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Céu – Algures entre Porto e Amsterdão

Esta viagem começou em setembro de 2013. Há seis anos e dois meses, época em que eu havia chegado há pouco tempo em Portugal, eu estava no meu quarto, à tarde, na Rua Mário Sacramento, residência universitária da Universidade de Aveiro. Eu estava, portanto, no meu quarto, quando chegou uma moradora nova. Existiam três quartos na casa. Um ocupado por mim, outro pela Aralyia, uma iraniana, e o outro estava vazio até então.

Mas naquela tarde a nova moradora chegou, dirigiu-se até à porta do meu quarto e apresentou-se. Após a apresentação, eu pensei que ela era inglesa e só mais tarde percebi que era da Índia. Naquela época meu inglês estava muito aquém do necessário para manter uma conversa básica.

Ao longo dos dias, aproximamo-nos cada vez mais. Sridevi1 falava que estava a guardar dinheiro para pagar o dote do seu casamento, no dia em que o irmão escolhesse um marido para ela. Eu considerava um absurdo. Como, em pleno século XXI, alguém aceitaria casar com um desconhecido, escolhido pela família, e ainda pagar por isso?

O ano passou, ela foi para Bolonha, com retorno marcado para três meses depois. Nesse tempo, eu me desentendi com a iraniana e mudei de casa. E de novo. E mais uma vez. Sridevi voltou. Não morávamos mais na mesma casa, mas continuamos com a amizade.

Após um tempo, eu saí daquela cidade. Minha filha foi viver comigo em Portugal e mudamos para um lugar mais isolado. Dois anos depois, já no final de 2017, Sridevi anunciou que voltaria para a Índia. Fui a Aveiro para a despedida, que foi na mesma casa em que eu estava naquela tarde de setembro, quando ela chegou.

No ano seguinte, ela enviou mensagem para avisar que estava a viver na Austrália, cursando o pós-doutoramento. E disse também para eu começar a guardar dinheiro para a viagem, pois sua família estava à procura de um noivo. Ela iria casar.

Eu não discutia mais com ela sobre esse assunto. Antes eu tentava convencê-la a fugir, a casar em Portugal com alguém que ela gostasse e mentir para a família, ou a falar a verdade, mesmo que ela fosse proibida de ter contacto com eles para sempre. Eu ofereci minha casa como esconderijo, ofereci minha mãe como mãe adotiva para o resto da vida (e minha mãe disse que se fosse necessário alinharia no plano). Custei a perceber que existia uma barreira cultural muito forte. Um dia (em que Sridevi já estava farta da minha conversa de que deve-se casar por amor) ela perguntou:

— Você casou por amor?

— É claro! – Afirmei com vontade.

— E onde está seu marido? – Ela completou com um sorriso irónico.

A partir dessa conversa, continuei sem entender a escolha, mas passei a aceitar e respeitar. É que eu pensava que ela não queria casar e que tinha ido para a Austrália para tentar evitar o casamento. Eu pensava que quanto mais ela estudasse, quanto mais acumulasse títulos, mais difícil seria arrumar um marido, pois provavelmente os homens recusariam uma noiva que tivesse uma formação mais elevada que a deles. Eu julgava, ainda, que ela não queria casar.

Até que em maio deste ano recebi uma mensagem. Era uma foto, apenas isso. Na foto, ela aparecia ao lado de um homem – Arjun. Estava escolhido. A foto era uma montagem. Eles ainda não se conheciam. Mas já sabiam que iriam casar e que seria ainda em 2019. Ela convidou-me. Eu não havia seguido o conselho recebido em 2018 e não guardei dinheiro. Eu realmente acreditava que ela não queria casar. A felicidade dela desmentia meus pensamentos.

Convenci minha mãe a pagar tudo. Não foi difícil. Especializei-me nessa área há muitos anos. Ela comprou os bilhetes para mim e minha filha e cá estamos, eu e Maria Clara, no primeiro avião dessa longa viagem.

Primeiro vamos parar em Amsterdão, depois em Abu Dhabi e então chegaremos em Hyjabad, onde estarão à nossa espera no aeroporto. Só a ideia de fazer essa viagem ajudou-me no processo de despertar pelo qual passo atualmente. Desde que soube da ida, comecei a meditar e a fazer yoga quase todos os dias de manhã bem cedo.

Agora ela e Arjun já se conhecem. Há pouco tempo, seis dias apenas. Semana que vem serão casados. Provavelmente para o resto da vida. Dessa vida. Espero que felizes.

1 Os nomes das pessoas e dos lugares foram alterados para preservar as identidades.

Da verdadeira Índia

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