stavros entrou no veículo e contou-lhe o que tinha acontecido com Lysandros.

– E porque mudou de ideias e não quer vir connosco?

– A culpa foi minha. Fui suficientemente parvo para mencionar o passado e então mudou por completo. É muito estranho que tenha apagado aquele período como se nunca tivesse acontecido e, no entanto, é o que o impulsiona a fazer tudo o que faz. Vê o que acaba de acontecer. Um minuto antes, estava bem e, de repente, estava desejoso de se livrar de mim.

– Pergunto-me porque vai sair cedo do copo-d’água.

– Provavelmente, vai ter com aquela… Gatinha.

– Se te referes a… – não chegou a dizer o nome. – Eu não lhe chamaria «gatinha». O seu marido é um dos homens mais influentes de…

– E isso torna-a uma ordinária de categoria – disse Stavros, sem medir as suas palavras. – E, neste momento, está a tentar manter as distâncias para disfarçar um pouco. O seu marido fê-la entrar nos eixos. Ouviu os rumores.

– Provavelmente, sempre soube – disse a sua mulher, com cinismo. – Há homens nesta cidade que não se importam que as suas mulheres durmam com Lysandros.

Stavros assentiu.

– Sim, mas parece-me que ela se envolveu demasiado. Começou a criar expectativas, portanto, Lysandros insinuou alguma coisa ao marido, para que a tivesse com rédea mais curta. E o marido, que não é estúpido, sabe o que lhe convém.

– Nem sequer Lysandros pode ser tão cruel e desumano…

– É exactamente o que é e, no fundo, sabemo-lo muito bem – disse Stavros, num tom cortante.

– Pergunto-me se terá um coração em algum sítio.

– Não tem nenhum e é por isso que afasta as pessoas.

Quando o carro atravessou o portão, Stavros não conseguiu evitar olhar para trás. Lysandros estava à janela, a contemplar o mundo com ar pensativo, como se tudo lhe pertencesse e não soubesse muito bem como geri-lo.

Permaneceu ali de pé até o carro desaparecer e, então, virou-se para o quarto, tentando esclarecer as ideias. Aquela conversa tinha-o afectado demasiado e tinha de resolver aquilo o quanto antes.

Pouco depois, estava a chegar ao falso Pártenon dos Lukas. Saiu do carro, olhou à sua volta e não teve outro remédio senão admitir que Homer gastara muito bem o dinheiro. O grande templo da deusa Atena tinha sido recreado até ao último detalhe, tal como devia ser na época em que fora construído.

De repente, tocou-lhe o telemóvel. Era uma mensagem de texto.

Lamento tudo o que disse. Estava zangada. Parecia que estavas a afastar-te justamente quando estávamos mais unidos. Por favor, telefona-me.

Estava assinado com uma inicial. Lysandros respondeu imediatamente.

Não te preocupes. Tinhas razão. É melhor acabarmos. Perdoa-me por te magoar.

Esperava que fosse o fim, mas, um minuto mais tarde, recebeu outra mensagem.

Não quero acabar. Não sentia tudo o que disse. Vemo-nos no casamento? Podíamos falar.

Desta vez, estava assinada com o seu nome. Ele respondeu:

Sempre soubemos que não podia durar. Não podemos falar. Não quero submeter-te aos falatórios.

A resposta chegou em poucos segundos.

Não me importa. Amo-te. Tua para sempre.

Lysandros leu a mensagem, sem acreditar. Uma loucura estranha parecia ter-se apoderado dela.

A sua resposta foi muito breve.

Desejo-te o melhor para o futuro. Por favor, apaga todas as mensagens do teu telefone. Adeus.

Depois, desligou o telemóvel. Era simples silenciar uma máquina, mas apagar o coração podia ser um pouco mais complicado. No entanto, ele tinha aperfeiçoado a técnica durante muitos anos e a sua mestria era à prova de qualquer mulher do planeta.

Excepto de uma.

Mas nunca mais voltaria a vê-la.

A menos que tivesse muito azar.

Ou sorte.

– Estás fabulosa!

Petra Radnor esboçou um sorriso ao ouvir o elogio de Nikator Lukas.

– Obrigado, querido irmão.

– Não me chames assim. Eu não sou teu irmão.

– Mas sê-lo-ás dentro de algumas horas, quando o teu pai se casar com a minha mãe.

– Irmão adoptivo, no máximo. Não somos parentes de sangue e posso suspirar por ti, se quiser.

– Não. Tu serás o irmão que sempre quis. O meu maninho.

– Maninho! Sou mais velho do que tu!

Era verdade. Ele tinha trinta e sete anos, enquanto ela tinha apenas trinta e dois. No entanto, havia qualquer coisa infantil nele que era íntimo. Ele admirava-a muito e ela entendia porquê. A magricela Petra da adolescência tinha florescido com a idade e, embora não fosse bonita segundo a definição de Hollywood, podia considerar-se atraente. Tinha uma personalidade faiscante que resplandecia nos seus olhos expressivos e num sentido de humor apurado. Para desviar a atenção de Nikator, começou a falar de Debra, a aspirante a actriz que o acompanhava naquela noite.

– Estão espectaculares esta noite. Todos verão como és sortudo.

– Eu preferia ter vindo contigo – disse ele, suspirando.

– Oh, pára! Depois de todo o trabalho que Estelle teve para que ela te acompanhasse, devias estar agradecido.

– Debra é maravilhosa – admitiu. – Pelo menos, Demetriou não conseguirá estar à altura.

– Demetriou? Queres dizer Lysandros Demetriou? – perguntou Petra, de repente. – O verdadeiro Lysandros Demetriou?

– Não há necessidade de o dizeres assim, como se fosse importante – disse Nikator.

– Parece que é. Não estava…?

– Isso não importa. Provavelmente, não virá com nenhuma mulher.

– Ouvi dizer que tem fama de mulherengo.

– É verdade. Mas nunca as exibe em público. Demasiada confusão, suponho. Para ele, são descartáveis. Dir-te-ei uma coisa. Provavelmente, mais de metade das mulheres convidadas para este casamento já passou pela sua cama.

– Odeia-lo, não é? – perguntou ela, com curiosidade.

– Há alguns anos, relacionou-se com uma rapariga da minha família, mas tratou-a muito mal.

– Como?

– Não sei os detalhes. Ninguém sabe.

– Então, se calhar, foi ela que o tratou mal – sugeriu Petra. – E ele pode ter reagido mal porque estava desiludido.

Nikator fulminou-a com o olhar.

– E porque pensas algo parecido?

– Não sei – disse ela, confusa.

Uma voz misteriosa acabava de sussurrar alguma coisa na sua mente, mas não era capaz de distinguir as palavras. Era uma voz que vinha de muito, muito longe, uma voz que a perseguia há anos. Tentou ouvir, mas só encontrou silêncio.

– Ela fugiu e, pouco tempo depois, ouvimos dizer que estava morta. Foi há muitos anos, mas naquela época ele já sabia como apunhalar pelas costas. Tem cuidado. Assim que souber que pertences à família, tentará seduzir-te, só para demonstrar que consegue fazê-lo.

– Seduzir-me? – repetiu Petra, com humor. – Mas o que achas que sou, uma rapariga indefesa? Depois de tanto tempo no mundo do cinema, aprendi a usar o cinismo como arma de defesa. Acredita em mim. De facto, às vezes sou eu quem seduz.

Os olhos de Nikator brilharam.

– Ah, nesse caso… – disse, levantando as mãos.

– Vá – disse ela, com firmeza. – Já está na hora de ires procurar Debra.

Para alívio de Petra, ele afastou-se. Havia algumas facetas de Nikki que eram preocupantes, mas isso podia esperar. Supunha-se que seria um dia feliz.

Verificou a máquina fotográfica. Naquele dia, haveria um verdadeiro exército de fotógrafos profissionais pela sala, mas Estelle, que chamava sempre pelo nome, embora fosse sua mãe, tinha-lhe pedido que tirasse fotografias privadas para a família.

Viu-se ao espelho uma última vez e, então, franziu o sobrolho. Tal como Nikator dissera, estava esplêndida, mas o que servia para outras mulheres, não servia para a filha de Estelle Radnor. Era o grande dia da noiva e só ela tinha o direito de monopolizar toda a atenção.

– Qualquer coisa um pouco mais discreta – murmurou, vendo-se ao espelho, e foi procurar um vestido mais escuro e simples, quase puritano.

Vestiu-o, apanhou o cabelo num coque e voltou a ver-se ao espelho.

– Melhor. Agora, ninguém reparará em mim – disse.

Durante os seus trinta e dois anos de vida, tinha aprendido a viver na sombra da sua mãe, sempre tendo o cuidado de não eclipsar a estrela. No entanto, isso já não era um problema. Ela adorava a sua mãe, mas a sua vida era noutro lugar.

A noiva já se mudara para a mansão e, naquele momento, ocupava a suíte que pertencia à senhora da casa. Petra foi ter com ela.

E, então, as coisas começaram a piorar.

Estelle deu um grito quando viu a sua filha.

– Querida, no que estavas a pensar quando vestiste esse vestido? Pareces uma perceptora da época vitoriana.

Petra, que já estava habituada à pouca subtileza da sua mãe, não levou a mal.

– Pensei que seria melhor ser um pouco discreta. És tu quem tem de chamar a atenção de toda a gente. E estás absolutamente maravilhosa. Vais ser a noiva mais bonita do mundo.

– Mas sabes que és minha filha – disse Estelle. – Se apareceres a aparentar mais dez anos, o que dirão de mim?

– Se calhar, podias fingir que não sou tua filha – disse Petra, com um amargo sentido de humor.

– Demasiado tarde para isso. Já sabem. Têm de te ver jovem e inocente, caso contrário, começarão a perguntar-te quantos anos tenho. A sério, querida, tens de vestir uma coisa mais vistosa.

– Desculpa. Vou mudar de roupa, então?

– Sim, por favor, e fá-lo depressa. E solta o cabelo.

– Está bem. Vou mudar de roupa. Espero que tenhas um dia maravilhoso.

Deu um beijo à sua mãe e esta abraçou-a, como se não tivesse acontecido nada. Estelle Radnor levava sempre a sua avante.

Ao sair do quarto, Petra sorria, pensando que era uma sorte manter o sentido de humor intacto. Trinta e dois anos de vida como filha de Estelle Radnor tinham as suas vantagens, mas também tinham posto à prova a sua paciência mais de uma vez.

De volta ao seu quarto, voltou a mudar de vestido, soltou o cabelo e dispôs-se a ir para a festa. Saiu para o jardim enorme onde estava a multidão de convidados e começou com as apresentações, sorrindo e dizendo as coisas adequadas. No entanto, de vez em quando, o seu olhar desviava-se, procurando um homem.

Lysandros Demetriou…

Já teria chegado?

Aquela hora estranha que tinham passado juntos há tantos anos transformara-se num sonho, mas ele tinha estado sempre presente. Acompanhara a sua carreira através dos media, recolhendo os escassos dados da sua vida privada que passavam para a imprensa. Continuava solteiro e, desde a morte do seu pai, momento em que se tornara director da Demetriou Shipbuilding, vivia sozinho. Isso era tudo o que o mundo sabia de Lysandros Demetriou. Uma vez, encontrara uma fotografia em que mal conseguia reconhecer aquele jovem que conhecera em Las Vegas. O seu rosto tinha mudado ao ponto de inspirar medo. No entanto, ela recordaria sempre aquele rapaz inocente e despeitado, farto da vida e desiludido.

«Fez-me confiar nela», tinha-lhe dito quinze anos antes, como se isso tivesse sido o maior crime do mundo. As fotografias mais recentes mostravam um homem de aspecto cruel e desumano. Era difícil imaginar que aquele homem pudesse ser o mesmo rapaz que se agarrara a ela com lágrimas nos olhos, fugindo dos fantasmas que o perseguiam dentro da sua mente. O que acontecera àquele desespero, à dor? Teria sucumbido ao desejo de destruição e teria acabado por aniquilar o seu próprio coração? O que lhe diria depois de tantos anos?

Ela não era nenhuma santa. Durante aqueles quinze anos casara-se, divorciara-se e desfrutara da companhia masculina em toda a sua plenitude. No entanto, aquele encontro fortuito e fugaz ainda vivia intensamente na sua cabeça, no seu coração e também nos seus sentidos. Nunca tinha esquecido a sensação daquela presença poderosa, o leve roçar dos lábios dele na despedida…

Nesse momento, viu-o.

Ela estava no cimo de uma pequena colina, a observar o desfile de convidados, e viu-o entre a multidão. Era muito fácil localizá-lo, não só pela sua altura impressionante, mas também pela sua presença intensa, magnética, intacta depois de tantos anos.

As fotografias não lhe faziam justiça. Aquele rapaz triste transformara-se num homem atraente, cujos traços sérios, cheios de orgulho e de soberba, atrairiam todos os olhares em qualquer lugar. Em Las Vegas, tinha-o visto envolto na penumbra, mas a clareza daquele dia primaveril revelava uns olhos escuros e profundos, tão enigmáticos como o homem que os possuía. Nikator tinha dito que não viria acompanhado e era verdade. Lysandros Demetriou estava sozinho e, apesar de estar rodeado de gente, dava a impressão de ser inalcançável. De vez em quando, alguém tentava dirigir-lhe a palavra. Ele respondia brevemente e continuava em frente.

A fotógrafa que havia em Petra sorriu. Diante dos seus olhos tinha um homem que valia a pena fotografar. E se isso o incomodasse, certamente perdoar-lhe-ia em nome dos velhos tempos. Tirou uma fotografia e depois outra. Sorriu e avançou até estar diante dele.

Ele levantou o olhar, viu a máquina fotográfica e franziu o sobrolho.

– Guarde isso.

– Mas…

– E saia-me da frente.

Antes que pudesse dizer alguma coisa, ele continuou em frente.

Petra ficou sozinha e o seu sorriso desvaneceu-se. Tinha olhado para ela, mas não a reconhecera. Não podia fazer outra coisa excepto continuar a andar entre a multidão até chegar à capela e ocupar o seu lugar. Não a tinha reconhecido, mas não importava. Tinham passado mais de quinze anos e ela mudara muito.

«Que parva! Como poderia lembrar-se de mim?», pensou, esboçando um sorriso. Já estava na hora de afastar aquelas fantasias românticas estúpidas e divertir-se.

Divertir-se… Às custas dele… Merecia-o por ter passado por ela sem sequer a cumprimentar. A música começou a tocar enquanto a noiva fazia a sua entrada na capela, com um vestido de cetim maravilhoso e aparentando menos dez anos. Petra uniu-se aos outros fotógrafos e esqueceu o que acontecera. Lysandros estava sentado na primeira fila. Ao vê-la, franziu o sobrolho durante um instante, como se tentasse resolver um puzzle complicado.

Depois de pronunciarem os votos matrimoniais, os noivos avançaram lentamente pelo corredor, sorridentes, ricos, poderosos, contentes por terem feito uma boa aquisição. Os convidados começaram a abandonar a capela.

– Lysandros, meu amigo, é bom ver-te.

Ao virar-se, encontrou-se com Nikator Lukas. Ia directo a ele, de braços abertos, como quem dá as boas-vindas a um velho amigo.

Lysandros esboçou um dos seus sorrisos de negócios e cumprimentou o filho de Homer Lukas. Nikator apresentou-lhe a acompanhante, Debra Farley, e ele fingiu estar profundamente impressionado.

Jogos de poder e hipocrisia… Pouco depois, depois de cumprir as exigências da cortesia, o casal continuou em frente e Lysandros respirou fundo, aliviado.

De repente, ouviu um pequeno suspiro risonho atrás de si e virou-se. Era a jovem de cabelo loiro outra vez, a rir-se dele como se acabasse de representar um papel cómico só para ela. Uma tensão violenta apoderou-se dele, uma combinação estranha de dor e prazer. Era como se o mundo tivesse girado num abrir e fechar de olhos, como se já nada pudesse voltar a ser igual…

Obsessão implacável - Amante para se vingar

Подняться наверх