Читать книгу Para prazer do xeque - Sharon Kendrick - Страница 5

Capítulo 2

Оглавление

Xavier sentiu uma sensação estranha enquanto falava com Laura. Um zumbido ensurdecedor tapava-lhe os ouvidos, afastando-o do seu próprio corpo. Era como se tivesse levitado até ao tecto do escritório e contemplasse a cena de cima.

«Há razões para achar que você é filho do xeque de Kharastan...»

– Está a mentir!

– Não! Porque mentiria sobre uma coisa destas?

A lógica e a razão diziam-lhe que aquilo era mentira, mas a dúvida pulsava no profundo do seu coração.

Sempre tinha pensado que era diferente...

Tinha crescido na pobreza de Marais antes de se tornar um dos bairros da moda de Paris. Então, havia muitos barracões onde viviam e trabalhavam artesãos, rodeados de pequenos restaurantes, becos estreitos e algumas lojas. A sua mãe e ele viviam num pequeno sótão, mas, apesar de tanta miséria, ela sempre se esforçara para lhe dar o mais parecido com um lar.

A casa onde viviam estava quase em ruínas, mas por dentro era um pequeno refúgio. Paredes brancas e luminosas, cortinas impecáveis... Havia sempre uma panela de sopa no fogão e na jarra sobre a mesa nunca faltavam flores frescas.

A apenas dois quarteirões ficava a Île de la Cité, onde se erguia a impressionante Notre-Dame e a prodigalidade de esplendor dos vitrais de La Sainte-Chapelle.

Xavier costumava ir lá depois da escola, para contemplar aqueles monumentos que chegavam ao céu, e numa dessas vezes prometera que um dia sairia daquele mundo de pobreza e viveria rodeado de beleza e espaço.

A sua mãe incutira-lhe o amor pelos livros, insistindo que «a educação é a única saída da pobreza».

Graças a ela, não tinha acabado a deambular pelas ruas como os outros rapazes.

Mas tanto fazia a Xavier passar ou não tempo com os seus companheiros e eles olhavam para ele com receio. Uma atitude petulante e ambiciosa, e um aspecto predominante faziam-no destacar-se entre os outros. O seu cabelo preto, pele luminosa e olhos cor de azeviche tornavam-no diferente dos outros.

«Qui est ton père?», costumavam perguntar-lhe os outros rapazes, num tom de brincadeira.

Mas Xavier nunca lhes tinha respondido porque não conhecia a identidade do seu pai.

Sempre que tentava tocar no assunto, a sua mãe ficava tensa e evitava a conversa.

«É um homem poderoso e perigoso. Tentará afastar-te de mim. Esquece-o, Xavier!», costumava dizer-lhe.

Xavier não tinha medo de ninguém, mas não tinha tido escolha. Como poderia ter ido contra a sua mãe, a mulher que lhe dera a vida, que abandonara todas as suas aspirações para velar por ele?

A sua mãe tinha morrido cinco anos antes e não deixara nada, excepto um farrapo de fita cor-de-rosa e um anel de ouro e rubis. De algum modo, Xavier tinha pensado que honrava a sua memória deixando que aqueles segredos morressem com ela. Algumas coisas deviam permanecer em segredo…

E, no entanto, aquela mulher inglesa afirmava conhecer a sua verdadeira origem.

Xavier sentiu uma onda de raiva. Agarrou-a pelo braço e puxou-a para si, tão perto que conseguiu sentir um ligeiro cheiro a lilases.

– Como é que o meu pai é um xeque se sou francês até à medula? Que patranha é esta?

Laura ficou quieta. O seu fôlego quente acariciava-lhe o rosto. Aqueles olhos pretos deitavam faíscas.

A jovem abanou a cabeça.

– Não é uma patranha – respirou. – Juro-lhe que não é!

– As suas palavras não significam nada para mim. Porque haveria de acreditar em si? Quem a enviou?

– Vim para cumprir a vontade do xeque, embora ele a tenha dado a conhecer através de outra pessoa.

– Através de outra pessoa?

Laura assentiu, tentando não sucumbir ao poderoso feitiço masculino daquele homem.

– Sim. O xeque é muito idoso e encontra-se muito fraco. Eu falei com um dos seus assistentes – Laura hesitou um instante. – A sua saúde delicada foi uma das razões pelas quais desejava contactá-lo.

Xavier franziu o sobrolho e apertou-lhe o braço.

– Mentira! Esse homem não é meu pai. Como poderia sê-lo?

Laura sentiu uns dedos de aço cravados na sua pele.

– É verdade. Digo-lhe que é. Por favor, largue-me!

– Ainda não! – afrouxou a mão, mas não a largou.

Os lábios da jovem tremiam sem parar.

– Diga-me o que sabe.

Laura levantou o queixo. Os seus olhos verdes cravaram-se nos dele.

– Só se tirar as mãos de cima de mim.

Ele fulminou-a com o olhar durante alguns segundos.

– Muito bem – disse, finalmente, e retirou as mãos tão depressa que Laura perdeu o equilíbrio. – Agora, fale!

Xavier sentiu a investida das dúvidas. Teria ela a resposta para todas as perguntas que fizera a si mesmo durante anos? Perguntas que, por outro lado, fariam menos mal se ficassem sem resposta.

Naquele momento, a sua vida estava totalmente organizada. Era ele quem mandava e jamais perdia o controlo. Mas, naquele momento, uma inglesa saída do nada ameaçava pôr em perigo o mundo que tinha construído com tanto esforço.

Laura mordeu o lábio.

– O seu pai é…

– Não! Não se referirá a ninguém como meu pai. Não vai contar-me nenhuma história. Eu não tenho pai e nunca tive! Ficou claro?

Laura assentiu.

Negar a verdade. As pessoas faziam-no continuamente. Fingiam que não se passava nada porque doía demasiado.

Ela mesma tinha caído nesse erro com o seu ex. Não estava já claro que não a desejava? Ele tivera o que queria e depois deixara-a, mas ela fora idiota ao ponto de arranjar desculpas, quando era óbvio que a tinha afastado da sua vida, ridicularizando-a. Claro que sim! Laura sabia o que era negar a verdade.

– Muito bem – disse-lhe, calma. – Como quer que lhe conte a história?

Xavier semicerrou os olhos, com suspeita e receio. Estaria a gozar com ele?

– Respondendo às minhas perguntas. Por enquanto – endireitou-se e cravou-lhe o olhar. – Para quem trabalha?

Laura assentiu.

O que lhe dissera Malik?

«Traga o francês de volta a Kharastan, custe o que custar…»

– Trabalho para o xeque Zahir de Kharastan.

Xavier apertou os lábios e fechou os punhos.

– E como sabe tanto? É concubina dessa família de xeques? Uma daquelas mulheres a quem recorrem esse tipo de homens silenciosos e obscuros. Se calhar, sonha ser raptada e ultrajada no meio do deserto. É isso que a excita, chérie?

Laura sabia que aquelas palavras eram destinadas a ser um insulto. Porque tinha pensado que aquilo seria fácil?

– Não vai dizer nada? – perguntou Xavier. – Nem sequer me disse nada sobre o lugar que ocupa nessa hierarquia do deserto fora do comum.

– Não tenho nenhum lugar nela. Trabalho para a família real de Kharastan. Tão simples quanto isso. Sou uma funcionária temporária e não me move um interesse próprio.

– Não? Toda a gente tem um interesse próprio, chérie. Diga-me… Contrataram-na pelos seus conhecimentos legais ou pelos seus bonitos seios e olhos sedutores?

Laura olhou fixamente para ele.

– Não tenho de tolerar os seus insultos! – exclamou, com voz trémula.

– Acha que é um insulto ser admirada pelos seus atributos? – perguntou-lhe, brincalhão. – Mas tem razão. Não tem de tolerar ofensas. Não gosta do que lhe disse? Então, vá-se embora. Não vou impedi-la.

Aquilo era bluff e ambos sabiam disso. Mas Laura não se atreveu a partir. Talvez não tivesse outra oportunidade de fazer o seu trabalho.

Tratava-se apenas disso. De trabalho.

Forçou um sorriso.

– Tem uma fotografia dos seus pais aqui no escritório?

– O que acha? Tem fotografias dos seus pais no escritório?

– Vou encará-lo como um «não» – apressou-se a dizer ela, ignorando o sarcasmo. – Gostaria de ver a fotografia que me entregaram?

– Acho que está prestes a tirá-la da mala. Como um mágico que faz um truque numa festa de aniversário.

Com dedos trémulos, Laura abriu a mala e tirou um envelope que continha uma fotografia.

Xavier aceitou-o, sem dizer uma palavra. Respirou fundo e observou a imagem.

Era uma fotografia de estúdio fotográfico e o homem que aparecia nela estava na sua plenitude viril. O cabelo cor de azeviche, o formato do nariz, os lábios sensuais…

Xavier sentiu um nó na garganta. A parecença era inegável.

– Muito bem. Parece-se um pouco comigo.

Laura ficou em silêncio.

– Ambos temos o cabelo e os olhos pretos – disse, encolhendo os ombros.

Ao ver que ela não dizia nada, pôs a fotografia na secretária e dirigiu-se para ela.

Laura tinha-se sentado numa cadeira, mas, ao vê-lo a aproximar-se, levantou-se rapidamente. Havia qualquer coisa alarmante e excitante na expressão dos seus olhos.

– Onde encontrou isto?

– Já lhe disse – replicou, humedecendo os lábios.

Havia uma ameaça naqueles olhos.

– Deu-ma o homem que… O homem que diz ser seu pai.

Ele agarrou-a por trás e apertou-a contra o seu corpo duro e musculado. As pupilas dela dilataram e os mamilos erectos cravaram-se no tecido fino do fato que usava.

– O que quer de mim? – perguntou-lhe ele, pondo os braços à volta da sua cintura.

Laura ficou sem fôlego ao sentir o contacto das suas mãos sobre as costas. Uma tensão estranha acumulava-se no seu baixo-ventre e sentia ardor nos seios.

– Não consigo pensar se continuar…

– Se continuar a acariciá-la? – inclinou a cabeça para lhe sussurrar ao ouvido. – Mas você gosta que a acaricie. Acho que gostaria que a acariciasse num lugar mais íntimo…

– Chega! – exclamou ela, sem fôlego. – Pare imediatamente!

Ele desceu os braços como se estivesse farto daquele jogo e limitou-se a olhar fixamente para ela. Ela tentava recuperar o fôlego. Um ligeiro rubor coloria as suas faces brancas.

Ela seria dele. Certamente…

Mas ainda era demasiado cedo…

– Ainda não me disse o que quer.

– Ordenaram-me que o leve a Kharastan.

Xavier fechou lentamente os punhos.

– Ordenaram-lhe?

– Peço desculpa. Não escolhi bem as palavras.

Ele inclinou-se para a frente.

– Acha realmente que um homem como Xavier de Maistre aceita ordens? Acha que vou viajar para um país esquecido por Deus para conhecer um homem que não é o meu pai?

Mais uma vez, Laura recordou as palavras de Malik.

«Traga o francês de volta para Kharastan, custe o que custar…»

O que lhe custaria?

Laura olhou à sua volta.

– Acho que se arrependerá se não me acompanhar – disse, de repente.

– Arrepender-me? – perguntou ele, incrédulo. – Posso garantir-lhe que o arrependimento não faz parte da minha natureza.

– Acho que esta poderia ser a excepção que confirma a regra – disse ela e suspirou. – O xeque é idoso e não se encontra bem de saúde. Talvez tenha razão. Talvez este assunto seja resultado de uma série de mal-entendidos. Talvez não seja filho dele. Mas, se não for, ficará com a dúvida. Quando souber a verdade, poderá rejeitá-la se quiser, mas… Como se sentiria se realmente fosse seu pai e tivesse rejeitado esta oportunidade? Se quiser a oportunidade de conhecer o seu pai, aconselho-o a que o faça agora, antes que seja demasiado tarde – Laura levantou o queixo e olhou para ele nos olhos. – Um idoso pode morrer a qualquer momento, Xavier.

Para prazer do xeque

Подняться наверх