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Introdução

Não é muito comum a presença de estrangeiros em casamentos tradicionais na Índia. Ainda mais incomum é a presença de não indianos nos dias que antecedem a cerimónia, que consistem na preparação dos noivos, separadamente.

Quando fui convidada para participar de um dos rituais mais importantes do hinduísmo, eu não julgava que presenciaria algo que poucos ocidentais puderam presenciar: a cerimónia do Mehendi, a festa da música, o banho de especiarias, o casamento, a receção pela família do noivo e, o que foi mais surpreendente, o ritual – Puja –, celebrado no dia a seguir à receção, em que fui a única pessoa de fora da família com permissão para participar, assistir aos sacrifícios animais, oferecer especiarias e frutas aos deuses e alimentar-me com as mesmas especiarias e frutas, após a oferenda.

Já no primeiro dia de celebrações pude constatar o ineditismo da presença de estrangeiros naquela fase do casamento. Estávamos há poucos minutos no quintal onde ocorria a cerimónia do Mehendi – que consiste na pintura das mãos com henna, quando chegaram repórteres de jornais impressos e da televisão. Nos dias a seguir ocorreu o mesmo. Aparecemos em todos os noticiários da TV Telugu e em diversos jornais, éramos parados nas ruas para que tirassem fotos conosco e recebemos mais olhares do que os noivos durante a principal cerimónia do casamento.

Fui para a Índia com algumas expetativas – nem todas agradáveis. Eu só não esperava que encontraria todas as situações durante a mesma viagem. É conhecido o confuso trânsito local, a dificuldade em atravessar as ruas, a poluição do ar, a imundície dos rios, a pobreza extrema, a escravatura moderna e o machismo exagerado. A pobreza, é certo, existe em todo lado. O machismo eu também encontro em qualquer esquina no Brasil e em Portugal. Já a escravatura eu não esperava encontrar. Mas encontrei.

Por estar em um lugar pouco frequentado por turistas e hospedada em casas de parentes da noiva, pude vivenciar na quase totalidade o dia a dia de uma família do sul da Índia. Prescindi de guias turísticos, hotéis, tradutores, alimentação de emergência e até de seguro de viagem completo. Por esse motivo, esses relatos carregam em si um ineditismo surpreendente sobre aquela cultura, tão divulgada – por vezes de maneira errónea – e tão difícil de compreender.

Da verdadeira Índia

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