Читать книгу Para prazer do xeque - Sharon Kendrick - Страница 4

Capítulo 1

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Xavier rodou as cuecas na ponta do dedo e arqueou um sobrolho.

– Não te esqueceste de nada, chérie? – perguntou, com um sotaque escandalosamente sexy.

Costumavam perguntar-lhe se era locutor de rádio, mas a resposta a essa pergunta era mais do que óbvia. Xavier de Maistre não precisava de se envolver com os meios de comunicação social para complementar os seus enormes rendimentos.

Só explorara os seus atributos naturais uma vez. Um caçador de talentos descobrira-o nos Campos Elíseos quando não passava de um adolescente e tinham-lhe pagado uma fortuna por um bem-sucedido anúncio a um aftershave. No entanto, ele tinha rejeitado todas as ofertas posteriores e usara o dinheiro para fundar a sua própria empresa, que se tornara um dos maiores impérios do mundo.

A loira entreabriu os lábios.

– Já não queres brincar?

Xavier permaneceu impassível. Pensaria que nada tinha mudado desde aquela aventura? Acharia que não virara a página, que ficaria com calor ao vê-la a chegar de repente, com a desculpa de beber um café?

A lingerie da loira estava no chão do seu apartamento parisiense.

Os lábios de Xavier desenharam uma expressão cínica. As ex-amantes eram muito chatas. Haveria alguma coisa mais chata do que sexo com uma mulher de quem já se fartara?

No entanto, não demorara a encontrar-se com ele quando lhe telefonara no dia anterior. Tinha passado mais de um ano e Xavier achava que seriam capazes de beber qualquer coisa de forma civilizada, mas ao ver a expressão dos seus olhos compreendera o que pretendia.

Suspirou. Algumas mulheres nunca se rendiam.

– Acho que já esgotámos todas as possibilidades desse jogo há muito tempo. Não achas? – perguntou-lhe, com calma. Os seus olhos pretos brilhavam. – Boa tentativa, chérie! Mas talvez devesses tentá-lo com um homem que consiga apreciar-te... como mereces.

– Xavier...

Ele fê-la calar-se com um gesto.

– Não disseste que tinhas de apanhar um avião?

A sombra da dúvida velou o bonito rosto da jovem. Perguntava-se se realmente estaria a recusar a oportunidade de ir para a cama com ela. Não havia nada a fazer. Era melhor não falar demasiado e manter a dignidade.

Encolheu os ombros. Tirou-lhe as cuecas da mão e vestiu-as por baixo da saia de seda pura. Naquele momento, Xavier hesitou um instante e esteve prestes a mudar de ideias.

Teria sido demasiado fácil. No quarto que ficava no fim do corredor havia uma cama enorme com lençóis de algodão egípcio e vista para o Sena.

Ele era o dono de todo o edifício que albergava os escritórios centrais do seu império empresarial e um apartamento de luxo nas águas-furtadas. Quando as reuniões se prolongavam até meio da noite, precisava de um sítio onde dormir. Ou, pelo menos, era a desculpa que costumava dar.

No entanto, era sabido que costumava trazer para ali as suas conquistas amorosas e isso só aumentava a sua reputação de Don Juan. Gostava de aproveitar a vida e trabalhava arduamente para conseguir o que queria.

Xavier virou-se para a janela. A superfície da água brilhava à luz do entardecer. Dali conseguia ver os barcos que, repletos de turistas, sulcavam aquele rio tranquilo. Todos contemplavam os monumentos, encantados. Esse era o efeito que Paris tinha nas pessoas. Aquela cidade preenchia-lhe a alma e o coração, mais do que uma mulher.

Franziu o sobrolho. Deu-se conta de que não recordava a última vez que tinha feito amor. E porquê rejeitar aquela oportunidade? Talvez porque era demasiado fácil. Não gostava de coisas fáceis porque a sua vida nunca fora assim.

– Suponho que não voltarei a ver-te. Não é assim, Xavier?

A voz da loira interrompeu os seus pensamentos e fê-lo virar-se. O efeito que ela tivera sobre ele desaparecera por completo, mas isso não era nenhuma novidade. Ele fartava-se sempre das suas amantes, por muito bonitas e inteligentes que fossem. Assim que as conquistava, não restava nada que valesse a pena. Um desafio. Tratava-se de um desafio... E quando conseguia o que queria, havia sempre outro ao virar da esquina.

– Quem sabe, chérie? – murmurou. – Às vezes, tenho a sorte de ir a Nova Iorque. Talvez possamos jantar da próxima vez.

Olharam-se nos olhos. Ambos sabiam que isso não aconteceria. Ela mordeu o lábio.

– Claro! És um porco. Sabias? – perguntou-lhe, suavemente.

– Ah, sim?

Naquele momento, começou a tocar o telefone e teve de lhe virar as costas para atender.

– Oui?

Com o sobrolho franzido, ouviu o que a assistente tinha para lhe dizer.

– Há uma pessoa que deseja falar consigo, Xavier.

Sem reunião marcada? Xavier ficou tenso. Não gostava de surpresas. O que estavam a fazer os seus seguranças?

– Espero que não seja outro maldito jornalista – disse.

O edifício estava rodeado de paparazzi há duas semanas. Depois da publicação das suas fotografias na Bonjour!, uma das revistas francesas mais vendidas, transformara-se no centro das atenções. Tinham-lhe tirado algumas fotografias onde aparecia a abotoar as calças de ganga na varanda e as imagens tinham-se tornado as mais descarregadas na Internet. O assunto já estava nas mãos dos seus advogados.

– Não. Não é ninguém da imprensa – disse a assistente.

– Bom... Quem é ele? E o que quer? – perguntou ele, incomodado.

– É ela e não quer dizer-me. Diz que quer falar consigo pessoalmente.

– Ah, sim? – Xavier desceu a voz. – Conheço-a?

– Ela diz que não.

– Estou a ver.

Xavier voltou a olhar para a loira. Ela ainda o observava, com expressão mal-humorada. Como ia livrar-se dela? Talvez aquela desconhecida fosse a sua salvação. Podia usá-la como desculpa para se livrar da outra.

– Diz-lhe que espere – disse, suavemente. – Desço já, quando acabar aqui – desligou o telefone.

A loira abanou lentamente a cabeça.

– Há outra. Claro que há! Que estúpida que fui! – soltou uma gargalhada irónica. – Como pude pensar que continuarias disponível um ano depois, a sofrer por mim e querendo retomar a relação onde a deixámos?

Uma sombra obscureceu os traços do rosto de Xavier.

– Nunca te prometi nada, Nancy. Nunca imaginei que surgiriam problemas.

– Esse é o problema. Tu crias o problema porque és terrivelmente bom. Adeus, Xavier, e obrigada por mo recordares – disse e saiu do quarto, com a cabeça bem erguida.

Xavier semicerrou os olhos ao ouvir o som do elevador que a levaria para baixo.

Comportara-se como um miserável? Não. Se fosse assim, ter-se-ia aproveitado dela e tê-la-ia dispensado depois. Ainda conseguia sentir uma pulsão sexual insatisfeita e sabia que muitos o teriam considerado idiota.

Mas era prudente e exigente quando se tratava de escolher uma amante, e tinha duas regras de ouro: as candidatas deviam ser muito bonitas e nunca podia haver um compromisso emocional. Ao princípio, deixava sempre claro que não estava interessado em amor, nem em casamento, já que quase não conhecera o primeiro e não queria experimentar o segundo. Nenhuma mulher o faria mudar de ideias.

Passou as mãos pelo cabelo e sentiu um alívio profundo. O desejo remetia a pouco e pouco. Dentro de pouco tempo não restaria nenhuma lembrança dela. Pediria um café à secretária e ouviria o que aquela desconhecida tinha para lhe dizer. E depois iria para casa e tomaria um duche quente antes de sair para jantar. Xavier sorriu diante do espelho.

Liberdade... Não era a coisa mais maravilhosa do mundo?

Laura olhou à volta do sofá onde estava sentada. A cor vermelha contrastava com o fato caro que usava. Nas semanas anteriores, tinha assistido a um curso intensivo sobre luxo e opulência, e apenas há alguns dias hospedara-se num castelo antigo, rodeado de uma vegetação exuberante. Então, tinha pensado que nada poderia superar aquele esbanjamento, mas os escritórios de Xavier de Maistre tinham-na feito mudar de ideias.

Aquela divisão espaçosa parecia a sala de uma mansão em vez da sede de uma empresa bem-sucedida. Paredes beges, acessórios sumptuosos, um lustre deslumbrante, pinturas equestres e paisagens... Tudo tinha um ar tradicional e masculino.

Laura alisou a sua saia nova de seda com as pontas dos dedos. Começava a habituar-se àquele tecido delicioso e a sua suavidade sensual fazia-a estremecer. Estava um pouco assustada e nervosa, mas também sabia que estava preparada. Essa era a qualidade principal que um bom advogado devia ter. Embora não tivesse tido muito sucesso noutras facetas da vida, Laura tornara-se uma boa advogada.

Reviu a informação sobre Xavier de Maistre. Homem de negócios, playboy, ícone sexual de França... Um homem poderoso, com uma reputação poderosa. Tinha uma carteira de clientes importante em França, Nova Iorque e Londres, e os jornais tinham começado a difundir a notícia de que planeava abrir a sua própria companhia aérea de baixo custo. Isso significava que talvez não se deixasse impressionar pelo que ela tinha para lhe dizer, para não falar do dinheiro que ia herdar. Pelo que Laura sabia, o dinheiro só importava se não se tivesse muito.

A jovem ouviu o ruído das portas e levantou-se, mas não foi Xavier de Maistre quem saiu do elevador, mas uma bonita loira que lhe lançou um olhar entre inveja e simpatia.

– Um conselho, querida. É incrível na cama, mas os homens como de Maistre só trazem problemas.

– Tê-lo-ei em conta – disse Laura, por educação. O seu coração tinha disparado.

A impassível secretária levantou-se de um salto, mas a loira já estava a sair pela porta. A assistente olhou para Laura com uma expressão de estupefacção e voltou a sentar-se.

Laura pestanejou várias vezes. Não estava habituada àquele mundo, onde as mulheres falavam da potência sexual dos seus amantes como se nada fosse.

– Vim em má altura? – perguntou.

– Certamente, não lhe importa se foi inconveniente ou não... – disse uma voz proveniente de trás. – Dado que se apresentou de repente e exigiu ver-me, como se fosse assim tão fácil.

Laura levantou-se e virou-se. Abriu a boca, mas aquela pequena desculpa ensaiada não saiu. A realidade do homem que tinha diante dos seus olhos perturbou-a. Laura pestanejou como se fosse a primeira vez que via um homem. Nunca tinha visto ninguém como ele.

Xavier de Maistre emanava confiança em si mesmo, carisma sexual e autoridade. Ela já tinha visto fotografias dele e ainda recordava os seus traços sensuais e cruéis. Sabia que a sua pele era mais escura do que a da maioria dos franceses e tinha descoberto porquê. Mas o que não esperava era que a sua presença fosse tão... tão...

Uma sensação estranha percorreu-lhe as veias.

Tão perturbadora...

A sua tez morena fazia contraste com o fato claro que usava. Laura era incapaz de desviar os olhos dele. Xavier de Maistre dominava a sala com a sua presença imponente. Aqueles olhos pretos e brilhantes pareciam atravessá-la. Eram os olhos mais cruéis e frios que jamais tinha visto.

– Não respondeu à minha pergunta. Uma pessoa que se apresenta inesperadamente e exige ver Xavier de Maistre devia ter muitos comentários sagazes a fazer.

«Mas os teus olhos estão demasiado ocupados, a devorarem-me...», pensou ele.

Laura tentou concentrar-se.

– Eu sei que a minha visita não é muito convencional... – disse.

– Tanto rodeio é típico do seu país – disse Xavier, ao aperceber-se de que era inglesa. – Vende alguma coisa?

Ela olhou fixamente para ele, estupefacta. Pareceria uma vendedora com aquele dispendioso fato que lhe tinha custado mais do que normalmente ganhava num mês?

– Não.

Ele olhava para ela com olhar céptico, mas por dentro sentia outra coisa. Por acaso conhecia-a? Não. Se tivesse sido assim, lembrar-se-ia. Olhou para ela de cima a baixo. O que a tornava tão... diferente?

Seria o seu cabelo, ruivo e brilhante? A sua pele, branca como a neve? Ou seriam aqueles olhos, os mais bonitos que jamais tinha visto? Grandes e verdes como esmeraldas.

Tinha uma figura esbelta, mas feminina, uns seios arredondados e uma cintura minúscula que realçava a curva das suas ancas. Sem dúvida, o fato que usava, de seda grená, realçava a sua silhueta e os sapatos de camurça acentuavam uns tornozelos finos que poderiam facilmente enrolar-se à volta das costas nuas de um homem...

Xavier engoliu em seco e tentou afastar aqueles pensamentos.

– Já ouviu falar do telefone? – perguntou-lhe, com sarcasmo. – Não lhe ocorreu utilizar as vias convencionais para falar comigo?

– É claro que sim, mas a minha chegada repentina tem uma explicação.

– Ah, sim? Que interessante! – comentou Xavier, semicerrando os olhos.

Havia qualquer coisa na sua atitude a que não estava habituado, qualquer coisa irreverente.

– Quem é você?

O olhar escuro parecia queimar-lhe a pele e toldar-lhe a mente. A única coisa que ocupava os seus pensamentos era o magnetismo daqueles olhos e o poder do corpo masculino.

Mas tratava-se apenas de negócios e a informação que estava prestes a dar a Xavier de Maistre poderia mudar-lhe a vida. Laura sabia que devia gerir o assunto com muito tacto, pois o que tinha nas suas mãos era dinamite emocional e não queria que lhe explodisse na cara.

Estendeu a mão para ele e esboçou um sorriso, com a esperança de disfarçar o receio que se apoderara dela.

– O meu nome é Laura Cottingham.

– Laura – repetiu ele, acentuando o «R» da forma mais sexy.

Então, arqueou os sobrolhos e apertou-lhe a mão, deslizando o polegar sobre o seu pulso delicado.

– Conheço-a? A sua cara não me é familiar e nunca esqueço uma cara bonita.

Bonita? Laura nunca se considerara bonita. Como poderia tê-lo feito se tinha passado a vida a tentar ser alguém? Muitas vezes, tinham-na feito sentir-se feia por dentro.

Sentiu um nó na garganta ao sentir o calor da pele dele e a carícia subtil dos dedos. Afastou rapidamente a mão.

– Não – disse, sem fôlego. – Não nos conhecemos.

– Então, porque veio? Porque não me diz de uma vez por todas porque veio aqui? Estou intrigado, mademoiselle Cottingham – disse-lhe, suavemente. – E a intriga é uma sensação tentadora para um homem como eu.

«Um homem como eu...»

Aquele tipo não poderia ser mais arrogante, mas tinha o carisma necessário para poder permitir-se sê-lo.

Laura olhou de esguelha para a assistente, que fingia não estar a ouvir a conversa.

– Preferia falar em privado.

– Trata-se de algum pedido de teste de paternidade? – perguntou-lhe, de repente. – Representa alguma ex-namorada minha?

– Não, não. Nada disso – Laura abanou a cabeça, mas então deu-se conta de que Xavier de Maistre tinha posto o dedo na ferida.

– Simplesmente, acho que é melhor termos esta conversa em privado.

Xavier olhou fixamente para ela, como se tentasse ler-lhe o pensamento.

– Hum… Está bem. Vamos para o meu escritório, chérie. Mas espero que valha a pena. Eu não gosto de perder tempo.

Virou-se e pôs-se a andar para a porta que estava do outro lado da sala. Laura agarrou na sua mala e foi atrás dele.

– Feche a porta – disse ele ao entrar.

Laura fez o que lhe pedia e virou-se para ele. Como não a convidou a sentar-se, ficou no meio do escritório, com a mala na mão.

– Foi muito amável da sua parte ter-me recebido imediatamente, monsieur de Maistre.

– Posso garantir-lhe que não foi amabilidade o que me motivou. Foi conveniência. Fez-me uma espécie de favor ao ajudar-me a escapar de uma situação que se tornou muito... aborrecida.

Laura limitou-se a sorrir. Ela não olhava para ele como as outras mulheres.

– Teria vindo noutra ocasião se soubesse que não era uma boa altura, mas ordenaram-me que falasse consigo cara a cara.

Algo no seu tom de voz despertou o instinto de sobrevivência de Xavier. A primeira impressão não fora errónea. Havia qualquer coisa no seu porte que não fazia sentido. As pessoas costumavam aproximar-se dele por interesse. Para um homem tão poderoso e rico como ele, tudo tinha um preço.

– Ordenaram-lhe?

– Sim.

– É advogada?

– Sim.

– Não confio nos advogados, a menos que trabalhem para mim.

– Faz bem.

– Porque não contactou os meus advogados, se se tratava de um assunto legal?

– Porque... Porque se trata de uma coisa muito delicada que deve ouvir em privado.

– Estou intrigado. Diga-me uma coisa. Gosta de jogos? É assim na cama? Porque não deixa essa timidez fingida e diz porque veio?

Laura corou, mas então decidiu que a melhor maneira de lidar com semelhante descaramento era ignorá-lo.

– É claro, monsieur de Maistre. Estou aqui em representação de outra pessoa. Trabalho para o xeque Zahir de Kharastan.

Xavier ficou petrificado. Raramente conseguiam surpreendê-lo, mas aquela mulher acabava de o fazer.

– Não entendo.

– Não esperava que o fizesse. Mas tentarei explicar-lhe – Laura respirou fundo. – Já ouviu falar de Kharastan?

– Sim.

– Suponho que saiba que é um estado imensamente rico que faz fronteira com Maraban.

– Não preciso de uma aula de geografia e também não preciso que fale com rodeios. Já conseguiu falar comigo e o meu tempo não tem preço! Ou diz porque veio ou vai-se embora agora mesmo!

– Estou aqui para falar sobre o seu pai.

Xavier ficou paralisado. Aquela mulher tinha entrado em território proibido. Deu um passo para ela e falou-lhe em voz baixa.

– Como se atreve a puxar um assunto tão pessoal como a minha família? – perguntou-lhe, ameaçador. – Você, você não passa de uma estranha. Como se atreve?

Laura não se deixou intimidar.

– Eu só obedeço a ordens.

Ele deu outro passo para ela.

– Ordens de quem? Diga-me o que sabe.

Laura respirou fundo.

– Estou aqui porque acham que você é... Há razões para achar que você é... filho do xeque de Kharastan.

Para prazer do xeque

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