Читать книгу Obsessão implacável - Amante para se vingar - Lucy Gordon - Страница 7
Capítulo 2
Оглавление– Muito convincente – disse Petra. – Deviam dar-te um Óscar.
Tinha-lhe falado em grego e respondeu-lhe na mesma língua.
– Não fui assim tão convincente se me descobriste.
– Oh, é que eu desconfio automaticamente das pessoas… – disse-lhe ela, num tom brincalhão. – Poupa-me muito tempo.
Ele esboçou um sorriso cortês.
– Muito esperta! Então, estás habituada a este tipo de eventos, não é? Trabalhas para Homer? – assinalou a máquina fotográfica que tinha nas mãos.
– Não. Conheço-o há pouco tempo.
– E o que achas dele?
– Nunca vi um homem tão apaixonado – ela abanou a cabeça, como se a ideia lhe fosse incompreensível.
– Sim. É uma pena.
– O que queres dizer?
– Não achas que a noiva está apaixonada por ele, pois não? Para ela, ele não passa de um adorno, um extra mais que complementa todos os diamantes que já lhe terá oferecido. Já passou o melhor momento da sua carreira, portanto, precisa dele como enfeite, para o exibir, como se se tratasse de uma estatueta sobre o suporte da lareira. Quase sinto pena dele e nunca pensei que chegasse a dizer algo parecido.
– Mas, então, isso significa que finalmente alguém conseguiu tirá-lo do pedestal em que estava. Devias estar-lhe agradecido. Pensa em como será fácil derrotá-lo no futuro e tudo graças a ela – Petra olhava-o com a cabeça inclinada e um olhar divertido, como se ele fosse uma peça de museu muito interessante.
– Acho que não precisarei dela para o derrotar no futuro. Desenvencilhar-me-ei sozinho.
– Bom, se calhar, não devias estar tão certo disso – disse ela, fingindo considerá-lo muito a sério. – Não viste como o casamento mostra o pior das pessoas? Tenho a certeza de que, normalmente, não és tão cínico e prepotente como estás a ser neste momento.
Lysandros olhou-a fixamente. Sem dúvida, aquilo tinha sido uma grande impertinência. No entanto, em vez de a sentenciar com um dos seus argumentos contundentes, sentiu vontade de continuar com a batalha verbal.
– Claro que não. Normalmente, sou muito pior.
– Impossível!
– Todos os que me conhecem poderão dizer-te que hoje estás a ver o meu lado mais amável e simpático.
– Não acredito. Alguma coisa me diz que és muito mais sensível no fundo. As pessoas choram no teu ombro, as crianças recorrem a ti em busca de consolo e os que têm problemas procuram a tua ajuda.
– Nunca fiz nada para o merecer – garantiu ele, com veemência.
A multidão mexia-se à volta deles, obrigando-os a afastarem-se para um lado.
– Surpreende-me que Homer tenha escolhido um Pártenon de imitação – disse-lhe ele, quando saíram da capela.
– Oh, queria o original, mas aqui entre nós os dois… – ela baixou a voz – pensou que não estava à altura das suas exigências e quis fazer um melhor. Portanto, construiu este para mostrar como se podia ter feito melhor.
Antes que pudesse evitá-lo, Lysandros soltou uma gargalhada. Vários convidados viraram-se para ele, surpreendidos. Um jornalista olhou-o com surpresa e tirou algumas notas.
Petra também se riu. Ele conduziu-a até onde serviam as bebidas e ofereceu-lhe um copo de champanhe. As mesas do copo-d’água estavam no exterior. Os convidados estavam a sentar-se, preparando-se para receber o casal de recém-casados.
– Volto já – disse ela.
– Não demores muito. Ainda não me disseste o teu nome.
Ela olhou para trás e esboçou um sorriso curioso.
– Não. Não disse, pois não? Se calhar, pensei que não era necessário. Até já – levantou o copo de champanhe e foi-se embora.
– É um demónio ardiloso – disse uma voz atrás de si.
Lysandros virou-se e reconheceu em seguida um dos seus velhos aliados.
– Giorgios! – exclamou. – Devia saber que tu nunca faltas quando há boa comida.
– Boa comida, bom vinho, mulheres bonitas. Bom, tenho a certeza de que também te deste conta – olhou para a jovem que se afastava deles.
– É encantadora – disse Lysandros, num tom prudente.
– Oh, não te preocupes! Nem me passaria pela cabeça. Jamais desejaria a filha de Estelle Radnor.
Lysandros ficou tenso.
– O quê?
– Não te culpo por a quereres só para ti. É linda.
– Disseste «a filha de Estelle Radnor»?
– Não te disse quem é?
– Não. Não me disse.
Dirigiu-se para Petra, surpreendido. Como tinha caído na armadilha tão facilmente? Os seus comentários sobre a mãe deixavam-no em desvantagem e isso era uma coisa que não ia tolerar. Ela poderia ter-lhe dito quem era, mas não o fizera, o que significava que estava a gozar com ele. Os traços de Lysandros endureceram imediatamente.
Era demasiado tarde para a alcançar. Já tinha chegado à plataforma onde estava situada a mesa dos noivos. Um empregado acompanhou-o até ao seu lugar, que também era na mesa principal, mas numa ponta, um pouco afastado dela. Podia vê-la perfeitamente, mas não estava suficientemente perto para falar. Ela estava envolvida numa conversa animada com o companheiro do lado, rindo-se e inclinando a cabeça para trás com entusiasmo, emanando alegria. Embora com certa reticência, Lysandros não teve outro remédio senão admitir que era uma jovem encantadora, mas ele não estava com humor para se deixar encantar.
Num dado momento, ela levantou o olhar e os seus olhares encontraram-se. Evidentemente, ela sabia que o pequeno truque tinha resultado e os seus olhos diziam tudo.
Lysandros, no entanto, não se deixou afectar e lançou-lhe um dos seus olhares infalíveis. Vingar-se era apenas uma questão de tempo para alguém como ele.
De repente, ouviram-se ovações e as pessoas começaram a aplaudir. Eram o senhor e a senhora Lukas, fazendo a sua entrada triunfal. Ele tinha sessenta anos, o cabelo grisalho e uma constituição forte e aparentemente autoritária. No entanto, quando se sentaram à mesa, inclinou-se sobre a esposa e deu-lhe um beijo de adoração na mão. Ela parecia prestes a desmaiar de alegria perante semelhante demonstração de devoção ou talvez se tratasse do diamante de cinco milhões de dólares que usava no dedo. A jovem que ousara enganar Lysandros Demetriou uniu-se aos aplausos e deu um beijo à mãe.
Os convidados dispuseram-se a desfrutar dos manjares da festa. Como pudera confundi-la com uma mera empregada? A sua atitude calma e descontraída deveria ter-lhe dito alguma coisa. Os noivos tinham pousado para ela ao verem-na a aproximar-se e também tinham tirado fotografias na sua companhia.
– Temos de tirar uma fotografia juntos – disse Nikator, de repente, colocando-se ao lado dela. – Irmão e irmã – ouviu Lysandros a dizer.
Reivindicando um direito de irmão, pôs-lhe o braço à volta da cintura e puxou-a para si. Ela entrou no jogo, mas Lysandros conseguiu captar o olhar exasperado que atravessava o seu rosto. Assim que pôde, desembaraçou-se do irmão adoptivo e entregou-o a Debra Farley, como uma enfermeira que tenta livrar-se de uma criança tola.
Quando a comitiva começou a espalhar-se, Lysandros aproveitou para se aproximar dela. A jovem esperava-o com um ar brincalhão e expectante.
– Suponho que tenha de ter mais cuidado da próxima vez – disse ele, num tom sério.
– Não foi muito prudente, pois não?
– Suponho que te tenha parecido muito divertido deixares-me dizer todas aquelas coisas sobre a tua mãe sem revelares o teu parentesco.
– Eu não te obriguei a dizer nada. O que se passa? Não sabes aceitar uma brincadeira?
– Não – disse ele, com contundência. – E não me pareceu nada divertido.
Ela franziu o sobrolho.
– Há alguma coisa que te pareça divertida?
– Não. As coisas são mais simples e seguras dessa forma – disse ele.
O bom humor de Petra desvaneceu-se.
– Coitado…
Lysandros ficou desconcertado. Parecia que o dizia a sério.
Ninguém tinha voltado a mostrar-lhe compaixão desde aquela vez, há tanto tempo… Há muito tempo.
De repente, a chama da suspeita acendeu-se num canto da sua mente, embora os seus pensamentos olhassem para o outro lado.
– Se achas que insultei a tua mãe, peço desculpa – disse-lhe, num tom seco.
– Na verdade, foi a mim que insultaste.
– Não vejo como.
Ela olhou para ele nos olhos, com uma expressão contraditória, cheia de incredulidade, indignação e, sobretudo, bom humor.
– Não vês, pois não? – perguntou-lhe. – Todo este tempo e ainda não… A sério que não te deste conta… Bom, devo dizer que quando se fala com uma mulher pela segunda vez, o mais cortês é lembrar-se da primeira vez.
– Segunda vez? Alguma vez…? Já nos…?
De repente, uma labareda de lembranças iluminou a sua mente e então soube.
– Eras tu – disse, lentamente. – No telhado, em Las Vegas…
– Ena, estou a ver que te lembras perfeitamente!
– Mas eras muito diferente. És outra pessoa.
– Espero que não. Sou a mesma em algumas coisas e noutras, não. Tu também estás muito diferente, mas é mais fácil identificar-te. Queria que me reconhecesses, mas não o fizeste – suspirou num estilo dramático e teatral. – Oh! Estou desolada!
– Era-te indiferente que te reconhecesse ou não – disse ele, sem vontade de brincadeiras.
– Bom, se calhar.
A orquestra estava a sentar-se e a pista de dança estava a ser limpa, portanto, tiveram de se afastar um pouco para um lado. Lysandros sentia-se como se acabasse de entrar num mundo estranho e desconhecido onde nada era o que parecia. Ela tinha saído do passado, interpondo-se no seu caminho e desafiando-o com velhas lembranças e receios.
– Ainda não consigo acreditar que sejas tu. Tens o cabelo diferente. Então, usava-lo muito curto.
– Era mais prático. Estava rodeada de estrelas rutilantes, portanto, tinha de desempenhar o meu papel de adolescente rebelde.
– Era só o que fazias?
– Bom… O adolescente típico passa sempre por uma época de loucura, bebe tudo o que pode, chega tarde a casa, tem muitos engates… Mas toda a gente à minha volta fazia justamente isso, portanto, não tinha muito encanto para mim. Eu tinha de fazer justamente o contrário e foi por isso que cortei o cabelo, comprei roupa barata, fui uma aluna exemplar e sempre me deitei cedo. Ena! Sim, era uma rapariga exemplar. Chata, mas exemplar.
– E o que aconteceu?
Ela riu-se à gargalhada.
– A minha mãe começou a preocupar-se com o meu comportamento estranho e levou-lhe algum tempo a habituar-se à ideia de que ia directa para a vida académica.
– E em que te especializaste?
– Especializei-me em História Antiga, na Grécia. Escrevo livros, faço conferências e, na verdade, não sei tanto como aparento – disse, num tom brincalhão.
– Como a maioria – disse Lysandros, sem conseguir resistir.
– Como a maioria.
– E a tua mãe acabou por aceitar?
– Oh, sim! Agora, impressiona-a muito. Assistiu a uma das minhas conferências e disse-me: «Querida, foi fantástico. Não entendi nem uma palavra!». E fui eu quem a apresentou a Homer – olhou à sua volta. – Portanto, podes atribuir-me a culpa disto tudo.
Era a altura de abrir a pista de baile. Estelle e Homer foram para a pista e dançaram até agradarem a todos os fotógrafos.
– Não vais tirar fotografias?
– Não. Eu só tiro as fotografias de família. O que estão a fazer agora é puro espectáculo.
Nikator cumprimentou-a com a mão ao passar ao seu lado, enquanto dançava com Debra.
Petra suspirou.
– Tem trinta e muitos anos, mas, no fundo, é um menino. Não quero sequer imaginar o que acontecerá quando se encarregar da… – parou de repente e tapou a boca. – Não disse nada.
– Não te preocupes. Não disseste nada que não se saiba. Estou a ver que aprendes muito depressa – acrescentou, num tom sarcástico que não dava lugar a dúvidas.
Os dois grandes clãs que controlavam o negócio dos estaleiros da Grécia costumavam recorrer a meios pouco honrados para tirarem vantagem e, às vezes, isso incluía um pouco de espionagem, portanto, qualquer comentário casual poderia transformar-se numa faca de dois gumes.
A música acabou e começou outra. Debra foi atrás de um produtor poderoso e Nikator pôs-se a andar em direcção a Petra.
– Oh, por favor, dança comigo! – exclamou Petra, de repente, dando o braço a Lysandros e arrastando-o para a pista.
– O que estás…? – antes de acabar a frase, encontrou-se a dançar com ela.
– Sim, eu sei. Os convencionalismos da alta sociedade ditam que tenho de esperar que me convides, mas isto não é a alta sociedade. Para mim, é a alta sujidade – acrescentou, num tom irónico.
Lysandros surpreendeu-se. Nem sequer ele mesmo teria conseguido expressá-lo melhor.
– Se calhar, os teus receios eram infundados. Como és uma rapariga tão chata e exemplar, não creio que fosse pedir-te que dançasses com ele.
– Nikator tem gostos muito estranhos – disse ela, rapidamente.
Ela deslizava entre os seus braços, mexendo-se e virando-se contra o seu corpo, seguindo o ritmo e dançando com desenvoltura, em perfeita sincronia. Lysandros sentia-se tentado a agarrá-la com força, a puxá-la para si e a deixar que acontecesse alguma coisa.
Mas não. Não naquele momento. Ainda não.
Ela sabia que estava a pensar e um calafrio gelou-lhe o sangue.
– Não gostas de dançar? – perguntou-lhe, pouco depois.
– Isto não é dançar. Isto é entrar na alta sujidade – disse ele.
– É verdade, mas irritámos Nikator e isso já é alguma coisa.
Tinha razão. Nikator observava-os com ar carrancudo, como uma criança a quem tivessem arrebatado um brinquedo.
De repente, Lysandros esqueceu tudo. O seu rosto estava muito perto e o sorriso que lhe iluminava os lábios atravessava-o.
– O que vais fazer a seguir?
– Ficarei aqui alguns dias ou semanas. Assim, aproveitarei para fazer um pouco de investigação. Homer tem bons contactos. Há uma cripta num museu que nunca foi aberta, mas ele vai falar com algumas pessoas.
Lysandros desceu o olhar e contemplou aquele corpo sensual que se mexia nos seus braços, aquele rosto encantador que sorria de forma natural, os olhos azuis, profundos e misteriosos… O que fazia uma mulher tão viva a investigar os mortos? Ela era um ser de luz, não da escuridão das sepulturas. As mãos dela não tinham sido feitas para folhearem livros poeirentos, mas para acariciarem o rosto de um homem enquanto ele lhe apreciava a nudez.
– Consideras uma sorte poderes visitar museus?
– Vou ter a oportunidade de ver coisas com as quais muitos estudiosos só podem sonhar, portanto, é um privilégio.
– E não há mais nada que gostes de fazer?
– Perguntas-te porque é que uma mulher se preocupa com essas coisas? As mulheres foram feitas para o prazer. Os assuntos importantes são para os homens.
Lysandros hesitou um instante. Ela acertara quase em cheio.
– Não queria dizê-lo assim. Mas se a vida te oferece tantos caminhos possíveis…
– Como Nikator? Sim. Poderia atirar-me nos seus braços ou a qualquer outra parte do seu corpo – disse-lhe, com mordacidade.
– Desculpa – apressou-se a dizer ele.
– Onde estava? Ah, sim, nos caminhos!
– Esquece Nikator – disse ele, num tom impaciente. – Não é um caminho, mas um beco sem saída.
– Sim, já me dei conta. Já não tenho quinze anos. Segundo o meu bilhete de identidade, tenho trinta e dois anos.
– Se estás à procura de um elogio, escolheste o homem errado.
– Oh, é claro! Eu nunca me aproximaria de ti à procura de elogios ou louvores, mas há uma coisa que… – hesitou um pouco, como se estivesse a tentar encontrar as palavras certas. – Sim, há uma coisa que nenhum homem poderia dar-me, excepto tu – sussurrou.
– E o que é? – Lysandros não queria perguntar, mas a tentação foi mais forte.
– Um bom conselho financeiro – declarou ela. – Sim! Consegui!
– O quê?
– Fiz-te rir.
– Não estou a rir-me – disse ele, tentando disfarçar.
– Pois, estarias se não te esforçasses tanto em disfarçá-lo. Aposto que sou capaz de te fazer rir. Por favor, sê agradável por uma vez e deixa-me desfrutar da minha pequena vitória.
– Eu nunca sou agradável, mas, desta vez, deixar-te-ei levar a tua avante.
– Só desta vez? – perguntou ela, arqueando os sobrolhos.
– Normalmente, prefiro ser eu a sair vitorioso.
– Poderia encará-lo como um desafio.
– Os desafios… correm-te bem? – perguntou-lhe ele, pouco depois.
– Oh, sim! Levo sempre a minha avante.
– Tal como eu… Pressinto que se adivinhe uma grande batalha.
– Certamente – disse ela. – Estou a tremer só de olhar para ti.
Ele guardou silêncio e um sorriso desenhou-se nos seus lábios.
Petra tinha a sensação estranha de que todas as mulheres presentes na sala estavam a olhar para ela. Tinham-lhe dito que a maioria delas já passara pela cama de Lysandros e, de repente, soube que era verdade. Todas aquelas mulheres despeitadas lhe cravavam os olhos como dardos envenenados, olhos injectados de sangue, cheios de lembranças quentes, doces, gloriosas, amargas… Havia uma mulher em particular cujo olhar indiscreto e ciumento chamara poderosamente a atenção de Petra. Aquela criatura petulante com um vestido extravagante tentava fulminá-la com o olhar. A última conquista de Lysandros Demetriou? Talvez… Aqueles olhos eram iguais aos das outras. No entanto, neles palpitava um profundo ressentimento, um instinto assassino…
De repente, Lysandros fê-la girar enquanto dançavam, cada vez mais depressa, fazendo-a esquecer tudo o que a rodeava. O mundo desvaneceu-se à sua volta. Já nada importava.
Acabaria nos braços dele, vítima de uma paixão febril? Acabaria como todas as outras, sofrendo ao longe? Não. Alguma coisa lhe dizia que o caminho que iam percorrer juntos teria muitas curvas e contracurvas.
Naquele momento, foram interrompidos por gritos provenientes de muito perto. Todos os convidados deixaram de dançar e afastaram-se, revelando o casal de recém-casados, entregues a um abraço de amor. Tal como se esperava, o beijo prolongou-se até a multidão começar a aplaudir e então, a pouco e pouco, todos os casais começaram a abraçar-se e a beijar-se, imitando os homenageados.
Lysandros ficou imóvel, contemplando a cena. Ainda a segurava pela cintura, a um centímetro de distância. Só teria de dar um passo e cobrir aqueles lábios com os seus.
Ela levantou o olhar.
– Que espectáculo! – exclamou ele, olhando à sua volta e falando num tom de desaprovação. – Não vou ofender-te ao entrar no jogo – largou-a e recuou, sem lhe dar opção alguma, excepto fazer o mesmo.
– Obrigada – disse ela, num tom formal. – É um prazer conhecer um homem com sentido de decoro – disse-lhe, tentando reprimir a vontade de lhe dar um murro.
– Receio que tenha de partir. Já descurei os meus negócios durante demasiado tempo. Foi um prazer voltar a ver-te.
– Igualmente – disse ela em tom seco.
Ele inclinou-se com cortesia e um segundo depois já partira.
Estupefacta, Petra viu-o a partir, incapaz de acreditar no que acabava de acontecer. Lysandros Demetriou era um homem com uma vontade de ferro e um coração de aço. Tinha-a deixado ali e partira sem mais nem menos, sem olhar para trás.
– Não te preocupes. Tens de ter paciência.
Petra levantou o olhar e encontrou-se com a mulher em quem reparara enquanto dançavam. Tinha-a visto a chegar à festa acompanhada de um dos homens mais ricos e poderosos da cidade.
– Não consegui evitar observar-te enquanto dançavas… com Lysandros – disse-lhe, olhando-a com uma mistura de desprezo e pena. – Ele é assim, sabes? Aproxima-se muito e depois afasta-se, para pensar um pouco. Quando decidir que encaixas na sua agenda apertada, voltará quando lhe convier.
– Se eu estiver de acordo – disse Petra.
A mulher soltou uma gargalhada fria e arrepiante.
– Não sejas ridícula. Claro que estarás de acordo. Tem-no escrito na testa. Se regressasse neste preciso instante, estarias mais do que disposta.
– Vejo que sabes muito bem do que estás a falar.
– Oh, claro que sei! Já estive lá. Sei o que está a passar-te pela cabeça neste momento, porque também passou pela minha. «Quem acha que é? Por acaso, pensa que, se voltar a entrar por aquela porta, cairei rendida aos seus pés?» Blá, blá, blá… Mas, então, olha para ti como se fosses a única mulher no mundo e cais rendida aos seus pés, como não poderia ser de outra maneira. E será maravilhoso, durante algum tempo. Estar nos seus braços, na sua cama… Descobres um universo com que jamais sonhaste… Mas, um dia, acordas e dás-te conta de que tens os pés na terra. Sentes muito frio porque ele se foi embora. Acabou contigo. Já não existes para ele. Então, chorarás e sofrerás, negando a realidade, mas ele não atenderá as tuas chamadas, portanto, acabarás por acreditar. Não tens outro remédio – deu meia volta e pôs-se a andar, mas então parou. – Achas que és diferente, mas nenhuma mulher é diferente para ele. Adeus.