Читать книгу O Treinador De Futebol - Marco Bruno - Страница 10

EFEITOS FISIOLÓGICOS DO TREINAMENTO

Оглавление

A condição física

O organismo humano pode aumentar as suas capacidades funcionais à medida notável mediante o processo fisiológico do treinamento.

Quando o nosso corpo é submetido a um exercício duma certa intensidade, imediatamente verifica-se umas reacções:

– Aumento dos batimentos cardíacos;

– Aumento do ritmo respiratório;

– Aumento da profundidade dos actos respiratórios;

– Aumento da secreção do suor.

Estas reacções manifestam-se independentemente da condição do indivíduo embora esta última pode determinar o comportamento e valor. Trata-se de mutações momentâneas porque mal que cessa o exercício físico também estas mutações regridem e em pouco tempo o organismo retoma o seu estado normal. O intervalo de tempo para o retorno à normalidade é habitualmente mais breve quanto mais elevada é a condição do indivíduo.

O termo “condição física” está para indicar o estado particular pelo qual o Atleta encontra-se na melhor disposição, do ponto de vista físico, para realizar uma determinada prestação.

Uma das manifestações típicas da condição física é o distanciamento do “limiar da fadiga”.

O que é a fadiga? O que é o limiar da fadiga?

Por fadiga entendemos a diminuição do poder funcional dum órgão, ou de todo o organismo, devido a um excesso de trabalho.

O limiar da fadiga representa o limite da demarcação entre a eficácia completa e o inicio do decréscimo do poder funcional.

O treinamento através de múltiplas actividades propõe-se para a obtenção dum melhoramento das prestações e de distanciar o momento do aparecimento da fadiga.

Na prática, o treinamento manifesta-se como uma repetição sistemática e racional de determinados movimentos e comportamentos com o objectivo de obter um melhoramento da prestação.

As mutações estruturais e funcionais que se verificam no nosso corpo por causa do treino, têm uma estreita relação com o tipo de prestação motora que as provocou: toda forma do movimento corresponde um tipo de adaptação. Praticamente acontece que nas fases imediatamente sucessivas ao esforço, as estruturas orgânicas e musculares solicitadas para produzi-lo e para suportá-lo, não se limitam em superar a situação da fadiga com um retorno às condições de normalidade, mas têm uma reacção reconstrutiva que as leva para superar a situação precedente a estimulação.

Estes momentos de super – compensação têm uma limitada duração e progressivamente volta-se à situação de normalidade. Torna-se necessário provocar outras situações de super – compensação antes que estejam completamente esgotadas às precedentes, provocar isto é um “somatório da acção treinada”

(Matwejew, 1972).


O repetir-se destas situações stressantes vai provocar a gradual adequação das capacidades atléticas, colocando o organismo em condições de superar cargas de trabalho com menores acumulações de fadiga, ou então de exprimir prestações cada vez mais elevadas. A super – compensação não deve ser entendida como um ponto de vista fisiológico mas apenas como melhoramento de acumulações de glicogénio.

Mais grandes são os depósitos de glicose (reservas de glicogénio) no músculo do jogador, mais tarde lhe causará cansaço e mais demoradamente vai manter a capacidade de realizar um trabalho com altíssima intensidade. (Cogan Coyle, 1989).

O elemento basilar da prestação futebolística no que diz respeito ao uso e ao consumo de energia, é a acção da corrida.

Os especialistas preocupam-se de relevar “como” corre o jogador amador durante uma partida; em linhas gerais verificou-se que a tal corrida equivale cerca de 8.000 metros.

Isto não representaria tão-pouco uma prestação atlética de nível médio, se referida exclusivamente ao tempo total do jogo (90ˈ).

Uma análise cuidada da carga de trabalho, mostra que no âmbito desta distância são efectuados:

– Arranques;

– Paragens e travagens;

– Mudanças de direcção;

– Controles da bola;

– Disputa com os adversários.

Em outras palavras, a partida de futebol é um suceder-se de prestações diferentes para tipo de intensidade segundo o desenrolar do jogo e se verificam dentro dum determinado período de tempo. Qualquer combinação da prestação futebolística com aquelas de outras modalidades (ex: atletismo) é verdadeiramente arbitrário e errado. O jogador de futebol do ponto de vista atlético é para considerar-se apenas um jogador e basta. Os 8.000 metros de corrida do jogador estão assim repartidos:

– Caminhada cerca de 20% .....................................(~1.600 metros);

– Corrida lenta cerca de 35% .................................. (~2.800 metros);

– Passada cerca de 25% ......................................... (~2.000 metros);

– Sprint cerca de 15% ……………………………………………… (~1.200 metros);

– Marcha atrás cerca de 5% ……………………………………… (~400 metros).

Os médios normalmente percorrem distâncias superiores em relação aos defensores e atacantes. As qualidades de corrida e o tipo de passo varia muito de papel a papel e no mesmo papel em relação às características físico – atléticas e sobretudo naturais do jogador.

As distâncias percorridas na máxima velocidade variam de ¾ metros até 25/30 metros, aquelas mais frequentes resultam ser de 10/15 metros e são repetidas 50/60 vezes.

Considero interessante apresentar também os resultados de um estudo sobre as frequências cardíacas manifestadas pelos jogadores durante uma partia. Os valores registados demonstram que o jogador não é sujeito a tensões muito elevadas.


Durante todo tempo duma partida foram relevadas as seguintes frequências de pulsação:


Tais cifras induzem algumas considerações de carácter geral:

1. Existem diferenças significativas entre as prestações médias dos vários jogadores;

2. Com a excepção do defensor central todos os outros jogadores são submetidos à uma vasta gama de estímulos;

3. Nos defensores e médios é prevalente o período de intensidade mínima, mas também o mais longo de intensidade máxima.

Procuramos agora analisar como o movimento e o treino possam produzir mudanças no nosso corpo. Por cortesia descreverei separadamente os efeitos do movimento produzidos nos músculos, nas articulações, nos ossos, nos órgãos internos, na mente e também nas relações com os outros, mas é necessário ter presente que muitas vezes tais efeitos manifestam-se simultaneamente.


EFEITOS NOS MÚSCULOS

Os músculos são órgãos activos do movimento, são efectivamente constituídos por fibras que na presença de impulsos (comandos nervosos) contraem-se. O movimento produz nos músculos as seguintes transformações:

1. Aumento do volume: o musculo, se deixado trabalhar intensamente para carregar pesos ou para vencer uma resistência, torna-se mais grosso e simultaneamente aumenta a sua força.

2. Aumento da largura: o músculo mantém ou aumenta a sua largura por meio do trabalho contínuo a que é submetido, o alongamento muscular permite explorar em pleno a extensão articular.

3. Aumento dos capilares: o musculo, empenhado num trabalho de moderada intensidade, mas de longa duração, aumenta a sua capilaridade ou melhor o numero de pequenos canais que fazem chegar o oxigénio (trazido pelo sangue) às fibras musculares. Consegue uma melhorada capacidade de fornecer outra vez de oxigénio: condição que permite ao musculo de resistir mais tempo à fadiga.

4. Aumento das substâncias energéticas: o movimento permite o aumento das substâncias energéticas (glicogénio) necessário para a contracção muscular.

5. Melhoramento da transmissão dos estímulos nervosos: o treino fica mais veloz e precisa da transmissão dos estímulos nervosos a partir do cérebro até aos músculos, melhorando desta forma a velocidade e a coordenação dos movimentos.

EFEITOS NAS ARTICULAÇÕES

As articulações constituem o sistema de “junção” do nosso corpo. Permitem o movimento de vários segmentos corporais. A articulação é constituída pela união de dois ossos cuja extremidade são chamadas cápsulas articulares. O movimento produz nas articulações as seguintes transformações:

1. Manutenção da mobilidade fisiológica: a articulação para manter a sua mobilidade normal deve ser usada no máximo das suas possibilidades de movimentos.

2. Aumento e recuperação da mobilidade: para que seja possível recuperar a mobilidade perdida e aumentar aquela possuída, é necessário utilizar formas particulares do treino e movimento.

3. Fortalecimento das cápsulas articulares: a cápsula articular, formada por ligamentos e músculos, tem a tarefa de manter firmemente ligados as extremidades articulares e de impedir que as articulações fiquem fora do lugar e aconteçam distorções ou deslocações.

EFEITOS NOS OSSOS

Os ossos constituem a armação do nosso corpo, cumprem a tarefa de protecção (o crânio protege o cérebro, a coluna vertebral protege a medula) e contribuem, como órgãos passivos ao movimento, às deslocações do corpo e dos seus membros. O movimento produz nos ossos as seguintes transformações:

1. Melhor nutrição: a aumentada circulação sanguínea, provocada pelo exercício físico, nutre melhor o tecido ósseo reabastecendo-o de cálcio.

2. Desenvolvimento em extensão: o movimento favorece a produção de novas células ósseas, o que determina o crescimento em extensão do nosso osso.

3. Desenvolvimento em largura e espessura: as tracções nos ossos, exercitações pelos músculos durante o movimento, favorecem o desenvolvimento das mesmas em espessura e largura. Consegue um aumento à resistência.

EFEITOS NA RESPIRAÇÃO

O dever do aparato respiratório consiste em reabastecer o oxigénio ao organismo e em eliminar o anidrido carbónico. O movimento produz na respiração as seguintes vantagens:

1. Redução do tempo de recuperação: o indivíduo treinado emprega menos tempo para voltar à respiração normal depois do esforço.

2. Menor aumento da frequência respiratória: o indivíduo treinado, em iguais circunstâncias de trabalho, tem uma frequência respiratória de base mais baixa em relação ao sedentário (12-16 actos por minutos).

3. Aumento da capacidade vital: a capacidade vital é a quantidade de ar, medido em litros com o espirómetro, que consegue emitir com uma expiração forçada, depois de ter feito uma inspiração máxima.

4. Aumento do tempo de apneia: a apneia ou suspensão voluntaria da respiração, aumenta em extensão no indivíduo treinado.

5. Aumento da capacidade da amplificação mecânica respiratória: os músculos respiratórios, e em particular modo o diafragma, com o exercício aumentam a sua potencia e a eficiência das suas contracções.

EFEITOS NO CORAÇÃO E NA CIRCULAÇÃO

O aparato circulatório é constituído pelo coração (bomba), pela grande circulação (artérias e veias que levam o sangue aos vários tecidos, aos órgãos do corpo e levam-no de novo ao coração), pela pequena circulação (que leva a sangue aos pulmões para oxigená-los e leva-o de novo ao coração). A actividade física produz evidentes efeitos no sistema cardo – circulatório, dentre os quais os mais expressivos, são:

1. Muda a forma do coração: o coração de um atleta torna-se quase esférico.

2. O coração fica mais grosso: aumenta de volume as cavidades internas (aurículas e ventrículos) e as paredes musculares engrossam-se.

3. Aumenta o alcance sistolar: a quantidade de sangue expulsa em toda contracção (sistólica) do coração é maior porque são aumentados os volumes internos e a força muscular.

4. Aumenta a capacidade cardíaca: a quantidade de sangue posta em circulação num minuto.

5. Aumenta a frequência cardíaca: durante o trabalho aumenta o número das pulsações por minuto. Recordemos que em paridade de trabalho o indivíduo treinado terá um número de pulsações menores graças à capacidade do seu coração de bombear uma maior quantidade de sangue.

6. Redução das pulsações em repouso: este é um dos efeitos mais facilmente controláveis, mas obtêm-se apenas graças a um constante e prolongado treinamento.

7. Redução dos tempos de recuperação depois do esforço: o sujeito treinado volta mais rapidamente ao ritmo cardíaco de repouso em relação ao sujeito sedentário.

8. Aumento dos capilares do coração: o coração fica bem aspergido e bem nutrido.

9. Aumento dos capilares nos músculos: a abertura de novos pequenos canais de irrigação sanguínea é importante para melhorar a nutrição dos músculos e para eliminar mais rapidamente as escorias produzidas pela contracção muscular.

10. Desvio de sangue: quando se está empenhado num trabalho físico intenso o sangue vem canalizado para os músculos empenhados e vem subtraído para outros sectores. São principalmente o intestino, o estômago, o fígado e o baço para ceder sangue para o trabalho muscular. Por este motivo quem está pouco treinado, acusa dores na coxa direita ou esquerda.

11. Facilitação do retorno de sangue no coração: durante o movimento, os músculos, com a sua contracção, “massagem” e “espremer” as veias que, graças às válvulas como ninhos de andorinhas, canalizam o sangue para o coração.

EFEITOS NA FUNÇÃO DIGESTIVA

O exercício físico acelera todos os actos da digestão, a partir daqueles mecânicos àqueles químicos e secretórios. O exercício reforça e torna mais velozes os movimentos do estômago e do intestino.


EFEITOS NO SISTEMA NERVOSO

O sistema nervoso central (S.N.C) é constituído por:

– Cérebro;

– Cerebelo (equilíbrio);

– Medula alongada;

– Medula espinal.

O sistema nervoso periférico (S.N.P) é constituído por:

– 12 Pares de nervos cranianos;

– 31 Pares de nervos espinais;

– Sistema simpático (regula os batimentos cardíacos, as acções respiratórias, a pressão sanguínea).

– Sistema parassimpático (regula o aparato digestivo e equilibra as reacções provocadas pelo sistema simpático).

O movimento é uma acção mais visível produzido pelo sistema nervoso: é a resposta motora para uma excitação nervosa.

Para que o movimento se realize são necessárias três fases:

1) Informação;

2) Elaboração;

3) Conhecimento.

Recebida a informação (rematar a bola) vem realizado um esquema ideomotor utilizando a memória de movimentos semelhantes já executados anteriormente. Preparado o esquema, o cérebro produz os estímulos nervosos adequados para deixar contrair os respectivos músculos com a adequada força e na apropriada sucessão. No movimento voluntario sobretudo se nunca foi executado anteriormente, os tempos relativos às três fases serão prolongados. Quando o movimento estiver repetido mais vezes, torna-se automático porque o esquema motor fica já conhecido e preparado; a execução do gesto torna mais veloz e precisa; controle do movimento fica automatizado. Portanto o exercício motor treina e educa os órgãos sensoriais, melhora e torna mais aguda a sensibilidade visual, auditiva, táctil, proprioceptiva (capacidade de analisar a posição do nosso corpo de olhos fechados) e equilíbrio.

EFEITOS PSÍQUICOS E SOCIAIS

A actividade motora desenvolve:

a) A capacidade cognitiva;

b) A capacidade imaginativa;

c) A capacidade prática.

A actividade motora melhora:

a) A atenção;

b) A memória.

Quando se disponibiliza para efectuar um exercício desportivo, comporta-se como quando se disponibiliza para perceber um conceito, para colher uma verdade, para resolver um exercício de matemática. Antes que ponham em foco os dados, isto é avalia-se o que se disponibiliza e os objectivos por alcançar, pois analisam-se as dificuldades por superar; de seguida reflecte-se e passa-se à acção; e por fim controlam-se os resultados e verifica-se a exactidão. Fácil resulta para perceber também como o desporto solicita os nossos estados emotivos e as nossas paixões (alegria, entusiasmo, satisfação, orgulho, etc.). A actividade desportiva ajuda quem tem problemas de timidez e de insegurança já que habitua a coragem e cria confiança em si mesmo.

O Treinador De Futebol

Подняться наверх