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V
ОглавлениеGuarda estes versos que escrevi chorando
Como um alivio á minha soledade,
Como um dever do meu amor; e quando
Houver em ti um éco de saudade,
Beija estes versos que escrevi chorando.
Unico em meio das paixões vulgares,
Fui a teus pés queimar minh'alma anciosa,
Como se queima o oleo ante os altares;
Tive a paixão indomita e fogosa,
Unica em meio das paixões vulgares.
Cheio de amor, vazio de esperança,
Dei para ti os meus primeiros passos;
Minha illusão fez-me, talvez, criança;
E eu pretendi dormir aos teus abraços,
Cheio de amor, vazio de esperança.
Refugiado á sombra do mysterio
Pude cantar meu hymno doloroso;
E o mundo ouviu o som doce ou funereo
Sem conhecer o coração ansioso
Refugiado á sombra do mysterio.
Mas eu que posso contra a sorte esquiva?
Vejo que em teus olhares de princeza
Transluz uma alma ardente e compassiva
Capaz de reanimar minha incerteza;
Mas eu que posso contra a sorte esquiva?
Como um réo indefeso e abandonado,
Fatalidade, curvo-me ao teu gesto;
E se a perseguição me tem cansado.
Embora, escutarei o teu aresto,
Como um réo indefeso e abandonado.
Embora fujas aos meus olhos tristes,
Minh'alma irá saudosa, enamorada,
Acercar-se de ti lá onde existes;
Ouvirás minha lyra apaixonada,
Embora fujas aos meus olhos tristes.
Talvez um dia meu amor se extinga,
Como fogo de Vesta mal cuidado
Que sem o zelo da Vestal não vinga:
Na ausencia e no silencio condemnado
Talvez um dia meu amor se extinga.
Então não busques reavivar a chamma,
Evoca apenas a lembrança casta
Do fundo amor daquele que não ama;
Esta consolação apenas basta;
Então não busques reavivar a chamma.
Guarda estes versos que escrevi chorando,
Como um alivio á minha soledade,
Como um dever do meu amor; e quando
Houver em ti um éco de saudade,
Beija estes versos que escrevi chorando.